A RAINHA VAI NUA
bio-1-3-lexico-1-balanço do 1º semestre-mein kampf 10/11/1998-cadeira de deontologia- curso de naturologia-1º ano
SE A CIÊNCIA É REI, O REI VAI NU
O QUE TE ESPERA, JOVEM AMIGO, AO ENTRARES PARA UMA FACULDADE.
10/11/1998 - Para lá de te pintalgarem a cara e outros rituais de iniciação ou ritos de passagem, irás ter que meter na cabeça as variadas e desvairadas nomenclaturas das várias e desvairadas ciências que os vários e desvairados especialistas se encarregam de te despejar para dentro, para único e exclusivo proveito das suas (deles) respectivas especialidades, para único e exclusivo proveito das suas brilhantes carreiras, para único e exclusivo proveito dos seus brilhantes currículos.
Tens que ser tu, jovem candidato a doutor, a armazenar as várias especialidades em que eles são especialistas.
Serás, sem querer e sem o saber, uma super-Internet, isto é claro se quiseres o diplominha que te dará o título tão desejado de doutor.
Espera aí: acabo agora de saber que a implacável hierarquia do poder universitário, tem vários graus assim discriminados:
Bacharelato
Licenciatura
Mestrado
Doutoramento
Cátedra
Professor agregado
Etc
A concorrência gera a inveja social que, neste caso, se chama inveja institucional. Vais ser instigado a subir, a trepar, a ser melhor do que o vizinho, a conquistar melhor nota para ficares em melhor posição. O saber universitário é assim uma luta (feroz e sangrenta) pelo poder.
E assim farás, nem que para isso tenhas que tomar quilos de fósforo, de cabular, de dissimular, de ficar 48 horas acordado, de marrar e encornar até o cérebro ficar todo num oito.
Poderão chamar-te, depois, aluno médio ou bom aluno.
Se não quiseres ser irradiado da hierarquia dos bons, tens muito que encornar e muitos esgotamentos a ganhar para o teu currículo ortopsíquico.
Enquanto eles têm orgasmos de cada vez que te atiram com mais um palavrão técnico, tu terás, tarde ou cedo, e na melhor das hipóteses, um esgotamento cerebral. Mesmo que tomes fósforo às toneladas, não conseguirás acompanhar a escalada que te impõem.
Encontrarás, então, pretextos para protestar: ora são as propinas, ora a qualidade de ensino, ora outro eufemismo qualquer.
Mas a razão de fundo, que nem a ti mesmo confessas, é o quadro de ensino que, imutável, se mantém há séculos e que conduziu o mundo, a humanidade e a vida a este holocausto que temos hoje.
Tudo para honra e glória de todos os especialistas de todas as especialidades.
A melhor recompensa que o jovem podia dar a estes esforçados especialistas era submetê-los a uma prova muito simples: da listagem de palavrões a seguir indicados, exigir que decorassem todos, um por um, e que definissem cada um como se o cérebro humano tivesse que ser um dicionário ou, modernamente, uma diciopédia.
Não era mais nem menos do que aquilo que os especialistas exigem do jovem que chega às universidades.
Se és jovem recém-chegado às universidades, tens, de facto, que saber o que queres e para onde vais. Mas, provavelmente, com a actual situação de ensino em geral e de ensino superior em particular, nunca o saberás.
Eis, para começar, alguns dos milhares de palavrões que as várias cadeiras debitaram durante o primeiro mês do 1º ano do curso:(Ver file lexico-1)
bio-2
EM NOME DA VIDA UM POUCO DE ORDEM, PLEASE!
29/11/1998 - Em nome da vida (e, portanto, da Naturologia Holística ) pede-se às ciências da dita vida - as bio-logias - que ponham um pouco de ordem na sua própria casa, no seu terreno de manobra, no seu campo de batalha. E já que a ciência moderna se tornou uma guerra permanente.
Ordem no campo, um mapa da região, para que o estudante de Biologia saiba onde está, em que ponto está do mapa, quando apanha pela proa os nomes mágicos, os neologismos que ciência bio está sempre a fabricar e a acrescentar ao já vasto léxico que conseguiu reunir.
Se todo este léxico alguma vez prestou algum serviço à vida, à naturologia e à holística, é o que fica por saber e que talvez nunca se saiba.
Mas já que o sistema nos constrange, como alunos, a este confronto permanente com um léxico em permanente proliferação, orgulhoso de ser o mais vasto de todos os léxicos que a ciência tem inventado, talvez não fosse má ideia, para higiene e profilaxia da nossa saúde mental, que as ciências do bio se congregassem para que o estudante se orientasse na selva desse «struggle for life» que é a nossa civilização de alta e sofisticada ciência.
Há, no mínimo, que encontrar pistas ( ou hipóteses de trabalho) que nos conduzam neste reino da confusão.
Como fui a correr comprar uma série de livros (a seguir indicados) de «bio-logia», socorro-me então de alguns deles para sugerir algumas pistas de convergência holística, o que faria certamente algum bem à saúde mental de alunos e professores.
A EPISTEMOLOGIA DIZ NÃO
A epistemologia, que à partida se poderia colocar como uma instância ordenadora (já que não quer ser instância de recurso e tribunal supremo) para dirimir estes gravíssimos diferendos interciências, ainda por cima da mesmíssima área, da mesmíssima família, cedo nos indica que o melhor é tirar o cavalinho da chuva porque não vai deixar de chover.
Se formos pelos grandes craques da Epistemologia - como é o incontornável Gaston Bachelard, que escreveu mais livros por metro quadrado - bem podemos encontrar que nunca encontramos.
Os milhares de páginas que este crânio obrou só se ocupam das ciências físicas deixando as outras (históricas, antropológicas, biológicas) órfãs e ao deus dará.
Melhor do que ele, nesse aspecto de só considerar as ciências físicas como ciência, é Jonh Losee, com a sua obra gigantesca «Introdução Histórica à Filosofia da Ciência.» (Ed. Terramar, Lisboa, Outubro de 1998)
De maneira que tive de chorar amargamente os quase 20 mil que dei para ficar epistemologicamete apetrechado com esta lista de livros do grande crack Bachelard e dos restantes craques.
Num livro que prima pela transparência e inteligibilidade do discurso - o que é raro em textos de epistemologia - vamos encontrar, ao todo, página e meia que se ocupa da ciência da vida, a tal que tem hoje o léxico mais vasto de todas as ciências.
Foi o primeiro livro a ser indicado pelo nosso professor de Epistemologia , está esgotadíssimo mas com os meus recursos de rato de biblioteca lá o descobri e estou lendo os «Elementos de Filosofia da Ciência», de Ludovico Geymonat ( Ed. Gradiva, Lisboa, s/d). Mas sobre a vida, nicles.
De caminho, visitei Maria Manuel Araújo Jorge, incluída no volume colectivo «O problema Epistemológico da Complexidade» e que era suposto abordar, nesse plantel de sumidades, não a teoria da história, não a física das altas energias (para isso lá estava o alto comissário do CERN em Portugal, José Mariano Gago) , não a física nuclear, mas - exactamente - a epistemologia da Biologia.
Querias! A senhora deve ser um barra em epistemologia, pelo que fiquei exactissimamente na mesma sobre o que eu ali pretendia : ver um pouco de ordem na vasto campo da ciência biológica.
Resta ao estudante, talvez, nesta bibliografia que adquiriu por bom preço, debruçar-se sem cair, sobre «O Paradigma Bioético» (Ed. Salamandra, Lisboa, 190), discurso morninho e autodesculpativo de Gilbert Hottois sobre as imoralidades das ciências da vida, mas antes isso que nada.
Porque a crítica epistemológica da Biologia - está visto - é mesmo nada, até este momento, em que a Biocracia se instalou de chinela e pucarinho, arreganhando os dentes à própria irmã gémea, a tecnocracia já instalada.
Procurando melhor, lá vamos então descobrir, na colecção «O Saber da Filosofia», das edições 70, um senhor Georges Canguilhem que, perdendo a cabeça, dedica 126 páginas (fora os trocos) à «Ideologia e Racionalidade nas Ciências da Vida.», obra que passa agora a ser o meu livro de cabeceira, para me animar nas insónias de aluno das ciências da vida.
Foi uma festa, vai ser uma festa, neste 12º trabalho de Hércules que é encontrar um nexo lógico (ou nem que seja histórico, cronológico, etc.) entre os vários ramos da Bio-logia.
Em nome da vida (e portanto da naturologia Holística) espera-se que o trabalho de encontrar nexos entre as partes vá avançando sobre os cadáveres dos alunos que, geração após geração, foram e ainda vão ser, por alguns anos, assassinados, em nome da vida, pelas ciências da vida.
Um incidente curioso.
No dia 25 de Novembro de 1998, quando o professor de Farmacognósia estava no auge do massacre terminológico às frágeis mentes de nós todos, sai-se com esta de antologia :
«E ainda não chegámos à Farmacognósia!»
De facto, ao que parece, desde a primeira aula, estávamos ainda... na Química.
Mas Química ou Farmacognósia, que importa isso se o nevoeiro é cerrado e total e se ninguém, aliás, sabe onde está nunca ?
O apelo feito aqui para que as ciências do Bio
- Farmacognósia
- Bioquímica
- Biologia celular
se reunam num gabinete de crise, faz, afinal, algum sentido, face àquele incidente.
O que aconteceu na farmacognósia aconteceu também na Bioquímica. Só que aí o professor tem todo o cuidado em nos avisar, constantemente, que ainda não estamos na Bioquímica, ou antes, que estamos na Química...
Comparando com a Química em que o professor anterior diz ainda estarmos, o que poderemos encontrar de comum?
Se estamos a dar a mesma coisa - Química - em Farmacognósia e em Bioquímica, porque são tão diferentes estas gémeas?
ÀS ARRECUAS COMO O CARANGUEJO
De um modo geral, o andamento das ciências nas nossas escolas modernas, vai no sentido inverso. É como o caranguejo, sem ofensa para o caranquejo: Começamos pelo ininteligível - a parte - para chegar ao inteligível: o todo, quando a démarche normal, natural e lógica deverá ser do global inteligível para o pormenor ininteligível que só no global se torna inteligível.
É o que designei por «situar no mapa das ciências o ponto onde estou » quando se fala de:
(Ver lista em lexico-2)
E não venham dizer-me que essa lista não é nem de Farmacognósia, nem de Bioquímica, nem de Biologia celular.
Lá porque retirei este léxico-2 de um livro sobre «A insuficiência alimentar», ele só prova que tem de se partir de um global inteligível para chegar então ao pormenor ininteligível.
Não me venham dizer que isto é fisiologia, que é anatomo-fisiologia, que é patologia - nesse caso deve começar pelo princípio, indo depois ao resto dos pormenores.
Como única safa, o melhor é mesmo, com as facilidades do word 97, listar o léxico dessas ciências e depois, palavra a palavra, assinalar aquelas que têm maior frequência de ocorrência e maior número de interfaces com as várias e desvairadas ciências da vida.
bio-3
SE A CIÊNCIA É REI, O REI VAI NU
Alguns livros de epistemologia onde procurei as ciências da vida quase sem encontrar:
Bertrand Russell - Os Problemas da Filosofia - Ed. Arménio Amado, Coimbra, 1980
Boaventura de Sousa Santos - Introdução a uma Ciência Pós-Moderna - Ed. Afrontamento, Porto, 1989
Edgar Morin - O Paradigma Perdido - PEA, Lisboa, 1975
Edgar Morin - O Problema Epistemológico da Complexidade - PEA, Lisboa, s/d
François Dagognet - Bachelard - Ed. 70, Lisboa, s/d
Gaston Bachelard - A Psicanálise do Fogo - Ed. Estudios Cor, Lisboa, 1972)
Gaston Bachelard - Filosofia do Novo Espírito Científico - Ed. Presença, Lisboa, 1976
Gaston Bachelard - O Novo Espírito Científico - Ed. 70, Lisboa, s/d
Georges Canguilhem - Ideologia e Racionalidade nas Ciências da Vida - Edições 70, Lisboa, s/d
Gilbert Hottois - O Paradigma Bioético - Ed. Salamandra, Lisboa, 1990
Johannes Hessen - Filosofia dos Valores - Ed. Arménio Amado, Coimbra, 1974
Johannes Hessen - Teoria do Conhecimento - Ed. Arménio Amado,Coimbra, 1964
John Losee - Introdução Histórica à Filosofia da Ciência -
Ludovico Geymonat - Elementos de Filosofia da Ciência - Ed. Gradiva, Lisboa, s/d
Pierre Delattre - Teoria dos Sistemas e Epistemologia - A regra do Jogo, Lisboa, 1981
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SE A CIÊNCIA É REI, O REI VAI NU
O QUE TE ESPERA, JOVEM AMIGO, AO ENTRARES PARA UMA FACULDADE.
10/11/1998 - Para lá de te pintalgarem a cara e outros rituais de iniciação ou ritos de passagem, irás ter que meter na cabeça as variadas e desvairadas nomenclaturas das várias e desvairadas ciências que os vários e desvairados especialistas se encarregam de te despejar para dentro, para único e exclusivo proveito das suas (deles) respectivas especialidades, para único e exclusivo proveito das suas brilhantes carreiras, para único e exclusivo proveito dos seus brilhantes currículos.
Tens que ser tu, jovem candidato a doutor, a armazenar as várias especialidades em que eles são especialistas.
Serás, sem querer e sem o saber, uma super-Internet, isto é claro se quiseres o diplominha que te dará o título tão desejado de doutor.
Espera aí: acabo agora de saber que a implacável hierarquia do poder universitário, tem vários graus assim discriminados:
Bacharelato
Licenciatura
Mestrado
Doutoramento
Cátedra
Professor agregado
Etc
A concorrência gera a inveja social que, neste caso, se chama inveja institucional. Vais ser instigado a subir, a trepar, a ser melhor do que o vizinho, a conquistar melhor nota para ficares em melhor posição. O saber universitário é assim uma luta (feroz e sangrenta) pelo poder.
E assim farás, nem que para isso tenhas que tomar quilos de fósforo, de cabular, de dissimular, de ficar 48 horas acordado, de marrar e encornar até o cérebro ficar todo num oito.
Poderão chamar-te, depois, aluno médio ou bom aluno.
Se não quiseres ser irradiado da hierarquia dos bons, tens muito que encornar e muitos esgotamentos a ganhar para o teu currículo ortopsíquico.
Enquanto eles têm orgasmos de cada vez que te atiram com mais um palavrão técnico, tu terás, tarde ou cedo, e na melhor das hipóteses, um esgotamento cerebral. Mesmo que tomes fósforo às toneladas, não conseguirás acompanhar a escalada que te impõem.
Encontrarás, então, pretextos para protestar: ora são as propinas, ora a qualidade de ensino, ora outro eufemismo qualquer.
Mas a razão de fundo, que nem a ti mesmo confessas, é o quadro de ensino que, imutável, se mantém há séculos e que conduziu o mundo, a humanidade e a vida a este holocausto que temos hoje.
Tudo para honra e glória de todos os especialistas de todas as especialidades.
A melhor recompensa que o jovem podia dar a estes esforçados especialistas era submetê-los a uma prova muito simples: da listagem de palavrões a seguir indicados, exigir que decorassem todos, um por um, e que definissem cada um como se o cérebro humano tivesse que ser um dicionário ou, modernamente, uma diciopédia.
Não era mais nem menos do que aquilo que os especialistas exigem do jovem que chega às universidades.
Se és jovem recém-chegado às universidades, tens, de facto, que saber o que queres e para onde vais. Mas, provavelmente, com a actual situação de ensino em geral e de ensino superior em particular, nunca o saberás.
Eis, para começar, alguns dos milhares de palavrões que as várias cadeiras debitaram durante o primeiro mês do 1º ano do curso:(Ver file lexico-1)
bio-2
EM NOME DA VIDA UM POUCO DE ORDEM, PLEASE!
29/11/1998 - Em nome da vida (e, portanto, da Naturologia Holística ) pede-se às ciências da dita vida - as bio-logias - que ponham um pouco de ordem na sua própria casa, no seu terreno de manobra, no seu campo de batalha. E já que a ciência moderna se tornou uma guerra permanente.
Ordem no campo, um mapa da região, para que o estudante de Biologia saiba onde está, em que ponto está do mapa, quando apanha pela proa os nomes mágicos, os neologismos que ciência bio está sempre a fabricar e a acrescentar ao já vasto léxico que conseguiu reunir.
Se todo este léxico alguma vez prestou algum serviço à vida, à naturologia e à holística, é o que fica por saber e que talvez nunca se saiba.
Mas já que o sistema nos constrange, como alunos, a este confronto permanente com um léxico em permanente proliferação, orgulhoso de ser o mais vasto de todos os léxicos que a ciência tem inventado, talvez não fosse má ideia, para higiene e profilaxia da nossa saúde mental, que as ciências do bio se congregassem para que o estudante se orientasse na selva desse «struggle for life» que é a nossa civilização de alta e sofisticada ciência.
Há, no mínimo, que encontrar pistas ( ou hipóteses de trabalho) que nos conduzam neste reino da confusão.
Como fui a correr comprar uma série de livros (a seguir indicados) de «bio-logia», socorro-me então de alguns deles para sugerir algumas pistas de convergência holística, o que faria certamente algum bem à saúde mental de alunos e professores.
A EPISTEMOLOGIA DIZ NÃO
A epistemologia, que à partida se poderia colocar como uma instância ordenadora (já que não quer ser instância de recurso e tribunal supremo) para dirimir estes gravíssimos diferendos interciências, ainda por cima da mesmíssima área, da mesmíssima família, cedo nos indica que o melhor é tirar o cavalinho da chuva porque não vai deixar de chover.
Se formos pelos grandes craques da Epistemologia - como é o incontornável Gaston Bachelard, que escreveu mais livros por metro quadrado - bem podemos encontrar que nunca encontramos.
Os milhares de páginas que este crânio obrou só se ocupam das ciências físicas deixando as outras (históricas, antropológicas, biológicas) órfãs e ao deus dará.
Melhor do que ele, nesse aspecto de só considerar as ciências físicas como ciência, é Jonh Losee, com a sua obra gigantesca «Introdução Histórica à Filosofia da Ciência.» (Ed. Terramar, Lisboa, Outubro de 1998)
De maneira que tive de chorar amargamente os quase 20 mil que dei para ficar epistemologicamete apetrechado com esta lista de livros do grande crack Bachelard e dos restantes craques.
Num livro que prima pela transparência e inteligibilidade do discurso - o que é raro em textos de epistemologia - vamos encontrar, ao todo, página e meia que se ocupa da ciência da vida, a tal que tem hoje o léxico mais vasto de todas as ciências.
Foi o primeiro livro a ser indicado pelo nosso professor de Epistemologia , está esgotadíssimo mas com os meus recursos de rato de biblioteca lá o descobri e estou lendo os «Elementos de Filosofia da Ciência», de Ludovico Geymonat ( Ed. Gradiva, Lisboa, s/d). Mas sobre a vida, nicles.
De caminho, visitei Maria Manuel Araújo Jorge, incluída no volume colectivo «O problema Epistemológico da Complexidade» e que era suposto abordar, nesse plantel de sumidades, não a teoria da história, não a física das altas energias (para isso lá estava o alto comissário do CERN em Portugal, José Mariano Gago) , não a física nuclear, mas - exactamente - a epistemologia da Biologia.
Querias! A senhora deve ser um barra em epistemologia, pelo que fiquei exactissimamente na mesma sobre o que eu ali pretendia : ver um pouco de ordem na vasto campo da ciência biológica.
Resta ao estudante, talvez, nesta bibliografia que adquiriu por bom preço, debruçar-se sem cair, sobre «O Paradigma Bioético» (Ed. Salamandra, Lisboa, 190), discurso morninho e autodesculpativo de Gilbert Hottois sobre as imoralidades das ciências da vida, mas antes isso que nada.
Porque a crítica epistemológica da Biologia - está visto - é mesmo nada, até este momento, em que a Biocracia se instalou de chinela e pucarinho, arreganhando os dentes à própria irmã gémea, a tecnocracia já instalada.
Procurando melhor, lá vamos então descobrir, na colecção «O Saber da Filosofia», das edições 70, um senhor Georges Canguilhem que, perdendo a cabeça, dedica 126 páginas (fora os trocos) à «Ideologia e Racionalidade nas Ciências da Vida.», obra que passa agora a ser o meu livro de cabeceira, para me animar nas insónias de aluno das ciências da vida.
Foi uma festa, vai ser uma festa, neste 12º trabalho de Hércules que é encontrar um nexo lógico (ou nem que seja histórico, cronológico, etc.) entre os vários ramos da Bio-logia.
Em nome da vida (e portanto da naturologia Holística) espera-se que o trabalho de encontrar nexos entre as partes vá avançando sobre os cadáveres dos alunos que, geração após geração, foram e ainda vão ser, por alguns anos, assassinados, em nome da vida, pelas ciências da vida.
Um incidente curioso.
No dia 25 de Novembro de 1998, quando o professor de Farmacognósia estava no auge do massacre terminológico às frágeis mentes de nós todos, sai-se com esta de antologia :
«E ainda não chegámos à Farmacognósia!»
De facto, ao que parece, desde a primeira aula, estávamos ainda... na Química.
Mas Química ou Farmacognósia, que importa isso se o nevoeiro é cerrado e total e se ninguém, aliás, sabe onde está nunca ?
O apelo feito aqui para que as ciências do Bio
- Farmacognósia
- Bioquímica
- Biologia celular
se reunam num gabinete de crise, faz, afinal, algum sentido, face àquele incidente.
O que aconteceu na farmacognósia aconteceu também na Bioquímica. Só que aí o professor tem todo o cuidado em nos avisar, constantemente, que ainda não estamos na Bioquímica, ou antes, que estamos na Química...
Comparando com a Química em que o professor anterior diz ainda estarmos, o que poderemos encontrar de comum?
Se estamos a dar a mesma coisa - Química - em Farmacognósia e em Bioquímica, porque são tão diferentes estas gémeas?
ÀS ARRECUAS COMO O CARANGUEJO
De um modo geral, o andamento das ciências nas nossas escolas modernas, vai no sentido inverso. É como o caranguejo, sem ofensa para o caranquejo: Começamos pelo ininteligível - a parte - para chegar ao inteligível: o todo, quando a démarche normal, natural e lógica deverá ser do global inteligível para o pormenor ininteligível que só no global se torna inteligível.
É o que designei por «situar no mapa das ciências o ponto onde estou » quando se fala de:
(Ver lista em lexico-2)
E não venham dizer-me que essa lista não é nem de Farmacognósia, nem de Bioquímica, nem de Biologia celular.
Lá porque retirei este léxico-2 de um livro sobre «A insuficiência alimentar», ele só prova que tem de se partir de um global inteligível para chegar então ao pormenor ininteligível.
Não me venham dizer que isto é fisiologia, que é anatomo-fisiologia, que é patologia - nesse caso deve começar pelo princípio, indo depois ao resto dos pormenores.
Como única safa, o melhor é mesmo, com as facilidades do word 97, listar o léxico dessas ciências e depois, palavra a palavra, assinalar aquelas que têm maior frequência de ocorrência e maior número de interfaces com as várias e desvairadas ciências da vida.
bio-3
SE A CIÊNCIA É REI, O REI VAI NU
Alguns livros de epistemologia onde procurei as ciências da vida quase sem encontrar:
Bertrand Russell - Os Problemas da Filosofia - Ed. Arménio Amado, Coimbra, 1980
Boaventura de Sousa Santos - Introdução a uma Ciência Pós-Moderna - Ed. Afrontamento, Porto, 1989
Edgar Morin - O Paradigma Perdido - PEA, Lisboa, 1975
Edgar Morin - O Problema Epistemológico da Complexidade - PEA, Lisboa, s/d
François Dagognet - Bachelard - Ed. 70, Lisboa, s/d
Gaston Bachelard - A Psicanálise do Fogo - Ed. Estudios Cor, Lisboa, 1972)
Gaston Bachelard - Filosofia do Novo Espírito Científico - Ed. Presença, Lisboa, 1976
Gaston Bachelard - O Novo Espírito Científico - Ed. 70, Lisboa, s/d
Georges Canguilhem - Ideologia e Racionalidade nas Ciências da Vida - Edições 70, Lisboa, s/d
Gilbert Hottois - O Paradigma Bioético - Ed. Salamandra, Lisboa, 1990
Johannes Hessen - Filosofia dos Valores - Ed. Arménio Amado, Coimbra, 1974
Johannes Hessen - Teoria do Conhecimento - Ed. Arménio Amado,Coimbra, 1964
John Losee - Introdução Histórica à Filosofia da Ciência -
Ludovico Geymonat - Elementos de Filosofia da Ciência - Ed. Gradiva, Lisboa, s/d
Pierre Delattre - Teoria dos Sistemas e Epistemologia - A regra do Jogo, Lisboa, 1981
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