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Friday, August 11, 2006

MODERNIDADE & FILÓSOFOS MODERNOS 1997

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11-8-1997

FLASHBACK DA MODERNIDADE - ANO ZERO DA IDADE DA PEDRA

Se pós moderno significar pós industrial, os conceitos clarificam-se e a gente entende-se melhor. Tal como os filósofos têm teorizado, porém, tudo parece votado a uma certa neblina, surgindo ao leigo um discurso cada vez mais obscuro sobre o que as autoridades universitárias entendem por moderno e pós-moderno.
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O escândalo que estalou à volta de Heidegger, figura tutelar do modernismo, não foi nem será provavelmente o último episódio de um folhetim que promete novos desenvolvimentos, à medida que o tempo passa e torna obsoletos - matéria de museu e antiquário - os modernismos mais na moda. Será que - perguntam alguns - também no campo das teorias o sistema entrou em derrocada, a modernidade envelheceu, as vanguardas criaram rugas e os carismáticos gurus, afinal, estavam do lado dos tiranos?
Há quem sobreviva através de um poderoso aparelho de erudição e/ou publicidade, como no caso de Habermas, recentemente traduzido para português, há quem entre na corrente das facilidades de consumo como Lipovtseky, há quem confunda o simples e torne ilegível qualquer discurso como Baudrillard e Lyotard, facto que lhe retira leitores mas lhe garante lugar certo no panteão dos pensadores e da filosofia ocidental.
Mas se quisermos avaliar a raiz da árvore pelos frutos que dá(o imperialismo industrial que se diz triunfante por todo o Orbe) a conversa muda um pouco de figura e a pós modernidade fica paredes meias com o ano zero da nova Idade da Pedra.
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Creio ter sido Einstein quem disse que a quarta guerra mundial será à pedrada, se a terceira se consumar.
Talvez por isso o debate sobre a modernidade não seja tão académico como o têm feito alguns teóricos e talvez a presente Crise, com maiúscula, tal como os dois choques petroliferos anteriores, não sejam meramente por acaso mas subprodutos estruturais de um sistema e da «filosofia do progresso» que lhe subjaz. As famosas «crises», no fundo, reflectem, como num espelho, a estrutura do sistema que há demasiado tempo vive de ir matando os ecossistemas. Guerra química, guerra biológica, guerra nuclear são, enquanto indústrias de paz e com fins pacíficos, a nata da Modernidade e desde a segunda Grande Guerra o cavalo de batalha da oposição e resistência radical-ecologista, única filosofia a opor-se, sem medo, a todas as filosofias do progresso e das luzes.
A Crise que estamos hoje a viver é apenas, o último capítulo dessa história do progresso como meta e mito ou da Modernidade como um combate interminável para a definitiva reificação do homem.
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Só a esta luz(da vela) pós-apocalipse, faz sentido continuar o debate que nuns casos se tornou académico, em outros um mero arranjo de eruditos e, em outros ainda, uma forma velada de colaboracionismo com o poder estabelecido.
A modernidade que está nos livros dos filósofos de carreira é antes a pré-história: os cenários de guerra que se traçam neste momento, biológico, químico e nuclear, provam que a ecologia não é uma reivindicação de cientistas «lúcidos» mas uma ciência gerada nos crematórios industriais contemporâneos. Sem a consciência e a recusa disto, toda a filosofia e toda a modernidade é colaboracionista no sentido exacto do termo.
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Indústrias com « a morte na alma» jamais poderiam ser pacíficas porque traziam no ventre a (lógica de) guerra:desde 6 de Agosto de 1945 que o aviso estava dado, mas mais uma vez foi esquecido. 45 anos depois, ainda há muito gente a procurar compreender porque não pode o Ocidente, afinal, estar quieto, sossegado e em paz. E, o que é pior, ainda há muitos filósofos que teimam em não perceber.
Relativamente aos filósofos que era suposto encontrarem-se de mãos limpas, deverá constatar-se que nem só no campo editorial os autores de teorias se sentaram no banco dos réus. De alguns já anteriormente divulgados entre nós, como Popper e Althusser, voltou a falar-se e de maneira desconfiada, como se os intocáveis começassem a dar mostras de evidente decrepitude e desmandos mentais.
Uma entrevista de Popper à revista alemã e que o jornal «Público» divulgou entre nós, é a apoteose da demência senil e deve ter deixado os seus discípulos em palpos de aranha. O falecimento de Althusser, com os artigos necrológicos que motivou, foi outro dos acontecimentos que se podem incluir neste panorama de sistemática desconfiança, de viperina má fé que à volta dos construtores de sistemas se estabeleceu num tempo em que os ecossistemas começam a protestar mais alto que as palavras e os abusos da Modernidade científica e tecnológica.
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Entre os filósofos mais falados nestes últimos 12 meses, Heidegger foi vedeta mas um outro se tornou placa giratória de debates e controvérsias: Habermas, na oportuna tradução para português dessa obra esmagadora, para ler a vida inteira, que é o discurso filosófico da Modernidade.
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[Mas quem somos nós para discutir os grandes arranha-céus da filosofia, se vivemos numa cabana, como foi o caso de Kierkegaard frente à mole imensa de Hegel?
De qualquer modo e porque um leitor não tem necessariamente que ser um seguidor de teorias, - exactamente porque gosta de as seguir todas... - aqui ficou um rápido apontamento, em flash back, sobre o segundo dos dois livros citados.]
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