J. PETITOT 1988
88-09-24-> vp = velho paradigma
OS TARDIOS REMORSOS DE JEAN PETITOT:EPISTEMOLOGIA CHEGA SEMPRE TARDE
24/9/1988 (In «A Capital») - Ainda continuamos à espera de reencontrar a unidade perdida e ver de novo, face a face, a realidade, que a ciência transformou num «puzzle» infernal de peças desencaixadas e desajustadas .
Será a epistemologia para os filósofos de profissão um esforço cultural e biológico (fisiológico) mas a verdade é que a ciência não tem emenda e quem não conseguiu ir montado no cavalo da sua glória, melhor seria ir de burro ou a pé, que é pelo menos mais seguro. Mais vale ir pelo «senso comum» que conseguiu coisas bem bonitas, no campo da tecnologia (dita) artesanal, por exemplo.
Mas também se pode ir nas asas da águia: e os sistemas perenes da sabedoria tradicional, nas suas fontes vivas do Extremo Oriente e , principalmente, do Médio Oriente , mais defendidas da sanha tecno-científica, aí estão a provar que nem tudo está perdido e que ainda é possível sair do pântano onde a ciência e seus aliados nos meteram.
Mesmo com o buraco de ozono a crescer na alta atmosfera, só as fontes da sabedoria vivas da vida podem ser esperança de ultrapassar o inferno criado no Planeta pelo casamento entre ciência e tecnologia. Com os filósofos como padrinhos.
Ao instituir-se como actividade policial e fiscalizadora, a ciência tem mostrado, no entanto, que morde forte e feio nos hereges da sua religião. Os novos académicos da modernidade são bem a prova dessa vocação policial pidesca, como se pode verificar com uma vista de olhos pelo panorama dito literário e cultural.
Por isso, alguns que não são filósofos, graças a deus, embora ocupem a vida pensando, em vez de «ciência como cultura» , falam antes, na clandestinidade, de «ciência como pouca vergonha».
A famosa «inutilidade» da ciência pura assume, assim, à luz da urgência ecológica e do «utilitarismo» que ela pressupõe (se quisermos salvar a pele, meus senhores)as responsabilidades de um corpo morto ou, pelo menos, estranho. De um impasse, de um atraso de vida.
A economia de tempo exigida pela urgência de cataclismos iminentes deveria por isso perturbar os filósofos com alguma sensibilidade aos «fins do homem », mas nada transparece dos seus rostos (e discursos) imperturbáveis. Imóveis. Divinamente acima de todas as fraquezas humanas, eles continuam (também eles) à sombra de uma especialidade profissional no âmbito de uma instituição (universidade) , dividindo, subdividindo, analisando, atomizando, congeminando sobre a congeminação , «criticando a crítica da racionalidade» (Jean Petitot) ou a propor, in extremis, como saída de emergência, uma «dialéctica» entre a metafísica e a fenomenologia. Outra vez a dialéctica a querer salvar ciência e cientistas de maiores apertos.
Tardios remorsos são estes de Petitot, num tempo que já não se mede por um passado finito ao alcance da mão ( arquivos enciclopédicos) mas apenas por um futuro bem finito e incerto, em vias de dar a alma ao criador, de se consumar nos desastres que cientificamente se vão re-multiplicando ao ritmo logarítmico e exponencial de que a (absurda) lógica científica dá o modelo.
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OS TARDIOS REMORSOS DE JEAN PETITOT:EPISTEMOLOGIA CHEGA SEMPRE TARDE
24/9/1988 (In «A Capital») - Ainda continuamos à espera de reencontrar a unidade perdida e ver de novo, face a face, a realidade, que a ciência transformou num «puzzle» infernal de peças desencaixadas e desajustadas .
Será a epistemologia para os filósofos de profissão um esforço cultural e biológico (fisiológico) mas a verdade é que a ciência não tem emenda e quem não conseguiu ir montado no cavalo da sua glória, melhor seria ir de burro ou a pé, que é pelo menos mais seguro. Mais vale ir pelo «senso comum» que conseguiu coisas bem bonitas, no campo da tecnologia (dita) artesanal, por exemplo.
Mas também se pode ir nas asas da águia: e os sistemas perenes da sabedoria tradicional, nas suas fontes vivas do Extremo Oriente e , principalmente, do Médio Oriente , mais defendidas da sanha tecno-científica, aí estão a provar que nem tudo está perdido e que ainda é possível sair do pântano onde a ciência e seus aliados nos meteram.
Mesmo com o buraco de ozono a crescer na alta atmosfera, só as fontes da sabedoria vivas da vida podem ser esperança de ultrapassar o inferno criado no Planeta pelo casamento entre ciência e tecnologia. Com os filósofos como padrinhos.
Ao instituir-se como actividade policial e fiscalizadora, a ciência tem mostrado, no entanto, que morde forte e feio nos hereges da sua religião. Os novos académicos da modernidade são bem a prova dessa vocação policial pidesca, como se pode verificar com uma vista de olhos pelo panorama dito literário e cultural.
Por isso, alguns que não são filósofos, graças a deus, embora ocupem a vida pensando, em vez de «ciência como cultura» , falam antes, na clandestinidade, de «ciência como pouca vergonha».
A famosa «inutilidade» da ciência pura assume, assim, à luz da urgência ecológica e do «utilitarismo» que ela pressupõe (se quisermos salvar a pele, meus senhores)as responsabilidades de um corpo morto ou, pelo menos, estranho. De um impasse, de um atraso de vida.
A economia de tempo exigida pela urgência de cataclismos iminentes deveria por isso perturbar os filósofos com alguma sensibilidade aos «fins do homem », mas nada transparece dos seus rostos (e discursos) imperturbáveis. Imóveis. Divinamente acima de todas as fraquezas humanas, eles continuam (também eles) à sombra de uma especialidade profissional no âmbito de uma instituição (universidade) , dividindo, subdividindo, analisando, atomizando, congeminando sobre a congeminação , «criticando a crítica da racionalidade» (Jean Petitot) ou a propor, in extremis, como saída de emergência, uma «dialéctica» entre a metafísica e a fenomenologia. Outra vez a dialéctica a querer salvar ciência e cientistas de maiores apertos.
Tardios remorsos são estes de Petitot, num tempo que já não se mede por um passado finito ao alcance da mão ( arquivos enciclopédicos) mas apenas por um futuro bem finito e incerto, em vias de dar a alma ao criador, de se consumar nos desastres que cientificamente se vão re-multiplicando ao ritmo logarítmico e exponencial de que a (absurda) lógica científica dá o modelo.
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