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Wednesday, September 13, 2006

ROBERT ANTON WILSON 1987



ideias -1> chave> - chave para os anos 80 - páginas polémicas de ac - novas leituras

IDEIAS-CHAVE DO REALISMO ECOLOGISTA

13/Setembro/1987 - Ainda que não pareça mas tenho uma visão tranquila e nada pânica nem dramática do futuro: acredito que os mais graves e complicados problemas só continuam por resolver porque enormes interesses de empresários continuam lucrando com a existência desses problemas, para os quais a ciência e as tecnologias selectivas (apropriadas) há muito que encontraram soluções perfeitas. A esse respeito tenho uma visão ainda mais optimista do que Buckminster Fuller ou Robert Anton Wilson (este último, nessa obra aliciante e divertidíssima «O Livro dos Illuminati», editado no Porto pela editora Via Óptima). É só questão de ver claro e apostar nas TA : cada TA (tecnologia apropriada) construída e a funcionar são cinco dias que o Apocalipse fica adiado. Como em Portugal, por exemplo, esperamos há 10 anos a concretização de meia dúzia de TA's (projectos de energias renováveis, por exemplo) só aí já vão uns bons 30 dias de atraso, ou seja, de antecipação do Apocalipse. Gostaria, sinceramente, que não me rotulassem de «pessimista» ou de «optimista»: se esforço houve e constante, foi de realismo, dentro do que é possível nesta redoma fechada de mitos, fantasmas, idealismos ideológicos. Por isso defini, para uso pessoal, ecologia como um esforço indignado para ver claro no nevoeiro dos sebastianismos ideológicos. Declaro que não existe, embora possa parecer, deliberado propósito em moralizar seja quem for e sobre que matéria for, adoptando o princípio soberano «todos temos o que merecemos» ou «o mundo não quer ser salvo e as pessoas que se lixem». Em tempo de acelerada entropia, não há, a meu ver, lugar para nenhuma proposta de valores, de qualquer ética ou mesmo de qualquer moral, sistema ou teoria. Admito que nem sempre tivesse conseguido a desejada neutralidade : mas asseguro que a intenção foi sempre a de guardar a maior neutralidade possível relativamente ao dramatismo de tantos crimes. Guardo-me também o direito de «não querer salvar o mundo» e sentiria como uma enorme injustiça que alguém pensasse, um só momento, que ele tem qualquer propósito de salvar o mundo: afirmo que não foi nunca a minha intenção, embora os mal intencionados não poucas vezes me acusassem disso, troçando dos meus ideais humanitários. Tiveram sempre os meus textos um objectivo simples e claro: tentar detectar as constantes que regulam o funcionamento do sistema, com o intuito de chegar a um entendimento objectivo e completamente des-dramatizado da crise planetária, da tragédia humana, do «apocalipse» em curso.
Não creio que tenha abusado da palavra «sistema», nem creio que ela seja um bordão de uso fácil. A proliferação da palavra corresponde mesmo à sua real proliferação. O sistema que vive de ir matando os ecossistemas não é uma ficção nem uma excepção. É a realidade omnipresente, omnipotente e quer-se mesmo, com a ajuda de cientistas subsidiados, omnisciente. Não abusei da palavra «sistema»: a palavra é que abusa de nós. E foi isso, com os «quando», os «como», os «porquê», que eu quis dizer. Quero afirmar solenemente que os meus textos, inéditos ou publicados, não têm nem querem ter mais consequências do que uma colecção de selos ou de borboletas. Se há quem se divirta a espetá-los na cortiça, porque não terei eu o direito de analisar, como um bando de borboletas ou de pulgas, ou de baratas, ou de ratos, os acontecimentos da chamada «crise planetária». E a comparação - note-se - a ser ofensiva, é-o para os ratos.
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