ARTHUR CLARKE 1990
90-11-25-ls=leituras do afonso-clarke-ls
25-11-1990
-ARTHUR CLARKE
-AS FONTES DO PARAÍSO
-ED. SETENTA
Juntando o útil ao agradável, como todo o bom inglês que se preza, Arthur C. Clarke notabilizou-se, já na década de sessenta, por ter colocado as suas excelsas virtudes de cientista ao serviço de não menos excelsas novelas ditas de antecipação.
Neste livro com que Edições Setenta dão início a uma nova colecção, chamada Orion, que procura abranger «as diversas correntes» que hoje se assinalam no vasto mundo da «ficção científica», Arthur Clarke excede-se a si mesmo, imaginando todos os gigantismos que a mentalidade tecnocrática ainda consegue inventar, apesar de alguns já terem dado a maior raia e sido alvo de acerbas críticas por parte dos amigos do ambiente, que preferem então a cantiga do «small is beautiful».
Mas a um cientista perdoa-se tudo e se escrever romances ainda mais. «O engenheiro que ligara a África à Europa - diz a nota de apresentação - através de uma ponte gigantesca, propõe-se agora construir uma torre de seis mil quilómetros de altura. com um elevador que liga a terra a um satélite espacial.»
Trata-se, evidentemente, de uma narrativa humorística. Partindo deste pressuposto, só pode tratar-se de uma divertida e «gigantesca» metáfora, destinada a «criticar» a megalomania de um sistema que a tecnologia tornou paranóico. E como Arthur Clarke, enquanto cientista, não o pode dizer porque lho censuram, aproveita a ficção para desabafar.
Já não é o primeiro nem será provavelmente o último. Lendo o livro, e ainda que a sua subtileza britânica deixe tudo num limbo de ambiguidade, é óbvio que Arthur Clarke não leva a sério o seu mega-engenheiro e as suas alucinações tecnológicas mas faz com que ele vença a resistência dos monges que, na ilha escolhida para implementar a tal torre, se dedicam a outro tipo de tecnologias menos estapafúrdias e menos espectaculares que o dito mega-engenheiro desconhece.
Que o terror da ciência nos possibilite o humor, não os absolve, evidentemente, mas suaviza o delito.
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25-11-1990
-ARTHUR CLARKE
-AS FONTES DO PARAÍSO
-ED. SETENTA
Juntando o útil ao agradável, como todo o bom inglês que se preza, Arthur C. Clarke notabilizou-se, já na década de sessenta, por ter colocado as suas excelsas virtudes de cientista ao serviço de não menos excelsas novelas ditas de antecipação.
Neste livro com que Edições Setenta dão início a uma nova colecção, chamada Orion, que procura abranger «as diversas correntes» que hoje se assinalam no vasto mundo da «ficção científica», Arthur Clarke excede-se a si mesmo, imaginando todos os gigantismos que a mentalidade tecnocrática ainda consegue inventar, apesar de alguns já terem dado a maior raia e sido alvo de acerbas críticas por parte dos amigos do ambiente, que preferem então a cantiga do «small is beautiful».
Mas a um cientista perdoa-se tudo e se escrever romances ainda mais. «O engenheiro que ligara a África à Europa - diz a nota de apresentação - através de uma ponte gigantesca, propõe-se agora construir uma torre de seis mil quilómetros de altura. com um elevador que liga a terra a um satélite espacial.»
Trata-se, evidentemente, de uma narrativa humorística. Partindo deste pressuposto, só pode tratar-se de uma divertida e «gigantesca» metáfora, destinada a «criticar» a megalomania de um sistema que a tecnologia tornou paranóico. E como Arthur Clarke, enquanto cientista, não o pode dizer porque lho censuram, aproveita a ficção para desabafar.
Já não é o primeiro nem será provavelmente o último. Lendo o livro, e ainda que a sua subtileza britânica deixe tudo num limbo de ambiguidade, é óbvio que Arthur Clarke não leva a sério o seu mega-engenheiro e as suas alucinações tecnológicas mas faz com que ele vença a resistência dos monges que, na ilha escolhida para implementar a tal torre, se dedicam a outro tipo de tecnologias menos estapafúrdias e menos espectaculares que o dito mega-engenheiro desconhece.
Que o terror da ciência nos possibilite o humor, não os absolve, evidentemente, mas suaviza o delito.
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