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Tuesday, November 08, 2005

GARAUDY E SENGHOR

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DIÁLOGO DE CIVILIZAÇÕES - UNIVERSIDADE PRECISA-SE(*)

Se a palavra Universidade tem a mesma raiz que a palavra universal...


[ 10-11-1979] - Se educar é acordar a humanidade do pesadelo chamado ignorância, teremos de concluir que o pesadelo se adensa em Portugal e que do analfabetismo estamos a recuar para as trevas da ignorância.
Se a opção ecológica é uma aposta nas prioridades a caminho do que mais importa para libertar as pessoas, tudo indica que em Portugal se caminha de novo para o reforço dos aparelhos totalitários que trituram as pessoas e a liberdade em nome do progresso, da ciência ou do desenvolvimento.
Se as tecnologias apropria-das, humanistas e democráticas são o futuro da humanida-de, então estamos em Portu-gal a caminhar alegre e aceleradamente para um passado bem morto e enterrado.
Se a liberdade e a democracia ainda não são prioridades em Portugal, então é urgente uma escola aberta de tecnologias apropriadas: que para já pode, deve e tem de ser a televisão.

GARAUDY E SENGHOR

Roger Garaudy esteve entre os fundadores da Universidade dos Mutantes, com sede na ilha de Gorée (Dacar) e que ali foi instalada, em 1979, graças aos esforços do poeta Leopold Sedar Senghor, presidente da República do Senegal.
Garaudy e Senghor sustentam ambos que «a cultura está no princípio e no fim do desenvolvimento, que os objecti-vos deste desenvolvimento só podem ser repensados por um diálogo das culturas e que o desenvolvimento deve estar li-gado aos valores próprios de cada sociedade, a sua cultura e as suas estruturas».
Em declaração à France--Press (10-11-1979), Senghor explica:
«Criando a Universidade dos Mutantes, nós trabalha-mos para construir a civiliza-ção do universal. Ensina-se aos estudantes os traços ca-racterísticos de cada civiliza-ção diferente, ensina-se que, neste fim do século XX, nos di-rigimos para a civilização do universal, que será a simbiose das virtudes complementares das civilizações diferentes.»
O estudante da Universida-de dos Mutantes, como a maior parte dos altos respon-sáveis dos países do Terceiro Mundo, crê na supremacia da técnica ocidental, no modelo de crescimento industrial e crê que basta transpô-los, adap-tando-os, para desenvolver um país mais pobre. A sua convic-ção é de que deve imitar o Ocidente.
Pôr em causa as certezas deste estudante e incitá-lo a participar na criação de um fu-turo inédito, são os principais objectivos da Universidade dos Mutantes.

UNIVERSITÁRIOS CALAM-SE

As ciências humanas já hoje admitidas no seio da instituição universitária encontram-se, desde o início, demissionárias.
Não precisando de levar às últi-mas consequências , as próprias premissas para se tornarem ciên-cias incómodas, críticas e mesmo subversivas de um «establish-ment» económico e político no mínimo «desumano», elas calam--se, refugiam-se no silêncio.
Era lícito esperar de antropolo-gistas, etnógrafos, sociólogos e psicólogos, atitudes de maior in-conformismo e que por aí passas-se, como passou pela Universida-de de Vincennes em Maio de 1968, uma das barricadas para a verdadeira batalha do nosso tem-po: salvar o homem de si próprio.
(Título de um livro de Gabriel Marcel: «Os Homens contra o Humano»...)
Não é, no entanto, o que se vê: os «especialistas» das ciências humanas fecham-se em copas, escudam-se numa pseudo-neutra-lidade, a que chamam «objectivi-dade científica», enfim, demitem--se.
Resulta desta demissão que batalhas como a das medicinas humanas têm de ser travadas por autodidactas, jornalistas malucos como o autor destas crónicas, au-todidactas e analfabetos que ne-cessariamente não se encontram devidamente apetrechados e dou-torados para travar com os cate-dráticos da morte a batalha ideo-lógica, não tendo lábia nem pa-lheta para com eles discutir frente às câmaras da televisão...
Se os universitários não aju-dam, que será de nós?
Comodismo, no entanto, com-preensível o dos digníssimos cul-tores das ciências humanas, que estudam afincadamente a forma de contestar o sistema para cien-tificamente a ele se conformarem.

FONTES DA SABEDORIA

Autores desde já respeitáveis e tidos na conta de sérios pela instituição universitária, há muito advogam, sem vergonha, na li-nha dos novos tempos que es-tão despontando desde Maio de 1968, uma pedagogia diferente baseada na sabedoria esotérica que brota de fontes hindus, chi-nesas ou tibetanas.
No quadro das ciências huma-nas admitidas pela própria insti-tuição universitária, o menos que um doutor ocidental, que se jac-te de culto ou minimamente in-formado, tem a fazer é calar-se perante aquilo que ignora ou o ultrapassa.
Não passa já pela cabeça de qualquer universidade do mundo civilizado ocidental classificar de primitiva, charlatã ou bárbara a mais antiga sabedoria das civili-zações extremo-orientais.
Em Portugal, porém, e como se se tratasse alinda do rebanho de carneiros que ditadores bara-tos julgaram domesticar, o espectáculo está à televista: pre-ga-se a lei dos três estados como se todos fôssemos borre-gos e como se este bocado rec-tangular de terra no «faroeste» da Europa fosse uma récua de animais irracionais.
É este constante, abusivo «fa-zer de nós parvos» que torna certas ordens e instituições um
caso hospitalar de urgência ou, em alternativa, um caso de polícia.
Em nome da civilização, da Europa, da ciência, da cultura, da decência, apela-se às autori-dades hospitalares ou, em alter-nativa, policiais que tomem me-didas cautelares contra os agita-dores da ordem... pública que, montados nas antenas da cha-mada comunicação social, desenvolvem ingentes esforços para continuar vendendo a ba-nha de cobra que, desde 1968 (Maio) já ninguém culto compra.

NÃO AOS GORILAS

A miséria de uma ciência exan-gue, esclerótica e definitivamente divorciada do real, quanto mais se autoafirma positiva ou experi-mental, consiste fundamentalmen-te na opaca ostentação dessa mesma miséria mental.
Tendo manipulado previamente os cérebros e condicionado, com reflexos pavlovianos, a chamada opinião pública, tendo adaptado e domesticado à dimensão da sua própria mesquinhez, as consciên-cias estereotipadas, ela tripudia agora sobre a miséria mental que fabricou, afastando de si próprios e da sua libertação os homens que foi intoxicando com a podre ideologia tecnocrática, herdeira directa da lei dos três estados.
É o espectáculo degradante e abjeccionista de uma tecnocracia sem alma, gabando-se ao reba-nho de sobre ele despoticamente governar.
Custe o que custar e dê lá por onde der, temos que dizer o não da liberdade aos gorilas e carras-cos da abjecção.

ACADEMIAS RENDEM-SE

Sem falar dos iconoclastas que, individual e isoladamente, desafiaram a barbárie da ciência ocidental, com as ideias e teses da subversão criadora – surrealismo, dadaísmo, «hippies», movimentos neo-místicos, revolução cultural, Maio 68 - limitemo-nos a falar daquelas personalidades que academias e universidades não deixaram de aceitar, para ca-tedráticos das suas aulas.
Se é em temos universitários que nos querem dar lições, situe-mo-nos no terreno do inimigo.
E encontraremos aí figuras que peroraram sobre ciências iniciáti-cas - ioga, alquimia, ramos ocul-tos e esotéricos - gente que pensa, publica livros, ensina, re-cebe honorários e criou nomes suficientemente prestigiados, ad-mirados e respeitados em todos os continentes, por jovens de to-das as gerações.
Na rápida vista de olhos, noto, por exemplo que Edgar Morin filo-sofou longamente sobre temas «primitivos» a que, por pudor, chamou «arcaicas», Lévy Strauss ergueu uma teoria chamada es-truturalismo, Michel Foucault in-vestigou exaustivamente o «outro», Roland Barthes não des-denharia fazer alta especulação com os signos chineses e os sím-bolos do vómito publicitário.
Enfim, os doutos catedráticos das academias europeias decidi-ram também meter o dente nas outras civilizações e foi um ver se te avias. Se o fizeram sob a ameaça da forca, é questão que não importa agora deslindar.
Se das universidades da Cali-fórnia falamos, o próprio Edgar Morin foi lá estagiar e o que se lê no seu Journal de la Californie, desses novos alquimistas é de molde a meter a ciência ocidental num chinelo. A tecnocracia, coita-da, saiu ganindo pela porta do quintal.

CAVERNÍCOLAS AINDA?

Já ninguém hoje, nem mesmo os tecnocratas, nem mesmo os organismos especializados das Nações Unidas, acredita na tec-nocracia.
Mas em Portugal. acredita-se ainda na religião da ciência, ofi-cia-se em plena TV a corre-se de charlatão todas os que não se ajoelham no altar de Augusto Comte.
Convencidos de que esmagam a nossa pobreza provinciana de autodidactas, os abencerragens do positivismo gritam, até ficar rocos, as pepineiras tecnocráticas mais cediças, julgando que nos deixam aturdidos de enlevo e ad-miração.
Mas não estamos aturdidos nem enlevados.
Imundície e promiscuidade - a que os tecnocratas chamam pudi-camente poluição - é tudo o que este neopositivismo tem afinal para dar às novas gerações.
A alta tecnologia cirúrgica - e o seu apogeu, a transplantação - é apenas a comprovada de-monstração da falência da tera-pêutica: corta-se e transplanta-se o que já não se consegue curar.
Quem tem, positivamente, que ser rigorosamente policiado e à luz dos direitos humanos, dado como indesejável no seio da co-munidade humana e das democracias civilizadas, é o tecnocrata ensandecido que fez época, ex-plorou, matou, vituperou mas cujo reinado chegou ao fim.
Cavernícola é que em Portugal ainda se dê guita a esta raça que a nova geração rejeita, onde quer que a nova geração aprendeu a pensar e a fazer alguma coisa mais do que ficar surda, de «rock» ou envenenada de coca.
Se há nomes que a tecnologia judaico-cristã ainda não digeriu – como é o caso de Ivan Illich, Michel Bosquet, Theodore Roszak, Ala Watts ou do enigmático Gurdjieff - outros há que já lec-cionam livremente nas respeitá-veis universidades que condicio-nam as novas gerações à boa vida do sistema.
Os nomes de Herbert Marcuse, Adorno, Thimoty Leary, Norman Brown, Kenneth E. Boulding, Erich From, Ronald Laing, René Dubos, Barbara Ward, Barry Commoner não me parece que possam rotular-se de primitivos ou charlatães.
Por outros motivos e bastante óbvios, a tecnocracia judaico-cris-tã expulsou Wilhelm Reich conde-nando-o à miséria e prendendo-o num hospício psiquiátrico, mas esse era culpado de ser pobre e não ter, com a teoria do Orgone, conse-guido fazer fortuna.
Se há figuras que não fran-quearam, por oficio, os umbrais da instituição escolar, é porque ti-veram forças para criar eles pró-prios a sua escola, são os casos de Lanza del Vasto, Rudolf Stei-ner, Khrisnamurti, Michio Kushi.
Sabemos ainda e por exemplo que a Universidade Mundial Bra-hama Kumaris, consagrada a di-fundir o Raja Ioga, tem o alto pa-trocínio das Nações Unidas e tal-vez ninguém, mesmo em Portu-gal, se atrevesse a considerar «charlatão» aquele areópago in-ternacional...

DE IGUAL PARA IGUAL

Inclusive tecnocratas arrependi-dos, como Roger Garaudy, Jean Paul Sartre, F. Schumacher, Amory Lovins, Serge Moscovici, René Dumont, René Dubos, Joel de Rosnay, Konrad Lorenz ou Roberto Vacca, arriscar-se-iam a merecer o rótulo de charlatães se tivessem de submeter-se a exa-me com um júri constituído por vários doutores Castanhinha.
Há nomes que são hoje refe-rências universais inalteráveis para qualquer pessoa que se diga culta. Lanza del Vasto, Khrisna-murti, Michio Kushi, discutem com universitários sempre que calha, e a nenhum caíram os parentes na lama. Se não derrubaram (ainda) a tecnocracia, também não se renderam a ela. Falam de igual para igual.
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(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado na «Crónica do Planeta Terra», «A Capital» e não me arrependo de nada, antes pelo contrário. Com a data de publicação por identificar, registo-o com a data do telex a que se refere e que vai em anexo. É, além do mais, um texto placa giratória dos nomes que mais influiram a ideia ecológica no seu sentido mais lato. Indispensável ligar esta listagem de «obscurantistas» à do file onde, em resposta ao bastonário Germano, enunciei uns dez obscurantistas dos mais directamente ligados à ecologia da medicina. Mas muitos outros devem completar essa listagem (definitiva) de «obscurantistas», a qual devidamente humedecida em mijo poderei, um destes natais, atirar à cara do dito Germano dito de Sousa.
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