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Friday, January 13, 2006

H. MC COY 89

89-01-14-dl>=diário de um leitor pretensioso–inédito ac de 1989

À PROCURA DA BIBLIOTECA ESSENCIAL

14/1/1989 - Não é a "biblioteca ideal" o que gostaria de apontar, mas talvez a "biblioteca essencial", começando por definir o que entendo, em livros, por essencial.
Iria, por exemplo, indicar aqueles livros que permaneceram mais tempo e maior número de vezes como pontos de referência nas mais variadas circunstâncias da minha vida.
Chamaria a isto, em sentido muito pessoal, informação que esses livros me deixaram.
A peça de Ionesco "Comment s'en débarrasser", por exemplo, ocorre-me regularmente à memória, quando procuro exprimir algo que escapa à comunicação mas que está na base de um número infinito de situações importantes da vida.
Penso que um livro é importante e tanto mais permanente - essencial - quanto mais vezes o seu sentido global, ou mesmo simbólico, mais vezes nos ocorre, definindo as coisas mais indefiníveis e que, segundo julgo, são sempre as mais importantes, as que escapam a uma racionalização que é sempre uma esquematização.
O que é imediatamente traduzível pelo discurso comum, ou pelo discurso dito científico, através de uma qualquer nomenclatura técnica sectorial, deixa de ter importância permanente ou só a tem um tempo relativamente curto.
Peças eminentemente simbólicas como a de Ionesco definem o indefinível pelo discurso racional , no caso concreto a Engrenagem chamada Civilização tal como a engendrámos e cujas leis de funcionamento ainda não percebemos.
O carácter "simbólico" é critério para tornar um livro indispensável, permanente, intemporal ou absolutamente essencial. A "biblioteca ideal", no meu entender, deveria ser a dos livros que conseguiram símbolos mais universais e permanentes da condição humana.
Neste sentido, os livros de Balzac, Zola ou Eça de Queirós teriam um interesse reduzido ou mesmo nulo: toda a literatura que abandonou o símbolo deixou de falar da condição humana, para se fazer uma crónica efémera de agitações micro-individuais ou micro-sociais.
Um livro literariamente pouco relevante pode ter, neste contexto, uma informação simbólica relevante - e por isso fica, ocorre-nos frequentemente ao longo da vida, temos nele um paradigma de estruturas essenciais do funcionamento desta engrenagem.
É o caso, por exemplo, de "Os Cavalos Também se Abatem", de Horace Mc Coy, tema permanente e ponto eterno de referência: ele traduz de maneira simbólica (universal no espaço e intemporal no tempo) uma das constantes da mesma engrenagem ou civilização
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