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Wednesday, February 01, 2006

M. RYDELL 92

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1-2-1992

FILMES EM CASA - CRÓNICA DE VÍDEO POR TOMÉ DE BARROS - O RIO SEM MARGENS
DO DESESPERO HUMANO

Se há filmes em que a força do argumento consegue fazer apagar e esquecer prováveis debilidades da realização, «O Rio», de Mark Rydell é, com certeza, um deles e um dos mais significativos. Difícil é detectar nele qualquer fissura, ou qualquer daqueles sofismas que, sendo praga ma maioria esmagadora da produção norte-americana, até nos mais pintados e cotados acaba por comparecer. Dizer de um filme americano, de temática social, como é este, que não contém (pelo menos que se veja) um único sofisma, é um caso raro; diria mesmo, excepcional. Diria mesmo: único.
E, no entanto, trata-se de abordar, a par e passo, uma das «junturas» por onde a sociedade industrial mostra as suas verdadeiras fauces de monstro canibalesco. Há, na engrenagem do industrialismo, uma estratégia implícita, como lógica do absurdo, que põe em acção forças e mecanismos sociais, todos eles convergentes num objectivo: expulsar o agricultor da terra, ainda que seja a terra difícil mas fértil das margens alagadas do Mississipi.
É como se a terra e a propriedade fosse o último reduto de liberdade e nela o agricultor «teimoso» fizesse a sua barricada de resistente. Impecável, de facto, é a forma como este mecanismo (esta lógica, esta estratégia de destruição) é dado, tendo, como seu contraponto, o inferno industrial. De um lado o agricultor do Alabama, Mississipi e, do outro, o inferno escaldante de uma siderurgia; de um lado, o agricultor que se agarra à terra, mesmo alagada, periodicamente, pelas cheias, e do outro o projecto de uma barragem que inundará, mais cedo ou mais tarde, tudo o que ali vive e mexe.
Motivo de espanto é a forma como o filme dá a greve na Siderurgia, uma greve a sério como nós, em Portugal, nunca conhecemos, entregues, como ficámos, também nesse aspecto, ao folclore e à banalização. Pintada com as cores da verdade, a greve aparece-nos em todas as suas nuances e contradições: vê-se bem, sem lugar a equívocos, o que significam afinal os «fura greves» quando a situação se agudiza. Há momentos, em «O Rio», onde supomos estar a ver os grandes, os enormes clássicos soviéticos do filme revolucionário.
Com os dados assim lançados, o filme dedica-se a analisar depois, um por um, os múltiplos estratagemas, truques, vigarices, patifarias de que o sistema se serve para o pressionar o agricultor, para o obrigar a desistir, para o expulsar da terras, cobiçadas para construção urbana, barragens gigantescas ou industrialização acelerada.
Sequência inesquecível e discretamente carregada de simbolismo é aquela em que, no inferno dos altos fornos, no meio de clarões de fogo, uma gazela aparece perdida, conseguindo a sua silhueta, recortada em contra-luz, mobilizar todos os trabalhadores, que, embora embrutecidos ou insensibilizados de trabalho e cansaço, se põem no seu encalce para a salvar. É mesmo sublime, esta cena que bem pode entrar numa antologia geral do cinema. Apesar de alguns momentos que fazem o jogo facínora da situação estabelecida, «O Rio» é um filme redentor. E, até certo ponto, surpresa, como um Mark Rydell ainda consegue estar vivo para fazer um filme destes, com a força deste. Possivelmente o seu canto do cisne e, também, a sua última acção de resistência contra o establishment.
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Publicado em vídeo pela Edivídeo, aqui deixamos a ficha compacta deste épico filme de Mark Rydell:[?]
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