P. LAFARGUE 1991
1-1 - 91-07-31-ls- leituras selectas do ac - lafargue-2-ls
[(**) Este texto de Afonso Cautela, foi publicado no jornal «A Capital», «Leituras de Verão», 31-7-1991 ]
A reedição deste Paul Lafargue impunha-se como uma necessidade respiratória vital no abafado panorama de supérfluos e frivolidades. As 70 páginas desta nova reedição portuguesa(*) valem por um longo discurso e por um veemente manifesto.
Primeira prioridade de um realismo ecologista que se não deixou levar nas ondas retóricas da antipoluição, o tema do trabalho (e portanto o dos ócios) é colocado nos termos exactos pelo filósofo francês. Trata-se de trabalhar para viver e não de viver para trabalhar. Trata-se de, um século depois, continuar a exigir isso
«O Direito à Preguiça» goza o que deve ser gozado: por exemplo, a pretensão que o establishment económico continua a ter de relacionar «prosperidade» económica com trabalho obrigatório, horários longos, férias escassas, stress, opressão.
Lafargue teve a intuição do que viria a ser demonstrado cientificamente anos mais tarde: não é por muito trabalhar que se amanhece mais cedo. E não é porque se tem mais horas de trabalho que a produção floresce.
Esta, que é uma verdade do evangelho libertador, um dogma da verdade que o sistema tem todo o cuidado em tapar das vistas profanas - para que o trabalhador nunca saiba e verdade -, já era tabo no tempo de Lafargue e tabo continua, 110 anos depois deste manifesto ter sido publicado.
Afinal, sofremos a opressão que merecemos, enquanto tivermos os doutrinadores, economistas, políticos e retóricos que merecemos.
Paul Lafargue, que nasceu em Cuba em 1842, de mãe francesa, e chegou a casar-se com uma filha de Karl Marx, seria muito influenciado por este filósofo, embora acentuando a vertente individualista e libertária do marxismo primitivo.
Aderiu à Internacional dos Trabalhadores e em 1883 escreveu este «elogio do ócio», que obteve obviamente uma rápida popularidade mas a animosidade dos ortodoxos. «Perestroika avant la lettre».
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(*) «O Direito à Preguiça», Paul Lafargue, Tradução de António José Massano. Ed Teorema, 2ª edição
(**) Este texto de Afonso Cautela, foi publicado no jornal «A Capital», «Leituras de Verão», 31-7-1991
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ELOGIO DO ÓCIO(**)
[(**) Este texto de Afonso Cautela, foi publicado no jornal «A Capital», «Leituras de Verão», 31-7-1991 ]
A reedição deste Paul Lafargue impunha-se como uma necessidade respiratória vital no abafado panorama de supérfluos e frivolidades. As 70 páginas desta nova reedição portuguesa(*) valem por um longo discurso e por um veemente manifesto.
Primeira prioridade de um realismo ecologista que se não deixou levar nas ondas retóricas da antipoluição, o tema do trabalho (e portanto o dos ócios) é colocado nos termos exactos pelo filósofo francês. Trata-se de trabalhar para viver e não de viver para trabalhar. Trata-se de, um século depois, continuar a exigir isso
«O Direito à Preguiça» goza o que deve ser gozado: por exemplo, a pretensão que o establishment económico continua a ter de relacionar «prosperidade» económica com trabalho obrigatório, horários longos, férias escassas, stress, opressão.
Lafargue teve a intuição do que viria a ser demonstrado cientificamente anos mais tarde: não é por muito trabalhar que se amanhece mais cedo. E não é porque se tem mais horas de trabalho que a produção floresce.
Esta, que é uma verdade do evangelho libertador, um dogma da verdade que o sistema tem todo o cuidado em tapar das vistas profanas - para que o trabalhador nunca saiba e verdade -, já era tabo no tempo de Lafargue e tabo continua, 110 anos depois deste manifesto ter sido publicado.
Afinal, sofremos a opressão que merecemos, enquanto tivermos os doutrinadores, economistas, políticos e retóricos que merecemos.
Paul Lafargue, que nasceu em Cuba em 1842, de mãe francesa, e chegou a casar-se com uma filha de Karl Marx, seria muito influenciado por este filósofo, embora acentuando a vertente individualista e libertária do marxismo primitivo.
Aderiu à Internacional dos Trabalhadores e em 1883 escreveu este «elogio do ócio», que obteve obviamente uma rápida popularidade mas a animosidade dos ortodoxos. «Perestroika avant la lettre».
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(*) «O Direito à Preguiça», Paul Lafargue, Tradução de António José Massano. Ed Teorema, 2ª edição
(**) Este texto de Afonso Cautela, foi publicado no jornal «A Capital», «Leituras de Verão», 31-7-1991
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