I. SINGER 1991
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30-7-1991
PAUL MAZURSKY ADAPTA OBRA DE SINGER - A MORTE COMO PROTAGONISTA
Judeu polaco emigrado na América do Norte, é quase certo que faz carreira triunfal nas artes e/ou nas letras. Em 1935, fugindo à vaga de terror nazi que já se pressentia, Isaac Bashvi Singer emigrava para Nova Iorque e em 1978 já era prémio Nobel de Literatura. Falecido há dias, quase com cem anos de vida (nasceu em 1904), este respeitável ansião, que começou por escrever livros em língua yiddish, é hoje uma glória da literatura de língua inglesa. Graças a Hitler, portanto. O escritor Saul Below ajudou-o também muito a sair do anonimato, ao traduzir da língua yiddish contos seus que divulgou ao público norte-americano. Mas poderá dizer-se, apesar disto, que Isaac Bashevis Singer, conquistou a pulso, palmo a palmo, o lugar ao sol, o terreno de glória e fama, a imortalidade que já ninguém lhe tira.
Curiosamente, o cinema só se lembraria dele no final dos anos 80, quando Paul Mazursky (emigrado polaco, está-se mesmo a ver, os amigos e compatriotas são para as ocasiões) lhe adaptou «Inimigos: Uma História de Amor». Romances como este «Inimigos» apresentam-se com laivos claramente autobiográficos, se é que não são uma transposição óbvia e muito transparente de episódios da própria vida de Singer.
O escritor da história (o espantoso actor Ron Silver) salta entre três mulheres, todas esposas «legítimas», com a agilidade de uma corsa. A coisa, além de constituir uma infracção pesada à lei norte-americana, que proíbe e penaliza a bigamia, não pode acabar bem -- e acaba com o suicídio de Macha, a bela e insaciável Macha, de origem russa, que trouxera interiorizado o hábito da morte de um campo de extermínio nazi, e que nela parecia funcionar como um afrodisíaco... As três mulheres são como que «ressuscitadas» do holocausto e é esse peso, esse denominador comum que, como um pesadelo, faz de Herman Broder -- o escritor da história -- uma figura dramaticamente dilacerada, não só entre três esposas mas entre a vida e a morte. O cheiro a cadáver de crematório paira sobre o filme como seu oxigénio e é ele que corta a leveza frívola ou a ironia latente de algumas situações. Ou será antes a ironia que impede o dramatismo latente de atingir o paroxismo da tragédia?
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INTERFACES: A obra romanesca de Singer é, sem dúvida, um documento credenciado e notável sobre a resistência judaica. Este pequeno pormaior explica que as editoras Europa-América e Dom Quixote tenham sido, em Portugal, as mais alertadas para traduzir e editar Singer, que aparece assim em várias colecções de ficção internacional. «Inimigos-Uma História de Amor», que deu o filme de Paul Mazursky, com o título em português «Inimigas e Amantes» (Publivídeo) com música particularmente convincente (e criadora de ambientes) do treinadíssimo e conhecidíssimo Maurice Jarre, está, inevitável, na colecção «Ficção Universal», da Dom Quixote, bem como «No Tribunal de Meu Pai».
Outros livros de Singer disponíveis em português: na Europa-América, «O Mago de Lublin» e «Yentl»; na Minerva, «O Escravo» (colecção capa amarela)
A morte de Isaac Bashevi Singer dá um bom pretexto para rever o filme e ler a obra, uma das mais interessantes da literatura contemporânea de temática judaica e antinazi.
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30-7-1991
PAUL MAZURSKY ADAPTA OBRA DE SINGER - A MORTE COMO PROTAGONISTA
Judeu polaco emigrado na América do Norte, é quase certo que faz carreira triunfal nas artes e/ou nas letras. Em 1935, fugindo à vaga de terror nazi que já se pressentia, Isaac Bashvi Singer emigrava para Nova Iorque e em 1978 já era prémio Nobel de Literatura. Falecido há dias, quase com cem anos de vida (nasceu em 1904), este respeitável ansião, que começou por escrever livros em língua yiddish, é hoje uma glória da literatura de língua inglesa. Graças a Hitler, portanto. O escritor Saul Below ajudou-o também muito a sair do anonimato, ao traduzir da língua yiddish contos seus que divulgou ao público norte-americano. Mas poderá dizer-se, apesar disto, que Isaac Bashevis Singer, conquistou a pulso, palmo a palmo, o lugar ao sol, o terreno de glória e fama, a imortalidade que já ninguém lhe tira.
Curiosamente, o cinema só se lembraria dele no final dos anos 80, quando Paul Mazursky (emigrado polaco, está-se mesmo a ver, os amigos e compatriotas são para as ocasiões) lhe adaptou «Inimigos: Uma História de Amor». Romances como este «Inimigos» apresentam-se com laivos claramente autobiográficos, se é que não são uma transposição óbvia e muito transparente de episódios da própria vida de Singer.
O escritor da história (o espantoso actor Ron Silver) salta entre três mulheres, todas esposas «legítimas», com a agilidade de uma corsa. A coisa, além de constituir uma infracção pesada à lei norte-americana, que proíbe e penaliza a bigamia, não pode acabar bem -- e acaba com o suicídio de Macha, a bela e insaciável Macha, de origem russa, que trouxera interiorizado o hábito da morte de um campo de extermínio nazi, e que nela parecia funcionar como um afrodisíaco... As três mulheres são como que «ressuscitadas» do holocausto e é esse peso, esse denominador comum que, como um pesadelo, faz de Herman Broder -- o escritor da história -- uma figura dramaticamente dilacerada, não só entre três esposas mas entre a vida e a morte. O cheiro a cadáver de crematório paira sobre o filme como seu oxigénio e é ele que corta a leveza frívola ou a ironia latente de algumas situações. Ou será antes a ironia que impede o dramatismo latente de atingir o paroxismo da tragédia?
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INTERFACES: A obra romanesca de Singer é, sem dúvida, um documento credenciado e notável sobre a resistência judaica. Este pequeno pormaior explica que as editoras Europa-América e Dom Quixote tenham sido, em Portugal, as mais alertadas para traduzir e editar Singer, que aparece assim em várias colecções de ficção internacional. «Inimigos-Uma História de Amor», que deu o filme de Paul Mazursky, com o título em português «Inimigas e Amantes» (Publivídeo) com música particularmente convincente (e criadora de ambientes) do treinadíssimo e conhecidíssimo Maurice Jarre, está, inevitável, na colecção «Ficção Universal», da Dom Quixote, bem como «No Tribunal de Meu Pai».
Outros livros de Singer disponíveis em português: na Europa-América, «O Mago de Lublin» e «Yentl»; na Minerva, «O Escravo» (colecção capa amarela)
A morte de Isaac Bashevi Singer dá um bom pretexto para rever o filme e ler a obra, uma das mais interessantes da literatura contemporânea de temática judaica e antinazi.
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