F. DURRENMAT 1991
1-1 - 91-08-29-ls> = leituras selectas do ac - durrenma-ls>
29-8-91
CRIME PERFEITO MAIS SÉRIO DO QUE PARECE - QUEM ESPIA QUEM OU A QUESTÃO DO CONHECIMENTO
Nada melhor do que o esquema policial clássico -- com uma pitada de espionagem e outra de aventuras para, sem armar ao filosófico e sem afugentar leitores, conduzir uma investigação epistemológico de fundo, sobre o objectivo e os limites do conhecimento humano. Em tempo de audio-visuais, há que lançar a dúvida metódica sobre a omnipotência desses meios como acesso à realidade.
Foi o que fez o escritor suíço Friederich Durrenmat, recentemente falecido, com a história traduzida para português e que se chama «A Missão»(*).
Uma equipa de televisão tem a seu cargo -- dentro do que a «intriga» estabelece -- representar a «construção da realidade» através da câmara, que só vê o que os olhos humanos também vêem. Observadores são, por sua vez, observados, numa espécie de pescadinha de rabo na boca que formula sérias questões filosóficas. De facto -- sugere implicitamente o autor -- a realidade, a verdade, está sempre para lá do que os sentidos alcançam e por mais máquinas que aparentem ampliá-los. Cruzando-se com a intriga policial e a história de espionagem, o que prevalece é o jogo de esconde-esconde, o ludíbrio como método político e diplomático.
Uma repórter, na vertigem dos acontecimentos, procura manter o pé firme, tentando a bissectriz deste caos contraditório -- o que não é, evidentemente, fácil. Como fácil não é (embora seja fascinante) acompanhar o jogo do gato e do rato que nos é proposto nesta novela (nem sequer muito longa) de Durrenmat, o malogrado escritor de que os editores portugueses se poderiam agora, post mortem, abeberar, com vantagem, com novos títulos traduzidos e publicados. Além de «A Missão», temos também editado em português pela Relógo d'Água, «A Justiça».
Como diz o próprio autor, este é um livro escrito em «prosa experimental», que se lê como quem escuta um monólogo ininterrupto de capítulo para capítulo, assim como «se alguém receasse perder a respiração». Em «A Missão» -- cuja acção gira à volta da mulher de um diplomata suíço -- tudo se joga num labirinto de equívocos e aparências. O interesse em saber mais sobre esta mulher leva uma realizadora de cinema e televisão a um país árabe, palco de complicadas intrigas de poder, onde a violência e a morte se misturam debaixo do sol abrasador das areias do deserto. «De certa forma -- adverte ainda o autor -- esta narrativa constitui um símbolo e uma representação do mundo, em que o motivo de observação forma como que o labirinto onde se esconde o deus do nosso tempo. O deus de homens e mulheres que vivem procurando ser simultaneamente observadores e observados, para reencontrarem um sentido da existência».
-----
(*) «A Missão ou da Observação do Obervador dos Observadores» -- Friedrich Durrenmat -- Ed. Presença
***
29-8-91
CRIME PERFEITO MAIS SÉRIO DO QUE PARECE - QUEM ESPIA QUEM OU A QUESTÃO DO CONHECIMENTO
Nada melhor do que o esquema policial clássico -- com uma pitada de espionagem e outra de aventuras para, sem armar ao filosófico e sem afugentar leitores, conduzir uma investigação epistemológico de fundo, sobre o objectivo e os limites do conhecimento humano. Em tempo de audio-visuais, há que lançar a dúvida metódica sobre a omnipotência desses meios como acesso à realidade.
Foi o que fez o escritor suíço Friederich Durrenmat, recentemente falecido, com a história traduzida para português e que se chama «A Missão»(*).
Uma equipa de televisão tem a seu cargo -- dentro do que a «intriga» estabelece -- representar a «construção da realidade» através da câmara, que só vê o que os olhos humanos também vêem. Observadores são, por sua vez, observados, numa espécie de pescadinha de rabo na boca que formula sérias questões filosóficas. De facto -- sugere implicitamente o autor -- a realidade, a verdade, está sempre para lá do que os sentidos alcançam e por mais máquinas que aparentem ampliá-los. Cruzando-se com a intriga policial e a história de espionagem, o que prevalece é o jogo de esconde-esconde, o ludíbrio como método político e diplomático.
Uma repórter, na vertigem dos acontecimentos, procura manter o pé firme, tentando a bissectriz deste caos contraditório -- o que não é, evidentemente, fácil. Como fácil não é (embora seja fascinante) acompanhar o jogo do gato e do rato que nos é proposto nesta novela (nem sequer muito longa) de Durrenmat, o malogrado escritor de que os editores portugueses se poderiam agora, post mortem, abeberar, com vantagem, com novos títulos traduzidos e publicados. Além de «A Missão», temos também editado em português pela Relógo d'Água, «A Justiça».
Como diz o próprio autor, este é um livro escrito em «prosa experimental», que se lê como quem escuta um monólogo ininterrupto de capítulo para capítulo, assim como «se alguém receasse perder a respiração». Em «A Missão» -- cuja acção gira à volta da mulher de um diplomata suíço -- tudo se joga num labirinto de equívocos e aparências. O interesse em saber mais sobre esta mulher leva uma realizadora de cinema e televisão a um país árabe, palco de complicadas intrigas de poder, onde a violência e a morte se misturam debaixo do sol abrasador das areias do deserto. «De certa forma -- adverte ainda o autor -- esta narrativa constitui um símbolo e uma representação do mundo, em que o motivo de observação forma como que o labirinto onde se esconde o deus do nosso tempo. O deus de homens e mulheres que vivem procurando ser simultaneamente observadores e observados, para reencontrarem um sentido da existência».
-----
(*) «A Missão ou da Observação do Obervador dos Observadores» -- Friedrich Durrenmat -- Ed. Presença
***
<< Home