J.A. DE ALMEIDA 1964
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A PROPÓSITO DO ROMANCE «BAGACEIROS» DE JOSÉ AMÉRICO DE ALMEIDA
[(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no suplemento literário do «Jornal de Notícias», Porto, em 27-8-1964 ]
A descoberta do Brasil continua... No romance, floresta equatorial por explorar, onde o europeu em geral e o português em particular rara-mente penetra, ou se perde se lá entra, rompendo o obstáculo de apenas 3 ou 4 nomes celebrados pelos jornais, o leitor, de vez em quando, «descobre» um novo livro, um novo nome e conclui, entre outras coisas e espantos, que o processo da literatura neo-realista não está de modo nenhum completo nem sequer encetado.
O realismo brasileiro fundamenta-se a si mesmo, sem antecedentes, e está em vias de vitalizar os estéreis neo-realismos, de tradução e importação. Em casos como o de José Américo de Almeida, a poesia não é um talhe posterior dado, por desfastio, às cópias do natural: nasce da terra, das situações, da vida mas principalmente de uma linguagem ao calor da qual tudo se transforma e recria.
É principalmente uma nova Babel em que idiomas particulares se fundiram para resultar um idioma único: é depois um aproveitamento excepcionalmente fe-liz das peculiaridades regionais que por via desse idioma transitam ao universal.
Relativamente à língua portuguesa, mostra-nos este romance, e este romancista que o português clássico já lá vai e que uma nova língua portuguesa aí está a nascer intempestivamente. Por isso a literatura portuguesa de Aquém Atlântico terá de olhar com quantos olhos tiver para o novo romance brasileiro, indo além de casos discutíveis como o de Erico Veríssimo e Jorge Amado, ou do pioneirismo de Graciliano e Machado de Assis. Ali parece estar a decidir-se o futuro de uma língua e portanto de uma literatura, sem atlânticos a separá-la. Ali se está exercitando desde a origem um novo génesis em que apetece mergulhar. Decididamente a «descoberta» do Brasil continua e é lá que está o nosso futuro literário. Não deve afinal a vitalidade dos progenitores aquilatar-se pela vitalidade da progénie?
Nesse caso, só temos de que nos envaidecer com o que em matéria de revolução literária os brasileiros estão fazendo. Bravo, moços!
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(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no suplemento literário do «Jornal de Notícias», Porto, em 27-8-1964
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A PROPÓSITO DO ROMANCE «BAGACEIROS» DE JOSÉ AMÉRICO DE ALMEIDA
[(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no suplemento literário do «Jornal de Notícias», Porto, em 27-8-1964 ]
A descoberta do Brasil continua... No romance, floresta equatorial por explorar, onde o europeu em geral e o português em particular rara-mente penetra, ou se perde se lá entra, rompendo o obstáculo de apenas 3 ou 4 nomes celebrados pelos jornais, o leitor, de vez em quando, «descobre» um novo livro, um novo nome e conclui, entre outras coisas e espantos, que o processo da literatura neo-realista não está de modo nenhum completo nem sequer encetado.
O realismo brasileiro fundamenta-se a si mesmo, sem antecedentes, e está em vias de vitalizar os estéreis neo-realismos, de tradução e importação. Em casos como o de José Américo de Almeida, a poesia não é um talhe posterior dado, por desfastio, às cópias do natural: nasce da terra, das situações, da vida mas principalmente de uma linguagem ao calor da qual tudo se transforma e recria.
É principalmente uma nova Babel em que idiomas particulares se fundiram para resultar um idioma único: é depois um aproveitamento excepcionalmente fe-liz das peculiaridades regionais que por via desse idioma transitam ao universal.
Relativamente à língua portuguesa, mostra-nos este romance, e este romancista que o português clássico já lá vai e que uma nova língua portuguesa aí está a nascer intempestivamente. Por isso a literatura portuguesa de Aquém Atlântico terá de olhar com quantos olhos tiver para o novo romance brasileiro, indo além de casos discutíveis como o de Erico Veríssimo e Jorge Amado, ou do pioneirismo de Graciliano e Machado de Assis. Ali parece estar a decidir-se o futuro de uma língua e portanto de uma literatura, sem atlânticos a separá-la. Ali se está exercitando desde a origem um novo génesis em que apetece mergulhar. Decididamente a «descoberta» do Brasil continua e é lá que está o nosso futuro literário. Não deve afinal a vitalidade dos progenitores aquilatar-se pela vitalidade da progénie?
Nesse caso, só temos de que nos envaidecer com o que em matéria de revolução literária os brasileiros estão fazendo. Bravo, moços!
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(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no suplemento literário do «Jornal de Notícias», Porto, em 27-8-1964
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