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Wednesday, December 14, 2005

P. RIBEIRO 1998

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12/Dezembro/1998

«PSICOLOGIA E SAÚDE», DE JOSÉ LUÍS PAIS RIBEIRO

UM LIVRO QUE PODE ABALAR O MEIO UNIVERSITÁRIO

COMUNICAÇÃO URGENTE E ABSOLUTAMENTE CONFIDENCIAL AOS MEMBROS DO CONSELHO PEDAGÓGICO E DO CONSELHO CIENTÍFICO

Todos os naturólogos e todos os que se interessam pelo destino da naturologia (entre os quais me incluo) devem ler este livro de José Luís Pais Ribeiro.
Esta comunicação, além de ser uma notícia a dizer que o livro existe, pretende também fundamentar uma sugestão que faço ao júri do prémio Hipócrates: sugiro o nome de Ribeiro para o Prémio Hipócrates 1999 na área de ecologia e saúde, embora haja outros nomes que igualmente o pudessem merecer, como Júlio Roberto ou Jean Claude Rodet.

12/Dezembro/1998 - O poder médico-universitário tem expedientes de automanutenção verdadeiramente inesperados. Recupera subtil e momentaneamente o que o contesta ou ameaça subverter. E quando todos menos esperam, ei-lo de novo na vanguarda das operações a comandar os acontecimentos e ao volante do comboio.
Tentando escapar à vigilância policial desse poder médico-universitário, um livro de Julho de 1988, editado pelo Instituto de Psicologia Aplicada (ISPA) e da autoria de José Luís Pais Ribeiro, consegue levantar, de um só golpe, todas as grandes questões que hoje, em 12 de Dezembro de 1998, se colocam à medicina natural, à naturologia e às escolas superiores que as queiram ensinar.
As grandes questões que tecnica e cientificamente legitimam e justificam e impõem a existência de escolas como a vossa.
Nesse sentido, o livro «Psicologia e Saúde », de José Luís Pais Ribeiro, em edição do ISPA e publicado em Julho de 1998, é, por um lado, uma verdadeira bomba no imobilismo do meio universitário em geral e, por outro lado, a mais espectacular manifestação do óbvio ululante.
Tentando escapar à vigilância policial que o sistema médico-universitário exerce sobre tudo o que mexe no terreno, principalmente o que mexe no campo das ideias e da ideologia, o livro de Ribeiro é uma obra-prima de diplomacia e coloca-se na encruzilhada das grandes de-cisões que, a nível de governo, têm que ser tomadas, caso os governos queiram que possa continuar a haver ensino e educação nacional mas principalmente país.
O que, a seguirmos por este andar , não vai haver nem um bocadinho, dentro de poucos anos.
Os ardis a que o ser humano em geral e o professor José Luís Pais Ribeiro em particular recorrem, a ver se escapam às malhas da polícia médico-universitária, são inúmeros.
Um desses ardis, por exemplo, é que um livro intitulado «Psicologia e Saúde», editado por um instituto de psicologia, raramente fala de psicologia e que ocupe, a maior parte das suas páginas, a trazer à colação temas mais ou menos heréticos e tabus, tais como:
Saúde Pública
Biologia Humana
Estilo de Vida
Meio Ambiente
Organização dos cuidados primários de saúde
Prevenção
Epidemiologia
Toxicologia
Medicina ocupacional
Medicina comportamental
Saúde ocupacional
Doenças sociais
Doenças do ambiente
Doenças da poluição
Promoção de saúde
Higiene
Índices sanitários.
Desculpem-me a imodéstia mas julguei que estivesse a reler as minhas dezenas de dossiês com manuscritos que fui escrevendo ao longo dos anos e escondendo na gaveta, e que têm por fora um rótulo muito simples: dossiês malditos de ecologia humana.
Quer dizer, toda aquela temática que Ribeiro trata com abundância de citações de craques norte-americanos, faz parte de uma ciência maldita, a Ecologia Humana, que se bem me lembro alguns andaram por aí a tentar impingir às massas.
Eu sei que tudo isto tem um toque de pornografia e peço desculpa por isso. Mas a urgência de dar a notícia do livro de Ribeiro aos responsáveis pelo destino desta escola, talvez desculpe lembrar pormenores tão escabrosos e obscenos.

Neste seu livro de psicologia, Ribeiro dedica extensos capítulos a doenças que, normalmente, não são consideradas do foro psicológico, nem psiquiátrico nem de psicologia clínica, tais como:
Doenças vasculares cerebrais
Tumores malignos
Doença cardíaca coronária
Acidentes
Ou mesmo e ainda os chamados temas básicos, - como o Stress e a Dor - aqueles que em Ecologia Humana eu chamei de temas de interface, por serem temas de natureza inter-disciplinar, aqueles onde convergem matérias e conteúdos que normalmente se encontram dispersos por várias disciplinas e cadeiras.
São exactamente esses dossiês de interface que podem constituir a matéria prima de uma medicina holística
O ardil extremamente curioso de Ribeiro é que ele consege fazer passar, pela porta da psicologia, os temas tabu, os dossiês proibidos daquilo a que eu chamei de Ecologia Humana, nomeadamente a Ecologia do Trabalho, por exemplo, sempre explosivo, ou Ecologia do Cancro, igualmente e sempre um dossiê explosivo.
Mais ardiloso e curioso, ainda, é que o livro seja de ecologia humana da 1ª à última página e raramente ou nunca essa palavra seja usada.
Em vez de «psicologia e saúde» , o livro deveria chamar-se «ecologia e saúde»... Motivos óbvios impedem o autor de lhe chamar assim.
Os eufemismos de que Ribeiro habilmente se serve são ainda outro ardil para que a mensagem subversiva da ecologia humana possa passar em meio universitário, sem que a polícia médica dê por isso.
Obedecendo a todos os requisitos do discurso universitário, não fosse alguém dá-lo por perigoso franco-atirador ou como mero ensaísta de ideias (condição humilhante para um prof que se preza) , Ribeiro apetrecha-se de todas as armas defensivas , não vá o diabo tecê-las e baterem-lhe à porta, às três da manhã, os bufos médicos.
Por exemplo: convida para prefaciador, uma das figuras mais prestigiadas da medicina portuguesa, o professor Nuno Grande, com um perfil na fronteira da contestação. Além de mandatário no Porto da candidatura presidencial de Lurdes Pintasilgo, lembramos ainda um outro episódio que marca a sua deliberada coragem de pisar o risco: esteve na mesa de um congresso internacional de parapsicologia que a fundação Bial realizou no Porto.
Como a parapsicologia tem andado, também, mais ou menos a fugir da polícia médico-universitária, pode avaliar-se até que ponto a comparência de Nuno Grande nesse acontecimento poderá, além de polémica, ter tido certos riscos de segurança pessoal.
Mesmo, é claro, com o forte dispositivo de segurança que a fundação Bial representa.
Nuno Grande tem actualmente uma crónica radiofónica nas manhãs da Antena Dois, onde a sua personalidade de lutador todos os dias se enobrece.
Voltando a Ribeiro e ao seu livro big bang, há um outro recurso, verdadeiramente assombroso, uma arma que ele vai buscar ao «inimigo» : a arma da bibliografia, já não digo exaustiva mas verdadeiramente esmagadora.
Esmagadora no número de obras citadas (50 páginas à média de 10 titulos por página !!!!) e esmagadora na impressionante actualidade: a maior parte dos trabalhos citados são da década de 90, logo seguida das que foram publicadas na década de 80 e já muito poucos da década de 70.
Para um historiador das ideias médicas e de filosofia da súde é um desafio gigantesco.
Como leitor curioso de encontrar o criminoso num romance policial, só me sinto abalançado a sublinhar, neste livro-bomba, aquilo que ele vai pescar, com grande à vontade, nas águas da medicina natural, da profilaxia natural e da higiene natural.
Também aí ele usa de grande ardil e subtileza, não vá o diabo tecê-las e vir aí a polícia médica bater-lhe à porta às 3 da manhã e tirar-lhe o emprego: Ribeiro, de facto, é professor na Universidade do Porto, no ISPA e psicólogo com doutoramento em Psicologia e Saúde. Além de ter fundado a Sociedade Portuguesa de Psicologia da Saúde.
Tenho uma imensa curiosidade em saber quem, além dele, são os ócios dessa sociedade...

AS DOCES MEDICINAS DOCES

Mas vamos às chapeladas que Ribeiro tira às doces medicinas doces.
Na antiguidade, a que chama «período pré-cartesiano» (!!!!!!!!), refere, com simpatia, Aesculapius e suas filhas Panacea e Hygea. Dentro das normas universitárias, a que nunca foge, Ribeiro cita os nomes latinos sem os aportuguesar, e - o que é sublime ! -socorre-se para essas citações de autoridades que presumo alemãs ou norte-americanas (as únicas universitariamente com gabarito para serem citadas).
Mais: os trabalhos dessas autoridades são de 1987 e outro de 1989.
Sublime! Em 1987 e 1989, finalmente, as sumidades reconhecem que houve Hipócrates, que a medicina egípcia 3000 anos antes de Cristo «estava bastante desenvolvida» (Ribeiro, pg 55) que «a saúde, entre os gregos, era concebida numa perspectiva holística» (página 55).
Autoridade universitária de 1986 (Lipowsky, citadíssimo por Ribeiro) reconhece Platão ea medicina babilónica, Tales de Mileto,Anaximandro, Anaximedes, Heraclito, Galeno, Avicena e São Tomás.
Foram, afinal, antes da hecatombe cartesiana, os grandes idealistas (autores de ideias) em saúde, profilaxia e holística.
O óbvio, finalmente, tem um livro de gabarito universitário e uma bibiografia de 500 títulos a confirmá-lo.
Só para ver isto, valeu a pena chegar aos 65 anos de idade, embora cansado de toda esta palhaçada a que chamam vida e meio universitário.

MAURICE LALONDE:UM SAPO A DIGERIR

Outro escudo bem visível de que Ribeiro se serve, não vá a polícia médica bater-lhe à porta, às três da manhã - é a revolução canadiana operada por Marc Lalonde, que de ecologista chegou a ministro do Ministério Nacional da Saúde e bem estar. E que, a partir de 1974, subverteu, no Canadá, o estalishment médico, abrindo totalmente as portas à medicina natural, à ecologia humana, à Holística, etc. Ao óbvio, portanto.
Percebo agora porque é que Jean Claude Rodet, que há vinte anos fundou em Portugal, a Agricultura biológica, acabando por ser chutado daqui pelos próprios agricultores, acabasse por fundar no Quebéc Canadá uma coisa chamada Instituto de Medicinas Alternativas.
Afinal, havia, antes e por trás, a apoiar o seu imenso valor, um ministro chamado Lalonde!
Fariam bem, as escolas de Naturologia , em ir buscar depressa à Internet informações sobre o que se está a fazer no Canadá, a partir de Lalonde e a partir do Instituto criado e liderado por Jean Claude Rodet.
Como diz Ribeiro, a página 66, «a publicação , em 1974, do relatório Marc Lalonde reflectia as grandes mudanças históricas, políticas, sociais e económicas ocorridas nos países desenvolvidos».
E a seguir: « Países como o Canadá , com óptimos serviços de saúde, não se interessavam apenas pelos meios hospitalares, meramente curativos, nem pelos serviços meramente preventivos mas interessavam-se, também, pela promoção da saúde. »
Mais ainda: «As ideias emergentes destas revoluções acentuavam a responsabilidade individual pela saúde e diminuíam, de forma relevante, a importância dos serviços de saúde tradicionais.
«A responsabilização individual pela saúde deu origem a grandes discussões políticas (Miller, 1978) sobre o que ficou conhecido por política de «victim blaming». »

A DESCOBERTA DA PÓLVORA

A esta pura subversão do establishment , acrescenta Ribeiro um outro acontecimento sísmico. Citando as ideias expressas na década de 70 no relatório Richmond, ficam-nos os olhos esbugalhados a olhar para esta evidência óbvia do óbvio ululante que as autoridades médico-universitárias só toparam em 1970:
«Estamos a matar-nos devido aos hábito descuidados que adoptamos, por poluir o ambiente, por permitir-nos a continuação de más condições - pobreza, fome, ignorância - que destroem a saúde, especialmente a das crianças.»
Se consultarmos as páginas da revista «Natura» dos anos 40, 50, 60 e 70, está lá isto tudo, mil vezes repetido.
Pomposamente, Ribeiro chama a estes óbvios ululantes a «2º revolução da saúde» : mas para que a «segunda revolução da saúde » tivesse direito a figurar num manual universitário do establishment tivemos que esperar que o crac Richmond fizesse um relatório debitando banalidades.
Com a paciência quase esgotada mas tentemos acalmar-nos.
E citemos, entre outras datas de referência citadas por Ribeiro, a Carta de Otawa de 1986, que define «promoção de saúde».
Em 1987, a Organização Mundial de Saúde criou um comité de especialistas europeus, o «Working Group on Concepts and Principle of Health Promotion», para aplicação dos princípios de Alm-Ata - Saude para todos o Ano 2000! (pg 68)
Quando, na época, um jornalista perguntou ao então bastonário da Ordem dos Médicos , Gentil Martins, se os princípios de Alma Ata se aplicavam a Portugal, ele respondeu, expedito e com aquele ar azougado e reguila que o celebrizou, que Alma Ata e as ordens da OMS aos governos era só para países subdesenvolvidos. Nós, Portugal, não estávamos portanto abrangidos e deveríamos continuar a gastar rios de dinheiro com a doença até à pré-falência actual da Segurança Social.

JÁ VAMOS NA TERCEIRA REVOLUÇÃO

A página 66, Ribeiro já fala em 3ª revolução da saúde !!!!!. Em Portugal, no entanto, ainda estamos no neolítico do gentil e de outros gentis martins que por aqui operam.
Não haverá para estas distorções um tribunal europeu e/ou dos direitos Humanos que comece e separar o trigo do joio?
Página 93: «As ideias acerca da relação entre saúde e doença mudaram ao longo dos últimos decénios e têm sido conceptualizados por vários autores. Por exemplo, Hettler (1982), 0'Donnell (1986), e Tenis (1975) propõem o seguinte modelo conceptual...?»
Ainda não é desta que Ribeiro perde o pé. Seguríssimo, sem partir o cântaro, lá vai pela verdura citando autores de há 10 anos, porque - é óbvio - a consciência ecológica só com essas sumidades norteameriacanas começou a despontar!!!!!
Não dá para perder a cabeça mas quase.
A página 95, a palavrinha mágica de políticos, economistas e ambientalistas : qualidade de vida!
É a data mais recuada a que Ribeiro recorre: 1960!!!! Como ele diz, a noção de qualidade de vida tem estado ligada desde o início à promoção de saúde e o interesse por esta área recebeu validação institucional em 1960 com a publicação do relatório da Commission on National Goals, da responsabilidade do ex-presidente Eisenhower.
Este relatório (...) reflectia a preocupação com o desenvolvimento da qualidade de vida e bem estar da população.» !!!!
Ao que Ribeiro conta, as décadas seguintes (70, 80, e 90) foram gastas a realizar montanhas de sociometria, com centenas de inquéritos comprovativos à população, a saber como vivem...O que, consta, deu emprego a muita gente e criou muitos postos de trabalho.
Os questionários com 200 itens, queriam saber coisas como:
saúde
casamento
vida familiar
governo
amizades
habitação
emprego
comunidade

actividades de lazer
situação financeira
participação em organizações
etc.

A FECHAR COM CHAVE DE OURO

É com júbilo que vejo o nome de Ivan Illich incluído no plantel bibliográfico de 500 títulos exibido por Ribeiro. O nome vem gralhado, Ilich em vez de Illich, mas acontece mesmo aos melhores. No melhor pano, cai a nódoa, cai a gralha.
Mas vem sem gralhas o nome da obra de Ivan Illich que a Sá da Costa editou em 1977, com o título «Limites para a Medicina».
A denúncia da iatrogénese (o maior crime público moderno) contra a saúde pública data dessa obra.
Estranho que venha portanto citada já que sobre Iatrogénese - e como é universitariamente óbvio - o livro de Ribeiro disse nada. Sempre tão cuidadoso a adicionar a data dos seus citados, curiosamente o livro de Illich não aparece com data!!!!!
Acho que esta é uma boa forma de encerrar estes considerandos sobre o óbvio do óbvio, ou seja, o livro de Ribeiro, 450 páginas e 500 títulos citados na bibliografia. Com este livro, o poder médico universitário já usurpou a cadeira de Ecologia Humana que eu me dispunha a leccionar, logo que acabasse este meu curso na ESCNH.
Como dar o salto sobre este gigantesco muro de hipocrisia?
Quando andava à procura de saídas, lembrou-me um episódio que pode servir de exemplo e de estímulo a esta escola.
O que os alunos da faculdade de Psicologia fizeram, com apoio de professores e Reitor, um núcleo de estudos de psicologia transpessoal .
Quem sabe se um núcleo de ecologia humana e anexos nesta escola, não faria o mesmo papel de alargar o imobilismo institucional aos novos ventos e tempos que estão batendo à nossa porta com tanta insistência, embora nós continuemos de ferrolhos bem fechados sem abrir a porta, não vá a pide com seus cães de fila, aparecer por aí às três da manhã.
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