F. PORTUGUESA 92
92-02-09-ls> = leituras selectas do ac - filosof> [4497 caracteres - secção «margem esquerda»? - ou solta do suplemento «largo»? - ou secção «releituras»? - ou impublicável? ] margem esquerda
[9-2-1992]
IDEIAS DE FUNDO - MOVIMENTOS PELA PÁTRIA
No seio dos que defendem uma via autónoma para a cultura portuguesa, há evidentemente grupos e tendências.
O grupo da «filosofia portuguesa» aponta alguns expoentes: desde o hermetismo filosófico de José Marinho até à actividade crítica e polémica de António Quadros, desde o neo-hegelianismo de Orlando Vitorino ao trabalho historiográfico de Pinharanda Gomes sobre o «pensamento português», desde Álvaro Ribeiro, discípulo de Leonardo e comentador de Pascoes, até Agostinho da Silva, discípulo de Teixeira Rego e comentador de Fernando Pessoa, desde Fernando Pessoa-ele-mesmo até Pessos-e-seus heterónimos e exegetas (um batalhão deles), a variedade dos grupos revela a sua heterogeneidade. E torna urgente uma bibliografia capaz de situar, no campo informativo, as referências indispensáveis à orientação dos iniciados e neófitos.
Dessa nebulosa filosófica emergem algumas figuras para o poder político. Braz Teixeira, por exemplo, ascendeu efemeramente a Secretário de Estado da Cultura. A heterodoxia parece ainda fazer engulhos, mesmo quando se diz que está no poder a direita. Mas qual? Na vigência de Braz Teixeira, a Secretaria de Estado da Cultura começou a publicar uma revista cujo primeiro número é revelador. Dirigida por Afonso Botelho e Lima de Freitas, nomes de prestígio e garantia de independência, a revista «Cultura Portuguesa» sumariou temas tão eloquentes como «Santo António (na efeméride do 750º aniversário da sua morte)», «a obra de José Marinho», «Afonso Lopes Vieira moralista», «Vicente Lusitano», «do «Orpheu ao Quinto Império» (por Lima de Freitas), «Açores - o Lugar do Espírito» (Natália Correia).
Figuras afastadas do grupo de Lisboa poderiam entender-se igualmente com afinidades nas questões de fundo.
Dalila Pereira da Costa, escritora do Porto, tem colaborado em publicações dirigidas por António Quadros (indiscutivelmente o grande animador cultural do movimento), enquanto os títulos de alguns dos seus livros patenteiam, preocupações próximas: «A Nova Atlântida» e « O Esoterismo de Fernando Pessoa» por exemplo.
Mas já a «Renascença Portuguesa», no Porto, onde pontifica José Augusto Seabra, formado na escola parisiense de Roland Barthes, a que ficou estreitamente vinculado, se demarcou explicitamente dos autores «lusíadas» quando Seabra se intrometeu numa áspera polémica com António Quadros.
Outra obra considerada indispensável no roteiro da pesquisa original (relativa às origens...) é a de um investigador brasileiro quando leccionava numa Universidade de Nova Orleães. «A Lenda do Graal no contexto heterodoxo do pensamento português», de Almir de Campos Bruneti, foi editado pela Sociedade de Expansão Cultural que o escritor Domingos Monteiro, já falecido, fundou e dirigiu. Acaso? Não tanto, se lembrarmos uma obra já esquecida de Domingos Monteiro -- que se notabilizou posteriormente como novelista -- obra essa significativamente intitulada «Paisagem Social Portuguesa».
No campo das usurpações fascizantes que a «filosofia portuguesa» tem pretextado, lembra Manuel Joaquim Gandra um caso lamentável, o de um editor francês que as «amplas liberdades» permitiram entrar em Portugal, para aqui lançar algumas obras de «confusão» na opinião pública. «A Arte de Ser Português» de Teixeira Pascoaes iria, assim, aparecer entre títulos de Doiminique Le Roux («O Outro Império») ou de André Coyné («Sobre Portugal nestes tempos do Fim»). Mas quem não se aproveitou, nessa altura, para vender o seu respectivo peixe?
Os equívocos deste último livro de Coyné, entretanto, são extremamente reveladores da confusão que se pretende instalar à sombra de puros ideais. Traduzido por Lima de Freitas, os nomes nele incensados -- António Telmo, José Marinho, Natália Correia, Lima de Freitas, Mário Cesariny -- assumem o carácter de uma provocação, na medida em que esses autores são atirados num panelão comum e disparados como arma nas diatribes do autor Coyné contra os então por ele odiados governantes anteriores ao 25 de Novembro.
[A manobra, embora peçonhenta, não deixa de ser significativa do estado de coisas reinante na altura. É que nunca os portugueses deixaram de estar sujeitos a estes sujeitos que vêm de fora pregar-lhes a missa, a estes intrusos e sua provocações, ora de direita ora de (alegada) esquerda. Ainda que as provocações e outros «métodos» fascistas sejam sempre, obviamente, de direita.
Aqui, aliás, reside a questão-chave deste país. O como, o onde e o porquê da libertação deste povo.]
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[9-2-1992]
IDEIAS DE FUNDO - MOVIMENTOS PELA PÁTRIA
No seio dos que defendem uma via autónoma para a cultura portuguesa, há evidentemente grupos e tendências.
O grupo da «filosofia portuguesa» aponta alguns expoentes: desde o hermetismo filosófico de José Marinho até à actividade crítica e polémica de António Quadros, desde o neo-hegelianismo de Orlando Vitorino ao trabalho historiográfico de Pinharanda Gomes sobre o «pensamento português», desde Álvaro Ribeiro, discípulo de Leonardo e comentador de Pascoes, até Agostinho da Silva, discípulo de Teixeira Rego e comentador de Fernando Pessoa, desde Fernando Pessoa-ele-mesmo até Pessos-e-seus heterónimos e exegetas (um batalhão deles), a variedade dos grupos revela a sua heterogeneidade. E torna urgente uma bibliografia capaz de situar, no campo informativo, as referências indispensáveis à orientação dos iniciados e neófitos.
Dessa nebulosa filosófica emergem algumas figuras para o poder político. Braz Teixeira, por exemplo, ascendeu efemeramente a Secretário de Estado da Cultura. A heterodoxia parece ainda fazer engulhos, mesmo quando se diz que está no poder a direita. Mas qual? Na vigência de Braz Teixeira, a Secretaria de Estado da Cultura começou a publicar uma revista cujo primeiro número é revelador. Dirigida por Afonso Botelho e Lima de Freitas, nomes de prestígio e garantia de independência, a revista «Cultura Portuguesa» sumariou temas tão eloquentes como «Santo António (na efeméride do 750º aniversário da sua morte)», «a obra de José Marinho», «Afonso Lopes Vieira moralista», «Vicente Lusitano», «do «Orpheu ao Quinto Império» (por Lima de Freitas), «Açores - o Lugar do Espírito» (Natália Correia).
Figuras afastadas do grupo de Lisboa poderiam entender-se igualmente com afinidades nas questões de fundo.
Dalila Pereira da Costa, escritora do Porto, tem colaborado em publicações dirigidas por António Quadros (indiscutivelmente o grande animador cultural do movimento), enquanto os títulos de alguns dos seus livros patenteiam, preocupações próximas: «A Nova Atlântida» e « O Esoterismo de Fernando Pessoa» por exemplo.
Mas já a «Renascença Portuguesa», no Porto, onde pontifica José Augusto Seabra, formado na escola parisiense de Roland Barthes, a que ficou estreitamente vinculado, se demarcou explicitamente dos autores «lusíadas» quando Seabra se intrometeu numa áspera polémica com António Quadros.
Outra obra considerada indispensável no roteiro da pesquisa original (relativa às origens...) é a de um investigador brasileiro quando leccionava numa Universidade de Nova Orleães. «A Lenda do Graal no contexto heterodoxo do pensamento português», de Almir de Campos Bruneti, foi editado pela Sociedade de Expansão Cultural que o escritor Domingos Monteiro, já falecido, fundou e dirigiu. Acaso? Não tanto, se lembrarmos uma obra já esquecida de Domingos Monteiro -- que se notabilizou posteriormente como novelista -- obra essa significativamente intitulada «Paisagem Social Portuguesa».
No campo das usurpações fascizantes que a «filosofia portuguesa» tem pretextado, lembra Manuel Joaquim Gandra um caso lamentável, o de um editor francês que as «amplas liberdades» permitiram entrar em Portugal, para aqui lançar algumas obras de «confusão» na opinião pública. «A Arte de Ser Português» de Teixeira Pascoaes iria, assim, aparecer entre títulos de Doiminique Le Roux («O Outro Império») ou de André Coyné («Sobre Portugal nestes tempos do Fim»). Mas quem não se aproveitou, nessa altura, para vender o seu respectivo peixe?
Os equívocos deste último livro de Coyné, entretanto, são extremamente reveladores da confusão que se pretende instalar à sombra de puros ideais. Traduzido por Lima de Freitas, os nomes nele incensados -- António Telmo, José Marinho, Natália Correia, Lima de Freitas, Mário Cesariny -- assumem o carácter de uma provocação, na medida em que esses autores são atirados num panelão comum e disparados como arma nas diatribes do autor Coyné contra os então por ele odiados governantes anteriores ao 25 de Novembro.
[A manobra, embora peçonhenta, não deixa de ser significativa do estado de coisas reinante na altura. É que nunca os portugueses deixaram de estar sujeitos a estes sujeitos que vêm de fora pregar-lhes a missa, a estes intrusos e sua provocações, ora de direita ora de (alegada) esquerda. Ainda que as provocações e outros «métodos» fascistas sejam sempre, obviamente, de direita.
Aqui, aliás, reside a questão-chave deste país. O como, o onde e o porquê da libertação deste povo.]
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