J. UPDIKE 1991
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PRÉMIO PULITZER NÃO PERDE TEMPO - VISÃO SATÍRICA DA CONVERSÃO MÍSTICA
[29-8-1991]
Prémio Pulitzer em 1990, o escritor norte-americano John Updike já é conhecido do público português, através de várias traduções dos seus romances, nomeadamente «As Bruxas de Eastwick» (Gradiva), «O Centauro» (Europa-América), «Escola de Música»(Civilização) e «Uma Questão de Confiança» (Difel).
Mas a obra agora publicada(*), pelo tema que aborda, será das que podem suscitar maior interesse das novas gerações, à procura de um estilo de vida e de uma concepção existencial menos sofisticada, inquietação que a sociedade de consumo nunca conseguiu satisfazer.
John Updike tem consciência da transição necessária para a «terceira vaga» mas encara com algum cinismo as correntes místicas que, para a geração dos anos sessenta, constituíram resposta à contestação juvenil e hoje estão a ser laboriosamente recicladas sob a designação genérica de «New Age».
O sistema recupera sempre o que o combate e ninguém melhor do que Updike para o saber: escrita sob forma epistolar (que também parece estar na moda), esta história agora traduzida em português, conta como Sara Worth, perfeitamente integrada no «way of life» americano, com esposo e filhos, decide entrar para um «ashram» místico de um guru indiano. Não hesita em viajar para o deserto do Arizona, na costa ocidental dos Estados Unidos, e é precisamente com essa viagem, contada por Sara nas suas cartas à família, aos amigos, ao psiquiatra, ao dentista e ao advogado(!) que o romance começa.
Baseando-se num esquema já de si estereotipado, é então que Updike decide estereotipar ainda mais, até à caricatura, obtendo assim um retrato disforme mas extremamente eficaz, como arma destrutiva, contra as eventuais alternativas que se colocam ao «establishment». Moral implícita da história: a sociedade de consumo tem defeitos, mas não há hipótese de fugir à sua lógica corrupta. Ele ganhou o Pulitzer, porque consegue, através de um estilo eficaz e de uma narrativa tão verosímil como interessante, «demonstrar» que esses gurus não passam de uns oportunstas com os mesmos vícios dos chefes (e)das religiões ocidentais...
Vemos assim que no convívio com os outros «sannyasins» (peregrinos), Sara irá aprender as dificuldades que existem para dominar o «ego» e alcançar a «moksha» (salvação). Mas que o «ego» faz muita falta e acaba sempre por violar. Desta nomenclatura exótica, de que o livro fornece um glossário no final, retira também o romancista efeitos satíricos, contundentes.
Sara Worth, ao mesmo tempo que vai criando um mundo novo para si própria, procura manter em ordem aquele que deixou. Assim, a sua luta pela conquista de um mundo espritual novo é transmitida em cartas que, em conjunto, podem também constituir uma visão sobre a condição feminina na América dos nossos dias.
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«S» -- John Updike -- Ed. Livros do Brasil
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PRÉMIO PULITZER NÃO PERDE TEMPO - VISÃO SATÍRICA DA CONVERSÃO MÍSTICA
[29-8-1991]
Prémio Pulitzer em 1990, o escritor norte-americano John Updike já é conhecido do público português, através de várias traduções dos seus romances, nomeadamente «As Bruxas de Eastwick» (Gradiva), «O Centauro» (Europa-América), «Escola de Música»(Civilização) e «Uma Questão de Confiança» (Difel).
Mas a obra agora publicada(*), pelo tema que aborda, será das que podem suscitar maior interesse das novas gerações, à procura de um estilo de vida e de uma concepção existencial menos sofisticada, inquietação que a sociedade de consumo nunca conseguiu satisfazer.
John Updike tem consciência da transição necessária para a «terceira vaga» mas encara com algum cinismo as correntes místicas que, para a geração dos anos sessenta, constituíram resposta à contestação juvenil e hoje estão a ser laboriosamente recicladas sob a designação genérica de «New Age».
O sistema recupera sempre o que o combate e ninguém melhor do que Updike para o saber: escrita sob forma epistolar (que também parece estar na moda), esta história agora traduzida em português, conta como Sara Worth, perfeitamente integrada no «way of life» americano, com esposo e filhos, decide entrar para um «ashram» místico de um guru indiano. Não hesita em viajar para o deserto do Arizona, na costa ocidental dos Estados Unidos, e é precisamente com essa viagem, contada por Sara nas suas cartas à família, aos amigos, ao psiquiatra, ao dentista e ao advogado(!) que o romance começa.
Baseando-se num esquema já de si estereotipado, é então que Updike decide estereotipar ainda mais, até à caricatura, obtendo assim um retrato disforme mas extremamente eficaz, como arma destrutiva, contra as eventuais alternativas que se colocam ao «establishment». Moral implícita da história: a sociedade de consumo tem defeitos, mas não há hipótese de fugir à sua lógica corrupta. Ele ganhou o Pulitzer, porque consegue, através de um estilo eficaz e de uma narrativa tão verosímil como interessante, «demonstrar» que esses gurus não passam de uns oportunstas com os mesmos vícios dos chefes (e)das religiões ocidentais...
Vemos assim que no convívio com os outros «sannyasins» (peregrinos), Sara irá aprender as dificuldades que existem para dominar o «ego» e alcançar a «moksha» (salvação). Mas que o «ego» faz muita falta e acaba sempre por violar. Desta nomenclatura exótica, de que o livro fornece um glossário no final, retira também o romancista efeitos satíricos, contundentes.
Sara Worth, ao mesmo tempo que vai criando um mundo novo para si própria, procura manter em ordem aquele que deixou. Assim, a sua luta pela conquista de um mundo espritual novo é transmitida em cartas que, em conjunto, podem também constituir uma visão sobre a condição feminina na América dos nossos dias.
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«S» -- John Updike -- Ed. Livros do Brasil
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