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Thursday, August 03, 2006

M. ELIADE 1993

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RELENDO MIRCEA ELIADE - OS MITOS NÃO MORREM

3/8/1993 - Será que o sagrado morreu e as sociedades modernas se tornaram tão profanas como se proclamam?
Será que a secularização apenas encobre, mas mal, o «mito» que nelas persiste, embora sob formas degradadas e diminuídas?
Não se fará a política de mitos, por exemplo? E os grandes espectáculos de massas, o que são hoje senão rituais de uma religião lúdica? E as manifestações políticas?
Questões de fundo como estas, emergem na obra de Mircea Eliade, que é uma meditação sistemática, uma reflexão exaustiva sobre o que essencialmente estrutura o espírito humano, seja qual for a cultura e civilização a que pertence.
Como todos os livros de Mircea Eliade, também este que agora se publica em português, no Círculo de Leitores (*), se poderá considerar uma viagem aos confins do espírito humano, e não apenas um percurso mais ou menos limitado por alguns mitos, símbolos e mistérios que relacionam o homem com a divindade.
Através dos tempos e dos lugares, algo de constante permanece e esse algo anda muito próximo do que os historiadores das religiões (como Mircea Eliade) chamam mito.
Mas dizer que Eliade - falecido em 1986, com uma gigantesca obra legada à humanidade - é um «historiador das religiões», diminui o alcance do seu trabalho, que, no fundo, transcende em muito o fenómeno religioso no sentido estrito, espraiando-se afinal pelo que se poderá designar o «sentido religioso da existência», muito mais próximo, portanto, da criação e do imaginário humanos, e dos mecanismos que presidem ao seu «normal» funcionamento - quer seja uma lenda azteca ou uma manifestação de massas da actualidade política, onde os «media» desempenham o papel religioso - mediático, como se diz - que ontem era atribuído aos poemas épicos ou às lendas heróicas.
Tal como em Julius Evola, René Guenón, Gaston Bachelard, Gilbert Durand e, em certo sentido, com Lévy Strauss, Frazer e Mauss, o fenómeno religioso é, em Eliade, apenas pretexto para compreender melhor e de maneira mais precisa o «funcionamento do espírito humano» no que ele tem de essencial e de permanente, para lá da contigência das formas ou das conjunturas de tempo e de lugar. Ao inventariar lendas, arquetipos, símbolos, deuses, mistérios, cerimónias, ritos e rituais, o que Mircea Eliade procura é aquilo que define de maneira lapidar o fenómeno humano, quando não está sujeito às condicionantes de tempo e de lugar.
Sem se intitular estruturalista, foi as estruturas do essencial que ele estudou, embora através do fascínio das formas e das imagens, das múltiplas formas que a imaginação assume, vendo essas estruturas ligadas entre si por nexos e vínculos que estudiosos de várias especialidades e proveniências - psicanálise, antropologia, etnografia, filologia, história das técnicas e história das religiões, etc - tentam explicar por meios analíticos. Só que alguém terá que realizar a síntese, para que tudo isso tenha sentido. Mircea Eliade, trabalhando com a matéria de várias ciências particulares, é um desses raros génios da síntese. Que, ainda por cima, se lê como um bom romancista de aventuras...
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(*) «Mitos, Sonhos e Mistérios», Mircea Eliade, Ed Círculo de Leitores
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