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Friday, August 25, 2006

A. MOLES 1971

1-2 - moles-1-ls> terça-feira, 24 de Dezembro de 2002-scan

EQUÍVOCOS DA ESTÉTICA INFORMACIONAL (*)

(*) Este texto de Afonso Cautela, bastante medíocre graças a Deus, foi publicado duas vezes: em «Notícias do Futuro», jornal «Notícias da Beira», Moçambique, 15-10-1971 e no semanário «O Século Ilustrado», Lisboa, «O Futuro em Questão», 2-10-197131-8-1971

- Entrevistado por Lionel Richard, em Magazine Littéraire, Abraham Moles declara, ao definir a estética informacional de que ele e Max Bense (este na Alemanha Federal) se consideram principais teorizadores:

"Sob as nossas influências, aliás muito indirectas, ocorreu a ideia de juntar aos computadores os diversos elementos de composição de uma obra: foi o nascimento do que designei por “estética permutacional", uma arte combinatória. Eis, essencialmente, onde o nosso trabalho teórico veio desaguar. Os alunos de Max Bense dispersaram-se um pouco por toda a parte. Os meus também. O que está em vias de se desenvolver, a partir daí, é uma arte "estruturalista."

Vem esta longa citação de Abraham Moles por causa de uma coisa.

O anacronismo dos que se julgam na mais avançada vanguarda estética - só porque falam, falam muito de inventos electrónicos e de avanços tecnológicos - torna-se mais sensível no momento em que a crítica mais avançada põe totalmente em questão toda uma estrutura cultural - a Tecnocracia - que tem nos computadores e na tecnologia dos computadores mas também no Átomo e na bomba atómica, na poluição e nas endemias mortais, os seus máximos, típicos representantes, símbolos ou expoentes (como soe dizer-se).

Quer dizer: no momento em que a Contestação põe em dúvida os fundamentos de uma tipologia cultural, os defensores da arte cibernética, construtivista, experimentalista e, em suma, estruturalista, fazem dessa cultura, dessa tipologia e seus típicos produtos o nec plus ultra. O pretenso progressismo estético toca assim o mais crasso reaccionarismo, certa vanguarda não é assim mais do que o pior academicismo.

Por outro lado, os teóricos que falam em nome do estruturalismo pretendem - como afirma Abraham Moles - considerar "a estética como um ramo de psicologia da percepção" - quando exactamente a psicologia da percepção está a dar as últimas - o que, se bem os entendo, significa não emitir juízos de valor sobre uma obra e tão só juízos de facto.

Quer dizer, e citando ainda Abraham Moles: "a arte é uma mensagem, isto é, releva da teoria geral das comunicações. Dizemos que a partir daí existe um emissor, que é o artista, um canal (a vista, a audição, etc) e um receptor, que é um homem vulgar (sic) encontrado entre a massa, com o seu stock de "cultura", a sua formação, os seus gostos, os seus preconceitos. Reside nisso o fundamento da estética informacional.»

De maneira que, para esta estética informacional, todo o produto é, em princípio, obra de arte e não há diferença entre Joyce, Carolina Invernisio, Paço d'Arcos ou Alves Redol.

Aparentemente este niilismo estético vai ao encontro de um Jean Dubuffet que preconiza a destruição de todos os cânones, deseja que peguem fogo aos museus e defende o kitsch, a arte bruta, a anti-arte. Mas só aparentemente: no fundo, situam-se em pontos antípodas. Enquanto a estética informacional de Moles e Max Bense pressupõe um aceitamento e acatamento de toda a estrutura (digamos estrutura A) cultural vigente, o "vandalismo" de Jean Dubuffet abre
-se a todas as estruturas possíveis de A a Z e exerce-se, precisamente, contra os limites asfixiantes da estrutura A.

Desta aparente afinidade, mas só aparente, retira o construtivismo, em última instância, vantagens, já que só o construtivista - que tanto diz prezar a razão A, aristotélica e tudo - beneficia da confusão e dos confusionionismos.

Vendo nós em exercício, críticos que a si mesmo se consideram da escola estruturalista, não se lhes nota apenas essa contradição. Eles caracterizam-se, aliás, por um permanente. estado de incoerência lógica em relação aquilo que dizem defender e comparado ao que os vemos praticar.

Ora as contradições, ao entrarem na polémica e ao tentarem justificar-se, transformam-se em sofismas e do sofisma à vigarice intelectual vai um ápice. Das incoerências e dos incoerentes, há que esperar tudo. E tem-se visto que de tudo um pouco daí vem.
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(*) Este texto de Afonso Cautela, bastante medíocre graças a Deus, foi publicado duas vezes: em «Notícias do Futuro», jornal «Notícias da Beira», Moçambique, 15-10-1971 e no semanário «O Século Ilustrado», Lisboa, «O Futuro em Questão», 2-10-1971