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Monday, September 04, 2006

LIVROS 1991

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O QUE FICA E O QUE MORRE EM LITERATURA

SOCORRO, TANTO LIVRO!

AS TÉCNICAS DE SELECÇÃO NA ERA DO COMPACT

PARADIGMA E UNIVERSALIDADE


5/8/1991 - A questão da obra paradigmática vem dar resposta a uma situação quotidiana e muito concreta de perplexidade, que nos assalta a todos, mesmo os que não são escritores, e principalmente os que não são escritores. Já todos viveram essa perplexidade: perante um conjunto complexo e vasto de dados, há o desejo de definir esse conjunto, mas faltam-nos palavras. Quando «não há palavras que cheguem», quando as palavras são insuficientes para transmitir certos «estados de alma», então é sinal mais que evidente: estamos perante o «sindroma», perante o «complexo» de afogamento, estamos perante o indefinível e o inexplicável. É aí que o artista surge, a tentar, pela obra de arte, nomeadamente a literária, dizer o indizível.
Por exemplo: perante o filme «Táxi-Driver», de Martin Scorsese, essa obra sublime e paradigmática, o esquizofrénico sem saber que o é, dirá: «Sinto-me espelhado nesse Trevy, eu sou o Trevy, todos somos o Trevy.»
Quando se faz esta constatação e esta identificação perante um filme, um livro, uma peça teatral, é bom sinal: é sinal de que explicando o inexplicável, dizendo o indizível, definindo o indefinível, ela tornou inúteis, retóricos, pleonásticos mil casos e fait-divers, contados em histórias de ficção que não ultrapassam esse nível de anedota e «fait-divers», de evento solto e irrevelante, não ligado ao geral, não relacionado com o universal. É o arquétipo e paradigma que torna universal (inespacial) e intemporal (sem tempo) uma obra. E não é por acaso que o arquétipo se liga aos níveis do subconsciente colectivo. Pelo paradigma, atinge-se o universal consciente, será? E pelo arquétipo, o universal subconsciente.
[Atenção ao Alexandre Pinheiro Torres quando nos fala das obras que tornam obsoletas e pleonásticas milhares de outras obras. Atenção a A.P. Torres quando fala em certas obras que tornam obsoletas ou pleonásticas literaturas inteiras. Ele toca num ponto verdadeiramente axial da criação e no grande, grande problema da escolha, da distinção, na Arte, entre o que fica e o que morre. O supremo critério para avaliar de um escritor, não é propriamente o best-seller ou a popularidade. É, talvez, em que medida esse escritor permanece para lá das modas e fornece arquétipos (ou paradigmas) que estão para lá do tempo e do espaço. Afinal, tão simples como isto!]
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