UNAMUNO 1953
99-09-07-ls> = leituras selectas do ac - 60anos-1> anos sessenta - em demanda do novo paradigma
7-9-1999
[4-9-1999] Este texto inédito tem de comum com alguns outros, o facto de partir de uma ideia de ecologia mas alargá-la depois a temáticas bem distantes e mesmo «metafísicas». É o que hoje chamaria ecologia alargada, tal como a encontro em Etienne Guillé. A civilização como doença era já, há 40 anos, metáfora dominante no realismo ecologista de que tanto falei. Ou - falando de doença - da ecologia humana de que também tenho falado. Já tinha passado por uma forte influência existencialista, não ideológica mas daqueles filósofos, como Kierkegaard, que incarnaram - em sentido literal - a vivência existencial.
Pela primeira vez surgiu-me neste texto a ideia de que a pulsão autodestrutiva desta civilização - e portanto a crise ecológica - advém do desespero ateísta que a domina. Dostoiewsky tinha-o visto: «Mortos os deuses, o homem mata-se a si próprio.»
E Malraux: «O século XXI será religioso ou não será.».
Será inútil relembrar que esta ideia religiosa era e é tabu entre os intelectuais que se dizem amigos do ambiente e que, evidentemente, têm de encontrar razões imanentes para a destruição ecológica. Jamais eles falam em «doença da civilização». Em que eu sempre falei. Não sei se a expressão «ciência ordinária» foi a primeira vez que a escrevi ou se já antes disto a teria «descoberto». Enfim, a demanda de um novo paradigma contra a ciência ordinária, parece ser a constante mais remota das minhas várias fases: surrealista, realista fantástica, existencialista, prospectivista, ecologista, pós-ecologista (holística), yin-yang e radiestesia holística (4/Setembro/1999)
A NUVEM POR JUNO
O mais patético dos que tomam a nuvem por Juno, dos que fazem da poluição industrial o alvo de um combate nem sequer quixotesco (porque visa lucros e a recuperar com lucros os crimes perpetrados contra a natureza) é que não interpretam a poluição como sintoma de uma profunda , antiga e generalizada doença, chamada civilização ocidental, cultura europeia, ciência ordinária, filosofia, etc.
A poluição é, ao fim e ao cabo, apenas um dos sintomas mais recentes da doença que há muito se declarou e ue pode ser percebida , lida, compreendida, verificada, através dos sintomas que são, que foram, inclusive, os autores de sistemas filosóficos.
Tudo se compreende com meridiana clareza quando é revisto a esta luz.
Pobres filósofos que, na imensa noite e na imensa doença chamada civilização, marraram contra a parede , contra o absurdo, muitas vezes e quantas vezes tendo na mão o amuleto capaz de exorcismar todas as angústias, todas as revoltas, todos os desesperos, mas sem o saber utilizar.
Mais: com o amuleto na mão e deitando-o deliberadamente fora, porque o sistema os obrigava a isso.
Os filósofos chamados pessimistas e , em séculos mais recentes, os chamados «existencialistas» , com seus gritos, suas aflições, suas insónias, seus calafrios, são bem a imagem, o sintoma de uma doença cada vez mais incurável, com sintomas cada vez mais nítidos e frequentes.
Doença que, acima de tudo, se caracteriza por uma progressiva cegueira para tudo aquilo que possa exactamente pôr em questão os fundamentos da própria doença.
A doença ocidental e os seus filósofos mais representativos - Kierkegaard ou Unamuno, Kafka ou Leopardi, Schopenhauer ou Nieztsche - caracteriza-se fundamentalmente por criar essa espécie de catarata ideológica que impede de ver tudo quanto não seja e não ajude ao progresso da própria doença.
Ler Miguel de Unamuno e o seu grito de alarme - «O Sentido Trágico da Vida» - é ler os sintomas exacerbados da doença que se reconhece , confessa e não ultrapassa.
Para lá do interesse, quase mórbido, que essa fascinante leitura suscita a um militante radical da dialéctica, cronista de uma heresia que sempre acompanhou a tirania chamada «civilização», para lá do muito que se aprende e sofre nesse testemunho de beleza inigualável que é o livro de Unamuno, importa ao militante historiador da heresia detectar algumas passagens francamente demonstrativas do apego ao erro (típico da própria doença) e de rejeição apriorística das raras janelas terapêuticas que ao efeito se podem abrir e, portanto, à cura da Doença.
Fala Unamuno dos «upanishads» mas o seu despeito irritado logo se revela nesta torrencial acusação ao monismo das cosmologias extremo-orientais:
«Aquilo a que eu aspiro não é submergir-me no grande Todo, na matéria, ou na força , infinitas e eternas, ou em deus . Aquilo a que eu aspiro não é a ser possuído por Deus mas a possuí-lo, a fazer-me Deus, sem deixar de ser o eu que vos digo ser neste momento. As astúcias do monismo (sic) de nada nos servem. »
(O Sentimento Trágico da Vida, Porto, 1953)
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7-9-1999
A FILOSOFIA EXISTENCIALISTA:
UM SINTOMA DA DOENÇA, TAL COMO A POLUIÇÃO
UM SINTOMA DA DOENÇA, TAL COMO A POLUIÇÃO
[4-9-1999] Este texto inédito tem de comum com alguns outros, o facto de partir de uma ideia de ecologia mas alargá-la depois a temáticas bem distantes e mesmo «metafísicas». É o que hoje chamaria ecologia alargada, tal como a encontro em Etienne Guillé. A civilização como doença era já, há 40 anos, metáfora dominante no realismo ecologista de que tanto falei. Ou - falando de doença - da ecologia humana de que também tenho falado. Já tinha passado por uma forte influência existencialista, não ideológica mas daqueles filósofos, como Kierkegaard, que incarnaram - em sentido literal - a vivência existencial.
Pela primeira vez surgiu-me neste texto a ideia de que a pulsão autodestrutiva desta civilização - e portanto a crise ecológica - advém do desespero ateísta que a domina. Dostoiewsky tinha-o visto: «Mortos os deuses, o homem mata-se a si próprio.»
E Malraux: «O século XXI será religioso ou não será.».
Será inútil relembrar que esta ideia religiosa era e é tabu entre os intelectuais que se dizem amigos do ambiente e que, evidentemente, têm de encontrar razões imanentes para a destruição ecológica. Jamais eles falam em «doença da civilização». Em que eu sempre falei. Não sei se a expressão «ciência ordinária» foi a primeira vez que a escrevi ou se já antes disto a teria «descoberto». Enfim, a demanda de um novo paradigma contra a ciência ordinária, parece ser a constante mais remota das minhas várias fases: surrealista, realista fantástica, existencialista, prospectivista, ecologista, pós-ecologista (holística), yin-yang e radiestesia holística (4/Setembro/1999)
A NUVEM POR JUNO
O mais patético dos que tomam a nuvem por Juno, dos que fazem da poluição industrial o alvo de um combate nem sequer quixotesco (porque visa lucros e a recuperar com lucros os crimes perpetrados contra a natureza) é que não interpretam a poluição como sintoma de uma profunda , antiga e generalizada doença, chamada civilização ocidental, cultura europeia, ciência ordinária, filosofia, etc.
A poluição é, ao fim e ao cabo, apenas um dos sintomas mais recentes da doença que há muito se declarou e ue pode ser percebida , lida, compreendida, verificada, através dos sintomas que são, que foram, inclusive, os autores de sistemas filosóficos.
Tudo se compreende com meridiana clareza quando é revisto a esta luz.
Pobres filósofos que, na imensa noite e na imensa doença chamada civilização, marraram contra a parede , contra o absurdo, muitas vezes e quantas vezes tendo na mão o amuleto capaz de exorcismar todas as angústias, todas as revoltas, todos os desesperos, mas sem o saber utilizar.
Mais: com o amuleto na mão e deitando-o deliberadamente fora, porque o sistema os obrigava a isso.
Os filósofos chamados pessimistas e , em séculos mais recentes, os chamados «existencialistas» , com seus gritos, suas aflições, suas insónias, seus calafrios, são bem a imagem, o sintoma de uma doença cada vez mais incurável, com sintomas cada vez mais nítidos e frequentes.
Doença que, acima de tudo, se caracteriza por uma progressiva cegueira para tudo aquilo que possa exactamente pôr em questão os fundamentos da própria doença.
A doença ocidental e os seus filósofos mais representativos - Kierkegaard ou Unamuno, Kafka ou Leopardi, Schopenhauer ou Nieztsche - caracteriza-se fundamentalmente por criar essa espécie de catarata ideológica que impede de ver tudo quanto não seja e não ajude ao progresso da própria doença.
Ler Miguel de Unamuno e o seu grito de alarme - «O Sentido Trágico da Vida» - é ler os sintomas exacerbados da doença que se reconhece , confessa e não ultrapassa.
Para lá do interesse, quase mórbido, que essa fascinante leitura suscita a um militante radical da dialéctica, cronista de uma heresia que sempre acompanhou a tirania chamada «civilização», para lá do muito que se aprende e sofre nesse testemunho de beleza inigualável que é o livro de Unamuno, importa ao militante historiador da heresia detectar algumas passagens francamente demonstrativas do apego ao erro (típico da própria doença) e de rejeição apriorística das raras janelas terapêuticas que ao efeito se podem abrir e, portanto, à cura da Doença.
Fala Unamuno dos «upanishads» mas o seu despeito irritado logo se revela nesta torrencial acusação ao monismo das cosmologias extremo-orientais:
«Aquilo a que eu aspiro não é submergir-me no grande Todo, na matéria, ou na força , infinitas e eternas, ou em deus . Aquilo a que eu aspiro não é a ser possuído por Deus mas a possuí-lo, a fazer-me Deus, sem deixar de ser o eu que vos digo ser neste momento. As astúcias do monismo (sic) de nada nos servem. »
(O Sentimento Trágico da Vida, Porto, 1953)
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