L.RACIONERO 82
racionero-1-ls> quinta-feira, 26 de Dezembro de 2002-scan
18-12-1982
MOVIMENTOS ALTERNATIVOS - CULTURA ENTRE DUAS BARBÁRIES (*)
"O desejável seria um socialismo que reunisse ambas as dimensões da pessoa humana: a peculiaridade individualista e a associação cooperativa.
"Esse socialismo já existe: é o socialismo libertário ou anarquismo que há 100 anos os marxistas classificaram de utópico. Hoje, porém, é o marxismo que parece utópico, porque a crise ecológica e energética, a concentração do poder, o crescente autoritarismo e a massificação do indivíduo indicam bem claramente a necessidade de pôr o indivíduo como fim em sei mesmo e a sociedade à escala humana.
" E utópico querer libertar o homem seguindo a linha de despersonificação, massificação e concentração que implicam as teorias do utilitarismo e do socialismo científico."
LUÍS RACIONERO, in " Filosofias del underground", Barcelona, 1977
*
[«Crónica do Planeta Terra», «A Capital», 18-12-1982 ] - As linhas de montagem, a produção em série, a burocracia despersonalizada, os ambientes kafkianos, a organização gigantesca (hospitalar, por exemplo), a planificação central cibernética, a educação especializada, o desenho funcionalista, a arte abstracta, a poesia concretista, o positivismo lógico - eis alguns dos mecanismos ditos culturais mas ao serviço da contra-cultura, indispensável à manutenção da ordem defendida por máquinas de propaganda.
Enquanto os partidos, apoiados nestas máquinas, adoptarem na prática mecanismos intrinsecamente contra-culturais, eles serão efectivamente os agentes do obscurantismo, da violência, da barbárie, por mais que hipócrita e irrisoriamente se digam defensores da cultura.
Que eles se digam amantes da cultura, da civilização e da paz é apenas mais uma das mentiras com que conseguem continuar iludindo a opinião (já por eles pré-condicionada) e vendendo o peixe podre das suas ideologias esquizofrénicas de opressão, corrupção e poderio.
Os partidos serão necessários como eles próprios dizem. Mas tal como existem, são apenas uma chatice (talvez) necessária.
REALISMO ECOLÓGICO DEMARCA-SE DE EQUÍVOCOS, CONTRAFACÇÕES E MISTIFICAÇÕES QUE USARAM, USAM E VÃO USAR O PREFIXO "ECO"
"Precisamos de novos valores que estruturem a sociedade para uma nova cultura autoritária, descentralizada, humanística, individualística, imaginativa e espontânea."
Estas palavras de Luís Racionero, no seu livro "Filosofias del Underground", evidenciam alguns dos equívocos que o discurso dito "underground" tem ajudado a difundir, fazendo claramente o jogo das ideologias neo-esclavagistas, ditas também ideologias do trabalho.
De facto, entre este neo-romantismo formulado por Luís Racionero, cronista dos movimentos e autores ditos "underground" e o realismo ecológico 1981 - rosto humano do socialismo - vai uma grande distância.
Evidenciando os equívocos que os ideólogos ajudaram a difundir, devem os verdes demarcar-se em relação às contrafacções que exibem o prefixo eco ou o subentendem.
Os mitos do esquerdismo devem ser tão corajosamente analisados como os mitos da Direita. Numa perspectiva de realismo histórico, devem ser analisados até com mais atenção e cuidado.
Como ficou largamente dito em pormenor, num ensaio policopiado pelas edições "Frente Ecológica", intitulado "Socialismo ou Cancro, Ecologia ou Morte", 1981.
CONTRA O ETNOCÍDIO: NEM RACIONALISMO, NEM IRRACIONALISMO
Ajuda mútua, associação voluntária, cooperação, descentralização e federalismo são alguns dos conceitos comuns às "filosofias do “underground", conforme indica Luis Racionero, rio secular onde confluem vários afluentes e que modernamente se ficou a conhecer por "contra-cultura", numa tradução infeliz e errónea do inglês "counter-culture".
Os ecologistas advertem, portanto, para todos os equívocos que as ideologias neo-esclavagistas têm pretendido retirar deste erro de tradução.
O objectivo dos movimentos contestatários é claramente contra o imperialismo cultural, contra a ditadura da razão, tal como tem vindo a ser discricionariamente imposto às culturas e etnias tradicionais.
"Contra-cultura" significa portanto contra-imperialismo cultural, implicando como termo dialéctico a "descolonização cultural" de que são instrumentos sócio-políticos os conceitos autogestionários definidos pelo realismo ecológico.
Os ecologistas advertem ainda contra os mitos do crescimento imperialista que, sob a bandeira de "combate ao analfabetismo", se pretendem impor aos povos. Esse combate mais não tem sido, sempre ou quase sempre, do que um Etnocídio mascarado.
Combater a "ditadura da razão" e denunciar os "etnocídios" praticados em nome do progresso sobre as mais diversas culturas da Terra não é "irracionalismo" como alguns filo-burocratas tão infelizmente têm classificado todos os movimentos que contra aquela ditadura e aqueles etnocídios opuseram resistência.
Os ecologistas advertem contra mais esse equívoco que filósofos ditos do "underground" têm ajudado a difundir: é urgente rejeitar a carapuça de "irracionalista" e as conotações pejorativas com que os imperialistas têm o maior interesse em nos rotular.
Advertem ainda contra alguns mitos "libertários" e "liberticidas" que se têm aninhado nas fileiras dos movimentos que se reclamam de Wilhelm Reich e outros sexólogos considerados "emancipadores".
Mantém-se rigorosamente inédito - pré-censurado - um ensaio escrito em Novembro de 1980, "Carta aos adolescentes para os avisar sobre os mitos de esquerda e os mitos de direita que hoje circulam sobre sexualidade".
Também neste caso é nas raízes culturais das verdadeiras civilizações - as que verdadeiramente merecem o nome de civilizações ou sociedades cultas - que a resposta deve ser encontrada para lá dos labirintos ideológicos dos imperialismos em luta.
CONTRA A MANIPULAÇÃO DO HOMEM PELO HOMEM
DAR O PODER POLÍTICO AO PODER POPULAR
De William Blake a Montale o sentido poético da vida permaneceu um feudo de elites.
A imaginação não voltou à posse do povo, desde que dela o expropriaram as ideologias da opressão.
Povo que esses ideólogos designam de massas.
Os verdes, se o são e se o quiserem ser, terão que combater neste terreno difícil: exigir que o povo conheça e reconheça a sua própria identidade poética, ainda que o sistema dominante tenha o cuidado de ridicularizar essas manifestações.
O discurso oral, os provérbios, os cancioneiros, os romanceiros, as mezinhas e rezas são a prova dessa imaginação popular que deve voltar ao poder popular, tal como o defendem, sem medo aos partidos descasca-pessegueiros, os do eco-socialismo, os do realismo ecológico.
Como diz Luís Racionero, no livro " Filosofias del Underground", o movimento alternativo ataca par dois lados a organização social nascida da chamada "Revolução Industrial" (o princípio da Reacção): por um lado o capitalismo que era a exploração material do homem pelo homem; e por outro lado o racionalismo que era a opressão mental do homem pelo homem."
Os ecologistas lembram ainda uma terceira cambiante da exploração que é a "manipulação do homem pelo Homem”, verificada nos subsistemas do Sistema Informativo: jornais, escolas, livros, máquinas editoriais, júris de prémios, júris de exames, associações de escritores, simpósios, colóquios, seminários, congressos, enfim, os monopólios do pensamento.
Quando Ivan Illich denuncia a "militarização da sociedade através da Escola" está a pôr em causa esta fila de envenenadores profissionais que pretendem fechar, num anel de ferro, toda e qualquer veleidade de emancipação cultural, quer dizer, popular.
A LIBERDADE CONCRETIZA-SE NAS EXPERIÊNCIAS COMUNITÁRIAS
As "comunas" como meio de produção, as cooperativas como meio de distribuição, a imprensa e arte "underground" como meio de informação - eis como Luis Racionero resume a estratégia auto-gestionária defendida pelos movimentos sociais convergentes no "grande rio".
Os ecologistas lembram o carácter experimental e ensaístico dos projectos-piloto na via auto-gestionária.
Relativamente ao poder estabelecido não se espera, evidentemente, que partidos, governos e outros agentes dos impérios internacionais promovam o incremento das eco-alternativas, das tecnologias suaves, das energias limpas, das práticas de auto-suficiência, enfim, da via libertadora.
Mas é preciso dizer claramente ao eleitorado que a liberdade só se fomenta concretamente através da dinâmica proposta nesses projectos alternativos.
É pura teoria e pura demagogia a liberdade invocada pelos políticos, desde que na sua actuação eles não forem activamente em defesa das experiências comunitárias de auto-suficiência.
A liberdade defendida pelo eco-socialismo não é evidentemente a liberdade dos mitos libertários individualistas - já referida nestes apontamentos, já suficientemente arrumada nos caixotes da história.
Tão pouco é a liberdade de utópicos socialismos.
É a liberdade das tecnologias libertadoras, a liberdade do realismo ecológico - cujos limites à sua lógica são exactamente os limites físicos, energéticos postos pela lei natural e pela capacidade de esgotamento ou de reequilíbrio dos ecossistemas.
AS RAIZES DO NEO-ESCLAVAGISMO, DA ALIENAÇÃO MODERNA E DO MODERNO MUNDO CONCENTRACIONÁRIO
Ao pressentir que a sua vida se funcionaliza, burocratiza, desumaniza, aliena, mecaniza esteriliza, etc os homens não conseguem descobrir onde radica a génese histórica dessa situação.
Demasiado cómodo, para ser verdade, é acusar de tudo...o capitalismo.
Como os modernos ensaístas dos movimentos alternativos têm , no entanto, denunciado, a raiz da alienação está na aplicação do método cientifico à Natureza, à Vida e à Sociedade. Ao homem.
Como escreve Luís Racionero , " a visão científica do mundo é benéfica se se aplica à técnica mas nefasta se se aplica à sociedade."
O gigantismo de fábricas, empresas, hospitais, cidades, supermercados, reflecte - a pretexto de racionalizar, modernizar, actualizar, europeizar, etc - o mesmo cancro histórico do crescimento baseado nos valores numéricos, quantitativos e do cálculo.
O gigantismo é, digamos, a parte emersa do icebergue que mergulha mais fundo a sua global realidade.
Gritando que é preciso despovoar os campos - e chamando a isso combater o subdesenvolvimento - o modelo concentracionário generalizou-se, hoje, às cidades e sociedades ditas civilizadas.
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(*) Com este título, este texto de Afonso Cautela, 5 estrelas pela ousadia, foi publicado na «Crónica do Planeta Terra», «A Capital», 18-12-1982. O original, com data de Setembro de 1981, intitulava-se: «Atenção aos intelecto-Burocratas - Burocracia intelectual, Barbárie Cultural- Os Verdes e a Cultura – Comentários ao livro de Luís Racionero, «Filosofias del Underground», Barcelona, 1977 – O original incluía-se ainda numa suposição chamada «Colecção Os verdes nas Eleições...»
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18-12-1982
MOVIMENTOS ALTERNATIVOS - CULTURA ENTRE DUAS BARBÁRIES (*)
"O desejável seria um socialismo que reunisse ambas as dimensões da pessoa humana: a peculiaridade individualista e a associação cooperativa.
"Esse socialismo já existe: é o socialismo libertário ou anarquismo que há 100 anos os marxistas classificaram de utópico. Hoje, porém, é o marxismo que parece utópico, porque a crise ecológica e energética, a concentração do poder, o crescente autoritarismo e a massificação do indivíduo indicam bem claramente a necessidade de pôr o indivíduo como fim em sei mesmo e a sociedade à escala humana.
" E utópico querer libertar o homem seguindo a linha de despersonificação, massificação e concentração que implicam as teorias do utilitarismo e do socialismo científico."
LUÍS RACIONERO, in " Filosofias del underground", Barcelona, 1977
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[«Crónica do Planeta Terra», «A Capital», 18-12-1982 ] - As linhas de montagem, a produção em série, a burocracia despersonalizada, os ambientes kafkianos, a organização gigantesca (hospitalar, por exemplo), a planificação central cibernética, a educação especializada, o desenho funcionalista, a arte abstracta, a poesia concretista, o positivismo lógico - eis alguns dos mecanismos ditos culturais mas ao serviço da contra-cultura, indispensável à manutenção da ordem defendida por máquinas de propaganda.
Enquanto os partidos, apoiados nestas máquinas, adoptarem na prática mecanismos intrinsecamente contra-culturais, eles serão efectivamente os agentes do obscurantismo, da violência, da barbárie, por mais que hipócrita e irrisoriamente se digam defensores da cultura.
Que eles se digam amantes da cultura, da civilização e da paz é apenas mais uma das mentiras com que conseguem continuar iludindo a opinião (já por eles pré-condicionada) e vendendo o peixe podre das suas ideologias esquizofrénicas de opressão, corrupção e poderio.
Os partidos serão necessários como eles próprios dizem. Mas tal como existem, são apenas uma chatice (talvez) necessária.
REALISMO ECOLÓGICO DEMARCA-SE DE EQUÍVOCOS, CONTRAFACÇÕES E MISTIFICAÇÕES QUE USARAM, USAM E VÃO USAR O PREFIXO "ECO"
"Precisamos de novos valores que estruturem a sociedade para uma nova cultura autoritária, descentralizada, humanística, individualística, imaginativa e espontânea."
Estas palavras de Luís Racionero, no seu livro "Filosofias del Underground", evidenciam alguns dos equívocos que o discurso dito "underground" tem ajudado a difundir, fazendo claramente o jogo das ideologias neo-esclavagistas, ditas também ideologias do trabalho.
De facto, entre este neo-romantismo formulado por Luís Racionero, cronista dos movimentos e autores ditos "underground" e o realismo ecológico 1981 - rosto humano do socialismo - vai uma grande distância.
Evidenciando os equívocos que os ideólogos ajudaram a difundir, devem os verdes demarcar-se em relação às contrafacções que exibem o prefixo eco ou o subentendem.
Os mitos do esquerdismo devem ser tão corajosamente analisados como os mitos da Direita. Numa perspectiva de realismo histórico, devem ser analisados até com mais atenção e cuidado.
Como ficou largamente dito em pormenor, num ensaio policopiado pelas edições "Frente Ecológica", intitulado "Socialismo ou Cancro, Ecologia ou Morte", 1981.
CONTRA O ETNOCÍDIO: NEM RACIONALISMO, NEM IRRACIONALISMO
Ajuda mútua, associação voluntária, cooperação, descentralização e federalismo são alguns dos conceitos comuns às "filosofias do “underground", conforme indica Luis Racionero, rio secular onde confluem vários afluentes e que modernamente se ficou a conhecer por "contra-cultura", numa tradução infeliz e errónea do inglês "counter-culture".
Os ecologistas advertem, portanto, para todos os equívocos que as ideologias neo-esclavagistas têm pretendido retirar deste erro de tradução.
O objectivo dos movimentos contestatários é claramente contra o imperialismo cultural, contra a ditadura da razão, tal como tem vindo a ser discricionariamente imposto às culturas e etnias tradicionais.
"Contra-cultura" significa portanto contra-imperialismo cultural, implicando como termo dialéctico a "descolonização cultural" de que são instrumentos sócio-políticos os conceitos autogestionários definidos pelo realismo ecológico.
Os ecologistas advertem ainda contra os mitos do crescimento imperialista que, sob a bandeira de "combate ao analfabetismo", se pretendem impor aos povos. Esse combate mais não tem sido, sempre ou quase sempre, do que um Etnocídio mascarado.
Combater a "ditadura da razão" e denunciar os "etnocídios" praticados em nome do progresso sobre as mais diversas culturas da Terra não é "irracionalismo" como alguns filo-burocratas tão infelizmente têm classificado todos os movimentos que contra aquela ditadura e aqueles etnocídios opuseram resistência.
Os ecologistas advertem contra mais esse equívoco que filósofos ditos do "underground" têm ajudado a difundir: é urgente rejeitar a carapuça de "irracionalista" e as conotações pejorativas com que os imperialistas têm o maior interesse em nos rotular.
Advertem ainda contra alguns mitos "libertários" e "liberticidas" que se têm aninhado nas fileiras dos movimentos que se reclamam de Wilhelm Reich e outros sexólogos considerados "emancipadores".
Mantém-se rigorosamente inédito - pré-censurado - um ensaio escrito em Novembro de 1980, "Carta aos adolescentes para os avisar sobre os mitos de esquerda e os mitos de direita que hoje circulam sobre sexualidade".
Também neste caso é nas raízes culturais das verdadeiras civilizações - as que verdadeiramente merecem o nome de civilizações ou sociedades cultas - que a resposta deve ser encontrada para lá dos labirintos ideológicos dos imperialismos em luta.
CONTRA A MANIPULAÇÃO DO HOMEM PELO HOMEM
DAR O PODER POLÍTICO AO PODER POPULAR
De William Blake a Montale o sentido poético da vida permaneceu um feudo de elites.
A imaginação não voltou à posse do povo, desde que dela o expropriaram as ideologias da opressão.
Povo que esses ideólogos designam de massas.
Os verdes, se o são e se o quiserem ser, terão que combater neste terreno difícil: exigir que o povo conheça e reconheça a sua própria identidade poética, ainda que o sistema dominante tenha o cuidado de ridicularizar essas manifestações.
O discurso oral, os provérbios, os cancioneiros, os romanceiros, as mezinhas e rezas são a prova dessa imaginação popular que deve voltar ao poder popular, tal como o defendem, sem medo aos partidos descasca-pessegueiros, os do eco-socialismo, os do realismo ecológico.
Como diz Luís Racionero, no livro " Filosofias del Underground", o movimento alternativo ataca par dois lados a organização social nascida da chamada "Revolução Industrial" (o princípio da Reacção): por um lado o capitalismo que era a exploração material do homem pelo homem; e por outro lado o racionalismo que era a opressão mental do homem pelo homem."
Os ecologistas lembram ainda uma terceira cambiante da exploração que é a "manipulação do homem pelo Homem”, verificada nos subsistemas do Sistema Informativo: jornais, escolas, livros, máquinas editoriais, júris de prémios, júris de exames, associações de escritores, simpósios, colóquios, seminários, congressos, enfim, os monopólios do pensamento.
Quando Ivan Illich denuncia a "militarização da sociedade através da Escola" está a pôr em causa esta fila de envenenadores profissionais que pretendem fechar, num anel de ferro, toda e qualquer veleidade de emancipação cultural, quer dizer, popular.
A LIBERDADE CONCRETIZA-SE NAS EXPERIÊNCIAS COMUNITÁRIAS
As "comunas" como meio de produção, as cooperativas como meio de distribuição, a imprensa e arte "underground" como meio de informação - eis como Luis Racionero resume a estratégia auto-gestionária defendida pelos movimentos sociais convergentes no "grande rio".
Os ecologistas lembram o carácter experimental e ensaístico dos projectos-piloto na via auto-gestionária.
Relativamente ao poder estabelecido não se espera, evidentemente, que partidos, governos e outros agentes dos impérios internacionais promovam o incremento das eco-alternativas, das tecnologias suaves, das energias limpas, das práticas de auto-suficiência, enfim, da via libertadora.
Mas é preciso dizer claramente ao eleitorado que a liberdade só se fomenta concretamente através da dinâmica proposta nesses projectos alternativos.
É pura teoria e pura demagogia a liberdade invocada pelos políticos, desde que na sua actuação eles não forem activamente em defesa das experiências comunitárias de auto-suficiência.
A liberdade defendida pelo eco-socialismo não é evidentemente a liberdade dos mitos libertários individualistas - já referida nestes apontamentos, já suficientemente arrumada nos caixotes da história.
Tão pouco é a liberdade de utópicos socialismos.
É a liberdade das tecnologias libertadoras, a liberdade do realismo ecológico - cujos limites à sua lógica são exactamente os limites físicos, energéticos postos pela lei natural e pela capacidade de esgotamento ou de reequilíbrio dos ecossistemas.
AS RAIZES DO NEO-ESCLAVAGISMO, DA ALIENAÇÃO MODERNA E DO MODERNO MUNDO CONCENTRACIONÁRIO
Ao pressentir que a sua vida se funcionaliza, burocratiza, desumaniza, aliena, mecaniza esteriliza, etc os homens não conseguem descobrir onde radica a génese histórica dessa situação.
Demasiado cómodo, para ser verdade, é acusar de tudo...o capitalismo.
Como os modernos ensaístas dos movimentos alternativos têm , no entanto, denunciado, a raiz da alienação está na aplicação do método cientifico à Natureza, à Vida e à Sociedade. Ao homem.
Como escreve Luís Racionero , " a visão científica do mundo é benéfica se se aplica à técnica mas nefasta se se aplica à sociedade."
O gigantismo de fábricas, empresas, hospitais, cidades, supermercados, reflecte - a pretexto de racionalizar, modernizar, actualizar, europeizar, etc - o mesmo cancro histórico do crescimento baseado nos valores numéricos, quantitativos e do cálculo.
O gigantismo é, digamos, a parte emersa do icebergue que mergulha mais fundo a sua global realidade.
Gritando que é preciso despovoar os campos - e chamando a isso combater o subdesenvolvimento - o modelo concentracionário generalizou-se, hoje, às cidades e sociedades ditas civilizadas.
----
(*) Com este título, este texto de Afonso Cautela, 5 estrelas pela ousadia, foi publicado na «Crónica do Planeta Terra», «A Capital», 18-12-1982. O original, com data de Setembro de 1981, intitulava-se: «Atenção aos intelecto-Burocratas - Burocracia intelectual, Barbárie Cultural- Os Verdes e a Cultura – Comentários ao livro de Luís Racionero, «Filosofias del Underground», Barcelona, 1977 – O original incluía-se ainda numa suposição chamada «Colecção Os verdes nas Eleições...»
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