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Thursday, February 23, 2006

HENRI MICHAUX 1992



92-02-23-ls- leituras selectas do ac - michaux [ suplemento «Largo» - 603 caracteres]

3-2-1992

RELEITURAS DO ACASO
AMBIÇÃO DE VISIONÁRIO


Os poetas são, quando visionários, os homens da Profecia e da Prospectiva (por definição). Henri Michaux ou «La Connaissance par les Gouffres» mostra o que pode um poeta fazer para medir os limites do seu corpo e do seu espírito, o que pode um poeta fazer para mostrar até onde podem alargar-se os limites da percepção.
Com ou sem êxito, as tentativas de Michaux demonstram uma possibilidade aberta à imaginação criadora, atrofiada no psicologismo «dramatis» do romance tout court, ou na rarefacção lírica.
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A. BRETON 92

breton> [solta - suplemento «largo» - 2388 caracteres] releituras do acaso – notas de leitura – em demanda do novo paradigma

AS LEIS DO IMAGINÁRIO(*)

Lisboa, 3/2/1992 - Relendo «O Amor Louco» de André Breton, na tradução de Luísa Neto Jorge, e o «O Acaso e a Necessidade», de Jacques Monod, algumas ideias convém reter para futuras investigações no desconhecido a que se costuma chamar futuro.
«Para a maioria dos espíritos literários, o fantástico define-se como uma violação das leis naturais, uma aparição do impossível» - diz Louis Pauwels, que logo a seguir comenta e rejeita aquela definição tradicional: «Junto ao insólito e ao curioso, o fantástico seria um aspecto mais do pitoresco. Ora investigar o pitoresco nos parece uma actividade ociosa e, resumindo, uma ocupação burguesa. Segundo o nosso parecer, o fantástico não é jamais uma violação, mas uma manifestação das leis naturais. Surge do mesmo contacto com a realidade, com a realidade observada directamente e não filtrada através dos nossos preconceitos e prejuízos, velhos e novos.»
Temos então que, ao contrário do assente e aceite, o fantástico não é uma violação das leis mas um alargamento dessas leis naturais até onde os preconceitos e prejuízos não deixavam ir a imaginação (a razão imaginadora).
Não parece abusivo, pois, considerar que Alfred Jarry com a sua Patafísica, Breton com o surrealismo, Pauwels com o realismo fantástico, Jacques Monod com as suas heresias de biólogo heterodoxo, estão prolongando e não negando a ciência.
Não é mera questão de palavras chamar «ciência» à ciência A, ou chamar ciência a tudo o que, de A a Z, merece tal nome. Não é indiferente e a diferença é importante. Porque está em jogo o reconhecimento «científico» de coisas como as «leis da excepção» (Alfred Jarry), a «lógica do contraditório» (Stephan Lupasco) e a dialéctica da individualidade criadora (anarco-utopismo). No fundo, trata-se de (re)descobrir a imaginação e suas leis. Ora o que uma concepção tradicional recusa é que haja leis para a imaginação e que a liberdade possa ter a sua gramática.
Tal como Breton ensina em «O Amor Louco», pode cultivar-se o acaso e pode trabalhar-se para não sermos cegas vítimas do finalismo fatalista e determinista. Pode ir-se ao encontro do livre arbítrio.
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(*) «O Amor Louco», André Breton, Trad. Luisa Neto Jorge, Ed. Estampa, Lisboa, 1971
«O Acaso e a Necessidade», Jacques Monod, Col «Estudos e Documentos», Publicações Europa-América
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Tuesday, February 21, 2006

J. GALSWORTHY 92

92-02-01-ls = leituras selectas do ac - 1868 caracteres - haggard- filmes beja filmes em casa - crónica de vídeo por tomé de barros

1-2-1992

HISTÓRIA ROMÂNTICA QUE ACABA EM TRAGÉDIA

Terminada, ainda não há muito tempo, a saga da família Forsythe, no canal 2 da RTP, os telespectadores mais atentos puderam comprovar de que se trata realmente de um grande clássico da TV, em toda a acepção da palavra: pelo romance-rio de John Galsworthy a que sempre se regressa com prazer e pela realização da BBC, mais uma das que honram os pergaminhos desta produtora nacional de grande prestígio. Apesar dos problemas de conservação e do som que já se ouve «tremido», a série televisiva contempla tudo o que se pode exigir de uma série televisiva. Quase «interminável» como os três volumes da edição portuguesa, não cansa vê-la e, tal como o romance, lê-se (vê-se) do princípio ao fim sempre com o mesmo agrado...
Para os que viram há tempos, na RTP2, a saga da Família Forsythe, de John Galsworthy, e gostaram, é de lembrar que poderão voltar ao contacto com este grande escritor inglês do século passado, através de uma sua novela, bastante mais curta que «Forsythe Saga» mas não menos admirável e igualmente significativa do seu mundo interior, «Uma História de Verão», que em 1988 iria aparecer em filme (e depois em vídeo) na realização de Piers Haggard.
Como se diz no «Vídeo Guia 91», ali se narra «o difícil relacionamento entre um aristocrata inglês e uma camponesa que se apaixonam à primeira vista». São páginas de intenso e belo lirismo, à boa maneira romântica, que o filme fielmente conserva nos seus cem minutos de projecção.
Há um trágico final, é certo, mas esse não deve ser revelado a quem ainda não conhece a novela. Para que se mantenha todo o ambiente de encanto e encantamento que esta linda história de paixão proporciona. O casal de actores que revivem na tela esse amor impossível, encontram-se ao nível de extraordinária qualidade a que a produção inglesa, mesmo quando não é da BBC, nos habituou.
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Publicado em vídeo pela Publivídeo, o filme tem 101 minutos e dele indicamos a ficha compacta:[-]
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N. KAZANTZAKI 92

92-02-21-ls> = leituras selectas do ac- 4603 caracteres nikos> filmes> beja filmes em casa crónica de vídeo por tomé de barros

1-2-1992

DE NIKOS KAZANTZAKI PARA MARTIN SCORSESE - A DÚVIDA DA FÉ

Três horas de filme para 624 páginas do livro, na edição portuguesa da Arcádia, com tradução de Jorge Feio: eis o balanço de uma quase obra-prima que é o filme «A Última Tentação de Cristo» («The Last Temptation of Christ»). Era, portanto, para Martin Scorsese, o realizador, uma tarefa complexa, embora atraente, onde o tempo deveria ser densamente preenchido para não resultar vazio. Defrontava-se ainda com o problema de uma história arquiconhecida, mil vezes contada e outras tantas posta em cinema. Os diálogos do escritor Nikos Kazantzaki foram reduzidos ao essencial, na dramatização realizada por Paul Schrader, o que não lhes retira intensidade, antes pelo contrário.
Temos, com uma equipa inteligente de técnicos e artistas competentes, mais uma versão da vida (da lenda) de Cristo, na crueldade de alguns momentos (os da crucificação, obviamente) e na pureza de outros. O simbolismo da serpente, do fogo, da árvore -- quando Cristo jejua no deserto, depois de baptizado por João Baptista -- é talvez um dos ingredientes menos conseguidos da película.
Outra questão se pode colocar: haveria necessidade de enfatizar tanto o sangue e a dor, de fazer da crucificação o espectáculo tão medonho e hediondo que de facto ele é? Foi a opção de Scorcese, tem que ver com a sua opção filosófica e não o devemos censurar por isso, já que o filme é também, através de Cristo, um testemunho pessoal das obsessões e paixões do realizador. Em seu abono vem a seriedade com que trata as figuras, a suavidade com que transcreve as vozes, a ousadia com que coloca uma banda musical «folk»(?), ou qualquer coisa como música ritual africana, no cenário ora deserto, ora pacificamente campestre da Palestina.
As três horas de filme foram resolvidas, não por soma das partes mas por um sopro inicial de inspiração que ia falhando a Scorsese, confrontado com ambições à partida quase desmedidas. Explica-se assim o episódio público alegadamente «escandaloso» a que o filme daria lugar, antes de estrear em Nova Iorque. Bem precisado estava de uma certa propaganda e de algum empolamento, o filme que não foi feito para grandes massas de público mas que, também, na solidão individual do vídeo se vê prejudicado na cor e na luz. Apenas no intervalo de tempo onde o tempo pára -- toda a sequência do anjo da guarda -- a imagem se ilumina naturalmente, para perder o castanho, por vezes empastelado, que predomina no resto do tempo. Quanto ao escândalo público que o filme originou na estreia em Nova Iorque, é fictício. Muito mais fictício do que a ficção com que Nikos Kazantzaki quis humanizar a figura de Cristo. De heresia é que este Cristo não tem nada, antes pelo contrário: remete à mais pura ortodoxia. É na sequência do anjo da guarda, de facto, toda ela em clima onírico, que está o busílis deste livro espantoso do espantoso místico e escritor que foi Nikos Kazantzaki, falecido em 1957 e de que em Portugal, felizmente, existem bastantes obras publicadas, quase sempre em traduções de grande qualidade.
Mais espectacular e verdadeiramente épico é o seu outro livro «O Cristo Recrucificado», mas Scorsese optou por este e há que respeitar a escolha. E se virmos o filme com o amor que ele merece, de certeza que não foi para explorar o episódio virtualmente escabroso de ver o Cristo divino envolvido nos negócios humanos e nas fraquezas da carne. As dúvidas que dilaceram o coração de Jesus -- princípio de uma concepção existencial, mais tarde escola filosófica -- já tinham constituído objecto de reflexão filosófica em Kierkegaard, que escolheu antes Abraão para testar as forças de Deus face às do Demónio, para personalizar a grande aposta da esperança, a grande dúvida da Fé. Nesta perspectiva, a figura de Judas é quase tão importante como a de Jesus, para não dizer mais importante. A ele foi distribuída a tarefa mais difícil, comparada à de Cristo que era a de morrer na Cruz. É na figura de Judas que a dúvida da Fé assume, convulsiva, a dimensão de alavanca que Kierkegaard expressou em «Temor e Tremor».
Lembre-se que Nikos Kazantzaki já tivera, há bastantes anos, uma adaptação ao cinema da obra «O Bom Demónio», que poucas recordações deixara, principalmente a do actor, o talentoso mas cabotino Anthony Quinn.
Não nos deixemos ludibriar:«A Última Tentação de Cristo» está tão longe da heresia como o seu contrário. Só a Mediocridade, no fundo, é heresia. Porque o espírito sopra em todas as direcções e o amor é que dita a Jesus a ordem de expulsar do Templo os vendilhões.
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Publicado em vídeo pela Edivídeo, o belo filme de Martin Scorsese pode ser visto nos seus 156 minutos de duração e dele damos a ficha compacta:[-]
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Sunday, February 19, 2006

PROSPECTIVA 92

92-02-20-ls = leituras selectas - 2654 caracteres - int-68-a- diario

À PROCURA DE UM MÉTODO QUE PERMITA PENSAR A COMPLEXIDADE CRESCENTE DO MUNDO (PENSAR A SIMULTANEIDADE)

[textos como este revelam talvez uma certa megalomania da minha parte mas também expressam uma realidade: eu abarquei uma ambição excessiva e que nunca poderia realizar; porque tenho poucos ou nenhuns talentos mas porque, ainda que os tivesse, era démarche para uma equipa, um movimento, uma época e não uma démarche individual; isto não quer dizer que as minhas intuições e teses não estivessem certas, eu é que não tinha arcaboiço para as sustentar e fazer vingar]

[ 20/2/1992 ] - Lisboa, 29/12/1968 - - No nosso tempo de realizações e de esperanças, Prospectiva procura o método que sirva para a complexidade dos tempos modernos, que são já os futuros. O método que, valorizando e reconhecendo  os revolucionários da acção e da prática, do movimento de massas, valorize e reconheça e integre os revolucionários da vida interior, do indivíduo [ isto era mais holística do que prospectiva mas a palavra holística ainda não tinha surgido] , do enriquecimento afectivo (isto é, humano).
Não negar tudo o que o nosso tempo pode ter conquistado para a Revolução, mas conseguir uma velocidade e uma simultaneidade de pensamento que, fazendo-nos atentos a um lado (a revolução tricontinental, por exemplo) nos não faça esquecer e ridicularizar, ignorar ou hostilizar o outro ( a revolução naturopática da medicina, por exemplo). Prospectiva procura o método de novos métodos e se a dialéctica nunca chegou a ser praticada como método de pensamento, a Prospectiva procura efectivá-la.
É necessário, é urgente, é indispensável. Num fenómeno de ordem humana intervêm factores diversos que é preciso coordenar na sua recíproca, múltipla, complexa simultaneidade - quando ainda as nossas ferramentas de trabalho intelectual apenas nos permitem pensar a parte e não as partes «em sustentação recíproca» [ António Sérgio].
Ignoramos a revolução de Pauwels [ ??? ] , Louis Armand ou Jean Fourastié, a crítica da tecnologia [ pesada], a crítica das mitologias que se apresentam, mistificatoriamente, em nome do progresso, a crítica das ideias do Futuro que só servem interesses reaccionários do Presente. [ Herman Khan? ]
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A. HERCULANO 88

88-02-20-ls> = leituras selectas - herculano-1-ls>

HERCULANO ELOGIA PROPRIEDADE - MUTUALISMO EM FOCO(*)

(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal «A Capital», «Crónica do Planeta Terra», 20-2-1988

Oito volumes com cerca de 500 páginas cada um é a meta visada pela reedição dos Opúsculos de Alexandre Herculano que a Presença agora iniciou .
Da viagem a um Herculano diferente, pouco conhecido e em grande parte inédito, falou a "A Capital" o Prof. Jorge Custódio que, com José Manuel Garcia, dirige esta obra monumental do grande escritor português do século passado.
Liberal, burguês, agricultor e génio - Herculano continua a ser redescoberto como um "continente" onde novos exploradores vão sempre aportando, à procura de novidade e notícia.
Herculano, de facto, moderado na aparência mas radical na essência, volta a fascinar as novas gerações, à medida que a história torna anacrónicas certas etapas aparentemente "revolucionárias".
No agricultor de Vale de Lobos muitos começam a ver um profeta da idade pós-industrial. O tempo não envelhece o seu pensamento e antes, paradoxalmente, o torna cada vez mais jovem. O fenómeno, que acontece apenas a raros escritores e artistas, está a verificar-se com o autor da História de Portugal.

UMA ARCA DE INÉDITOS

Para os organizadores da reedição, os dez volumes dos novos Opúsculos são a constante descoberta de um esquecido, desconhecido, inesperado ou inédito Herculano.
Jorge Custódio entusiasma-se:
"Vamos revelar textos da participação parlamentar do escritor, deputado um ano, com sua posição crítica em relação ao Parlamento. Vamos revelar também estudos militares medievais , além de um texto pioneiro sobre Numismática, que não vem citado em nenhuma obra, novas polémicas sobre teatro (desconhecidas até agora da investigação ) , artigos sobre as obras da Escola Politécnica (hoje Faculdade de Ciências) ou acerca da Revolução de 1249). Também os artigos d` O País , onde foi redactor, são um valioso espólio do escritor. "
A parte inesperada desta reedição é ainda evidenciada pelo plano que os organizadores apresentam.
Enquanto os antigos 10 volumes dos Opúsculos ficam contidos em cinco da actual edição, os cinco volumes restantes irão conter matéria quase inédita ou, pelo menos, pouco conhecida do público e dos próprios investigadores.
Prevê-se que uma "arca" de inéditos, na posse de um descendente do escritor, possa tombem ser aberta vindo então a lume manuscritos totalmente inéditos, se as negociações encetadas com a editora chegarem a bom termo.

AZEITE DA MARCA "HERCULANO"

Relendo páginas como as que neste I volume dos Opúsculos ele dedica às Caixas Económicas, às freiras de Lorvão, à supressão das Conferências do Casino ou aos egressos, pasma-se da sua actualidade, do interesse que natural e inegavelmente ainda merecem das gerações actuais.
Falando a "A Capital", o exegeta Jorge Custódio exalta um Herculano precursor dos modernos conceitos de Agricultura:
"Defensor da sementeira de pinhais, ele foi o introdutor em Portugal não só da cultura da beterraba mas da tecnologia italiana da produção de azeite de mesa. O azeite da marca "Herculano" ganhou prémios internacionais.
No tempo de Napoleão III, ganha prémios na Exposição Universal de Paris de 1867 e um 2° prémio, na Exposição de Filadélfia.
Quando participou no I Governo da Regeneração, apresentou um projecto de decreto de Reforma Agrária, possivelmente o primeiro que se conhece... É notável, não há dúvida, o seu papel como pioneiro da agricultura científica em Portugal."
Segundo Jorge Custódio, "Portugal não mudou muito desde a revolução de Mouzinho da Silveira e , neste contexto, Herculano é hoje mais actual do que nunca, pois a sociedade portuguesa não evoluiu muito desde o século passado."

PÔR EM COMUM MEIOS DE PRODUÇÃO

E adianta: "Ele estava perfeitamente a par dos conceitos seus contemporâneos sobre Economia Política: socialista utópico, favorável a um "socialismo pela diversidade", conhecia bem Saint-Simon, quando a onda industrial e tecnicista subia.
"Defensor da propriedade privada, preconizava no entanto a organização cooperativa dos agricultores, que deviam pôr em comum as máquinas e outros meios de produção. O assunto das "sociedades económicas" mereceu-lhe 30 anos de reflexão.”
Traço revelador do carácter de Herculano é o seu procedimento relativamente à Universidade de Coimbra, cujo carácter "corporativo" criticava.
"Isso não o impediu, porém - diz Jorge Custódio - de submeter o volume IV da História de Portugal à apreciação da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, para ver até que ponto a instituição é liberal na apreciação da obra de um autor que não pertence ao corpo académico e que tanta a criticara. "
A independência do autodidacta que desafia a instituição sem a ela se submeter constitui ainda hoje uma lição exemplar para a chamada classe intelectual, tão enfeudada e submetida às academias e neo-academias.
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(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal «A Capital», «Crónica do Planeta Terra», 20-2-1988
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