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Friday, December 23, 2005

M. KUSHI 77

diagnóstico-1-eh>=ensaios de ecologia humana–o renascimento de hipócrates– toxicologia largada

O DIAGNÓSTICO ECOLÓGICO OU DIAGNÓSTICO PELO MEIO AMBIENTE(*)

24/12/1977 - Posto o princípio de que a maioria das doenças é provocada pelo Meio Ambiente, resulta daí que o processo de diagnóstico mais lógico e racional será o diagnóstico ecológico, o diagnóstico que procura inventariar, em cada caso ou doente, as causas dominantes susceptíveis de terem produzido ou desencadeado a doença.
Esse tipo de diagnóstico, totalmente ignorado pela medicina académica - talvez porque não o considere suficientemente rigoroso... - foi apontado por Michio Kushi (no III Seminário que realizou em Lisboa) entre mais de 75 processos diagnósticos conhecidos da Medicina Oriental, desde e Iridiologia à Fisiognomia, desde os Pulsos à Palmistria.
O diagnóstico ecológico ou diagnóstico pelo Meio Ambiente exige apenas atenção e capacidade de inventariar as causas. Não se poderá acusar de anticientífico um processo que procura a causa das causas: o que será então a medicina académica que só se ocupa dos efeitos e sintomas?...
O diagnóstico ecológico exige um quadro prévio onde se integrem, racionalmente, os dados recolhidos por inquérito exaustivo ao doente e sua história; não exige aparelhagem, exige inteligência do médico...; vive do diálogo entre médico e doente, pressupondo portanto uma medicina que não é, evidentemente, a medicina burocratizada, impessoal e desumanizada que se pratica, dentro ou fora dos quadros da (im) Previdência.
Neste diagnóstico ambiental ou ecológico trata-se, como se disse, de fazer « a história do doente» e de saber qual dos ambientes poderá ser o principal responsável pelo sintoma mais recente e que se torna mais sensível.
Uma leitura ecológica da doença é fundamental numa terapêutica causal: não esquecer que o sintoma revelado ou expresso não é a doença; não esquecer que esse sintoma pode até ser ilusório e não ser o mais importante ou grave; não esquecer que podem existir - sem que o doente se aperceba deles - outros sintomas e que, portanto, esse sintoma mais evidente deve ser lido apenas como sinal, como luz vermelha, nunca como prova definitiva de uma patologia determinada.
O mesmo se diga para as causas a deslindar. Regra geral, a medicina académica polariza em uma causa, ou em uma linha de causas, a origem da doença. Regra geral, responsabiliza pela doença um vírus, uma bactéria ou (na melhor das hipóteses) uma carência vitamínica.
Numa leitura ecológica da doença, a causa vai desde aquela que se designa de causa desencadeante a todas as que afinal precedem essa e preparam o terreno biológico para que a doença se instale.
Um diagnóstico ecológico, portanto, consiste num inquérito exaustivo às causas da doença, que são as relações do doente como seu meio ambiente.
Tomar consciência do ambiente tóxico que nos rodeia e das suas características patogénicas, não visa criar uma nova geração de complexados ambientomaníacos ou ambientófagos, sofrendo de intérmina obsessão à poluição.
A medicina conseguiu criar uma perfeita fobia ao micróbio, ao vírus, à bactéria e serve-se disso para desencadear, frequentemente, uma autêntica guerra de nervos contra as populações. Mas a medicina, visando campanhas de vacinação que envolvem fabulosos negócios químico-farmacêuticos, é a arte de condicionar mentalmente as massas e de as preparar para todo o tipo de alienação, inclusive a do medo à doença e a queda vertical na «fatalidade» da vacina. A medicina é a arte de assustar o povo.
Tomar consciência ecológica do ambiente em que vivemos (sic), porém, é apenas tomar consciência mais nítida, lúcida e profunda do que somos.
Inventariar os factores patogénicos do Ambiente não visa, portanto, alarmar multidões, nem convencê-las de que vivem rodeadas de perigos constantes e iminentes. A verdade é que vivem, mas a verdade também é que se trata, com uma consciência ecológica, de imunizar. minimamente as pessoas a todos esses perigos circundantes.
E alguns motivos há, bem concretos, sem nada de especulativo:
1-Tomar consciência do Ambiente, inventariando nele os factores patogénicos, tóxicos, agressivos ou alienantes, é um dos caminhos mais seguros para diagnosticar qualquer doença: se é verdade que a doença não cai do céu (como às vezes a teologia médica dá a entender...), nada melhor para descobrir a doença do que ir à procura das causas; e as causas estão, de certeza, no ambiente que rodeia o consumidor!
2 - Para as novas gerações, para os que tencionam ir chefiar a sociedade futura, um mínimo de consciência ecológica talvez não seja desaconselhável, para corrigir alguns disparates e anomalias que os urbanistas, arquitectos, engenheiros, médicos, técnicos agrários, etc., fabricarem através dos seus produtos algo surrealistas.
Diz-se que a vida moderna criou muito conforto na casa das pessoas.
À parte o evidente conforto que se verifica nos bairros da lata ou em partes de casa subalugadas, eu pergunto, por outro lado, que raio de conforto é esse, mesmo nas habitações da média e alta burguesia.
O ambiente doméstico que se conseguiu criar, é uma perfeita aberração, na perspectiva do habitat como nicho ecológico.
Tudo em casa é agressivo e patológico. Não fosse a resistência humana quase infinita, não fora a sua famosa capacidade de adaptação ao meio, não fora afinal a imunização natural que sempre existe desde que nascemos, e aquilo que se designa por habitação ou habitat seria um buraco muito menos seguro e confortável do que uma caverna...
Guardemo-nos, porém, de exageros e dos tais extremos alarmistas. Vamos tomar nota do ambiente doméstico nas suas características doentias, mas vamos fazê-lo para que, a pouco e pouco, se estimule as pessoas, e principalmente a geração mais nova, a construir um habitat menos perigoso, menos sofisticado, mais simples e segundo noções de conforto mais biologicamente correctas.
Há, principalmente, uma finalidade pedagógica nesta chamada de atenção para o quotidiano das nossas casas. A demagogia anti-poluição tem-se esforçado por distrair as atenções do comezinho quotidiano, procurando apenas que as novas gerações olhem os fumos negros, as águas barrentas ou espumantes de sabão e detergente, e todos aqueles espectáculos que dêem impressionante diapositivo a cores...
É função de uma consciência ecológica não demagógica desmistificar esse falso dramatismo das grandes poluições, chamando a atenção para os pequenos nadas da vida de todos os dias e para os aspectos subtis, menos sensoriamente evidentes mas, a maior parte das vezes, muito mais alienatórios e aviltantes.
O Reno, que fica algures na Europa; o Japão, que fica nos antípodas; o lago Erié que fica nos Estados Unidos, são talvez exemplos muito citados porque internacionalmente conhecidos e famosos. O imperialismo, afinal, compensa. Mas é obrigação do militante chamar a atenção de cada um para o dia a dia de cada um.
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(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no semanário «Gazeta do Sul»(Montijo), 24/12/1977
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M. MATEUS 94

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Arcos, 24/12/1994

Você só veio foi arranjar-me trabalhos. Sim senhor, li tudo, às vezes com dificuldade para conseguir seguir os seus voos, mas enfim, faz-se o que se pode.
A nomenclatura ocorrente no seu livro, de um modo geral, agradou-me e acho que a maior parte do léxico, testado com o pêndulo, passaria no exame... Embora a predominância do léxico hindu me irrite um bocado (não gosto dos incensos), mas gostei especialmente dos números fabulosos que o meu amigo aponta, os anos Bramma, bem como os dias Brama. A vertigem dos números apaixona-me e é um belo trabalho para propor ao Pêndulo de radiestesia. Veremos o que dá.
Os números ritmicamente significativos também me interessaram, pois venho realizando uma listagem de equivalências numéricas à qual o seu livro dá uma achega muito interessante.
Já a aplicação prática da sua numerologia aos biótipos e à caracterologia, não me interessou por aí além. A parte prática do livro interessou-me bastante menos, gostei especialmente dos conceitos-chave como você os esplana.
Você é extremamente arguto e no caso do James Lavelock topou porque é que esse senhor está ao serviço das petrolíferas e nem só. Um belo eco-equívoco, dos muitos eco-equívocos com que a literatura pró-ecológica nos brindou.
Aliás, o seu texto é inteligente e por isso lhe presto os meus cumprimentos. Mas lamento o desperdício de energias, tempo e dinheiro que este livro significa. Tens potencialidades para subir vertiginosamente na vertical e ocupas o teu tempo, talento, energias e dinheiro a descer na vertical. Só faltou a bolsa, meu caro Manuel Mateus, para o quadro ser apocalíptico. Não compreendo, meu Amigo, porque desperdiças tanto «ouro» de lei com coisas tão ordinárias como o totoloto e o aconselhamento prático aos casais.
És livre de fazer as tuas escolhas, evidentemente, mas acho que devo ser honesto nas minhas opiniões e dizer o que penso.
Há conceitos-base, como o de egrégora, que me assustam. Implica manipulação e todas as técnicas manipulatórias de energia me afligem. Por isso me fiz cliente da radiestesia de etienne guillé, que trabalha à distância e tanto melhor quanto mais à distância. É, aliás, a famosa propriedade da célula - a teleacção - que nos dá essa propriedade da tele-detecção, crismada de telepatia, mediunidade e outros nomes esquisitos pela nomenclatura da parapsicologia.
A capa do teu livro é bem explícita e só agora reparei: figura lá, além da árvore sefirótica - que põe exactamente as nossas raízes no céu e não na terra - o símbolo da ordem Rosa-Cruz. Houve pudor da tua parte em confessar a ordem a que pertences.
Curiosamente, os conceitos Rosa Cruz são alguns dos que o Etienne Guillé aproveita e a prova está em uma série de palavras-chave que ocorrem no teu livro e que fazem parte da Gnose Vibratória de Etienne Guillé, método pelo qual hoje me oriento neste
périplo difícil pelo labirinto da existência.
2 - Aliás, relativamente a um texto que me aparece como me apareceu este teu, sigo metodicamente algumas fases de relacionamento: se o não rejeito pura e simplesmente à partida - e não rejeitei o teu - vou testar alguns textos que me informem da validade vibratória - aumento do nível de consciência - que ele pode proporcionar ao leitor. Desse ponto de vista, acho que tens responsabilidades: e volto a não compreender como classificas de projecto comercial um belo texto de iniciação à iniciação, logo abortado pela aplicação prática que lhe dás.
Perante um texto, pergunto-me então (pergunto ao Pêndulo) em que medida (percentagem) o texto me ilumina o percurso do intérmino labirinto que é existência na terra, que é o cérebro humano e que são os intestinos do ser humano.
Perante um texto, pergunto-me (pergunto ao Pêndulo) em que medida (percentagem) ele me informa do que fundamentalmente me importa na terra que é o conhecimento do Céu.
Perante um texto, pergunto-me (pergunto ao Pêndulo), das palavras-chave nele utilizadas, quais as que pertencem ao Velho Mundo e quais as que apontam para a Nova Eternidade.
Perante um texto, pergunto-me (pergunto ao Pêndulo), dos números ocorrentes no texto quais os que têm significado (informação) sobre o ritmo (frequência vibratória) e a ordem do Logos Cósmico. (Ver lista de números de que te envio um esboço).
Perante um texto, pergunto-me (pergunto ao Pêndulo), das palavras predominantes nele, qual a percentagem de Entropia e de Neguentropia que tem cada um deles.
Perante um texto, de um primeiro confronto com ele, é o «feeling» (nem preciso do Pêndulo) do operador que deve orientar a escolha do leitor: um texto deve ser testado em pormenor, se a informação «soa» a alquimicamente integrada (o teu texto soa e por isso o li), se traduz um pensamento auto-criador (e o teu soa-me, embora desperdiçado) ou se é apenas reprodução papagueada e de cór (o teu só numa percentagem diminuta se encontra neste caso).
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LÉXICO OCORRENTE NO LIVRO DE MANUEL MATEUS:

Ano de Brama
Aprendiz de feiticeiro
Bioplasmática
Brama
Chacras
Ciclo da precessão dos equinócios
Códice de Manu
Continuum espaço-tempo
Corpo mental
Correspondências
Criptogramas
Cromoterapia
Dia e noite de Brama
Egrégoras
Éter = Akasa
Fenómenos de ressonância
Formas pensamento
Inconsciente colectivo
Lei kármica
Linguagem electromagnética
Logos
Manvantara = ciclo presente
Matrizes etéricas
Mecânica quântica
Manifestação
Manipulador do ferro
Memórias acásicas
Mestres da ciência oculta
Mónada espiritual individualizada
Musicoterapia
Palingénese
Parapsicologia
Prana
Ressonância
Sete níveis sacramentais
Sincronicidade
Sintonia vibracional
Transmutar
Trindade divina consubstancial
Vibração etérica
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Monday, December 19, 2005

M.REMY 97

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21-12-1997

Um clássico da cancerologia francesa
MICHEL REMY FALA DE ANDRÉ GERNEZ

Será o cancro também uma questão de baixas frequências vibratórias?
Esta pergunta, que corresponde a uma tese da Radiestesia Holística, deverá ser, neste momento, prioridade absoluta para investigar e aprofundar.
Se, como tudo indica, as baixas frequências vibratórias forem o factor preponderante na etiologia do Cancro, estaríamos perto da maior descoberta não só da medicina, não só da terapia anti-cancerosa mas de toda a história humana, depois da Queda, há 41 mil anos...

ANDRÉ GERNEZ : UMA PISTA MUITO PLAUSÍVEL

- A campanha de silêncio que normalmente se exerce sobre o trabalho dos investigadores independentes que têm realizado uma pesquisa coerente, lógica, ecológica, racional e holística do Cancro, é fenómeno tão lamentável como curioso, relativamente a uma doença que continua a flagelar o homem moderno, vítima da própria civilização química e industrial que construiu.
As hipóteses mais lógicas e plausíveis para abordagem do problema são exactamente as menos publicitadas.
Tudo se passa como se «forças invisíveis» estivessem interessadas não em encontrar a cura do cancro, como se anuncia, mas em que o cancro continue a ser a doença que mais mortes e maior soma de sofrimentos provoca.
Tudo se passa como se certos interesses escondidos tudo fizessem para calar soluções, saídas, curas, métodos de profilaxia alimentar e prevenção possíveis.
Tudo se passa como se alguém ou alguma entidade lucrasse com o cancro, impedindo a divulgação de tudo o que efectivamente pode concorrer para o prevenir ou erradicar.
Falar do cancro e dos seus mais avançados pesquisadores é, assim, falar de uma resistência, de uma clandestinidade e de uma quase conspiração de silêncio em que, muitas vezes, diga-se de passagem, as próprias vítimas colaboram, não dando ouvidos às teses mais realistas e preferindo o charlatanismo de uma certa pseudo-ciência que nem descobre nem deixa descobrir a célebre cura do cancro.

- Divulga-se a seguir um nome grande da cancerologia francesa, André Gernez, autor de um livro publicado em 1973 e intitulado «Le cancer, Dinamique et Erradication».
Com Pierre Delbet, André Voisin e Michel Rémy, ele encabeça de facto, em França, o lobby da mais avançada pesquisa do cancro na perspectiva ecológica e causal bem como a sua prevenção alimentar e despistagem ambiental.
A revista «La Vie Claire» foi a tribuna que não só deu voz às vozes incómodas desses investigadores como teve a coragem de lançar campanhas públicas de esclarecimento «em defesa da verdade e dos factos».
Outras obras igualmente importantes de pesquisa ecológica sobre o cancro foram editadas por «La Vie Claire», em cujo catálogo figuram autores dessa área tão importantes como Hilaire Charles Geffroy, Pierre Delbet (Politique Preventive du Cancer), Raymond Lautié, Gunther Schwab.

- Sobre André Gernez e o seu livro diz Michel Rémy:
«É curioso que um indivíduo como André Gernez, especialmente dotado para as ciências exactas e que terminou o liceu aos 14 anos, se tenha consagrado à medicina e, ainda mais curioso, à cancerologia. Os cientistas puros geralmente não se tornam médicos e é sem dúvida essa a razão pela qual a medicina moderna continua a ser uma soma de receitas empíricas e uma arte, em vez de se tornar uma ciência coerente e sintética.
«É o que Gernez verifica quando escreve, nas últimas páginas do livro «O Cancro, dinâmica e erradicação»: «A hecatombe intelectual que representam mais de 700 mil publicações anuais sobre o cancro, entre as quais não se evidenciam mais de 100 tentativas de síntese, seria mais fecunda se fosse polarizada sobre a determinação, mesmo aproximada, do elo patogénico que une todos os fenómenos experimentais e de observação conhecidos. A luta contra o cancro sofre de uma oclusão e é incapaz de assimilar as aquisições mais substanciais. Tornou-se inútil continuar a aumentar número de peças do puzzle: ele já é suficientemente vasto para se tentar esboçar o desenho que as coordena. »

- Que deve fazer o médico para socorrer eficazmente um canceroso? Trata-se, segundo Michel Rémy, de algo extremamente simples: substituir os tratamentos desordenados por uma intervenção metódica, cujo prosseguimento se prevê até à cura total - caso o doente não tenha atingido já um estado irreversível.
Escreve Michel Remy:
«Até agora classificavam-se os cancros em duas categorias: os de bom prognóstico, por exemplo os cancros cutâneos, que saram em 90% dos casos porque o diagnóstico é muito precoce; e os cancros de mau prognóstico, como o do pulmão, cuja média de cura não atinge o limiar de 5% que constitui a percentagem liminar necessária para admitir um começo de eficiência de qualquer técnica.
«Os primeiros capítulos do livro de Gernez permitem compreender as causas deste fracasso quase total. Não é por faltarem armas para atacar o cancro. Mas a cancerologia actual só utiliza algumas delas (cirurgia, radioterapia, quimioterapia, hormonoterapia), pondo de parte certas outras muito importantes como o reajustamento do terreno caracterizado pela alcalose, pelas carências de magnésio, etc., que favorecem a célula cancerosa na concorrência que faz à célula sã , a neutralização dos factores anabólicos cancerígenos específicos, a utilização das retroacções entre tumor e organismo, etc. E, sobretudo, a medicina utiliza as armas ao acaso, empiricamente, sem ordem e sem método.
«A segunda metade do livro de Gernez estabelece a estratégia que a natureza do cancro impõe a quem o quer combater vitoriosamente. Comporta essa estratégia três tipos de operações:
a) isolamento,
b) estabilização
c) estímulo.
É a aplicação de um processo que se impôs pela experiência, muito antes de Napoleão o aplicar ou de Clausewitz o formular.
a) O isolamento permite suprimir os entraves metabólicos e substituir a cinética natural da massa cancerosa por uma cinética artificial que o terapeuta manobra, quer para travar, quer para acelerar.
Os processos de isolamento expostos por Gernez podem ser anatómicos (cirúrgicos) ou biológicos: este último tem por objectivo separar a colónia cancerosa das correlações fisiológicas que a estimulam. O principal meio proposto por Gernez com este fim é a esterilização da hipófise, operação considerada benigna, que produz melhoras espectaculares.
b) O estádio seguinte é a estabilização: trata-se de contrariar a vegetação cancerosa. Mencionemos aqueles meios que fazem intervir as interacções entre o tumor e o organismo no qual funciona como glândula endócrina. Trata-se de uma técnica que se pode considerar nova, porque se algumas das possibilidades que oferece já foram descobertas em casos específicos, nenhum especialista compreendeu ainda o mecanismo destas acções.
c) O terceiro tipo de operação contra o cancro com metástese é o estímulo.
A ideia de estimular a vegetação do cancro com metástese pode parecer contraproducente. Mas, como demonstra Gernez, é o ponto mais importante do tratamento. As células cancerosas, devido ao seu estado de latargia, não absorvem as substâncias químicas tóxicas com as quais se tenta atacá-las. As células em estado de vegetação activa, pelo contrário, absorvem essas substâncias e morrem.
A quimioterapia permite abater num tumor as células muito activas mas as células quiescentes (em repouso) continuam indemnes.
Meios de estímulo propostos por Gernez: oxigenoterapia hiperbárica (?), hipertermia, colchicina, etc.
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J.-P.MASCHI 97

11901 CARACTERES-MASCHI-0>PRONTO A IMPRIMIR PARA BEIJA-FLOR

POLUIÇÃO ELECTROMAGNÉTICA NA GÉNESE DE MIELITES GRAVES
A TESE DE JEAN-PIERRE MASCHI

21-12-1997

Será a esclerose em placas mais uma doença típica das baixas frequências vibratórias?

Se, como tudo indica, a poluição eléctrica for uma questão de baixas frequências e influenciar, dessa forma, os organismos vivos, provocando patologias que é costume atribuir à sociedade industrial e à chamada civilização em geral, teremos uma maneira muito concreta de enquadrar um dos factores responsáveis ou talvez o principal factor responsável por essas doenças chamadas da civilização.

Além da poluição química, responsável por muitas dessas patologias, teríamos assim a poluição eléctrica do meio ambiente como o factor determinante das doenças mais disseminadas e mortíferas do mundo moderno, nomeadamente as do sistema nervoso, a que a medicina chama, em parte, mielites.

Mais: se se comprovar que a poluição química actua negativamente sobre os organismos, exactamente porque corresponde a uma baixa de frequência vibratória desses organismos, estaríamos provavelmente diante da mais importante descoberta da história da medicina.

Se todas as doenças forem explicáveis em termos de frequência vibratória, a terapia seria claramente uma: elevar a frequência vibratória dos meios terapêuticos ao nosso alcance.
Como as essências florais e a música são os meios terapêuticos de mais elevada frequência vibratória, estes dois recursos de base deveriam tornar-se obrigatórios, fosse qual fosse a doença e fossem quais fossem os meios tarapêuticos utilizados.
Se estiver certa a hipótese de a medicação química ser não só tóxica mas também uma causa determinante no abaixamento da frequência vibratória do doente, é evidente que a única incompatibilidade das essências florais e da musicoterapia, seria com a medicina química.
Pelo contrário, a melhor associação seria com as terapias vibratórias naturais, nomeadamente homeopatia e oligoterapia.
Ao contrário da estratégia terapêutica seguida por Jean-Pierre Maschi - que religa os doentes à terra e portanto às frequências vibratórias de baixo nível, - a terapia verdadeiramente aconselhável seria aquela que combina o potencial terapêutico do N8 - terra, água, meios e forças naturais - com as terapias de N16, 24 e 32 (pelo menos).
Em casos graves como a Esclerose em placas, é necessário trabalhar com as energias vibratórias de mais altas frequências: se a doença for, como de facto deve ser, uma doença de baixas frequências vibratórias.

BIOMETEOROLOGIA

- A influência das condições atmosféricas sobre o organismo humano foi comprovada há muito. O médico grego Hipócrates (460-377 a.C) referiu-se longamente ao assunto no tratado «Dos Ares, das Águas, dos Lugares.»
Passaram 25 séculos em que a medicina negligenciou esses aspectos. A biometeorologia estuda agora as razões pelas quais as variações atmosféricas podem ter influência na saúde.
Indivíduos com afecções crónicas - reumáticos, cardíacos, enfisematosos, nervosos - prevêem muitas vezes com antecedência de dois dias as alterações do tempo. São chamados metereosensíveis.
Ao aproximar-se uma tempestade, diz-se que há «electricidade no ar». Mas há sempre electricidade no ar e sem ela não poderíamos viver. Esta descoberta é recente e tornou evidente a importância da troca de electrões nos fenómenos da vida. A atmosfera terrestre está permanentemente ocupada com um campo eléctrico.
Na iminência de uma tempestade, os campos eléctricos intensos, devidos à formação de nuvens, perturbam brutalmente o campo eléctrico atmosférico, produzindo um excesso considerável de iões positivos na atmosfera. É nessa altura que certos doentes sentem uma acentuação dos seus males.
A tempestade rebenta, os relâmpagos cortam o céu. Estas descargas provocam a formação de iões negativos em grande quantidade. Levados para o solo pela água da chuva, esse iões negativos são responsáveis pelo bem-estar que se sente depois da tempestade.
Uma pessoa saudável raramente se apercebe destes fenómenos, mas a maior parte das suas funções biológicas nem por isso deixam de se modificar:
coagulação do sangue, diurese, nível do açúcar, do cálcio, do sódio e do magnésio no sangue, são alterações fisiológicas observadas por por médicos da ex-União Soviética e por americanos, alemães e holandeses.
Na Alemnha foi criado um serviço especial pelo Departamento Meteorológico Federal, onde trabalham médicos e meteorolgistas em colaboração.

POLUIÇÃO ELECTROMAGNÉTICA

As condições atmosféricas não são as únicas a modificar o estado eléctrico do ar.
Na cidade, os gases dos tubos de escape, os fumos e as poeiras provocam excesso de iões positivos que se aglomeram em grandes moléculas. São os iões pesados, descobertos pelo físico francês Langevin.
As armações metálicas dos prédios, os objectos em matéria plástica, os revestimentos isolantes, os tecidos em fibras sintéticas, a multiplicção dos aparelhos electro-domésticos, as grandes estações emissoras, as fábricas produtoras de energia eléctrica, as linhas de transporte de energia, em suma, o ambiente quotidiano podem também modificar o campo eléctrico.
Os automobilistas conhecem a sensação desagradável das cargas eléctricas a que se sujeitam em certos dias, ao tocarem no automóvel. Para eliminar essa electricidade estática, muitos automobilistas adaptam ao veículo um dispositivo, uma simples corrente ou lamela condutora, suspensa nas traseiras do carro.
A electricidade estática pode provocar problemas. Em alguns países, as salas destinadas aos computadores são equipadas de revestimentos de solos condutores de corrente eléctrica que garantem uma perfeita ligação à terra.
É assim que a produção de aparelhos para produzir iões negativos se terá tornado uma indústria florescente. Ou então, em alternativa menos dispendiosa, seguir conselhos muito simples de religação à terra:
- andar com os pés descalços em contacto com a terra
- evitar sapatos de solas isolantes (borracha, ceilão, etc.)
- evitar roupas de fibras sintéticas
- tomar duches mornos
- sempre que possível banhos de mar (talassoterapia) na falta de uma boa e regular mineralização alimentar
Resumindo e concluindo:
- Qualquer variação no campo eléctrico pode ter consequências negativas no organismo
- Tensões da vida moderna - ruído, stress, produtos químicos, poluição, etc -- agravam esse desequilíbrio
- O influxo nervoso pode ser submetido a variações de tensão electromagnética

A TESE DA ELECTROCUSSÃO LENTA

-É neste quadro de influências electromagnéticas sobre a fisiologia do ser humano que o Dr. Jean Pierre Maschi inclui a sua tese da electrocussão lenta na génse de algumas doenças que ele classifica como doenças do ambiente ou da civilização.
Segundo Maschi, figura que, nos anos 60 em França, esteve no centro de uma grande polémica mediática, devido aos métodos terapêuticos utilizados na sua prática clínica, além da electrocussão acidental, que pode provocar a morte, existem as manifestações secundárias e tardias da electrocussão, tais como:

- aparelho cardiovascular:
extrasístoles, fibrilação auricular, sindroma anginoso, infarto do miocárdio, crises de taquicardia

- sistema nervoso:
hemiplegia acompanhada de afasia,
epilepsia,
paraplegia pura ou sensitivo-motriz,
nevralgias cervico-braquiais,
ciáticas,
sindromas de Parkinson,
cefaleias,
casos cujo aspecto clínico faz pensar na esclerose em placas, perturbações psíquicas e neuro-psíquicas

- alterações ósseas com descalcificação difusa ou construção óssea com osteofitose; perturbações oculares, entre as quais a catarata eléctrica é a mais frequente.
Observaram-se igualmente nefrites com anúria, glicosúria,
modificaões rápidas de peso, uma hiperleucocitose com polinucleares.

- Uma tal soma de sintomas obriga a pensar seriamente a tese de Maschi e, portanto, a forma como a poluição electromagnética influi hoje no comportamento humano. O balanço do ambiente electromagnético na patologia humana está por fazer. Talvez fosse o momento de iniciar esse trabalho, a partir da questão, cada vez mais candente, das baixas frequências vibratórias.

ESCLEROSE EM PLACAS : DOENÇA DA POLUIÇÃO ELÉCTRICA?

- Certas afecções crónicas - reumatismo , afecções cardíacas, afecções neurológicas diversas - são cada vez mais frequentes nos chamados países civilizados e chamam-lhes doenças da civilização.
A esclerose em placas, por exemplo, é muito menos frequente nos países em vias de desenvolvimento e menos espalhada entre os negros do que entre os brancos.
Segundo Jean-Pierre Maschi, estamos a ser submetidos a uma verdadeira electrocussão lenta e progressiva, que poderá provocar modificações no terreno, perturbações comparáveis às que se verificam em indivíduos electrocutados.
Para o Dr. Jean-Pierre Maschi, a Esclerose em Placas seria uma doença do ambiente, uma doença da civilização causada, como ele diz, «por uma lenta e progressiva electrocussão.»
A tese da «electrocussão lenta», sustentada por Jean Pierre Maschi, deve ser encarada com algum cuidado, nomeadamente no caso concreto da esclerose em placas, em cuja etiologia os factores eléctricos e electromagnéticos deverão ter algum peso mas onde a questão das frequências vibratórias poderá ser muito mais importante do que apenas a intensidade, maior ou menor, da poluição eléctrica existente.
Jean-Pierre Maschi fala, literalmente, de poluição eléctrica.

ESCLEROSE EM PLACAS: NASCEU COM A ANESTESIA GERAL

- Afecção do sistema nervoso, fazendo parte do grupo das mielites, a esclerose em placas foi descrita pela primeira vez pelos médicos franceses Charcot e Vulpian, em 1866.
Durante dezenas de anos, considerou-se que era devida a um vírus banal. As declarações de neurologistas, especialistas desta doença, indicam que essa hipótese foi totalmente posta de parte.
A particularidade desta doença é a evolução muito lenta. Atingindo geralmente os indivíduos entre os 20 e os 30 anos, evolui durante dezenas de anos com períodos de remissão ou agravamento que produzem acentuação do mal.
Esses doentes sentem, durante a evolução da doença e geralmente de uma forma progressiva, formigueiros, tremuras, contracções e perturbações no andar, que finalmente resultam em paralisia.
A esclerose em placas é também chamada na terminologia dos países de língua inglesa «esclerose multilocular». Também se lhe chamou paralisia progressiva.
No estado em que a marcha se torna já difícil mas ainda possível, estes doentes dizem que por momentos têm a impressão de que os pés estão literalmente «colados ao chão».
Os doentes sentem também muitas vezes verdadeiras «descargas eléctricas» que lhe atravessam o corpo, sintoma que se verifica sobretudo durante os primeiros anos da doença.
Segundo o dr. Jean-Pierre Maschi, esses doentes estariam também submetidos a fenómenos, como ele diz, de electrocussão lenta e progressiva.
Os sintomas sentidos durante dezenas de anos podem, segundo ele, ser comparados a certos sintomas de electrocussão.

- Experiências de laboratório permitiram estudar as reacções fisiológicas em função da intensidade da corrente eléctrica. Verificou-se assim que, para uma corrente alterna de 50 períodos abaixo de um miliampère, tudo se reduz a uma simples impressão de formigueiro.
Para intensidades de alguns miliampères, aparecem tremuras e contracção muscular. Acima de 6 a 10 miliampères, a contracção muscular é suficiente para impedir o indivíduo de se libertar espontâneamente.

- Segundo Jean-Pierre Maschi, as condições da vida moderna produzem progressivamente aquilo que a corrente eléctrica que atravessa o corpo humano é capaz de provocar em alguns segundos. Estes doentes seriam muito sensíveis a fenómenos exteriores do meio ambiente, nomeadamente mudanças de tempo, ruídos, contrariedades, emoções, etc, capazes de provocar uma acentuação mais ou menos importante dos seus males.

- A tese da electrocussão lenta para explicar a esclerose em placas não exclui uma outra de carácter ambiental mas talvez a confirme: de facto, segundo alguns autores pouco conhecidos e divulgados, na génese da esclerose múltipla, tal como na das restantes mielites, estaria a anestesia geral. A verdade é que, cronologicamente, as mielites surgiram com o aparecimento da anestesia geral.
Os factores de poluição eléctrica - nomeadamente as baixas frequências vibratórias - apenas agravariam o terreno que começou a ser alterado pela anestesia geral, verdadeira bomba atómica no sistema nervoso central.
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A.R.ROSA 62

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«POESIA, LIBERDADE LIVRE» (*)
UM LIVRO DE ANTÓNIO RAMOS ROSA

(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no suplemento literário do «Jornal de Notícias» (Porto), 20-12-1962
Com a particularidade de vir acompanhado das seguintes linhas (anónimas) :
«Depois de largo silêncio, é com prazer que registamos o reaparecimento da interessante voz de Afonso Cautela. Impulsionador do suplemento literário bastante discutido nos últimos anos e publicado em «A Planície», jornal de Moura, Afonso Cautela mostrou-se sempre atento aos problemas da nossa vida cultural e literária. Afastado depois por diversas razões, Afonso Cautela submeteu-se a um silêncio que, não o fazendo perder as suas qualidades, lhe ensinou contudo que nem sempre a inactividade é acolhedora.
Esperamos, pois, continuar a merecer a colaboração do poeta de «Espaço Mortal».

20-12-1962

Alguns, não muitos, críticos e ensaístas de poesia tem havido entre nós; mais cedo ou mais tarde, porém, desistem de "compreender a poesia" ou conjugam essa compreensão com a de outras formas literárias ( se é que poesia pode considerar-se "forma literária" ou "género literário").
António Ramos Rosa, poeta, crítico e ensaísta, permanece fiel à poesia e só à poesia, o que, a propósito do seu último livro - Poesia, Liberdade Livre - dá ensejo a que se pergunte: será essa uma deficiência ou uma qualidade (a maior) destes ensaios? A resposta talvez dependa do que nesses mesmos ensaios se conclua sobre o conceito de poesia.
Por vezes, Ramos Rosa parece que nos autoriza a identificar homem e poesia, liberdade e poesia, amor e poesia. No ensaio A Poesia e o Humano fala Ramos Rosa da "luz de uma nova aventura do espírito humano, sob o signo da liberdade" e de "um debate espiritual que é talvez o mais significativo do nosso tempo".
Na verdade, fora dessa aventura, fora deste debate, parece não haver nada que valha a pena. Várias designações se lhe deram - "arte moderna", "poesia moderna", "modernidade", "modernismo" - mas nenhuma me parece melhor que a designação de Artaud, que aliás se referia apenas a si próprio e não a um movimento colectivo: "cultura fascinante".
Simplesmente Artaud encarna todo o movimento e por isso legitima a adequação de "cultura fascinante" ao movimento que o tem por representante máximo.
Perante a "desagregação dos principais sistemas que têm regido a cultura do Ocidente" (e Ramos Rosa viu, aqui, que era de facto a cultura do Ocidente em causa) "uma nova luz e uma nova aventura surgem”.
O primeiro problema relativamente às afirmações de Ramos Rosa, pode formular-se na seguinte pergunta: Se é de facto a cultura, e com a cultura o espírito humano, e com a liberdade o homem que nessa aventura se empenha e compromete - porque há-de ser então a poesia, unicamente a poesia, o "lugar dessa aventura e desse debate"?
Ou a poesia se compreende em sentido estrito de "criação pela palavra culta e adulta" (que é, creio, o ângulo de Ramos Rosa) mas nesse caso é impossível identificá-la com o domínio do homem total, com o espírito, a liberdade e o destino do homem; ou a poesia é aceite em sentido lato de "criação", em todas as suas formas, desde as do espírito humano às da natureza, desde as da arte, ciência e filosofia às criações da criança, do primitivo e do animal, confundindo-se poesia e cultura, e neste caso não me parece que Ramos Rosa simpatize com semelhante alargamento do conceito de poesia, na maioria ou totalidade dos seus ensaios; excepto no primeiro parágrafo do já citado ensaio e, mesmo assim, só até onde se afirma:
"A verdade é que na sua essência, a aventura perdura, porque, com este rótulo ou com aquele, a poesia moderna continua, sob o mesmo signo, a ser o lugar dessa aventura".
Esta inferência afigura-se-me sem apoio intermédio e portanto insegura, talvez arbitrária.
A poesia, na acepção em que Ramos Rosa acaba de a considerar, unicamente neste parágrafo, é não há dúvida um dos afluentes da grande corrente, da grande aventura, do grande debate; mas, de modo nenhum, o único.
Enquanto o pensamento de Ramos Rosa se move no âmbito da problemática cultural, é de uma lucidez e vigor inexcedíveis; esse pensamento é sacrificado e diminuído, porém, quando entra de aplicar-se a um objectivo que, por restrito, o restringe também.
Creio poder delimitar esse objectivo dizendo que é o "poema" e as estruturas poéticas.
Eis a meu ver a maior deficiência de um espírito que talvez como nenhum entre nós estivesse tão preparado e fadado para representar a língua portuguesa nesse "debate espiritual" que é "talvez o maior e mais significativo do nosso tempo", e que, travando-se embora no seio da língua francesa, é por natureza universal.
Só por issa a sua voz (a voz destes ensaios) não atinge desde já a ressonância universal que as vozes de Bataille e Blanchot, de Bréton e Revérdy, de Bertelé e Desnos, de Charbonnier e Jean-Louis Bédouin vão ganhando na "grande aventura".
A posição de Ramos Rosa, por enquanto, votada à investigação das estruturas poemáticas (e não digo poéticas) pode, sem que ele queira e num vertiginoso ápice, virar puro esteticismo, esquecendo afinal aquilo cujo esquecimento Ramos Rosa tão necessária e vibrantemente verbera entre os esquecidos homens da nosso tempo, esquecidos e desatentes do que "apenas importa": o problema dos problemas, a grande questão para a qual todas as nossas energias e capacidades e riscos nunca serão demais e de que não poderemos distrair-nos um instante só, sob pena de ficarmos réus com os réus, traidores com os traidores.
Contudo, Ramos Rosa distrai-se; é a distracção dos "sages", de acordo, por concentração num objecto de estudo. Mas, de qualquer medo, distracção. Ramos Rosa aceita, por vezes, solicitações da mediocridade, e a crítica de livros pode ser uma das mais perigosas dessas solicitações.
Neste sentido diríamos que em Ramos Rosa e em qualquer espírita da sua estirpe essencialmente meditativa e criadora, o crítico é inimigo mortal do ensaísta.
A meu ver, Ramos Rosa deveria estar atento, sim, às relações e metamorfoses de todas as experiências que integram essa experiência total a que, no sentido lato, se pode chamar Poesia, mas que, então e em tal caso, significa também cultura e cultura fascinante para a distinguir da outra, a que nos forma, conforma e deforma.
O conhecimento do real não é apenas o do senhor cientista, o do senhor filósofo e o de todos os senhores que monopolizaram o "modo de conhecer", uniformizando-o e estabelecendo uma única receita para todas as épocas e todos os lugares.
O conhecimento do real não é só o da lógica (qualquer lógica) que distribui sistemas a granel pelos livros, que os distribuem pelas universidades, que os distribuem pelas populações docentes e discentes, que os distribuem e infiltram pelas infra ou super-estruturas económicas, burocráticas, políticas desta selva social onde vivemos.
O conhecimento do real é e pode ser também o do homem que não é filósofo, nem cientista, nem sequer inteligente, nem sequer lógico, nem sequer de "sã razão".
Pode não ser só o do homem cristão - e ser o do budista , o do maometano, o de uma tribo perdida em qualquer continente perdido (se acaso houvesse ainda continentes perdidos...).
O conhecimento do real pode não ser o do adulto, pode ser o da criança. Pode não ser só o do homem prático, mas o do homem poético. Cada uma destas experiências, em número infinito, é uma forma de penetrar o real, de conhecer o universo.
Pois quem poderá afirmar que não haverá uma "filosofia" para cada uma dessas experiências? Se a formiga pensar, porque não terá a formiga a sua teoria do conhecimento, a sua lógica, a sua ontologia e a sua epistemologia?
De todas estas perguntas se pode dizer que são de louco ou de poeta. Mas tais perguntas já hoje estão legitimadas aos olhos dos que, depois de Rimbaud, depois de Lautréamont, depois de Dada, depois de Artaud, vivem a grande aventura, o grande enigma, o grande debate.
Nesta perspectiva e nesta escala, em que de facto o homem é o homem na sua concreta, multiforme e maravilhosa condição de criador de culturas, pouco representa, um lírico a mais ou a menos, um poema mais perfeito ou menos perfeito, uma imagem mais feliz ou menos feliz.
Eis o que gostaria de ver realizado por Ramos Rosa: este esforço de perspectivação, esta unificação e proporcionamento de múltiplas experiências integrantes da grande experiência ou experiência total, em que só e afinal será legítimo identificar Homem, Liberdade e Poesia.
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(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no suplemento literário do «Jornal de Notícias» (Porto), 20-12-1962
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CRÍTICA 72

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ANDANÇAS DO ESCRIBA EM 1972 (*)

(*) Este longo, chato e repetitivo texto, ad hominem até dizer baste, terá ficado inédito na melhor da hipóteses ou, na pior, terá sido publicado parcialmente algures, quiçá em «O Século Ilustrado», onde, nesse ano, espraiava a minha mania crítica (penso eu de que...)

20-12-1972

Enquanto o crítico, diariamente (ou pouco menos) oferece a cara a quem lhe queira bater, assina com as letras todas do baptismo, alguns colegas do mesmo oficio enveredam por via diversa. Barricando-se no anonimato, que nem sequer é modéstia mas fuga às responsabilidades, acintosamente se referem às opiniões de Fulano e Beltrano.
Podem cifrar-se neste choque - responsabilidade contra irresponsabilidade, crítica assinada contra ataque anónimo, qualidade contra marketing, opinião independente contra claque de grupo, - os principais pontos de fricção a registar neste ano crítico de 1972 da era já cristã.
Desculpe o leitor que empregue aqui a primeira pessoa do singular mas um balanço do ano é a única vez em 365 dias que o Escriba tem direito a falar de si, quer dizer: a explicar-se (não a desculpar-se), a falar um pouco das suas mais profundas intenções, a informar dos seus propósitos e a confessar que anda nisto apenas para tentar servi-lo, leitor.
Precisamente por causa do anonimato e dos ataques que se escudam na sombra protectora, teve o Escriba de mandar carta ao suplemento de um vespertino democrático (mas são todos! ...) onde ele, Escriba, e mais alguns nomes portugueses, sistematicamente têm vindo a ser registados com acinte que nem chega a ter piada e muito menos razão.
Aliás, bastava a piada para me calar. Mas assim, não: como dizia o poeta brasileiro Mário de Andrade, perdoo tudo menos a burrice e a falta de espírito, de humor, de verve. Isto é no fundo o que unicamente chateia.
Enquanto o crítico Lauro António é demandado porque, no lícito exercício da crítica, não chamou génio a um produtor de documentários publicitários, um vespertino democrático (mas são todos! . . .) , através de um suplemento que se diz de artes e letras, ataca-o, ainda por cima por um texto que o Lauro não escreveu.
Cito este episódio num balanço pessoal, porque o vivi como se meu fosse. Só quem não anda nisto ignora os equívocos a que um texto impresso está sujeito e como foge totalmente ao controle de quem o escreveu.
Com a febre altíssima que atacou, de repente, os off-set, cometem-se cada vez mais gralhas e empastelamentos do material. escrito. Não se passa um dia, não sai uma crónica, que as gralhas não deturpem abundantemente a matriz e, consequentemente, a opinião emitida.
Ora assinar e responsabilizar-se o Escriba, com o nome do baptismo, pelas próprias asneiras, é indispensável: cada um que responda pelas gafes. Responsabilizar-se pelas que lhe fazem dizer, eis o que considero o flagelo número 1 caído sobre a função crítica neste ano.
No episódio que ia contando, chamou-se à pedra um crítico e vai-se a ver era outro que tinha escrito o texto mas a paginação trocara nomes. Pergunto: destes e de outros prejuízos ao seu bom nome, quem indemniza o crítico?
O episódio dá a medida do perfeito temor vivido quotidianamente por quem deseje falar clarinho ao leitor, para quem se esfanica todo com a sintaxe, para quem se esforça até à pontada nas costas para não asnear muito além do lícito.
O crítico não teme assinar opinião, doa a quem doer e der o Y que der. Não pode é pagar pelos desastres de paginação e arredores. Uma tecnologia dos 'mass media' cada vez mais avançada, parece afinal resultar num agravamento de obscurantismos. Se este balanço pode servir de alguma coisa, que sirva para pedir desculpa ao leitor de todos os lapsos involuntários, mas principalmente alertá-lo para os lapsos impróprios, quer dizer, não próprios.
E a quantas gafes está sujeito, sem dúvida, o trabalho de escrever sobre filmes, com estreias às onze da noite, com intervalos de légua, com complementos publicitários cobrindo os primeiros três quartos de hora. Todos querem pisar e fritar o crítico, por ofensas ao brio. Mas quem indemniza o crítico do tempo que lhe queimam: com a cerimónia dos dois intervalos? Sem a possibilidade civilizada das sessões contínuas? Com as estreias à noite (em vez de estreias à tarde), com os complementos publicitários e, quase sempre, com fitas que nem ao Menino Jesus nas palhinhas interessam? Quem indemniza disso tudo o crítico, que não fez mal nenhum para ser assim condenado a trabalhos forçados?
Afinal, estoicamente, cá andamos nisto, convencidos de que estamos a praticar um acto cívico, um lindo dever. O dever da verdade. Só. Apenas.
Vai daí, também, depois de muitas e muitas semanas colaborando com devoção cívica num semanário muito democrático (mas são todos!) oriundo da Amadora, vai daí entra no semanário um economista candidato a jornalista e enquanto não me põe 'knock out' não descansou. Suponho. Porque o ataque, desferido cívica e democraticamente à traição, era, civicamente, anónimo. Também.
Assim vão os órgãos ditos independentes e ditos de província.

GAFE, CLARO

Independentes, não muito. De província, cada vez mais e quantos mais economistas aspirarem a escritores. Dá fiasco. Já se pensou o que era o Escriba a querer ser doutor em Economia e Finanças? Gafe, claro.
A nova vaga tecnocrata age assim. Enquanto andam à rasca de imaginação e de leitores, esbugalham a imaginação do Escriba até ao tutano. Depois de os leitores acorrerem em cardume, instalam-se eles a gozar o êxito. E o leitor, como não sabe, continua comendo gato por lebre.
No que respeita ao ataque anónimo que este ano grassou talvez porque entrasse em vigor uma lei que responsabiliza as pessoas pela sua própria opinião assinada , o Escriba fica totalmente sujeito às conhecidas arbitrariedades do Reino.
A propósito dos vários artigos de entusiasmo e louvor que dediquei ao filme Pedro Só, de Alfredo Tropa, por duas vezes o Diário de Lisboa, no suplemento dito literário, passou ao ataque anónimo.
Da primeira vez, tomei uma aspirina para acalmar e fiz por esquecer. Da segunda, sem me abrigar ao abrigo de nada, escrevi perguntando afinal que artes eram estas e onde estava a moralidade e o descoco das pessoas que levaram tanto tempo a pedir liberdade de Imprensa para agora se aproveitarem dela a calar a resposta daquele que anonimamente atacaram. Moita carrasco.
Soberanamente ignorou-se por ali a carta explicativa, porque se sabe que o Escriba não tem troco de cinco para mandar cantar um cego quanto mais para contratar um caríssimo advogado que lhe advogue a causa. E como sabem que o Escriba é pobre, a lei passa a letra morta e os 'mass media' atacam primeiro no conforto do anonimato para depois estrangular a defesa daquele que atacaram.
Quando o caso dá escândalo visível e adregam de lhe publicar a epístola de réplica, há sempre meios de a desfigurar, bastamente usados como é de calcular. Empastelamentos, gralhas, virgulações anómalas para que se diga que o Escriba é analfabeto.
Ora o Escriba não é analfabeto. E o ódio maior que lhe movem é exactamente porque ele escreve claro e mija direito. A única manei ra de os democráticos 'mass media' o neutralizarem é estropiando. Aprendido do marquês de Pombal e dos jesuítas o processo, ele faz hoje alta escola nos hábitos ditos polémicos de um: terreno onde precisamente a polémica deixou de existir porque só existe a pura arbitrariedade desses 'mass media'.
De um homem livre nunca se sabe o que pode vir: se bom tempo, se bom passamento. Um homem livre é a peste para todos os órgãos bem pensantes da lusa intelligentzia, que cita António Sérgio e sistematicamente nega o seu espírito, a sua pedagogia, o seu exemplo, a sua isenção e a sua coragem de franco-atirador.
Na sequência das melhores épocas absolutistas da nossa história, tudo fazem os mini-confrades para ver se abafam aqueles cujo patriotismo é a verdade e o amor à verdade. Porque a verdade não serve à sua óbvia e arrasadora mediocridade.
Outra das alegrias que o Escriba vive na faina de ensinar às almas a amar o Belo, é aviar a prosa e o espaço não deixar. Há sempre, em Lisboa, um problema de estacionamento, de espaço vital, de congestionado buraco para albergar a prosa do Escriba. Tudo tem cabimento, da rótula do Eusébio ao colo garço da Miss Beleza, garota endiabrada que se faz fotografar nas posições clássicas, tudo, do 'fait divers' às zaragatas da ONU tem assento, mas a prosa do Escriba vai sempre para a cauda da bicha e regra geral borda fora.
Quando chega ao postigo, está a lotação esgotada.. Congestionamento na capital. Grave problema de trânsito. Desânimo no peito rijo do cruzado da crítica, já desacostumado da protectora armadura que o deveria ainda cingir, por estas e outras. O espaço quando há é para todos, menos para ele que, além de obrar sempre clarinho, e a prosa lhe surdir depois uma cerrada, opaca massa nada cinzenta de necedades (ia jurar que me gralham a palavra necedade pela 20ª vez em 15 anos) tem ainda a favor destas e que doutras. 70% do entusiasmo fica no tinteiro, no cesto, no granel.
Não se atina, portanto, como ainda pode ser tão indesejada uma, actividade que beneficia, desde logo, destes 'handicaps' todos de base. Luta-se pela justiça e só nos dão desgostes.
Que amargura é, amigo António Sérgio, simultaneamente querer amar a pátria e as ideias, ou julgar que se deve servi-la com elas. Mas as ideias são a única coisa que nos fica. - e alguma alegria que é a do exercício da imaginação - depois de nos tirarem tudo.
Nunca a minha filha será jornalista. Além de perigoso, o oficio de Escriba está pela hora da morte e é do mais ingrato que há. Toda a gente o emenda. Todos se sentem escritores insignes a emendar-lhe a virgulação. Depois (claro) sai bota, e é o Escriba. que assina a bota. Depois o nosso director lê o que o Escriba escreveu e diz que o Escriba escreve 'munta mal'. Sistematicamente o Escriba paga as favas todas, de todos quantos piedosamente colaboram na confecção da sua piedosa prosa.

ESTE 1972

Feliz foi, com certeza, este 1972 que tantos e tão bons frutos deu no campo das actividades cinematográficas e para-cinematográficas. Pela primeira vez na história de Portugal, um crítico de cinema. foi processado e o julgamento, à hora a que escrevo, decorre sem se saber ainda a sentença. Conforme ela for, assim deveremos interpretar dilematicamente o futuro do cinema entre nós. De duas, uma: ou como actividade do foro cultural e a que a crítica presta portanto um contributo de qualificação imprescindível; ou como simples dependência do comércio publicitário.
Joga-se nesse importante incidente de percurso uma das faces que o cinema português poderá fazer valer de futuro. De duas, uma: ou a gente ficamos só com documentários folclóricos para apresentar nos festivais do estrangeiro; ou teremos, como qualquer outro País independente, nossos criadores da 7ª arte, autores, gente responsável por um trabalho criador e não apenas fabricantes de 'spots' de propaganda. É tempo de escolher e de saber que à crítica incumbe o dever de fazer essa destrinça. Se não se quer a vitória da qualidade, então acho melhor meter os críticos todos na panela do Pero Coelho, atarrachar bem e pôr ao lume. Acho melhor. Andarmos aqui a fingir que queremos e depois não queremos, para quê?
Feliz foi o 1972 pelo II Festival de Santarém, onde Um Homem do Ribatejo recebeu homenagens ao lado de A Promessa e onde, mais uma vez, ficou para a outra vez a oportunidade de o público criticar Grande, Grande Era a Cidade, já largamente comentado desde Nice pela crítica internacional mas, como todas as obras controversas e de valor, manco ainda por aqui de um esteio que o conduza do seu realizador Rogério Ceitil ao público .
E se há filmes portugueses reflectindo com amor os tiques nossos, o de Ceitil é um dos primeiros.
"Dommage", pois, que os incidentes de percurso tenham impedido até agora uma plena comunicação da fita com aqueles de que ela fala e a que se destina.
"Dommage", enquanto Os Toiros de Mary Foster, que não têm nada a ver com e cinema mas têm a ver com o folclore, andaram no beija-mão algumas semanas, no Politeama.
Desigualdades de trato que se devem por certo, aos signos benévolos que sempre actuam por aqui no sentido da Carneiro e contra ( o signo da) Virgem.
Feliz foi também, este 1972 de boa memória que trouxe à cola uma interessante troca epistolar entre o distinto crítico António Pedro de Vasconcelos e o director da revista Plateia, Vitoriano Rosa. Zangadíssimos um com o outro, foi o habitual festival de ofensas corporais, qual deles o mais elegante.
Vasconcelos e sua responsabilidade para com a Instituição, move-se num âmbito de gentilezas que Vitoriano desmascara. E reciprocamente.
Vasconcelos já derretera também, dias antes, numa entrevista à revista onde critica todos os portugueses, à excepção dos amigos dele, que são os bons, os inteligentes cá da Pátria. Agora, deixou de citar Seixas Santas como crítico, mas sabia ele, ora essa e tanto basta. Depois da zanga, devem ter ido festejar no bar da Avenida de Berna. Vasconcelos ameaça Vitoriano de processo. O feliz ano 1972 ficará na História da Inquisição Portuguesa como um dos seus anos doiradas.
As reuniões de críticos na Casa da Imprensa prosseguiram em ritmo animador, esperando-se que antes do ano 2 000 esteja constituída a referida agremiação que muita ajuda poderá prestar ao crítico. Até lá, cada franco-atirador como este vosso amigo, aguenta o melhor que pode as caneladas do ofício ( e nem vos conto quantas!).
Como notou Eduardo Prado Coelho na sua actividade ensaística semanal, a crítica diária decaiu muito desde que ele e o César Monteiro deixaram de. Os críticos diários -. na opinião do doutor - estão cada vez mais na mesma. Por mim falo, que isto de escrever sobre um filme após cinco horas de tortura que é uma sessão das nossas, sem contar as de gala que metem fraque e lacinho, tem que se lhe diga e devia meter horas extraordinárias. Como não é, o crítico corta a metade, quando já está morto de sono e de tédio. Claro que, escorreitos e enxutos, só os que, como o Dr. Eduardo, Vasconcelos e seus pares, saem da caminha às tantas e podem, portanto, escrever com capitulares doiradas ensaísticas obras de fôlego crítico.
Pulei por cima do festival de Santarém mas não queria deixar de referi-lo. Metade das promessas ficaram-se por aí e daí que me tivesse vindo embora. Tempo é dinheiro e pobres de Cristo como eu não têm de ganho quanto mais para perder. Resolvi perder o direito às refeições mas guardar aquela paz de consciência que afugenta quaisquer futuros e possíveis remorsos.
Nice, em fins de Março, deu-me entre outras oportunidades a de verificar que o avião é o meio de transporte mais abominável que existe. Depois desta confissão de saloio, falo do 'rendez-vous' europeu em que o cinema português de vanguarda participou. Escrevi que me desunhei sobre o caso e creio ter cumprido, no feliz 1972, a minha obrigação de crítico e o mau dever de patriota para com o cinema do meu País. Em recompensa, o publicista Portela Filho na sua fundíssima do dito jornal, denunciava-me por excesso de qualidade e por defender com unhas e dentes um filme que por aqui todos entenderam desancar: Pedro Só, de Alfredo Tropa. Em Valladolid, o filme ia ganhando. Aqui, ia ele e ia eu ganhando uma doença. cardíaca (ou de pele?).
Alves Costa não me deixa mentir, poderá confirmar que em Nice foi um dos filmes mais considerados. Aliás, o de Ceitil também e no entanto... Tanto como Uma Abelha Na Chuva, os clássicos do Manuel de Oliveira, O Recado, tanto como o António Macedo e o Paulo Rocha.
Feliz ano foi ainda o 1972 por me ter dado o recorde de alegrias em matéria de gralhas. Como se sabe, além de todas as outras condições “sine qua non' (im) postas ao trabalho do crítico, imprimirem-lhe bugalhos onde ele escreveu alhos é uma das mais encorajantes.
Mas melhor do que as gralhas, é o beneficio introduzido pelos camaradas de revisão que entendem emendar a prosa do crítico, e isto sempre, meses, horas, dias a fio.
Quem assina, portanto, os bugalhos que o fazem escrever é o crítico que - juro - não disse metade do que gentilmente o fazem dizer. Se o leitor souber isto, fica a saber 88% desta 'via crucis' que é escrever nas imprensas e do calvário agravado, se for crítica que escreve. Se for de cinema que fala. Se, por exemplo, em vez de progroms que ele escreveu o fizerem escrever programas, se em vez de tribunais do povo lhe meterem no meio virgula separando povo de tribunais, se em vez de pantomima que ele disse aparecer três vezes pantomina.
Mas isto, como digo, é apenas um mínimo de que lhe pode acontecer nos tramados trâmites do trânsito redaccional. Mais valia - pensa o crítico 365 vezes por ano - andar a fazer 'slogans' segundo a melhor técnica de vendas. Compreendiam-no melhor, remuneravam-no melhor, perdoavam-lhe melhor os deslizes e haviam de consentir que ele assinasse o preto no branco. Assim, assim...
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