BOOK'S CAT

*** MAGIC LIBRARY - THE BOOKS OF MY LIFE - THE LIFE OF MY BOOKS *** BIBLIOTECA DO GATO - OS LIVROS DA MINHA VIDA - A VIDA DOS MEUS LIVROS

Saturday, November 05, 2005

REALIZAR A UTOPIA

lefèbvre-2-ls=leituras selectas

MANIFESTO DIFERENCIALISTA:REALIZAR A UTOPIA

[ 7-11-1970 , in «O Século Ilustrado»] - Dez anos após a publicação, em França, de «Le Matin des Magiciens», manifesto de um realismo fantástico que era apenas um neo-utopismo que nascia contra o realismo de via reduzida, imobilista e dogmático, incapaz de acompanhar o movimento de aceleração histórica, «Le Manifeste Differencialiste», (1) recentemente aparecido na Gallimard (col. Idées), parece retomar caminhos idênticos.

Como diz Claude Jannoud, apreciando esse novo ensaio de Henri Lefèbvre, «o fundamento desta diligência é a investigarão do impossível-possível». Uma vez que o pretendido e pretenso realismo fracassou, em toda a linha, é preciso ir procurar noutra parte, lá onde as coisas ainda não existem, é preciso ir, como diz Lefèbvre, até à diferença, já que o sistema actual visa reduzir a diferença ao indiferente.

Depois de Saussure, a diferença fez carreira nas ciências humanas, o que lhes restitui actualidade em filosofia. Para Lefèbvre, o diferencialismo é precisamente um método capaz de ligar o próximo e o longínquo, caminhar para o famoso impossível-possível, reencontrar uma criatividade esmagada pelo imperativo da produtividade.

Há várias lógicas da sociedade, é preciso revelá-las, elaborar uma estratégia da diferença. Isto pressupõe que as revoluções devem aspirar à diferença e que devem ser diferentes umas das outras. Como Berque em «L'Orient Second», Lefèbvre sustenta o princípio da diversidade, face às forças opressivas da universalidade e da homogeneidade.
Enquanto a reflexão de Berque se apoia essencialmente na experiência do Terceiro Mundo, Lefèbvre centraliza a sua meditação sobre a revolução urbana. Assistimos a um processo de urbanização completo da sociedade, processo cujos sinais catastróficos são inúmeros. A «ilusão urbana» é o domínio do absurdo, da impotência, sob todas as latitudes, sob todos os regimes sociais. Constitui-se um espaço e também um tempo opressivos, a favor dos aglomerados gigantes.

A realidade urbana, diz em substância Henri Lefèbvre, não é já uma superestrutura, ela condiciona o futuro das sociedades, o seu desenvolvimento e mesmo o nascimento da produção. Trata-se, portanto, de um factor determinante que os homens do poder, quer os da política, quer os da ciência, quer os da indústria, ignoram.

Da sociedade urbana, porém, deverá vir o grande movimento de diferenciação, de criatividade, de liberdade que mudará o mundo.

Utopia? A palavra não mete medo ao autor, que vê na utopia o específico da crítica progressiva, a necessária distanciação em face do real. A maior parte da sua argumentação repousa sobre uma aposta: o poder de criatividade dos homens, a sua imaginação. Uma tal argumentação pertence talvez ao imaginário e terá pouco de razoável, de prudente. Mas a utopia, o desrazoável acabaram sempre por ganhar, no decorrer da História. De impossíveis tornados possíveis é que se foi fazendo, afinal, a evolução progressiva da Humanidade.

(1) Também na Gallimard e na colecção Idées apareceu, quase simultaneamente, um outro ensaio de Henri Lefèbvre: «La Revolucion Urbaine».

-----
(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado, com este título, na coluna «O Futuro em Questão», semanário «O Século Ilustrado», Lisboa, 7-11-1970 e no jornal «Notícias da Beira», Moçambique, coluna «Notícias do Futuro», em 7-10-70

DESCAMINHOS DO SAGRADO

22058 CARACTERES - 7 PÁGINAS - VIAS-0 - MERGE DOC DE 2 FILES WRI SOBRE O SEMINÁRIO DE NOVEMBRO DE 1996 - 12288 BYTES-vias-1

CAMINHOS E DESCAMINHOS DO SAGRADO
Lisboa, 7/ 11/1996 - Até René Descartes, um dos fundadores do pitosguismo moderno e pós-moderno, viu que a questão do método era (e é) a questão crucial do conhecimento.
Outro pitosga, Jean Paul Sartre, também notou e escreveu «Question de Méthode» .
Cada orador que fala do sagrado, da vivência do sagrado, devia ser obrigado a declarar, em nome da constituição da república, qual a via, o método, o atalho, o beco sem saída, o cul de sac ou o buraco que seguiu para a função.
Devia, portanto, começar pelo princípio, que é por onde La Palice começa sempre os seus discursos académicos.
Ou seja, devia explicar à malta qual foi a via seguida para :
a) Vivenciar o sagrado
b) Vivenciar o sagrado
c) Vivenciar o sagrado

À excepção do Prof. Carlos Silva, que é sempre e em tudo uma excepção, em qualquer parte do mundo, não foi esse o caminho transparente e nítido que vimos nos distintos oradores, até à data, deste colóquio.
Indicaram-se antes o descaminhos seguidos o que também pode ser considerado um método, melhor ainda, o método do anti-método. A dialéctica dá pra tudo, graças a Deus e a Hegel.
A determinada altura dominou o método institucional-universitário, como a função implicava, conhecido também por método pitosgo-científico, que se caracteriza por alguns tiques, truques e traques muito nossos conhecidos destas lides, em que temos sempre um cientista a explicar-nos que somos umas bestas, como por exemplo:
a) Não se auto-enxerga: vê um argueiro no olho do parceiro mas não vê uma trave no seu. Foi o caso do Prof. Espírito Santo, que ao falar do dito não se deu conta de que ele próprio o tinha no nome (e nem gritou sacrilégio, sacrilégio)
b) Recomenda aos outros o que não faz para si: e ao falar da irreformável Igreja Católica (que é um facto, mas ainda bem para a Igreja Católica) esquece que a própria sociologia é irreformável e ainda mais para a (dita e dura) Sociologia das Religiões, que é o fim da picada. Julga-se para a frentex, naquela ilusão iluminista que põe o progresso prá frente quando o progresso, como toda a gente sabe, está pra trás e remonta a 60 mil anos antes de nós, ou seja, à 1ª Idade de Ouro conhecida.
Julga-se pra frentex e começa com uma lapalissada iluminista, maçónico-iluminista (vivó Progresso e a República), que aliás está agora na mó de cima com os maçónicos todos no Poder governativo e arredores: individualismo não é egoísmo, individualismo é uma doutrina muito séria (até engendra, imagine-se, a Solidariedade e o Ministério da Solidariede) , ou o Montepio geral do Padre Milícias, enquanto o egoismo é um defeito horrível dos egoístas.
Bruxo.
d) O método pitosgo-sociológico, que já está a dar as últimas, desde Maio 68, ainda vai estrebuchar uns tempos até que a malta grite «basta, abaixo os mistificadores do sagrado». Até que a malta , em Maio 68, diga que o último sociólogo deve ser enforcado nas tripas do último psicólogo (e vice-versa)
e) Quando se diz que o método pitosgo-lógico não se enxerga nem enxerga um palmo adiante do nariz, está-se também a dizer que não enxerga a história recente, com mais de 20 anos, e os slogans que encheram paredes e ruas de Paris com forcas para os institucionais da Asneira e gritos de «Imaginação ao Poder».
20 anos depois, é o Poder com F que continua no Poder.
f) O pitosgo-lógico, por exemplo, está sempre a dizer: «Não tenho nada contra isto e aquilo», sou superior a essas baixezas mas não tenho nada contra. Mas, depois, vai-se a ver e logo na linha seguinte tem tudo contra isto e aquilo menos contra o seu próprio psicopitosguismo.
g) Exemplo dessa distracção dos sábios surge quando, a propósito de uma assunto completamente alheio - dir-se-ia que nos antípodas - se fala em serial killers, coitadinhos, cujas estatísticas mostram carências afectivas de cuidados maternais dos serial-killers, coitadinhos. O pitosguismo neo-freudiano é:
- Analisável no divã do psicanalista de serviço, caso o Dr. Daniel Sampaio esteja superocupado em vinte mil livros, vinte mil artigos, vinte mil intervenções rádio-televisivas, ou a receber um telefonema SOS da Isabel Stillwell, que é tia, como todos sabem, da Rainha Santa Isabel
- Não tem nada a ver nem com o sagrado nem com as terapias psicoenergéticas dos níveis de consciência vibratória;
- Já foi ultrapassado por várias tendências e escolas que, por sua vez, já foram ultrapassadas . Quem se diz sempre tão à la page com os últimos gritos da ciência ordinária , positivista e experimental, devia estar mais atento aos anacronismos do discurso
- Dizer que a ciência não tem nada a ver com o sagrado, quando a única ciência a que se pode dar esse nome é precisamente a das 12 ciências sagradas, mais do que ultrapitosguismo é pura e simples ignorância, ininputável, raiz de todas as psicopatologias, ou releva da anedota, ou então é caso de polícia e tribunal no caso da se provar a não ininputabilidade.
E por duas razões:
1 - Toda a psicopatologia é um grau de consciência vibratório específico mas abaixo de zero
2 - Toda a psicoterapia, breve ou longa, assim ou assado, cru ou cozido, tem que postular:
- o continuum energético entre macro e microcosmos, o que está em cima é igual ao que está em baixo (lei da analogia)
- a composição trinitário do ser humano (corpo, alma, espírito)
- a coluna vertebral vibratória das 4 pirâmides
- a posição de cima para baixo, como indica a árvore sefirótica (a visita do espírito santo, como diria o meu dilecto amigo António Telmo, o estado de graça como diria o Prof Carlos Silva ) e não inversamente, a subida até lá como fazem todas as práticas inversas de raiz hinduísta ou perto
- etc.

Se, como lembrou Carlos Silva, Stª Teresinha tinha o culto das flores, isso foi apenas uma experiência de sincronicidade como diria o Jung com o Dr. Richard Bach, que teve a mesmíssima intuição, sabe-se lá se no mesmo meridiano terrestre, se no mesmo fuso horário, e a colocou ao serviço do ser humano com o nome de «Remédios Florais do Dr. Bach» , a mais poderosa psicoterapia utilizando substâncias vivas hoje à disposição. Os remédios florais são, repito, a mais poderosa psicoterapia ponderal, porque actuam no 4º nível ou 4º corpo vibratório, sede da alquimia da alma e, portanto, de todas as doenças da alma que são todas as doenças do corpo, etc., etc.(a retórica psicosomática).
Quem fala de psicoenergias e, dogmaticamente, em nome da sagrada ciência deles, diz que o ser humano é só a platitude, a chatice e a chateza do corpo físico - não animado de energias cósmico-vibratórias - arrisca-se a várias alíneas:
a) a fazer o seu auto-retrato e a ficar no guinness da ignorância
b) a perder o comboio da psicologia transpessoal, o último dos comboios cosmicamente à disposição
c) a não conseguir curar uma única patologia, pois todas a patologias nascem de cima para baixo e exactamente porque se cortou (a medicina dita científica cortou) a ligação entre o cimo e o baixo é que as patologias crescem e proliferam como cogumelos em dia de inverno
d) andar a enganar cientificamente a malta
e) a ser irreformável como diria o sociólogo Espírito Santo
f) a ser cúmplice pelo estendal de tristeza, miséria, depressão, esquizofrenia, stress e morte que é hoje, na era do vómito Virtual/Internet, o panorama da doença mental (psicopatologias) em todo o mundo
g) o psicoterapeuta que não começa por fazer a sua psicoterapiazinha (e seu autoexame de consciência) , de facto, está sujeito a que a malta lhe pergunte : «Senhor doutor, a que nível vibra?».

Falando ainda de outros métodos, vias, caminhos, assinala-se o analítico-simbólico.
É inesgotável. Como as cores do espectro são 7 básicas, é um ver se te avias a descobrir coincidências de cores alquímicas (!!!!!) em tudo o que são manifestações de rua, em tudo o que são ciclos do calendário litúrgico. Como se tecem discursos coloridos a falar de cores! Às vezes, é inevitável, coincidem. Uma alegria, portanto, esta descodificação dita alquímica das cores. Mas altamente reveladora de um método ou ausência dele:
a) As cores são, no espectro energético, a vibração N8 e, portanto, as ondas luminosas são o alimento predilecto dos nossos 5 sentidos do corpo físico e dos hedonistas, dos que teimam em ficar gozando as delícias do primeiro degrau (sensório, sensível, sensorial) ou estado de consciência primária, dentro dos 7 estados potenciais de consciência
b) Todo o misticismo e cenário de visões, vidências, alumbramentos, fantasmagorias releva desse sensorial de Nível 8 auto-satisfeito.
Cores, metais, planeta , sim senhor, são matéria-prima, ingredientes da obra alquímica, mas apenas ingredientes, são a base da pirâmide alquímica . Mas a pirâmide, por definição, não é só base. Da base ao topo , só para começar vão:
- 7 estados vibratórios de consciência
- 9 camadas da alma
- 14 níveis vibratórios, tal os 14 bocados em que retalharam o Horus, tendo desaparecido o bocado órgão genital, que as más línguas atribuem aos gostos perversos de Ísis
- etc.
O método analítico -simbólico tem uma (des) vantagem, permite todas as especulações da imaginação criadora. Para quem goste de Castañedas na brasa e de neo-xamanismos, serve. Para quem goste de se autoiludir, iludindo os outros, óptimo. Para quem goste de fazer literatura à volta do sagrado e não ciência, serve.

Mas para quem prefira uma via rápida , eficaz, segura , fiável de acesso ao potencial de sagrado, de todas as vias até agora compendiadas, a que Carlos Silva propôs, via Sta Teresinha, é inegavelmente a mais interessante e a mais verdadeira. Irmão da via zen. Com uma única remarca: a via mística é linda mas não é a via iniciática. Nem pouco mais ou menos.
Tudo na exposição de Carlos Silva bate certo menos isso. Eu fiquei fã de Stª Teresinha, já lhe rezei esta noite para me defender dos sociólogos e dos psicoterapeutas, e até explico a sua via rápida - queimando etapas - por um stress violento, a tuberculose. Outro stress intenso, em que se assinalam curas quânticas milagrosas, e que pode conduzir à via rápida da alquimia, é o Cancro.
Em qualquer caso, só quando a célula quer queimar etapas - por atraso ou estagnação milenar e ela é que sabe - a via de iniciação pode admitir o queimar etapas.
De resto e como indica o método iniciático hermético, método que costumo indicar aos meus nétinhos, atenção e cautela:
a) Degrau a degrau, se escala o (potencial do) sagrado
b) Grão a grão enche a galinha o papinho
c) Step by step se prepara o suporte vibratório (SV) para receber as Energias Vibratórias (EV)
d) Etapa a etapa nos aproximamos de Deus: ou seja, realizamos o nosso potencial de sagrado, que é o das sete oitavas em ritmo logarítmico, fóra os trocos.

Tudo isso é uma psicoterapia intensiva , porque método iniciático significa método psicoterapêutico, como já teria dito o grande pensador e filósofo La Palice.

Ponto final sobre o 1º dia do magnífico colóquio, com parabéns aos organizadores, que abriram uma fendazinha muito simpática no Muro de Berlim.
Até já.
Afonso Cautela
Grupo de estudos Herméticos
+
11392 bytes-telmo-1-que passou a ser-vias-2

O CONTINUUM ENERGÉTICO: À PROCURA DA ROLHA SEM A QUERER ENCONTRAR

Lisboa, 8/11/1996 - Qual será a próxima pirueta da ciência dita psicológica para sobreviver à sua própria agonia?
Esta é a angustiante pergunta que pode surgir , após a intervenção, honesta, clara e testemunhal, do Dr. Telmo Baptista ao seminário «Vivência do Sagrado», na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Cidade Universitária de Lisboa.
Fizeram a vida negra ao William James, mas, pelos vistos, como ele era familiar dos mediuns espíritas, jurou vingança e tem-lhes feito , em troca, a vida negra a eles, a julgar pelo péssimo astral que vemos nas suas auras. Depois da estrondosa falência técnica do behaviorismo (uma lindíssima palavra que se transmuda na horrenda palavra comportamentalismo à portuguesa, língua que não é feita, como advertia Agostinho da Silva, para estes barbarismos experimentalistas com ratinhos), depois dos cognitivistas, que eu tive a honra de conhecer nesta manhã de Outono, cognitivistas que tinham vindo, conforme percebo, em socorro da psicologia, completamente estreçalhada às mãos dos behavioristas confessos, assistimos agora a uma nova psicologia, cujo nome me escapou, mas que deve ser mais uma à procura da rolha. São milhares as escolas dentro da psicologia - como advertiu alguém, não sei se o Dr. Vítor se o Dr. Telmo.
O «main stream» (das poucas expressões que eu conheço do inglês) do William James foi, tal como o intuicionismo de Henri Bergson, antes da hoje chamada Psicologia Transpessoal, a oportunidade servida para sair do atoleiro, o comboio oferecido aos transviados e perdidos psicomaterialistas, encurralados no buraco onde deliberadamente se meteram. Um desafio a ver se abriam os olhos e acordavam (« O Homem dorme e nós viemos acordá-lo», Ouspensky).
Mas não deu. Perderam esse comboio rápido para sair da estupidez e preferiram encaixar-se , encaixotar-se (literalmente) nas caixas de ratinhos com experiências laboratoriais , às 2ªs, 4ªs e 6ªs, caixas que ainda por cima, à luz da ética cristã mais elementar, são perfeitamente abomináveis e obscenas. Segundo percebi, o Dr. Goswami , para chegar a Deus também preconiza e recomenda uns ratinhos antes, logo ao pequeno almoço.
A Fundação Gulbenkian, entidade promotora da ciência fundamental com ratinhos em Portugal, publicou um grosso tratado, em 2 volumes, creio - a contar todas essas peripécias behaviorísticas de ratinhos e ratazanas. Sem nenhum protesto da Liga Protectora dos Animais.
Aliás, referidos, os ditos - ratinhos - pelo Dr. Vítor Rodrigues, que não explicou a que ratos de Lisboa se referia.
Onde a honestidade do Dr. Telmo atinge a máxima pureza - eu diria mesmo, a máxima inocência - foi quando definiu o nascimento de uma ciência ,- e portanto da psicologia - como uma necessidade profissional.
Lembro-me que o Dr. Robert S. Mendelsohn, MD, num prefácio ao livro de Michio Kushi «Natural Agriculture and the Cause of Disease» conta, exactamentte, a odisseia da Pediatria, uma ciência (especialidade médica) que para nascer foi deixando centenas de mortos e feridos, mártires-crianças pelo caminho. O Dr. Mendelsohn MD é pediatra e claramente se pretende limpar desse karma pesadíssimo que a ciência ordinária tem acumulado nos poucos séculos em que tem parasitado a Terra. Mendelsohn, MD, faz nesse prefácio-manifesto a sua auto-penitência, aliviando os remorsos de consciência mas arriscando-se de caminho a ser expulso da dita (e dura) ordem dos MD lá do sítio.
Temos, pois, que a Psicologia , para nascer (parto difícil , lhe chamou o Dr. Telmo, mais uma vez com uma grande sinceridade) foi a ferros e teve que deixar, pelo caminho, vários estropiados.
A história da ciência ordinária em geral e da ciência psicológica em particular é, de facto, uma sucessiva edição, mal corrigida e aumentada, das dantescas descidas aos infernos, de que falam os inconscientes colectivos de todos os povos.
A propósito: nunca percebi porque dividem as ciências em «puras» e «humanas». Das humanas, sempre tenho proposto que lhes chamem , mais adequadamente, desumanas e quanto às puras, acho que pressupõe haver outras que são impuras, o que é caso para investigação policial, e é bem feito.
Curiosamente o Dr. Telmo teve um lapsus vocis(verbis) interessantíssimo, quando fala de «ciências duras» (lembra imediatamente as drogas duras) o que pressupõe que haja outras menos duras.
Sendo a ciência ordinária a violência institucionalizada, não deixa de ser curiosa esta adjectivação.
Curiosamente, ninguém , em plena área do Continuum Energético (main-stream) que são estas charlas à sombra da Psicologia , fala da Ciência das Energias e /ou Ciências do Espírito e /ou Ciências do Sagrado e /ou Ciências Sagradas e /ou Noologia. Talvez por isso é que uns malucos oportunistas lhes chamaram ocultas.
Como ninguém quer assumir esse risco - do continnum energético - , não lhe vá acontecer o mesmo que ao William James , metido no gueto e posto fóra da respeitável comunidade dos cientistas violentos , eis que continuam à procura do Continuum sem o querer encontrar, à procura da rolha, o que se traduz então no 13º trabalho de Hércules chamado Investigação Quântica, a mais obscena das manifestações que o show business se tem permitido. E quando digo show business não estou a utilizar metáfora, basta ver o palco do espectáculo, chamado acelerador de partículas, de que o nosso ministro Gago, que manda produzir sismos, é um dos ilustres portugueses associados.
Na chamada aventura quântica - que me parece antes um safari barato - já conhecíamos o Fritjof Capra, que ajudou os arrogantes ocidentais a ajoelhar diante do Tao(ismo) e a fumar o cachimbo da Paz com a dialéctica Yin-yang, uma das mais luminosas vias que conseguimos herdar da Primeira Idade de Ouro .
Já conhecíamos o Dr. Deepak Chopra que descobriu a cura quântica , embora o ayurveda até já se venda bem e tenha licença de importação nos EUA.
E conhecemos agora, mais um investigador experimental (com ratinhos?) da mónada quântica, 100 anos depois de Leibniz, que é o senhor Amit Goswami.
Vítor Rodrigues referiu-se aos malucos místicos e aos malucos da ciência. Não deve ter lido muito os malucos da Quântica (eu li), porque então é que verificava ser caso para chamar a polícia de costumes. Quem quiser endoidecer a preço módico em 2 dias, leia sem respirar os teóricos do Cáos (depois de o provocarem, teorizam-no) e os teóricos quânticos.
Eu como não quero endoidecer, antes pelo contrário, quero criar anticorpos para escapar à neurose científica em geral e à neurose quântica em particular, preferi ler , traduzir e decorar o meu autor de cabeceira há 4 anos, as 1551 páginas de Etienne Guillé, que são - além de serem a obra mais importante depois do Big Bang - o maior e melhor tratado quântico de energias que me foi dado conhecer nesta minha feliz incarnação.
Étienne, de facto, andou à procura da rolha, só que a encontrou. E fala para gente normal, mediana, medíocre como eu. Não fala para sábios. Ele não tem culpa e eu também não. Mas isso permite-nos olhar com toda a compaixão (como recomenda Lydia Rebouças e a minha dilecta amiga Emília Rosa) estes que andam à procura da rolha e nunca mais a vão encontrar.
Lydia, querida Lydia, vamos lá a ver o que é isso de Holística. Pois fica sabendo que fui o primeiro português a escrever, em letra de imprensa, essa palavra mágica. Eu li o teu mestre Roberto Crema e um jornalista mediano - como eu - podia ter escrito essa «Introdução à Visão Holística». É um elogio, portanto. Está na cara, como dizem os nossos fratelos brasileiros. Só os da ciência ordinária não atinam no óbvio ululante. Mas a Holística - óbvio ululante, tal como as ecologias- é apenas uma proposta de paz no meio da guerra, sem resolver as causas e motivos que levam à guerra. Em suma, é uma rendição ao Inimigo.
Utilizando um estratagema alquímico, eu diria que temos de exacerbar os sintomas (é a minha técnica, pelo menos) e não acalmá-los, como faz a Medicina e como faz agora a Holística do sr. Roberto Crema, da Lydia e da Universidade da Paz. Se leres, Lydia querida, «As Espingadas da Mãe Carrar», do Brecht, perceberás que só há guerra, e que só há dar e levar. Se não dás, levas.
Aplicando este anexim à Universidade de Ciências Sagradas, vamos a ver quem consegue primeiro instalá-la neste país: se tu, querida Lydia, ou se eu, ou se os dois: seria então a paz...
Paz, como vocês querem, é rendição ao inimigo. E embora o inimigo já seja cadáver a esta hora cósmica , desde 26 de Agosto de 1983, mas o cadáver ainda cheira que tresanda e anda por aqui disfarçado de várias coisas que não digo porque não quero ofender ninguém. Mas os apelos à tolerância podem ser uma forma de o Diabo, morto e bem morto, ver se volta ao Poder.

Uma coisa que me encheu de curiosidade foi o facto ocorrente em várias oradores de 5ª feira, se não de todos: quando desenham os corpos energéticos (a que uns chamam níveis) uma vezes aparecem 3 (Vítor Rodrigues), outras vezes 4, outras 5. Intriga-me isto: porque os corpos que eu detecto - em mim, nos meus 4 gatinhos ou no universo em geral - os corpos que eu detecto, avalio, analiso e meço velocidades (creio que o Prof. Carlos Silva chamava velocidades diferentes entre pensamento e sentimento às frequências vibratórias dos vários níveis vibratórios de consciência) são 7, incluindo o físico ou N8, base da pirâmide alquímica e , portanto, da tragédia da incarnação.
Posso dar-lhe esses nomes giros que a gíria dita esotérica , (nomeadamente hinduísta, que invadiu todos os interstícios do Ocidente ) lhes dá, até Rudolfo Steiner. Posso, mas prefiro números, o meu negócio é números, pois com os números acabam-se as querelas de palavras , muito queridas dos académicos e universitários, herdeiros da Torre de Babel: N8, N16, N24, N32, N40, N48 e N56. Chegado aqui, ao N56, chamado espírito de buda - nome lindo! - posso recomeçar a jornada , pois , não esqueçam, o «eterno retorno» é o retorno a Deus e não como disseram especialistas em religiões comparadas ( como o incontornável Mircea Eliade) o eterno retorno a esta estúpida incarnação.
É um dos erros de investigação que tem levado mais espíritos ao cemitério. E continua a manter-se esse erro.
A subida na vertical é mesmo no sentido da vertical e processa-se em espiral, o que significa em consecutivas pirâmides vibratórias que se retomam pelo vértice , a chamada escada de Jacob.
Sim, escada de Jacob, porque os 7 corpos são (os primeiros) 7 degraus a percorrer.
Lisboa, 8/11/1996
Afonso Cautela
Grupo de Estudos Herméticos

Labels:

PASOLINI - II

pasolini-2-leituras – diário de um leitor distraído - pasolini e as barricadas – inédito ac de 1969

PASOLINI - II

7/Novembro/1969 - Esta atitude de Pasolini, talvez precipitada ou inconsiderada, para lá de tudo o que tenha de discutível ( e tem), para lá de todos os problemas que levanta de maneira tempestuosa, efervescente (temperatura pouco aconselhável para se discutirem problemas de brecha, de base) , constituiu um belo pretexto para os detractores do escritor de Vida Violenta e do cineasta de Il Vangelo, para os que o consideram um perigoso romântico e um herege sistemático da linha dura do marxismo, da ortodoxia. marxista.
Mas, também, para os que não estão apenas contra Pasolini e as suas posições estéticas ou políticas mas contra aquilo de que Pasolini é exemplo e paradigma: o intelectual que, de origem pobre, nunca deixa de ser uma coisa e outra (intelectual e pobre ) e, em vez de ir para as barricadas ou acomodar-se ao statu quo burguês, se limitou a travar a luta (apenas humanista, não política) da palavra escrita.
O ódio que a atitude de Pasolini suscitou é talvez o ódio hoje tão comum contra o intelectual que não trocou o livro pelas barricadas e que, "burguêsmente", continua a convidar para mesas redondas, para a controvérsia, para a discussão dos problemas aqueles que preferem "discutir" os problemas com armas mais concretas e na rua.
Para lá do partis-pris contra Pasolini, o problema que persiste é saber se, de facto, não resta chance, hoje e nos tempos que se avizinham, de que uma posição humanista coexista com outras, de acção directa. Será que só nos fica o terror? Ou antes: será que, reconhecida a legitimidade inadiável e necessária da violência, devem perecer, pelo suicídio ou pela fogueira, todos quantos, pela palavra e só pela palavra, desejam travar a luta necessária?
Sem dúvida, os jovens das barricadas têm razão. Mas é necessário ter coragem para afirmar e sustentar que não são traidores e são legítimos os métodos menos directos mas mais profundos, menos "engagé" mas mais persistentes, menos imediatos mas mais a longo prazo, que continuam a ser defendidos por intelectuais como Pasolini. Ou Edgar Morin.

ACUSAÇÃO:
O lumpen-proletariat não tem função revolucionária e o elogio, a exaltação que dele faz Pasolini, ou outros como ele ( Gorki, Beckett, Leduc, Sarrazin, Korzinski, Richard Wright) não merece qualquer consideração

DEFESA:
A esta acusação, assim brutalmente formulada, com ar de evidência indiscutível, é difícil responder.
De facto, o lumpen pode não ter qualquer função política positiva. Mas desprezá-lo só por isso é pressupor que nenhuma categoria existe além da política e que tudo terá de se reduzir à política.
A crónica dos vádios de Pasolini, Sarrazin, Genet, Baldwin ou Beckett é a crónica dos desprezados, dos humilhados e ofendidos que, de tal modo alienados desde a origem, de tal modo inconscientes da sua própria condição, nem sequer isso têm como arma de defesa. São os seres menos defendidos do mundo.
E quem diz o lumpen, no sentido estrito, diz todo o oprimido, todo o doente ou anormal, a criança, o velho, a mulher(escrava doméstica), todo o que sofre uma situação de inferioridade, minoria ou perseguição, até ao momento em que se mentaliza e organiza para a luta. Enquanto não luta, no entanto, a sua condição humana (sub-humana, embora) não pode ser desprezada ou menosprezada. E desprezá-la em nome de um imediato político, de um imediatismo político, é entrar numa política sem humanismo à qual é preciso opormos todas as nossas forças, e uma resistência pertinaz. Até ao suicídio, se for preciso. E com todos os sacrifícios, pois claro.
Ora ao artista, enquanto tal, e sem desdizer ou contradizer a sua actuação política, compete cuidar com amor da condição humana, esteja ela onde estiver, mas principalmente se for a condição dos humilhados e ofendidos. Negar isto é participar de uma concepção e actuação terrorista que não deixa esperança alguma aos homens. No entanto, há quem o negue, e ao ouvir quem o nega poderá desesperar-se. Felizmente, há também quem prossiga a ingratíssima faina de manter a imagem do homem, em meio da refrega política .
Ainda e sempre, Edgar Morin é o intelectual que hoje se encontra na vanguarda desse movimento. Com todos os riscos que tal posição implica, ele defende, contra o terror, o humanismo sem o qual toda a acção política é pura e simplesmente crime. Quando não de intervenção, crime de omissão.

ACUSAÇÃO:
A polícia pode considerar-se um proletariado, mas completamente alienado, sem consciência nem função revolucionária. Um polícia, quando faz a escolha, é culpado. Nada de os considerar inocentes, como parece ter considerado Pasolini quando publicou esse infeliz poema.

DEFESA:
De novo se retoma o grave problema - se vamos desprezar um proletariado porque é alienado, então que fazer?
Alienação não é culpa, mas condição contra a qual, por vezes, não é possível lutar.
Quantas alienações não se verificam ao nível do burguês médio, misto de intelectual bem-pensante, essas sim, bem dignas de desprezo porque o intelectual está consciente delas e a elas se acomoda mais ou menos cinicamente.
Quantos heróis da esquerda não vemos nós deliciosamente acomodados: com automóvel, mulher, filhos, casa e tudo o que de alienação isso implica? Esses que possivelmente vão achar muito má a atitude de Pasolini e que até estariam prontos a julgar, e a queimar na fogueira, os nefandos polícias que carregam sobre os filhos-família?
Talvez que a confusão reine neste capítulo e a dicotomia proposta por Pasolini esteja viciada desde a base. Mas, equívoco ou não, e tudo o que venha como contra-equívoco, há casos de incoerência entre pessoas que só o poder assumido ainda pela classe a que essas pessoas pertencem permite continuar sem denúncia.
A verdade é esta: sob o critério humanista (a que se chamará romântico, quimérico, idealista - e essas serão as acusações que o franco-atirador terá de suportar) eu estou mais perto de um oprimido, de um humilhado e ofendido, de um vadio, de um "hors-texte" (não se meta, por favor, na categoria do lumpen o "clochard" ou o “chulo" da nossa fauna portuguesa e marialvista) do que de alguns endiabrados meninos burgueses que tão revolucionários se querem e se pretendem.
O que eles querem e pretendem, afinal, é apenas vingar-se muitas vezes do anonimato e da incompetência, da sua mediocridade humana( e a política é boa capa, bom refúgio de medíocres:) ou apagar a má consciência que os rói, por causa do berço de oiro de origem.
"La politique mène a tout" - mesmo ao seu contrário. Em tais casos, deveremos estar atentos e resistir. Porque então é dialéctico resistir. E é preciso dar aos verdadeiros revolucionários e que pela revolução se sacrificam o que a eles e só a eles pertence.***

PARABÉNS, CESARINY

cesariny-1-nw

PARABÉNS, CESARINY

Além de me gabar de três coisas:
a)por ter escrito sobre Cesariny, ao longo dos anos;
b)pela memorável entrevista que lhe fiz para «A Capital»;
c)e porque ele me deu a honrosa oportunidade de abrir, à laia de editorial, com um texto meu a colectânea que organizou com o título «surreal-abjeccionismo»,
além de me gabar de tudo isto e da gratidão por todas as atenções que dele recebi, pouco tenho a acrescentar, agora que ele, aos 82 anos, é poeta laureado e vai receber, em casa, das mãos do Presidente da República, o prémio de consagração atribuído pela selectiva Associação Portuguesa de Escritores, a que preside José Manuel Mendes.
Tomara eu ser alvo, aos 82 anos, de tantos carinhos da Pátria.
Aqui faço remissa – links - para o que sobre ele publiquei no meu site «O Gato das Letras»:

http://www.astormentas.com/cesariny.htm


http://catbox.info/big-bang/gatodasletras/casulo1/CESARINY.HTM
+
Agradeço à jornalista Elisabete França o artigo interessantíssimo que escreveu no «Diário de Notícias» e que me permito transcrever aqui, esperando não cometer nenhuma infracção. Tal como o Cesariny admitiu, às vezes é preciso cometer infracções para não cometer infracções...
+
««VIDA LITERÁRIA PARA CESARINY "TODA A VIDA FIZ INFRACÇÕES"

APE, UNÂNIME, CONSAGRA "POETA RARO".

DIA 30, SAMPAIO LEVA-LHE O PRÉMIO A CASA

Por Elisabete França Foto Arquivo DN - Eduardo Tomé

In «diário de notícias», 4 de Novembro de 2005

«« "Aceito porque, para mim, este é um prémio da democracia", esclarece Mário Cesariny
"André Breton dizia que os surrealistas não deviam receber prémios. É uma infracção que faço, mas toda a vida fiz infracções", comenta ao DN o poeta e artista plástico Mário Cesariny de Vasconcelos, 82 anos, que foi distinguido ontem com o Prémio Vida Literária, da Associação Portuguesa de Escritores (APE)/Caixa Geral de Depósitos (CGD), no valor de 25 mil euros.
"Mário Cesariny é, na singularidade extrema da sua estética, um poeta raro. Celebrá-lo, por tudo quanto doou à nossa comunidade de leitores através de gerações, assume, assim, a plenitude de uma homenagem livre e devida", considera o júri, a direcção da APE, em comunicado. A decisão, unânime, salienta o "fulgor de um percurso artístico que, também na literatura, encontrou a expressão mais alta".
Tal como antes recebera o Grande Prémio EDP de Artes Plásticas/consagração - biénio 2002-04, com inerente retrospectiva integral, há um ano, no Museu da Cidade -, o poeta de Pena Capital e Titânia ou A Cidade Queimada aceita a(s) distinção(ões), embora "em infracção", argumentando "Porque, para mim, este é um prémio da democracia, enquanto com a ditadura me dei muito mal". Recorde-se que, sob o fascismo salazarista, o também estudioso e organizador editorial da memória e história do surrealismo português sofreu perseguição policial sistemática, devida à sua homossexualidade, a ponto de exilar-se em Londres.
Daí que, tanto quanto em reacção ao EDP de consagração, reconheça "Estou contente, sim. E têm a gentileza de vir trazer-me o prémio a casa, porque já me custa a andar." No seu peculiar estilo jocoso, a propósito da bicicleta para exercício domiciliário, remata o poeta: "olho para ela e começo-me a rir, mas a pedalar ainda não comecei." Nunca os "grilos da paróquia" venceram o humor natural deste sobrevivente, para nos remetermos ao poema de O' Neill.
«O presidente da APE, José Manuel Mendes, e o representante da CGD, patrocinadora do prémio, acompanhados pelo Presidente da República, Jorge Sampaio, não entregarão o Vida Literária na Culturgest, como sucede normalmente, mas, sim, na residência de Mário Cesariny, em Lisboa, como já acontecera no caso de José Cardoso Pires, hospitalizado à época, tendo o prémio sido levado à sua esposa, na residência. José Manuel Nunes lembra ao DN esse "único precedente", adiantando que, nessas circunstâncias e por razões óbvias, "o acto em si não será aberto à Comunicação Social, embora certamente seja pensada uma forma de os jornalistas se encontrarem nas imediações" da casa, a Sete Rios, no dia 30.
O presidente da APE e também poeta faz questão de declarar-nos "Na associação reside a ideia de que, sendo Mário Cesariny quem é, havia um débito das instituições literárias em relação a ele. Em parte por ser um homem discreto, tem sido pouco considerado para decisões deste tipo e nós tínhamos de liquidar esse débito perante o esplendor da sua obra poética."
A coroar reconhecimentos, espera-se que o ICAM deixe de chumbar o projecto do filme A Norma de Bellini, de Manuel Gonçalves Mendes, realizador do premiado Autografia (documentário sobre Cesariny), segundo guião do poeta e pintor, com participação também prevista entre os intérpretes. »»

Labels:

Wednesday, November 02, 2005

CIÊNCIAS DA VIDA


howard-0


CIÊNCIAS DA VIDA OU CIÊNCIAS SEM VIDA?

A PSICOSOMÁTICA PARA EXEMPLO

«Especialistas de todo o mundo, uni-vos. Só tendes a perder as vossas algemas»


6/11/1998 - O problema, neste momento, em ciências da vida, é para quem as ensina e para quem as aprende. É para professores e alunos.
Se os que aprendem - estudantes de todos os graus de ensino - se limitam a receber passivamente dos professores as matérias soltas que terão de memorizar, é da parte dos professores que se espera um esforço holístico de unificação dos saberes dispersos e cada vez mais atomizados.
Se há uma exigência de síntese holística, de globalização sistémica e de unificação numa área que atingiu o delírio da análise e da atomização, não pode ser só pedida ao estudante, transformado, de há muitos anos a esta parte, em depósito de conhecimentos particulares especializados que respeitam a várias especialistas e especialidades.
O mal estar no ensino universitário, com agitação constante dos alunos, embora se manifeste com pretextos fúteis ou secundários, é aqui - neste sindroma de armazenagem - que radica.
E ninguém dá um passo para desatar este nó górdio da ciência actual.

ROTEIRO DE LEITURAS E DE VIAGENS NA INTERNET

Com este roteiro de leituras, estudo e pesquisa, tentamos dar um primeiro passo. Nele se desafiam os alunos e professores (de todas as cadeiras relacionadas com as ciências da vida) a dar o passo seguinte.
A noção de homeostase ou regulação biológica presta-se, entre outras, a que o convite de convergência holística possa ser dirigido, no curso de Naturologia , praticamente a todas as cadeiras existentes ou possíveis.
Como núcleo temático, a homeostase ou regulação biológica, irradia praticamente em todas as direcções das ciências da vida e da imunidade:
Exige uma alta interdisciplinaridade, que está totalmente por realizar, neste e em todos os cursos que dão ciências da vida.
Exige uma sistemia que continua a ignorar-se por mais que se proclame.
Exige uma convergência holística, sem a qual é grotesco falar em vida e em ciências da vida.
A noção de complexidade, intrinsecamente ligada à da homeostase, seria outro núcleo temático de grande desafio às disciplinas da vida mais diversas.
Um encontro realizado em Lisboa, em Dezembro de 1983, tendo o filósofo Edgar Morin como protagonista, reuniu especialistas - imagine-se! - de Filosofia Alemã, Teoria da Literatura, Física Molecular, Psicologia Social, Física das Altas Energias, Teoria da História e - finalmente - de Epistemologia da Biologia.
No entanto, se podemos pensar de imediato numa ciência quando falamos de complexidade, essa ciência é com certeza a Biologia.
Se se realizasse, neste curso de Naturologia, um encontro sobre Homeostase, seriam necessários especialistas de:

Alimentação *
Bioquímica *
Bioquímica das Emoções *
Comportamentalismo
Ecologia Humana *
Epistemologia das ciências da Vida
Etnomedicina
Etologia
Fisiologia *
História das teorias biológicas *
Medicina psicosocial
Psicoendocrinologia
Psicologia
Psicosomática *
Saúde Pública *
Teoria geral dos sistemas *

Assinalam-se com um asterisco (*) aquelas cadeiras que são susceptíveis de se candidatar a líderes no processo de integração holística aqui proposto. Porque é necessário uma dessas ciências particulares que assuma a liderança de caminhar para o global.

ALGUMAS NOÇÕES-CHAVE EM BIOLOGIA

Com as noções-chave de homeostase, complexidade, stress, entropia/neguentropia, organização fundamental da matéria viva, etc, as fronteiras esbatem-se.
Ora estamos a falar de química e de bioquímica, ora estamos na psicologia e na psicosomática e na psicoendocrinologia, ora estamos na biocosmologia e na cosmobiologia (embora ninguém queira pensar nisso...), ora estamos na fisiologia e na anatomofisiologia, ora estamos no funcionamento interligado do sistema nervoso central e do sistema periférico, ora estamos na estreita ligação do sistema endócrino com o sistema nervoso, ora na ligação do sistema nervoso com o endócrino.
Mas constantemente se separa o que é inseparável.
Será uma limitação do método científico em uso ou uma incapacidade estrutural do espírito humano para abranger o global e a totalidade?
No entanto, nunca haverá uma Naturologia holística sem a unificação de todas aquelas áreas.
Poderá haver enciclopedismo e ecletismo que são, afinal, ainda sequelas (tardias e pouco recomendáveis) da atomização de conhecimentos sectoriais nas ciências da vida. Mas holística e sistemia, não.

SEGUINDO O FIO DA HISTÓRIA

Seguir a história das teorias biológicas ( e psicológicas) talvez seja uma forma expedita, com a ajuda da Internet, de globalizar e de obter uma abordagem sistémica em ciências da vida que tarda em chegar.
Deixamos, por agora, algumas dessas teorias, recolhidas da obra de Howard R. Lewis, «Fenómenos Psicosomáticos», como roteiro de pistas para estudo e pesquisa das ciências da vida.
Transcrevems os seguintes passos:

1) Walter Cannon e um colega, D. de la Paz, trabalhando em Harvard, descobriram a relação existente entre as emoções e o lançamento de adrenalina no sangue. ( Howard, pg.26)

2) O córtex suprarenal é a glândula mais exaustivamente estudada no que diz respeito às respostas glandulares a estímulos emocionais.
O dr. John W. Mason, do Instituto Militar Walter Reed (USA) considerou que os dados abundantes obtidos através dessas pesquisa constituíam «um caminho para o estabelecimento de bases sólidas para uma nova ciência, a Psicoendocrinologia». (Howard, 29)

3) Ao receber uma mensagem do hipotálamo, a hipófise joga na corrente sanguínea o ACTH (hormona adrenocorticotrófica) em que o sufixo trófica indica «acção sobre») que age sobre o córtex supra-renal, ordenando-lhe que secrete hormonas esteróides.
A primeira indicação desse mecanismo foi descoberta em 1922, por T. Uno, com as suas experiências em ratos. (...) A nor-adrenalina, descoberta em 1946, é também secretada pela medula supra-renal .(Howard, 31)

4) Em animais superiores, a tiroxina (hormona da tiróide) é indispensável à maturação.
O endocrinologista W. L. Brown denominou a tiróide de «glândula da criação»: as suas secreções estimulam o desenvolvimento dos órgãos sexuais, cérebro e ossos.
A tiroxina activa o metabolismo celular, conjunto de alterações químicas que transformam combustível e alimentos em energia e novo tecidos. (...)
O conceito de que uma violenta perturbação emocional é capaz de agir sobre a glândula tiróide remonta à descrição clássica de um caso feita pelo médico inglês Caleb Hillier Parry e publicada em 1825. (Howard, 38)

5) O Dr. Harold G. Wolff defendia a tese de que o corpo reage às tensões, tanto emocionais quanto físicas, seleccionando uma reacção num repertório limitado: alterações dos batimentos cardíacos, respiração, fluxo hormonal e assim por diante. (Howard, 50)

6) O primeiro trabalho de Selye referente à sindrome de tensão, «Uma Síndrome Produzida por Diversos Agentes Nocivos», foi publicada na revista inglesa «Nature». Nesse trabalho , Hans Selye usou a expressão «reacção de alarme» para descrever a reacção inicial do animal, devido à sua opinião de que o sindroma representava uma chamada geral às armas das forças defensivas do organismo.
Selye denominou a reacção completa de «Síndrome de Adaptação Geral » (SAG) com 3 estágios:
1 - Reacção de alarme
2 - Resistência
3 - Exaustão.
(...)
O Dr. James L. Halliday, médico da saúde pública escocesa, é um pioneiro no terreno da medicina psicosocial que é o estudo das relações existentes entre os padecimentos físicos e os fenómenos sociológicos. (Howard, 56)

7) O emprego pode constituir constante fonte de tensões. (Howard, 59)

8) Conflitos inconscientes podem aflorar explosivamente sob a forma de sintomas físicos. (Howard, 67)

9) Segundo o dr. George L. Engel, da escola de Medicina e Odontologia da Universidade de Rochester, a psicosomática constitui um dos campos mais complexos de toda a medicina, não havendo outro qualquer ramo que inclua todos os aspectos da vida e do modo de viver. ( Howard, 290)

10) Os biólogos acreditam cada vez mais que a característica fundamental do ser vivo é a sua organização.
Os métodos correntes de análise e estudo de partes e processo isolados, por mais minuciosos que sejam, não são capazes de fornecer explicação completa dos fenómenos vitais.
Tal modalidade de pesquisa não nos propicia qualquer informação quanto à coordenação dos componentes ou processos que participam no complicado sistema do conjunto vivo - diz o biólogo Ludwig Von Bertalanffy, da Universidade de Albert. (Howard, 46)
+
howard-2

PRINCÍPIOS DE AUTOTERAPIA - FACTORES OCULTOS EM SINTOMAS FÍSICOS

O sistema endócrino e suas disfunções deve ser incluído entre os «factores ocultos» de um sintoma físico qualquer.
E, como tal, a atenção do terapeuta deverá incidir discretamente sobre sinais de disfunção na tiróide, por exemplo, ou na supra-renal, ou na epífise.

O inconsciente e o que está recalcado no inconsciente pode ser outro dos factores ocultos a ter em atenção pelo terapeuta. Embora a psicosomática ainda seja olhada com certo desdém, quer por especialistas do psíquico, quer por especialistas do somático, os afloramentos físicos do incosciente recalcado são um facto.
batimentos cardíacos
suor nas mãos
tremores
tensão muscular
mesmo que tenham outra explicação mas poderão ser atribuíveis em primeira, segunda ou terceira instância a recalcamentos da vida inconsciente e subconsciente.
+
howard-3

BREVÍSSIMA BIBLIOGRAFIA

Numa primeira abordagem das interligações entre várias ciências da vida, através de núcleos temáticos a que chamámos holísticos ou se síntese holística, poderíamos recolher uma breve bibliografia disponível no Grupo de Estudos Herméticos.
Estas primeiras pistas podem depois ser amplificadas por outras que permitam viajar em grandes enciclopédias do conhecimento ou mesmo na Internet.

Apropósito de homeostase, regulação biológica, stress, psicosomática, entropia, organização dos sistemas vivos, lógica do vivo, recolhemos os primeiros seguintes títulos(a maior parte foi oferecida ao Instituto Hipócrates, ao cuidado do meu amigo Carlos Ventura mas alguns restam na minha Biblioteca do Gato):

Edgar Morin - O problema epistemológico da Complexidade - PEA, Lisboa, s/d
Mário Silva Freire - Noções Básicas de Saúde - Regulação Biológica - Ed. Asa, Lisboa, 1986
Luís Ernani Dias Amado - Organização da Matéria Viva - Biblioteca Cosmos , Nº 20 - Lisboa, 1942
Luiz Ernani Dias-Amado - A Organização Fundamental dos seres Vivos - Biblioteca cosmos, Nº 62 Lisboa, 1944
Howard R. Lewis e Martha E. Lewis - Fenómenos Psicossomáticos - Até que ponto as emoções podem afectar a saúde - Ed. José Olympio, Rio, 1984
Pierre Delattre - Teoria dos Sistemas e Epistemologia - Ed. Regra do Jogo, Lisboa, 1981 -
François Jacob - A Lógica da Vida - Dom Quixote, Lisboa, 1985
M. Luísa Galhardo - Mecanismos Homeostáticos - Ed. Replicação, Lisboa, 1988
Jean-Didier Vincent - Biologia das Paixões - PEA, Lisboa, 1988
Manuel Valdés - Psicobiologia des Estrés - Ed. Martinez Roca, Madrid, s/d
Charles Richet - L'Insuffisance Alimentaire - Ed. L'Expansion, Paris, 1950
Jean-Marie Bourre – A Dietética da Performance – Instituto Piaget- Lisboa – 1997
Jean-Marie Bourre - Comida Inteligente - Ed. Gradiva, Lisboa, 1993
Betti Raquel Lerner - Introdução ao Estudo da Fisiologia Humana - Ed. Edart, São Paulo, 1979

Tuesday, November 01, 2005

HERESIAS E HERESIARCAS

84-11-01-ls=leituras selectas-reich-2-2555 caracteres-secção «margem esquerda» solta do «largo»-secção «releituras»-secção «heresias e heresiarcas»-releituras

HERESIAS E HERESIARCAS
SÃO PAULO OU WILHELM REICH?
ENERGIA OU ENTROPIA?

[1/Novembro/1984]

«Leit motiv» do pensamento incómodo e inconformista é este: «Saber se estamos aqui para gozar à borla até cair de borco, ou se estamos aqui porque temos efectivamente dívidas antigas a pagar, até ao último tostão, tudo quanto os sentidos usam e abusam como se gastassem mercadoria alheia. Como se a vida fosse da Joana.»
Só que não é, a julgar pela importância que o sofrimento assume na tragicomédia da existência humana. Estamos num beco sem saída: ou expiamos pelo sofrimento tudo o que gozamos, ou o prazer recarregará de culpas a nossa contabilidade até aos limites inacreditáveis atingidos hoje pelo sofrimento humano, de que o noticiário quotidiano é bem elucidativo espelho.
«O corpo não é teu mas tens que dar conta dele» - diz São Paulo,(*) mas a verdade é que o cristianismo rejeitou a lógica kármica que daria sentido a este aviso, sem nunca mais encontrar o Norte. O Norte que, por sinal, fica a Oriente. Sabe-se lá porque o fez.
Só se a contabilidade entre o céu e a terra existir, faz sentido querer ou não querer tê-la em dia.
Pergunta: os hedonismos pagam-se, portanto, caros e sem juros?
Nos relatos sobre os frades contemporâneos de S. Francisco de Assis e que o seguiam, surgem frequentemente referências ao «combate» destes pobres monges contra as «tentações». É uma contabilidade que frontalmente choca com os hedonismos de todos os tempos, defensores do máximo de entropia a que chamam prazer.
Ora o hedonismo de hoje conduz à destruição pura e simples do Planeta, pelo que, em termos de economia energética global, não é nada rentável. Por isso, o problema se coloca também em termos de contabilidade cósmica: serão as cedências ao prazer gratuito (pelo qual nada se paga ou nada se julga pagar) as tais tentações contra as quais os pobres frades franciscanos se precaviam e contra as quais combatiam, com unhas e dentes?
Ninguém da chamada Esquerda quer ser sexualmente conservador e casto: a castidade tornou-se um conceito «beato», abominado por liberais, libertários & libertinos. Para uma época de libertinagem sexual (entropia), quando a revolução se identifica com a revolução sexual (Wilhelm Reich, o mais torturado dos pensadores modernos), retomar a prédica de S. Paulo aos Coríntios tem riscos de heresia. Heresia que, para um pensador incómodo, é tema de interesse e suficientemente fascinante para aprofundar a investigação.
Subvertendo S. Paulo, a extrema esquerda proclama «fornicai-vos uns aos outros», enquanto acciona o negócio moderno da pílula anticocepcional, talvez a indústria multinacional mais lucrativa e a mais reprodutiva de novas indústrias endemiantes ( patológicas).
------
(*) «O Pensamento Vivo de São Paulo», Jacques Maritain, São Paulo, pgs 78 e 79

LABORATÓRIOS DE INICIAÇÃO

98-11-01-ls=leituras selectas-1664 bytes-607 caracteres-need-em curso-livros

LABORATÓRIOS DE INICIAÇÃO

Paço de Arcos, 1/11/1998 - A ideia de «laboratório» surge, de repente, na descrição de um mosteiro budista como o de Tassajara, narrado no livro de Jacob Needleman, «As Novas Religiões», página 77 da edição brasileira.
Assim se liga, com naturalidade, à ciência iniciática, a ideia laboratorial (experimental) que a ciência positiva também tem, talvez porque da tradição iniciática o tivesse roubado.
Sim, laboratório de ciência iniciática, se dermos à palavra «iniciática» a significação elástica que também temos de usar quando dizemos «yoga» sinónimo de «religião», isto é, «religação».

OS PRODÍGIOS DO REAL

2432 bytes 1228 caracteres - aquino-em curso-livros-notas de leitura–o alfabeto luminoso

OS PRODÍGIOS DO REAL: SANTOS E MÍSTICOS

Lisboa, 1/Novembro/1984 - Prodígios sobreumanos ou sobrenaturais surgem nas biografias de Santos como Tomás de Aquino, o Doutor Angélico que morreu já em cheiro de Santidade, rodeado de acontecimentos que os cépticos logo classificarão de lendários.
Para um investigador dos mundos paralelos, são factos, no entanto, suficientemente documentados para que o maravilhoso possa ser apenas ficção de fiéis e cegos adoradores do Santo.
Uma visão realista fantástica dirá que tais maravilhas não devem ser enfatizadas, e que não sucederam apenas a figuras excepcionais ou «santas», embora os relatos históricos só a estes naturalmente se refiram e não a dezenas de figuras anónimas!
Quantas maravilhas com pessoas anónimas não ficaram no esquecimento?
Lisboa, 1/Novembro/1984 - Será o yoga a democratização da santidade?
O esforço para atingir Deus, que nos é narrado pelas biografias de Santos, revela o carácter rígido da religião ocidental em contraste com a descontracção e simplicidade do yoga. O que só alguns, a pulso, conseguem pela via do misticismo, é o que o comum dos mortais pode conseguir pela técnicas rigorosas e universais do yoga.

Labels:

O IMPÉRIO DO LUCRO

98-11-01-ls=leituras do afonso-moda-4-LEITURAS DE SÍNTESE HOLÍSTICA

1-11-1998

O IMPÉRIO DO LUCRO

O elogio do fenómeno «moda» feito por Lipovetsky, inscreve-se numa estratégia de branqueamento e marketing a que alguns filósofos universitários se têm dedicado, tentando camuflar as raízes ideológicas da violência em que a sociedade industrial se estrutura.
Como alguém disse, todas as indústrias são de guerra e estruturalmente violentas as tecnologias de manipulação que a servem. A moda, tal como a poluição publicitária, sendo um sintoma benigno, precisa, apesar disso, de quem a torne ainda mais atractiva e atraente, fingindo que ela cai do céu e não obedece a venais mecanismos de lucro.
É esse o trabalho de Lipovetsky, dar o estatuto de fenómeno social e cultural a um processo - a moda - que é apenas motor de lucros . Tratado de conformismo e verdadeira cartilha (ou bíblia) dos que têm como ideal de vida usufruir sem remorsos os últimos dias do planeta Terra, o livro «O Império do Efémero» pretende restituir a boa consciência às instituições que porventura pudessem começar a ficar com ela um bocado pesada (o que nem sequer é provável...). É o caso da instituição universitária, a quem Lipovetsky presta natural e obviamente vassalagem.
-----
Gilles Lipovetsky - O Império do Efémero - Ed. Dom Quixote, Lisboa, 1989

A RELIGIÃO DA CIÊNCIA

ruffie-1-leituras de síntese holística

DA SAUDÁVEL HERESIA AO CONFORMISMO
A RELIGIÃO DA CIÊNCIA NO «DARWINISMO SOCIAL» DE JACQUES RUFFIÉ

AUTORES CITADOS:

Claude Lévy- Strauss
Darwin
E. Wilson
Francis Galton
Gobineau
Herbert Marcuse
Hitler
John Michell
Malthus
Marx
Mussolini
Wagner

1/11/1998 - Jacques Ruffié, em «Sociobiologia ou Bio-Sociologia» analisa as raízes recentes da grande burla que é a sociedade industrial, a que por vezes se chama civilização e mesmo progresso, com todos os mitos de pacotilha que a ornam.
Contando a crónica que levou a engrenagem contemporânea a aoptar como leis científicas as teorias de cérebros tão ordinários como Darwin, Malthus ou Francis Galton (a santíssima trindade que deu estatuto ideológico ao racismo inato na espécie humana), Ruffié deixa claro como o fanatismo se tem apresentado , no século XX, em nome da ciência e do dogma científico.
As leis biológicas do animal aplicadas à sociedade humana apenas conseguiram que esta se colocasse...abaixo de cão, sem ofensa para o cão que não tem culpa e fechando todas as saídas para a humanização: Ruffié aponta o ecologismo pacifista (?) , por um lado, e o terrorismo das brigadas vermelhas (páginas 76 e seguintes) , por outro, como os únicos sinais de que o inconformismo ainda não morreu de todo no seio do «homem unidimensional» (Herbert Marcuse).
Mas não há bela sem senão: o ensaio de Jacques Ruffié, publicado pela editora Fragmentos, ilustra curiosamente um caso de pensamento híbrido entre a heresia mais radical - até à página 81 - e o mais deslavado conformismo, o qual começa exactamente com o capítulo sobre «A Sociedade Populacional», impregnado de neo-maltusianismo primário.
A partir daí, Ruffié entra no desnorte completo, sucedendo-se os elogios positivistas ao progresso em geral e à medicina em especial, aliás em perfeita e completa contradição com as teses anteriormente apresentadas.
Vá lá perceber-se esta gente , que mesmo quando avança um bocadinho na heresia (e portanto na luz, e portanto na lucidez) logo encontra maneira de deitar tudo a perder, chafurdando outra vez na apagada e vil tristeza do conformismo com o status quo.
Antes da página 86, Ruffié denuncia Malthus como um dos autores da barbárie moderna, não poupando a uma crítica demolidora a sua teoria, tal como não poupara a de Darwin e seus seguidores, como Francis Galton ou E. Wilson.
Da página 83 até final, é uma enfiada de lugares-comuns maltusianos e positivistas, em acordo completo (dir-se-ia hipnótico) com a lógica perversa anteriormente denunciada. Intitula-se, aliás, «A perversão do sistema» o capítulo onde Ruffié leva mais longe a análise do vómito moderno chamado civilização.
Claude Lévy Strauss tinha razão quando considerava «impensável» este tempo e mundo, quando reconhecia que já não havia para o pensador profissional margem de manobra que lhe permitisse a mínima independência face à manipulação autofágica do sistema.
A engrenagem chegou, de facto, ao ponto óptimo do «homem unidimensional» (Herbert Marcuse), quando já ninguém consegue vê-la e pensá-la de fora e tudo quanto se diga, escreve ou pense deriva apenas do poder manipulatório que ela detém sobre as consciências e as inteligências, mesmo as mais poderosas como a de Jacques Ruffié.
Não é um desastre mas é uma pena. A luzinha ao fundo do túnel que este médico e biólogo, professor no Colégio de França, abre até à página 81, apaga-se depois completamente, como se vento maldito soprasse, deixando-nos outra vez às escuras.
Paciência. Esqueçamos os outros e falemos apenas dos capítulos 23 e 24, deste quarto volume do «Tratado do Ser Vivo», empreendimento editorial da Fragmentos que merece rasgados elogios.

DARWINISMO SOCIAL

A tese mais interessante de Ruffié gira à volta do que ele designa por «darwinismo social». Fenómenos como as guerras de extermínio, não seriam, à luz dessa tese, um produto automático da maldade humana mas fruto do darwinismo como ideologia.
O eugenismo ou selecção da espécie -técnica aperfeiçoada pela Alemanha nazi do Terceiro Reich - seria, segundo Ruffié, consequência também do darwinismo social. Francis Galton, por ele citado, defenderá «a melhoria da espécie humana através de uma selecção judiciosamente provocada, tal como os criadores de gado fazem, desde tempos imemoriais, com as raças domésticas.» Galton limitava-se a desenvolver premissas que já se continham em Darwin.
Aliás, com as teorias de Darwin e Malthus, a ciência transforma-se definitivamente em dogma religioso, dando lugar não só ao citado eugenismo mas a todo o espectáculo de violência cientificamente organizada e justificada, espectáculo que é hoje, graças à ciência e à tecnologia, o gulag planetário.
Como prova Ruffié, os concentracionários nazis e os gulags soviéticos não são erupções da «irracionalismo» na face imaculada do racionalismo reinante mas construções tecnoburocráticas, onde o indivíduo nem sequer como número conta.
Curioso, para avaliar o alcance desta tese, é que ainda temos hoje intelectuais de esquerda, aos saltos, para quem a ciência em geral e Darwin em particular são considerados arautos do progresso e da evolução humanizadora (livra!).

OS GOBINEAU ESTÃO AÍ

Ruffié explica a génese histórica do «biofascismo» a que raros franco-atiradores se têm referido, ignorando que tinham afinal muito mais razão do que julgavam para usar essa expressão, classificada por alguns professores e doutores em ecologia como excessivamente radical.
Não me parece que Ruffié seja um anarco-radical e no entanto ele vai muito mais longe na denúncia do tecno-terror do que alguma vez o foi o mais radical dos pensadores de esquerda.
Percebem-se agora melhor os equívocos do movimento ecologista nos tempos heroicos, identificado pelas elites intelectuais com o ambientalismo maltusiano, a que só raros têm tido coragem de se opor, tão poderoso é ele nos meios internacionais (como a FAO, a ONU demográfica e a OMS) onde se traçam as linhas de política contra a poluição...
Ruffié deixa claro como e porque se tentou amalgamar a água e o fogo, ou seja, o radicalismo ecológico de fundo social e político com o biologismo racista que tem levado a todos os Gobineau da política e da cultura, nomeadamente os que agem em nome (sob a capa) da ciência médica. Mais virulentos do que a sida, os Gobineau estão aí em todos os canais e em todos os tempos de antena. Há sempre um jornalista para lhes ouvir as exéquias.
Espanta como não havia sinais de que ninguém, antes de Ruffié, tivesse a coragem intelectual de dizer que o rei vai nu, havendo guardado todos, à esquerda e à direita, a leste e a oeste, um silêncio cúmplice sobre a verdadeira face do darwinismo e dos darwinistas, essa pequena família de tarados que tomou conta do mundo em menos de um século.
Ruffié não poupa , aliás, nenhum deles, à esquerda e á direita, nem os mais ilustres como Wagner ou Marx. ele conseguiu descobrir na obra destas sumidades, longas ou breves passagens escritas, reveladoras do biologismo racista que presidia à música de um e à economia política do outro.
É um trabalho de sapa temível e fascinante. Ruffié desmonta até ao milímetro as raízes da porcaria contemporânea, à qual se têm posto vários nomes eufemísticos mas sinónimos:

Concorrência capitalista
Crescimento industrial
Desenvolvimento
Gulag
Lógica de mercado
Modernização
Poluição
Publicidade
Sociedade unidimensional
Tecnoburocracia
Universo concentracionário
etc..
Já John Michell, ao proclamar que o macaco descende do homem pós darwiniano, levantara a lebre, lembrando que Darwin foi livro de cabeceira de patriarcas como Marx, Hitler e Mussolini. Ninguém ligou a John Michell, que é autor de novelas fantásticas. Quem irá agora ouvir Ruffié, catedrático do Colégio de França?
«Estaline era darwiniano sem o saber», escreve ele na página 37 da edição portuguesa.
Bela como uma heresia é também esta sua afirmação:«Com um século de recuo, podemos interrogar-nos serenamente sobre o papel do cristianismo, ou melhor, da Igreja, na génese e na implantação do marxismo.» (página 39) .
Outra prática da sociedade actual de merchindising - os testes psicotécnicos - é desmontada por Ruffié que lhe descobre o mecanismo de relação com todo o sistema repressivo em vigor nas democracias da competição e da competência. O trabalho em geral e os mitos do trabalho, encontram-se igualmente radiografados no ensaio de Ruffié.
Só lhe faltou denunciar o mecanismo que preside a essa fraudezinha chamada « quadro de best-sellers» das nossas imprensas, pelo que espero vê-lo, ao livro da Fragmentos, muito em breve no top das vendas...
-----
(*) Jacques Ruffié - Tratado do Ser Vivo - IV - Sociobiologia ou Bio-Sociologia - Ed. Fragmentos

CONTINENTE MU

lavier-1-ls– obviamente editável com urgência em leituras selectas apontando para pesquisa net-10485 caracteres-5 páginas-leituras de noologia -11.648 bytes

IDEOGRAMA A IDEOGRAMA ATÉ À IDADE DE OURO E AO PERDIDO CONTINENTE MU

Paço de Arcos, 1 /11/1996 - Um paleógrafo tem sempre alguma coisa de interessante para nos dizer, para nos decifrar. E quanto mais antigo for o código, o texto, a cifra, a inscrição, o símbolo, melhor.
Especializado em decifrar textos cifrados, inscrições, palavras, letras, símbolos, ideogramas, o paleógrafo é um auxiliar precioso de uma das 12 ciências sagradas - a Alfabetologia. E se for um encarregado do curso de Paleografia Chinesa , na Universidade de Montpellier, ainda melhor. Tem todo o peso institucional que um «chargé» implica . Mesmo quando se trata de ciências sagradas, convém estar de bem com as beneméritas instituições profanas.
É o que vamos encontrar em J.A. Lavier, especialista em Sinologia, especialista em Bionergética Proto-chinesa e, melhor ainda, especialista em Paleografia Proto-chinesa. Ele está à vontade dos dois lados: na ciência profana e na ciência sagrada. Vai às fontes, às raízes, antes da confusão babélica. Apanha os símbolos antes de eles serem degradados por tradutores/traidores, escribas pouco escrupulosos, comentadores/ruminadores, intermediários de toda a ordem.
Aproveitemos do seu meticuloso trabalho, feito com chinesa paciência. É um regalo seguir a sequência de símbolos apresentados por J.A. Lavier, em «Bio-Énergétique Chinoise» , Ed. Maloine, Paris, 1976/1983. E, com o pêndulo de radiestesia, aproveitar esse banho de vibrações primordiais que os ideogramas por ele decifrados certamente contêm.

Os opostos - A decifração de símbolos tem muito a ver com alguns opostos significantes do tipo:
sedentário/nómada
Norte/Sul
Este/Oeste
pai/mãe
Rio Amarelo/Rio Azul
poder espiritual (qualitativo)/ poder material (quantitativo) nomeadamente em livro onde se esmiuça uma bioenergética toda ela baseada no binário yin-yang.
Binário, não. O senhor J.A. Lavier, com o peso da sua autoridade académica, insurge-se contra esse hábito degradante de considerar o yin- yang um binário. Não senhor, assegura ele, até o especialista em sinologia, Marcel Grasset, meteu a pata na poça. A página 31, Lavier argumenta:
«Yang e Yin não podem ser concebidos separadamente um do outro. Dizer Yin-Yang é exprimir necessariamente um ternário, no qual o traço de união toma um notável valor.»
Para Lavier e sua minúcia caligráfica de paleógrafo, a obra clássica de Marcel Grasset «La Pensée Chinoise» começa por um erro, porque considera Yang e Yin um binário, o que é, para Lavier, uma pura impossibilidade: « É só a partir do Ternário que se pode falar de manifestação.»

Ocorrrências unitárias - Mas J.A. Lavier não é só perito em ocorrências binárias. Ele regista, com particular acuidade, ocorrências unitárias relevantes, ou seja, ocorrências (ainda) sem oposto conhecido.
Como por exemplo:
a) Os protochineses foram um povo «solar» como os primeiros egípcios e os Maias, e construíram pirâmides, símbolos indissociáveis do Sol, atrás do qual aparece a unidade criadora
b) A tradição protochinesa falava do homem Primordial, ou Homem Perfeito, cujos sucessores perderam, a pouco e pouco, as qualidades e capacidades, o que é conhecido como «queda do homem» comum a todas as tradições.
c) A Bíblia judaico-cristã «coloca a era dos gigantes imediatamente antes do Dilúvio, ou o Dilúvio imediatamente depois da Era dos Gigantes» - diz A.J. Lavier
d) Com base nestes pressupostos alegadamente encontrados no que Lavier chama os protochineses, verificam-se 2 outras notícias interligadas relevantes:
dd) O gigante Kong Kong teria feito oscilar (!!!) a Terra, elevando-a a Leste (Himalaia) e afundando-a no Oceano a Leste.
ddd) Este afundamento teria sido o Dilúvio e teria sido o afundamento do Continente Mu (Mou) conforme a tese de James Churchward que J.A. Lavier perfilha. ( Ver « O Continente Perdido de Mu», James Churchward, Ed. Hemus, São Paulo, 1972)
Sem esquecer que é paleógrafo, ele levanta então um problema de vogal a mais ou vogal a menos na palavra Mu.
«Com efeito - escreve ele, com a pertinácia irresistível que o caracteriza - se se estabelecer uma lista de caracteres chineses que se pronunciam Mou em francês, levando em conta os caracteres implicados pela pronúncia derivada Mwo, encontra-se uma lista interminável de significados que o Mu, Mou ou Mwo quer dizer:
matriz
modelo
amar (querer)
túmulo
sepultura
velhice
tarde
declínio
fim
mãe
princípio
fundamento
mergulhar
mestre
magestade
dignidade
afecção
harmonia
concórdia
deserto
obscuridade
silêncio
miséria
calamidade
doença
encobrir
etc
Desta lista - heterogénea demais para se lhe encontrar assim um fio condutor tão patente - retira , no entanto, Lavier uma ilação algo abusiva, perguntando:
«Não estará aí, em qualquer hipótese, uma evidente alusão à Terra-mãe de Mou e ao seu desaparecimento catastrófico?»
Como assim, senhor Lavier?
Quanto à lista que ele considera tão significativa, sublinho com regosijo: Afinal, não é só o sr. Afonso Cautela que gosta de listas. O sr. Lavier também.

Toda a história de Mu num só ideograma - Outra vez dentro da sua especialidade - a paleografia chinesa - J.A. Lavier aparece muito mais convincente quando nos diz que um determinado ideograma (dos muitos que ele genialmente descodifica e que fazem deste livro uma verdadeira obra-prima das ciências sagradas) significando Hai acaba por ser decifrável « se aceitarmos a tese do continente tragado de Mou» e que tudo, nesse ideograma, « se torna límpido: a água e o mar que cobre uma mulher».
Ou seja, segundo Lavier, esse ideograma (que poderão ver na página 15 da obra) conteria a história admiravelmente resumida do continente desaparecido, origem presumível das civilizações periféricas do Pacífico, de que os protochineses - conforme ele lhes chama - seriam uma delas.
Com esta ousadia de paleógrafo, é de admitir que toda a gente se faça militante de Lavier e da Paleografia, pelo menos os que adoram teses ousadas e maravilhosas, que nos remetem para a (nossa) Idade de Ouro.
Defendidas então por um austero decifrador de códigos - insuspeito de gostar de literatura de ficção - é irresistível.
Como irresistível é a sua tese sobre os povos de conquistadores (Mongóis, Turcos e outros abutres da época) que teriam ocupado e tentado dizimar os protochineses.
Significativa e muito elucidativa é a lista de ocorrências que, a partir dessa conquista, Lavier atribui ao invasor:
tortura
massacres
poligamia
eunucos
astronomia zodiacal
calendário lunar
panteão de deuses sangrentos

Desta vez a lista é capaz mesmo de ser homogénea...

Os jornalistas de ontem - Sinal de uma cruel decadência , para Lavier, é o comportamento dos escribas, que não se ensaiavam nada - tal como os jornalistas de hoje - em fazer falsas grafias dos textos e caracteres que lhes competia preservar.
É o que torna o livro de Lavier um livro-chave em Noologia: ele realiza, com paciência de paleógrafo, a decifração, ideograma a ideograma, de tudo o que constitui a primordial linguagem dos símbolos protochineses, directamente herdados dos deuses de Mu ou Mou.
Quando falamos de emocionante, fascinante e maravilhoso das 12 ciências sagradas é evidentemente disto que falamos: chegar ao continente perdido de Mu e à respectiva Idade de Ouro, ideograma a ideograma.

Taoísmo deu Zen - Encontramos em J.A. Lavier a explicação histórica de o Taoísmo ter sido chamado Zen, como acontece, por exemplo, em Jorge Oshawa: «Seguindo as pisadas dos turcos, o budismo entrou na China cerca do ano 400. Esta doutrina foi interdita no século IX, pelas suas tendências igualitárias, mas teve tempo de digerir o taoísmo que se transformou em Chan, mais conhecido pelo nome japonês Zen.»
É o que diz J.A. Lavier, página 21 da sua magnífica obra «Bio-Energétique Chinoise».

Reino Hominal - Todo o capítulo II - «Entre Céu e Terra» - do livro de Lavier é uma magnífica introdução à Noologia.
Na impossibilidade de o traduzir na íntegra, assinala-se aqui o que ele nos diz da questão de fundo:
Onde está afinal a Idade de Ouro? Já foi ou irá ser?
Chamando hipótese à tese darwinista/evolucionista, lembra que as tradições são unânimes em 2 pontos precisos:
a) A grandeza do antepassado face à degradação do homem actual
b) A ligação desse antepassado a uma qualquer linha animal.
E cita Antoine Fabre-d'Olivet, que estudou a fundo a história filosófica (a história noológica) do género humano:
«Os filósofos, naturalistas ou físicos, que fecharam o homem na classe dos animais cometeram um enorme erro. Enganados pelas suas observações, pelas suas frívolas experiências, eles negligenciaram consultar a voz dos séculos, as tradições de todos os povos. Se tivessem aberto os livros sagrados mais antigos do mundo, chineses, hindus, hebreus ou persas, teriam visto que o reino animal existia antes do homem.
Quando o homem apareceu sobre a cena do universo, formou só por si, um 4º reino, o Reino Hominal.
Este reino é chamado P'an Kou pelos chineses
Pourou pelos brâmanes
Kai-Omordz ou Meschia pelos sectários de Zoroastro
e Adam pelos hebreus.»
Fabre d'Olivet explica:
«É preciso entender por Adam , não um homem em particular mas o Homem em geral, o homem universal, o género humano inteiro, o Reino Hominal, enfim.»
Lavier termina em apoteose este capítulo fundamental em Noologia :
«A consequência mais evidente desta «queda» do homem que todas as tradições sem excepção descrevem, deste envelhecimento da humanidade, consiste em uma esclerose que extingue certas funções e atributos que o antepassado normalmente possuía. No venerável clássico «Nei Tching Sou Wen» , o imperador Amarelo confirma:
«Os nossos antepassados eram gentes extraordinárias: viviam durante centenas de anos, nunca estavam doentes, sabiam deslocar-se no espaço com meios que nós não temos, viam e ouviam coisas que nós não vemos nem ouvimos. A humanidade teria perdido alguma coisa?» - pergunta ironicamennte Lavier:
«Toda a aparelhagem dos nossos engenheiros (...) é profética na medida em que tende a substituir funções que o homem perdeu no decorrer do seu envelhecimento.»
Telepatia
Vidência
Telequinésia
Levitação
seriam alguns dos poderes perdidos pelo homem da queda.»
Um desafio final:
«O médico encontrará no ponto de vista tradicional a explicação das doenças degenerativas e porque estas doenças se manifestam em pessoas cada vez mais jovens.»
Paço de Arcos, 1/11/1996