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Sunday, April 09, 2006

ALENTEJO 92

1-3 - 92-02-10-ah> = ac dos projectos - poetas-ah> [PARA SUPLEMENTO «LARGO» -- ARTIGO DE APRESENTAÇÃO][2ª versão]

10-2-1992

PARA UM DICIONÁRIO DE VALORES ALENTEJANOS - POETAS E PROSADORES A COMEÇAR

É um velho sonho deste jornal, que o suplemento «Largo» vai tentar concretizar a breve prazo, com ajuda dos seus amigos e colaboradores. Está por fazer o panorama biobliográfico actualizado dos poetas e prosadores que, nascidos em terras do Alentejo, mais ou menos deixaram a sua obra ligada a esta província. Outros há que, não sendo aqui nascidos, dela se apaixonaram e seus filhos adoptivos se tornaram: estamos a lembrar, por exemplo,António Reis, o poeta e cineasta recentemente falecido, que, embora nado e crescido no Porto, se deixou enfeitiçar pelo Alentejo e suas gentes.
Para começar, vamos abrir o dossiê dos poetas e prosadores: mas lá iremos depois, aos artistas e a todos quantos honraram com o seu nome de criadores, a província onde nasceram.
Para começar, poetas e prosadores estão na nossa linha de mira: e desde já estamos a preparar dossiês especiais sobre a obra e a vida de alguns autores do século XX, entre falecidos e ainda vivos. Todo o contributo que os nossos leitores e amigos quiserem enviar-nos, será benvindo. Nomes que nos tenham escapado (e escapam sempre nomes), fotos e gravuras alusivas aos biografados, enfim, pormenores da vida e obra que podem enriquecer este panorama biográfico -- mais tarde um «Dicionário de Personalidades Alentejanas»--, «Diário do Alentejo» agradece penhorado.
Sabemos de obras panorâmicas e antológicas que já foram publicadas -- nomeadamente pela casa do Alentejo, em Lisboa -- , obras essas a que honestamente iremos também recorrer, mas que não invalidam o nosso projecto que é de inventário, balanço e actualização, se possível permanente.
Para começar, enunciamos -- por ordem alfabética, uma vez que o destino final deste trabalho será logicamente um «dicionário de Personalidades» a publicar -- uma primeira lista de nomes, propositamdamente incompleta, para suscitar, desde já, a informação dos nossos leitores, sobre os nomes em causa, nomeadamente sobre os nomes em falta. Iremos actualizando esta lista, à medida que nos forem chegando informações mais ou menos detalhadas sobre este e aquele autor.

PROSADORES E POETAS DO ALENTEJO

Uma primeira lista de A a Z para começar a nossa pesquisa:

ALMEIDA, FIALHO DE

ALMEIDA FARIA

AMARO, FRANCISCO LUÍS

ANDRADE, JOÃO PEDRO DE

ANTUNES DA SILVA, ARMANDO

BEIRÃO, MÁRIO

BRAVO, DIAMANTINO

CAMACHO, MANUEL DE BRITO

CARRASCO, URBANO

CARVALHO, RAUL MARIA DE

CAUTELA, AFONSO

CIDADE, HERNÂNI

COLAÇO, ANTÓNIO

COLAÇO, MARIA ROSA

CORTEZ, ALFREDO

DURO, JOAQUIM LÚCIO

DURO JÚNIOR, JOSÉ ANTÓNIO

ESPANCA, FLORBELA DE ALMA DA CONCEIÇÃO

ESPANCA, TÚLIO

FALCATO, JOÃO

FONSECA, MANUEL DA

JANEIRO, DOMINGOS

MALPIQUE, CRUZ

MELO, ROMEU DE

MOEDAS, JOSÉ ANTÓNIO

NAMORADO, JOAQUIM

NEVES, ORLANDO

PARREIRA, CARLOS FREDERICO

PAVIA, CRISTÓVÃO

PENEDO, SEBASTIÃO

REMÉDIOS, MENDES DOS

RIBAS, TOMÁS

RIBEIRO, MANUEL

RODRIGUES, ARMINDO JOSÉ

RODRIGUES, URBANO

RODRIGUES, URBANO TAVARES

SARDINHA, ANTÓNIO

SERRANO, MIGUEL

SILVA, ANTUNES DA

VERMELHO, JOAQUIM
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W. BURROUHGS 92

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O MAL NA LITERATURA - WILLIAMS BURROUHGS COMEÇA A SER ACTUAL(*)

[10-2-1992]

Qualquer dia temos que fazer a notícia necrológica de William Burroughs, maldito até ao fim, nos seus actuais 77 anos sobrevividos, e então é o momento, entre todos solene, de proclamar que ele «foi um dos mais importantes escritores de todos os tempos» incluindo os vindouros, e lamentar que não lhe tenha sido atribuído o Prémio Nobel. Nunca se sabe quando esta omissão do Nobel é vista como um elogio ou como uma afronta ao chorado autor em causa...
Não vai haver tempo, então, para pôr em dia a leitura do seu verbo vulcânico e torrencial, pormenorizar os aspectos circunstanciais e publicitários da sua vida maldita de maldito escritor. Depois de morto, sim, tudo isso poderá concorrer para o vender melhor.
Temos em tradução portuguesa -- e traduzir Burroughs é fazer [o pino] equilibrismo em cima de um cabo de alta tensão -- «As Terras do Poente», «Cidades da Noite Vermelha»(*) e «Naked Lunch», banquete que o saudoso João Palma-Ferreira teve ainda ocasião de verter para a editora Livros do Brasil com o infeliz título «Alucinações de um Drogado».
Pois bem: quando Burroughs, nascido em St Louis, em 5/2/1914, esticar o pernil, vai ser difícil afirmar, numa obra com 47 títulos, de 1953 até hoje, se está lá tudo quanto os seus panegiristas, entra os quais se podem contar o português Palma-Ferreira e o norte-americano Norman Mailer, dizem estar. Tudo e mais alguma coisa, até o que ainda não existe. Por isso em vez de escritor, muitos preferem considerá-lo profeta. Vai ser impossível a um ser humano abranger (abraçar) esta prodigiosa torrente de lava que, além de queimar, não é propriamente de um perfume «made in Paris».

O papel dos cheiros

Aliás e como se sabe, os cheiros têm, nas páginas de Burroughs, um papel característico, ainda que todo o mundo sensorial o tenha, mercê de um génio descritivo de imagens que supera toda a câmara cinematográfica. Isto não impede que o realizador Cronenberg, sempre à cata de moscas, não esteja tentando a sua chance de adaptar o «Naked Lunch», título de W.B. mais vendido, mas não sei se o mais profético.
No aspecto de prever as grandes vagas de fundo que só anos depois a história iria comprovar, ponto por ponto, «Cidades da Noite Vermelha», na magistral tradução de Maria Dulce Teles de Menezes (na companhia de Salvato), parece-me muito mais pesado de consequências. Publicado em 1981, está lá já, nas «Cidades da Noite Vermelha», a epidemia do século, com uma nitidez de contornos perfeitamente alucinante. De tal maneira, que se torna crível a hipótese colocada por alguns observadores de a tal «epidemia do século» ter sido decalcada e montada de acordo com o guião ficcionado por Burroughs. Só para deslindar esta questão - se foi a história que copiou Burroughs ou ele que profetizou a história - muitas equipas de investigadores seriam necessárias. Entretanto, nas escassas notas de referência que têm aparecido em português sobre o «maior escritor do século XX» -- assim se inclinava a considerá-lo o nosso João Palma-Ferreira -- é possível respigar novos items que dão novas pistas para percorrer, sem demora e exaustivamente, o que bem pode vir a ser considerado o sucessor de James Joyce no «guiness» dos escritores mais citados e cotados.
A «contaminação orgânica» seria o tema dominante nos volumes desta trilogia, a que pertence também o volume já publicado pela Presença, «As Terras do Poente», onde um exército de centopeias gigantes, proliferando com uma força e velocidade colossais, teriam comido tudo o que era ser humano... Ele retira dessa hipótese, como se calcula, surpreendentes ilacções romanescas. Tudo isto a partir de um topónimo que, existindo no território dos Estados Unidos, existia também no Egipto dos faraós e dos escribas.
Com a sua arte descritiva semelhante à lâmina afiada de um bisturi, William Burrouhgs não nos poupa a cenas-limite de verdadeiro horror, com as centopeias devorando seres humanos e a sairem, com suas cabeças agitadas e frenéticas, do corpo das vítimas...Qualquer produtor de filmes de horror estará, com certeza, atento, para aproveitar cenas tão garantidamente repugnantes. Tão gratificantes, como diria o Ministro da Alimentação.
Constante, nos quadros abjeccionistas de William Burroughs, é a exibição dos órgãos sexuais, expostos também à voracidade das bichas selváticas e a uma constante entropia que sugere a essência da malignidade, dos escombros e da morte. A ruína desta civilização. O fim da «grande farra».
Sob a aparência de um relato coloquial, Williams Burroughs descreve, em constante obsessão, a decadência, o apodrecimento, a decomposição «orgânica». Com tintas nada suaves, diga-se, antes com uma expressa e propositada violência visual. O que não pode deixar de fascinar, tarde ou cedo, um produtor de cinema.

CADA UM SEU PALADAR

O escritor de «As Terras do Poente» é perito em procurar exactamente aquilo que repugna ao paladar, à vista, enfim, aos cinco sentidos que ainda conseguem reagir, no amolecimento e embotamento generalizado que caracteriza a sociedade de consumo (ou do vómito? perguntará Burroughs), já bem longe das metas hedonistas que sonhou, dos prazeres que julgou gozar, das metas que freneticamente se propôs atingir.
Nesse aspecto se diria que Burroughs baniu qualquer idealização romântica e que exagera ao seleccionar apenas o que é ostensivamente repugnante (aos cinco sentidos) e traumatizante à sensibilidade. Uma coisa parece certa: com esse inventário de horrores, o autor pretende traduzir a «grande farra» que é a sociedade de consumo moderna, grande farra que será a forma pela qual esta civilização irá perecer, e dar a alma ao criador, ungida de todos os sacramentos, tal como a egípcia pereceu, apesar de ser herdeira directa e dilecta dos deuses... Que fará esta, filogeneticamente herdeira do Macaco.
Pela boca morre o peixe... e o Planeta do «fast-food» também.

PERGUNTAS INDISCRETAS

Que tipo de genealogia, por exemplo, liga este cabecilha da geração «beat» a Conrad, Genet, Dante, Carlyle e Swift?
Até que ponto a «técnica da montagem» é fácil e pode repetir-se como receita, e até que ponto só por ela seriam possíveis obras como o «Ulisses» de Joyce?
Que tem a ver Burroughs com a sacralização e a santidade da Abjecção, tão nítida, por exemplo, em Genet?
Será Sade um dos seus antecessores, ou nunca o conheceu de parte nenhuma?
Na geração «beat», teria sido ele a fazer da viagem o símbolo iniciático por excelência, ou esse papel deve, com maior justiça, atribuir-se a Jack Kerouack?
Terá razão Norman Mailer quando proclama o autor de «Naked Lunch» «o único romancista americano vivo provavelmente possuído pelo génio?»
Mais: seria ele e não Artaud a levar até às últimas consequências a literatura como experiência-limite, o abjeccionismo contido nas premissas do surrealismo europeu?
Quem se aventurar por este pântano ardente, por este pesadelo sem despertar, por este «resfolgar do universo, sem sono nem tréguas nem pausa» que é a obra de Burroughs, deverá apenas tomar algumas precauções prévias, demarcando o terreno, por exemplo, com datas de referência, para não se perder totalmente e poder regressar à «vida normal», à «civilização», à histérica sociedade do consumo.
Note-se que, quando outro «beat», Allen Ginsberg, publicava «Howl» (1956) e Jack Kerouack «On de Road» (1957), já Burrouhgs estava metido até ao pescoço nos alucinogénicos e instituído guru, eminência parda, mito entre os mitos da «beat generation», ainda que o seu «Naked Lunch» só surgisse em Paris em 1959.
Como diz um crítico, as novelas de Henry Miller parecem suaves e humanas se comparadas à inaudita violência (visual e nem só) de Burroughs. Que pena Bataille não poder incluí-lo em «A Literatura e o Mal», o livro que ainda preferimos como o manifesto possível da famigerada quão impossível modernidade.
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(*) «As Terras do Poente», William Burroughs, Ed. Presença
«Cidades da Noite Vermelha», William Burroughs, Ed. Difel
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EDIÇÕES 1992

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10-2-1992

ACTUALIDADE EDITORIAL

«Ladrões Prazer», Poesia Arabigo-Andaluza, prefácio e tradução de Fernando Couto, Ed. Estampa, 116 páginas, 800$00, Col «Clássicos de Bolso» -- Organizada em três partes geográficas -- ocidente, centro e oriente do Andaluz -- esta antologia, organizada por Fernando Couto, que segue a edição espanhola de Emílio Garcia Gómez, propõe o reencontro com a sensualidade da poesia árabe peninsular, cuja força metafórica não deixa de nos surpreender.
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«Vícios Ancestrais», Tom Sharpe, Ed. Teorema, Col. «Estórias» -- O melhor da grande sátira inglesa (tradição que tem, nas suas fileiras, nomes como G.Bernard Shaw ou Aldous Huxley) reaparece em força neste Tom Sharpe, que a Editora Teorema revelou ao público português e de que acaba de publicar mais um romance de largo fôlego, «Vícios Ancestrais». Como se explica na capa, «Lord Petrefact, último abencerragem de uma dinastia de capitalistas corruptos, decide encomendar a um conceituado académico de esquerda, Professor Yapp, a história da sua família». É este o ponto de partida do romance «Vícios Ancestrais», que confirma as brilhantes qualidades de prosador e ficcionista de Tom Sharpe, já conhecido do público português por três outras obras, «Wilt», «A Alternativa Wilt» e «A Epopeia de Mr. Skullion», publicadas igualmente na colecção «Estórias» da Editora Teorema.
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«O Último Mundo», Christoph Ransmayer, Ed. Difel, Col. Literatura Estrangeira, 241 pgs, 1.780$00 -- A propósito de Christoph Ransmayer, escritor austríaco de que a Difel acaba de publicar «O Último Mundo», evoca-se a grande tradição alemã da literatura fantástica, de Novalis e Goethe a Mann, Broch e Ernest Junger. Como em Nietzsche, também a solidão na montanha define para este escritor o lugar incomum que o escritor deverá utilizar para fugir à vulgaridade e encetar uma iniciação ao sobre-humano. São apontamentos sobre o fim do Mundo que tornam ao mesmo tempo mais irrisório e mais real o quotidiano, porta de acesso ao mundo menos banal do sonho e da imaginação.
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«O Sistema Operativo MS-DOS - 4-0», Michel Laurent, Ed. Presença, Colecção «Sistemas», 236 pgs -- Os melhoramentos recentemente introduzidos no MS-DOS, trazem, segundo os entendidos, maior funcionalidade e rapidez deste sistema operativo. A versão 4-0 do MS-DOS, que este livro expõe e analisa, pretende responder ao desejo de maior simplicidade. O interface DOS-Sheel, bem como um procedimento de instalação mais fácil, aperfeiçoamento dos comandos e uma capacidade de endereçamento superior a 32 megabites, são as novidades apresentadas ne versão mais avançada e portanto neste livro que a acompanha, passo a passo, tecla a tecla.
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«O Desafio ao Sul, Relatório da Comissão Sul, Ed. Afrontamento, 318 pgs -- Desenvolvimento continua a ser a palavra de ordem que a Comissão Sul, criada em 1987 e presidida por Julius Nyerere, insiste em preconizar para fazer sair da Fome o vasto Terceiro Mundo. Neste livro se apresenta o relatório elaborado pela Comissão, no sentido de vencer a pobreza e melhorar a vida de três quartos da humanidade que «vivem» nos países em vias de desenvolvimento. Trata-se de um grupo independente, altamente qualificado, de cidadãos com competência, experiência e convicções políticas muito diversas, embora todos originários do proprio Sul.
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«Viagens e Aventuras Extraordinárias de Frei Ângelo», Guy Hocquenghem, Ed. Bertrand -- Dias antes de falecer com o rótulo de SIDA, em 28 de Agosto de 1988, Guy Hocquenghem publicou «Viagens e Aventuras Extraordinárias de Frei Ângelo», uma ficção histórica (ou a história ficcionada) situada no Renascimento italiano. Frei Ângelo é o andarilho sempre à procura de outra vida, em permanente viagem pelas regiões do divino, através de experiências no mundo real e concreto: a guerra que destruiu a Itália da Renascença, as atrocidades do saque de Roma, as lutas teológicas, as manobras do poder temporal, é o cenário por onde Frei Ângelo faz a sua ascenção mística, intocável no desejo de perfeição. Junto aos índios da América, que procura evangelizar, encontra Frei Ângelo a pátria na Terra, antecâmara da que lhe era prometida do Céu. De Guy Hocquenghem, falecido em Paris aos 42 anos, existe também traduzido em português o romance «Ève» (ed. Livro Aberto).
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«Areia Pesada», Anatoli Ribakov, ed., Difusão Cultural, 344 pgs, 2.600$ --Nunca ficará completamente contada a história de «sofrimento e heroísmo» dos judeus, durante a Segunda Guerra Mundial. «Areia Pesada», de Anatoli Ribakov (autor ucraniano nascido em 1911, que nunca se resignou a ser soviético) volta ao tema, centrando a acção na história de uma família de judeus russos, ao longo de três décadas (1909-1942). Carregado de personagens e acontecimentos, este romance tem a marca do autor que o público português conhece de duas outras obras já traduzidas: «Os Filhos da Rua Arbat» -- o livro que lançou mundialmene este escritor «revelado» pela Perestroika e hoje membro do Pen Clube Internacional -- e a sequência que se chama «O Medo-Trinta e Cinco e os Anos Seguintes». «Areia Pesada», agora editado pela Difusão Cultural, que também lançou os anteriores, relata o sofrimento e heroísmo dos judeus durante a Segunda Guerra Mundial, uma história que, apesar de tantos romances e (principalmente) filmes, continua, pelos vistos, a ser mal vista e conhecida.
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