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*** MAGIC LIBRARY - THE BOOKS OF MY LIFE - THE LIFE OF MY BOOKS *** BIBLIOTECA DO GATO - OS LIVROS DA MINHA VIDA - A VIDA DOS MEUS LIVROS

Wednesday, September 13, 2006

J.P.MULLER 1967

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1967

AS PRÁTICAS NATURISTAS SERÃO REACCIONÁRIAS?
O PROGRESSO É UM PROCESSO DE CONSTANTE SIMPLIFICAÇÃO
REENCONTRAR A NATUREZA É UMA FORMA DE PROGRESSO


13/Setembro/1967 - Pelo que nos conta o dinamarquês J.P. Muller, autor de alguns livros muito divulgados em Portugal à volta de 1900 - «A Vida ao Ar Livre» e «O Meu Sistema» são os mais conhecidos - , o uso do chapéu constituía então hábito tão arreigado e coisa tão natural que ninguém se atrevia a bani-lo, com o receio de se ver votado ao desprezo e ostracismo sociais...
É bastante expressivo e vale a pena transcrever na íntegra o caso que Muller refere:
«Embora seja económico, agradável e salutar andar de cabeça nua, poucos se atreverão a fazê-lo, não só por ser moda como ainda por temerem chamar sobre si a atenção das gentes.
Este artigo foi-me inspirado por uma carta que me escreveu um jornalista muito conhecido em Copenhague, carta de que vou transcrever o seguinte trecho: «como o poeta Holger Drachmann, uso o chapéu como quero, isto é, passeio com a cabeça descoberta.
Mas, santo Deus, como - subentenda-se - os imbecis troçam de mim! Se me detenho um instante num cais ou numa ponte, é ver como uma ou mais dezenas de criaturas dos dois sexos lançam os seus olhares para a água a ver se lobrigam aí um chapéu que repousa, cheio de poeira, no meu armário.
Os garotos arreliam-se, as raparigas conhecidas sorriem-se para mim e batem várias vezes na testa com a extremidade do indicador, como quem diz : «Coitado, está maluco!» Verdade seja que este procedimento dos meus concidadãos me não faz a mais pequena mossa. É-me completamente indiferente o que Pedro ou Paulo pensam a meu respeito. Não lhe poderia , contudo, o meu amigo dizer num artigo que o uso da cabeça descoberta é verdadeiramente higiénico?»
A resistência às mudanças nos hábitos e costumes, até à mudança de simples modas, como se vê, é de todos os tempos e se não nos passa hoje pela ideia que o facto de usar ou não usar chapéu constituísse na Dinamarca de 1990 um sério problema, o facto é que o caso narrado por Muller, para lá de ser anedótico, poderá dar-nos uma imagem exacta da inércia que, em todos os tempos, os hábitos e costumes adoptados opõem às práticas que a higiene, a razão ou o simples bom senso muitas vezes aconselham a modificar.
O caso, com seus laivos de tragicomédia, revela-nos ainda que as conquistas da civilização hoje consideradas correntes, levaram bastante tempo e custaram muitos sacrifícios antes que pudessem enraizar-se nos hábitos normais de modo a tornarem-se evidências tão naturais que nelas já ninguém repara.
A quantos hábitos - tão inocentes e tão vulgares como o de não usar chapéu - não se continuará oferecendo ainda hoje uma estúpida e tenaz oposição, por mais que a higiene, a razão, a experiência ou o mero bom senso aconselhem mudança?
O caso, que hoje nos parece anedota, demonstra também que o progresso é, o fundo, e embora contra muitas aparências, feito de coisas simples e um processo de constante simplificação.
Os que avaliam a civilização pelo número de produtos e maquinismos que enchem o mundo do consumidor, consideram que complicar é progredir. Mas os que não confundem avanço tecnológico com o progresso humano, sabem que as técnicas, ao tornarem-se mais complicadas, deveriam ter exactamente por função simplificar a vida dos indivíduos, no seu trabalho e nos seus ocios.
Quando uma técnica, em vez de concorrer para poupar o esforço físico ou mental do indivíduo, ou para o libertar de ancestrais escravidões, ou para o enriquecer de novas experiências, ou para lhe desenvolver faculdades e capacidades de afecto, vontade, lucidez, concorre para o atrofiar nas suas virtualidades, para o empobrecer nas suas vivências, para o minguar de seus dons, para o prender a piores escravidões e constranger com mais fortes cadeias, então devemos desconfiar, não só da técnica mas do sistema económico que serve, da maneira como é aplicada na prática quotidiana e administrada pelos que directamente a utilizam.
As técnicas naturais de cura, mesmo quando preconizam, entre os seus mais ardentes prosélitos, um regresso total à Natureza ou se inspiram num utópico naturalismo à Rousseau, estão dentro da verdade e significam sempre um progresso porque procuram valorizar o indivíduo, desenvolver-lhe faculdades, curá-lo de mazelas, proporcionar-lhe uma existência
mais saudável, mais livre, mais feliz.
A cura pela natureza, mesmo para os movimentos mais radicais que a preconizam e defendem, não significa um retrocesso histórico para a idade das cavernas, para um primitivismo neolítico, para uma idade de ouro mítica, não significa que se deseje um êxodo em massa das cidades (ainda que ele fosse desejável...) nem uma recusa sistemática e radical a tudo quanto a ciência e a técnica (males que se tornaram a si mesmos necessários) proporcionam para possível e alegado conforto e benefício de quem habita os meios urbanos ou urbanizados.
A própria medicina natural deitará mão de processos, utensílios, aparelhos quando verifique que estes tornem mais eficazes as suas práticas, limitando-se a recusar tudo o que, na outra medicina, considera pernicioso, desnecessariamente complicado, ineficaz, paliativo ou mesmo criminoso.
Sempre e nas práticas terapêuticas também, trata-se de simplificar a existência, isto é, de libertar o indivíduo alienado a tantas e tantas forças negativas (de superstição, ignorância, má fé e obscurantismo) que não só hoje, dentro das cidades «civilizadas», mas sempre, mesmo quando habitava em cavernas, em contacto directo com a Natureza, o escravizavam.
Portanto, a doença, alienação ou escravidão do homem, não reside no facto de ele viver no campo ou na cidade, em contacto com a natureza ou dispondo apenas de produtos artificiais e de manufactura industrial.
Em um e outro habitat , o que define o seu grau de progresso (de saúde, de liberdade, de felicidade, como se prefira chamar- lhe) é o grau de independência em que se encontra, através dos recursos técnicos ao seu dispor, em relação ao meio que o cerca e às forças que tem de dominar ou neutralizar.
O erro dos que criticam a civilização em nome da natureza e dos que caluniam a natureza porque supõem o regresso a ela um retrocesso, o erro consiste em, nos dois casos, se supor o homem do campo mais livre (feliz, simples ou saudável como se preferir dizer) do que o da cidade, quando o que de facto se passa é haver no primeiro uma desproporção menor (logo uma menor alienação) entre as forças que o condicionam e as forças (psíquicas, morais, humanas) de que dispõe para enfrentar aquelas.
Em suma: proporcionalmente, o homem da cidade está mais desarmado frente a um meio mais hostil, a sua vitória é, portanto, mais fraca e sucede menos vezes do que a do campesino.
No entanto, deve referir-se a luta que este último tem que travar com os próprios elementos naturais adversos, para a qual se encontra muito mais desarmado, enquanto ao citadino os ventos, raios e chuvas nada ou pouco afectam, deles se encontrando (através do progresso técnico) muito mais defendido.
Eis, pois, como queríamos demonstrar: as práticas naturistas representam formas de progresso humano e social porque dotam o homem (do campo ou da cidade) com um meio eficaz de se revitalizar, de se revalorizar nas suas disponibilidades físicas e espirituais. Isto é: energéticas.
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W. REICH 1997

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22-9-1997

LEITURAS DE NOOLOGIA - A ENERGIA VIBRATÓRIA SEGUNDO WILHELM REICH

Lisboa, 13/9/1997 - É vasto mas confuso o contributo de Wilhelm Reich para a Noologia aplicada e terapêutica.
Pioneiro isolado num mundo que já no seu tempo só tinha olhos para o visível, Wilhelm Reich viu-se em sérios apuros para se fazer entender com a teoria do orgone e pagou bem cara a ousadia de querer avançar no conhecimento das energias que a ciência ordinária não conhecia, nem conhece nem conhecerá nunca, enquanto os instrumentos de análise e de medida das energias forem os que têm sido até agora.
Como não podia deixar de ser, foi também nesse domínio - o dos instrumentos de medida - que o fracasso de Wilhelm Reich foi maior. O seu «acumulador de Orgone» contava apenas com as energias físicas - com o corpo magnético, um dos sete corpos - por mais que ele, psicanalista, as assimilasse ao psíquico e por influência das místicas orientais, à «vida interior».
Mas as máquinas de medir energias ainda hoje fazem carreira e ainda há quem «acredite» numa «ciência» chamada Radiónica.
Só o salto de Etienne Guillé viria colocar no lugar certo a questão dos aparelhos em matéria de Noologia. Dando ao «ser humano» o centro do processo da Radiestesia, como faz o método de Etienne Guillé, já nem é o pêndulo o instrumento noológico por excelência, mas o ser humano.
Usando as duas mãos, pela primeira vez, na história da Radiestesia - uma para o pêndulo e a outra para a estrutura testada - Etienne Guillé mostrou que o aparelho privilegiado - que o único aparelho - para analisar, detectar, medir energias cósmicas/subtis só podia ser o ser humano, mediador entre céu e terra, entre macro e microcosmos.
Com o pêndulo de Radiestesia, o microcosmos completa o trabalho do macrocosmos.
À parte o previsível fracasso das suas máquinas - que funcionam apenas para o corpo magnético - Wilhelm Reich deixou intuições-chave para o avanço da Noologia no nosso tempo e para o conhecimento das componentes do continuum energético.
Usando 2 palavras-chave - oscilação e vibração - ambas figuradas pelo pêndulo de Radiestesia, Wilhelm Reich distinguiu, por exemplo, entre:
a) Energia vibratória
b) Energia pulsativa.
Vinda da medicina tradicional chinesa, a energia pulsativa tem um papel fundamental no diagnóstico acupunctural mas dificilmente se pode encaixar nos esquemas das modernas terapias ocidentais - às quais falta a noção fulcral do princípio único, da dialéctica yin-yang e da energia Ki.
Depois de Wilhelm Reich, podemos compreender melhor que os 24 pulsos chineses revelam-se na zona dos pulsos mas correspondem a um ritmo cosmo-biológico, sendo uma forma de a energia vibratória se exprimir no suporte vibratório como diria Etienne Guillé, que identifica suporte vibratório com o ADN molecular da célula.
Uma outra intuição-chave na psicanálise de Wilhelm Reich, ainda hoje aproveitável em Noologia, é a da «couraça» caracterológica, em que ele tanto insistiu.
Lendo este «encouraçamento» à luz da alquimia da célula, ensinada por Etienne Guillé, compreende-se que:
a) por um lado, é a fase coagula da alquimia;
b) por outro lado, é a hipermaterialidade a que a era dos Peixes conduziu o ser humano;
c) e, por outro lado, é o extremo yang em que fala o princípio único dos taoístas.

Outro handicap no estudo realizado por Wilhelm Reich é a ligação às concepções freudianas da líbido. Chegou a dizer-se, por isso, que Hipócrates teria sido o precursor de Reich ao criar o termo de «histeria», ao fazer a relação entre as manifestações externas e a energia do útero.
Wilhelm Reich foi ainda buscar aos chineses o conhecimento das várias fontes energéticas:
a) Alimentação
b) Respiratória
c) Ancestral .
A orientação freudiana levou-o a hipertrofiar a importância da energia sexual a que Freud chamou líbido. Esta obsessão pela sexualidade, que a psicanálise tão bem soube explorar, é bastante encorajada, no nosso tempo, pelas doutrinas do tipo tântrico, em que se sabiamente se mascara a mesma obsessão com propósitos de sublimação mística.
Sublimação é mesmo a palavra crucial: não sabemos se foi a psicanálise que a foi buscar ao tantrismo, se foi o tantrismo que veio transmiti-la à psicanálise.
Em qualquer caso, líbido - sublimada ou por sublimar - é sempre um sinal do tempo, um sintoma da era materialista em que estivemos.
Mas talvez a pista de investigação mais estimulante de Wilhelm Reich seja a destrinça, por ele feita, entre:
a) Energia pós-matéria (Atómica / radioactiva)
b) Energia pré-matéria (Orgone/ Bions, na terminologia de W.R.)
Imaginando, como ele fez, uma oposição entre elas, talvez encontremos uma bifurcação de energias anterior, no tempo e no espaço, ao yin-yang, o que seria sem dúvida, uma descoberta de incríveis consequências.
As tentativas de demonstrar experimentalmente em laboratório essa oposição falharam, como era previsível, mais uma vez pela inadequação do aparelho utilizado para analisar energias de natureza diferente da natureza do aparelho.
Quer o Prana dos hindus, quer o Ki dos chineses, têm, evidentemente, afinidades com o Orgone e os Bions de Wilhelm Reich.
A ousadia de colocar esse ki, esse prana ou esse orgone, antes da matéria é que não se previa.
Esta hipótese, no entanto, pode pura e simplesmente vir a corroborar o estudo dos 2 cosmos realizado por Etiene Guillé.
Todo o trabalho terapêutico - e toda a cura iniciática - de facto, deverá ser uma luta entre o Cosmos I e o Cosmos II, entre o Espírito (antes da matéria, no tempo e no espaço) e a matéria.
Encaixa.
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IONESCO 1990

1-3 - 90-09-13-ls> leituras selectas do ac - ionesco>

24-8-1990

IONESCO - O MORALISTA IMORAL(**)

[(**) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal «A Capital», «Leituras de Verão», 13-9-1990

Memórias de uma irreconciliação irremediável de Eugénio Ionesco com a existência, « A Busca Intermitente»(*)é um livro de impressionante e absorvente leitura.
Por estranho que pareça no autor do teatro do absurdo e da crueldade, um livro apaixonante, o autoretrato a traço carregado daquele que tem sido um dos dramaturgos modernos mais representados, mais discutidos, mais polémicos mas, paradoxalmente, também, um dos mais esquecidos.
O exílio da Roménia sua pátria, desde 1938, por motivos claramente políticos, não deixou de contribuir para esse ambíguo comportamento do meio literário e teatral relativamente à sua personalidade, erigida muitas vezes em bandeira para um e outro lado da barricada estalinista.
Quando alguém fala de si mesmo nem sempre fala do seu umbigo mas, como faz Ionesco, do que toca e sensibiliza muitas outras pessoas que «trabalham no mesmo comprimento de onda», pertencem à mesma família de sensibilidade, ao mesmo tipo psicológico...
A visão tremendista e «pânica» de Ionesco, tantas vezes expressa nas suas peças de teatro como «O Rinoceronte», «A Cantora Careca», «As Cadeiras» ou «Como se desembaraçar dele» (o texto dele que alguns preferem)aparece nestas confissões dominado por uma sinceridade avassaladora, torna-se companheiro também dos nosso dias e a sua voz uma voz familiar: «Dizer que há muito pouco tempo, há dezasseis meses, era ainda jovem e que caí psicologica e fisicamente na velhice!» exclama ele, acrescentando palavras ainda mais amargas para falar da companheira que aceita, ao seu lado, resignada, o destino de envelhecer: «Também a minha mulher envelheceu bruscamente, ao mesmo tempo que eu(...) Mas ela tem a generosidade que eu não tenho, aceita envelhecer, não se sente como eu infeliz por vivermos como velhos e entre velhos, como vivemos há cinco dias, cinco dias que me traumatizaram, que foram a revelação de uma odiosa, horrorosa, implacável verdade.
É esta «implacável verdade», sempre presente nas suas peças teatrais - sem quimeras, sem ilusões ideológicas, místicas ou religiosas - é esta lucidez radiográfica que transforma agora o lado menos teatral e mais íntimo da sua mensagem - o dia a dia de uma vida que se esgota - no espectáculo tragicómico por excelência. Ler «A Busca Intermitente» é assistir a esse patético espectáculo sem barreiras...
Com este seu livro de confissões e desabafos , dos mais cruéis que se têm escrito sobre o irrisório da vida, Ionesco é agora o único Actor em cena representando o seu próprio papel: o da sua própria vida, para a qual busca um sentido sem, evidentemente, jamais o ter encontrado.
Ainda uma citação das muitas que fazem «arder» estas páginas inesquecíveis: «Não sou tão bom como devia. Não sou bom. Não sou bom nem mau. O que eu sou é tímido, medricas. Sou vaidoso. Sei que sou vaidoso. Nem sequer soube ser moral... Moralista, sim, às vezes, um imoral moralista. Quis pedir perdão a toda a gente, às pessoas mais chegadas, ao mundo inteiro.»
Se a crítica científica, por um azar dos demónios, algum dia viesse a ter razão, textos e livros como este de Ionesco estariam proibidos de circular. Lagarto, lagarto. A arte bem pouca coisa é quando nos surge, como neste livro, a humanidade de um homem crucificado nas suas próprias confissões.
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(*) «A Busca Intermitente», de Eugénio Ionesco, Ed. Difel

(**) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal «A Capital», «Leituras de Verão», 13-9-1990
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ROBERT ANTON WILSON 1987



ideias -1> chave> - chave para os anos 80 - páginas polémicas de ac - novas leituras

IDEIAS-CHAVE DO REALISMO ECOLOGISTA

13/Setembro/1987 - Ainda que não pareça mas tenho uma visão tranquila e nada pânica nem dramática do futuro: acredito que os mais graves e complicados problemas só continuam por resolver porque enormes interesses de empresários continuam lucrando com a existência desses problemas, para os quais a ciência e as tecnologias selectivas (apropriadas) há muito que encontraram soluções perfeitas. A esse respeito tenho uma visão ainda mais optimista do que Buckminster Fuller ou Robert Anton Wilson (este último, nessa obra aliciante e divertidíssima «O Livro dos Illuminati», editado no Porto pela editora Via Óptima). É só questão de ver claro e apostar nas TA : cada TA (tecnologia apropriada) construída e a funcionar são cinco dias que o Apocalipse fica adiado. Como em Portugal, por exemplo, esperamos há 10 anos a concretização de meia dúzia de TA's (projectos de energias renováveis, por exemplo) só aí já vão uns bons 30 dias de atraso, ou seja, de antecipação do Apocalipse. Gostaria, sinceramente, que não me rotulassem de «pessimista» ou de «optimista»: se esforço houve e constante, foi de realismo, dentro do que é possível nesta redoma fechada de mitos, fantasmas, idealismos ideológicos. Por isso defini, para uso pessoal, ecologia como um esforço indignado para ver claro no nevoeiro dos sebastianismos ideológicos. Declaro que não existe, embora possa parecer, deliberado propósito em moralizar seja quem for e sobre que matéria for, adoptando o princípio soberano «todos temos o que merecemos» ou «o mundo não quer ser salvo e as pessoas que se lixem». Em tempo de acelerada entropia, não há, a meu ver, lugar para nenhuma proposta de valores, de qualquer ética ou mesmo de qualquer moral, sistema ou teoria. Admito que nem sempre tivesse conseguido a desejada neutralidade : mas asseguro que a intenção foi sempre a de guardar a maior neutralidade possível relativamente ao dramatismo de tantos crimes. Guardo-me também o direito de «não querer salvar o mundo» e sentiria como uma enorme injustiça que alguém pensasse, um só momento, que ele tem qualquer propósito de salvar o mundo: afirmo que não foi nunca a minha intenção, embora os mal intencionados não poucas vezes me acusassem disso, troçando dos meus ideais humanitários. Tiveram sempre os meus textos um objectivo simples e claro: tentar detectar as constantes que regulam o funcionamento do sistema, com o intuito de chegar a um entendimento objectivo e completamente des-dramatizado da crise planetária, da tragédia humana, do «apocalipse» em curso.
Não creio que tenha abusado da palavra «sistema», nem creio que ela seja um bordão de uso fácil. A proliferação da palavra corresponde mesmo à sua real proliferação. O sistema que vive de ir matando os ecossistemas não é uma ficção nem uma excepção. É a realidade omnipresente, omnipotente e quer-se mesmo, com a ajuda de cientistas subsidiados, omnisciente. Não abusei da palavra «sistema»: a palavra é que abusa de nós. E foi isso, com os «quando», os «como», os «porquê», que eu quis dizer. Quero afirmar solenemente que os meus textos, inéditos ou publicados, não têm nem querem ter mais consequências do que uma colecção de selos ou de borboletas. Se há quem se divirta a espetá-los na cortiça, porque não terei eu o direito de analisar, como um bando de borboletas ou de pulgas, ou de baratas, ou de ratos, os acontecimentos da chamada «crise planetária». E a comparação - note-se - a ser ofensiva, é-o para os ratos.
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Monday, September 11, 2006

PARACELSO 1990

1-2 - paracelso-1-ls-> - clássicos do século XXI - tese noologia - leituras moraes - banalidades de base

PARACELSO DESCONHECIDO(*)

[«Livros na Mão», «A Capital», 11-9-1990] [24/8/1990] - A reabilitação póstuma de Paracelso, que teve o seu auge ao longo de todo o século XIX, assenta afinal em bem pouca coisa, a julgar por uma leitura retrospectiva das suas obras: um punhado de intuições fulgurantes, aquém e para além do tempo, é talvez o que resta de uma obra que, em vida do autor ( 1493-1521), foi sistematicamente vilipendiada pelos invejosos da época, inclusive pelos mais dilectos discípulos como esse misterioso Oparinus, canalha que assume o recorte refinado do clássico traidor. Como se para cada Jesus tivesse sempre que haver um Judas. E a verdade é que, em certos aspectos, Paracelso até nem era nenhum santo.
Resta dele, hoje, portanto, a lenda que se vai formando quando são grandes as lacunas na vida e na obra de um autor: Paracelso é também o mito que dele fizeram as dezenas de obras sobre a sua personalidade controversa, surgidas pró e contra, nos mais diversos países da Europa, durante o século XIX.
Entre as intuições que se podem citar a título de exemplo, que nele assinalam um «contemporâneo do futuro» e que dele fazem um profeta só tardiamente reconhecido como tal, é de sublinhar a que escreveu sobre a predestinação, na qual desenvolve uma ardilosa «teoria do castigo divino como causa das enfermidades», teoria que coincide, em muitos pontos, com a lei cármica das cosmogonias orientais (hindu, tibetana, chinesa) mas que no Ocidente, quer pela via greco-latina, quer pela via judaico-cristã, foi sempre letra morta.
Esta «teoria do castigo divino» é claramente desenvolvida por Paracelso em uma das raras obras suas que não se perderam, o «Tratado da entidade de Deus» , aparecido no «Quinto Livro, não pagão, acerca das entidades morbosas» incluído no segundo «Paramirum» (o primeiro foi um dos muitos livros seus que se perderam).
A reabilitação em força de Paracelso, poderá dever-se, portanto, ao facto de ele ter, numa cultura analfabeta e sórdida, introduzido alguns conceitos que, sendo lugares-comuns na sabedoria universal, sempre se ignoraram numa cultura como a ocidental, caracterizada pelo puro analfabetismo e pela mais dessorada e arrogante das ignorâncias.

TRADUZIR PARACELSO

Traduzir para a língua portuguesa, em 1990, o «Livro das Ninfas, Silfos, Pigmeus e Salamandras e de Outros Espíritos» deveria entender-se, portanto, como um primeiro contributo para o conhecimento do desconhecido Paracelso. Só que não é. Tratando-se da parte «morta» de um autor que tem, no entanto, muita coisa ainda viva para mostrar(as tais intuições acima referidas), esta tradução deverá funcionar apenas com objectivos de erudição, como actualização para os estudantes e estudiosos de artes e letras. Fica, entretanto, por conhecer o precursor de algumas banalidades de base que tanta falta continuam fazendo na cultura ocidental.
A tradução de Paracelso, agora empreendida, funciona assim no âmbito estritamente universitário, com o objectivo de rever matéria dada e fornecer fontes bibliográficas fidedignas pouco acessíveis aos alunos de Letras, eruditos, investigadores e especialistas, necessitados de quem lhes facilite e tarefa.
Neste contexto, o livro de Paracelso agora editado em língua portuguesa pela Cooperativa de Serviços Culturais « A Páginas Tantas», com um estudo minucioso de Teolinda Gersão, onde principalmente se assinala o papel de Paracelso no posterior surto romântico que assolaria a Europa, como um solene aviso das fontes a que era urgente recorrer, poderá dizer-se que vem preencher uma lacuna na cultura escolar do ensino superior em Portugal. Mas a sua actualidade é nula. Nada, nesta narrativa meio filosófica, meio fantástica, tem hoje qualquer funcionalidade, deixando portanto ao leitor comum uma imagem distorcida do Paracelso essencial, do Paracelso (ainda) vivo.
Aliás, Teolinda Gersão, no cuidadoso estudo que lhe dedica, faz notar neste «Livro das Ninfas» a linguagem «monótona e pouco clara, enredando-se num estilo pleonástico ou sinonímico, em que o pensamento avança devagar».Eu até diria que não avança mesmo e a sensação, ao lê-lo, é de que não saímos do mesmo sítio. Para dar uma ideia do que em Paracelso houve de efectivamente precursor e profético, do que ainda nele é vivo a actual e actuante, seria necessária uma recolha antológica selectiva, em função do futuro que Paracelso efectivamente antecipou em muitos aspectos e não em função de um passado irremediavelmente morto que outros dos seus escritos acusam, como é o caso destas ninfas.
Aliás, nunca seria pelo estilo que Paracelso desempenharia algum papel na literatura europeia, nem mesmo como um catalisador da explosão romântica. Se houvesse uma história das grandes intuições que faltam à humanidade ou um itinerário das chamadas grandes aventuras espirituais, era lá que se poderia meter Paracelso.
Contemporâneo de alguns outros mitos, muito bem tratados, por motivos ideológicos ou outros semelhantes, pela erudição oficial - Erasmo, Ambrósio Pareo, Lutero, Copérnico, Miguel Ângelo - é inegável que Aureolus Filippus Teofrasto Bombasto de Hohenheim, a começar no nome que seu pai, o médico Hohenheim, se lembraria de lhe dar, não tem nada que o recomende.
Como se explica então o mito Paracelso?
Talvez a resposta esteja, não no «Livro das Ninfas», divertimento a que ele se consagrou certamente para desviar as atenções dos inimigos, mas na biografia de Paracelso que ainda não foi contada e de que o odioso Oporinus pode ser a chave alquímica. Há filósofos que permanecem malditos, mesmo depois de (aparentemente e superficialmente) reabilitados. Mas, como acontece com Paracelso, quanto mais malditos mais fascinantes. Não vão é dizer isso aos alunos da Faculdade de Letras, coitados, que têm de passar nos exames e com boas notas. Cuidado, Paracelso. Cuidado com o Paracelso.
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(*) «Livro das Ninfas, Silfos, Pigmeus e Salamandras e de Outros Espíritos» , Paracelso, com apresentação de Teolinda Gersão, Ed. «A Páginas Tantas», Cooperativa de Serviços Culturais. Equipa de tradução: Ana Paula de Carvalho Cunha, Helena Hipólito, Ana Maria Bernardo, Ana Paula Valagão Luz Clara e Helena Paula de Monteiro Leitão

(**) Este texto de Afonso Cautela foi publicado na revista «Beija-Flor», provavelmente na data indicada e republicado em «Livros na Mão», «A Capital», 11-9-1990
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F. SCHUON 1990

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«COMPREENDER O ISLÃO»:APROXIMAÇÃO AO ESOTERISMO ISLÂMICO

[(***) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal «A Capital» , «Leituras de Verão», 11-9-1990]

Para lá das manifestações esporádicas e na aparência contraditórias que, no palco da actualidade militar e política, surgem do mundo islâmico, há correntes menos conhecidas que atestam a sua unidade profunda. Pecando quase sempre por sectarismo religioso, roçando por vezes o fanatismo, também é verdade que o islão exotérico (com «x») pouco ou nada faz para mostrar o autêntico islão esotérico (com «s»), limitando-se quase sempre a exibições de força bruta que nada ajudam à coexistência pacífica entre culturas diversas e, muito menos, à mútua compreensão de diferentes civilizações.
Por outro lado, é conhecida a forma sistematicamente tendenciosa como são tratados, nos «media» ocidentais, os países e povos «árabes», desde que não alinhados com os EUA e Israel. Com fanatismos de ambos os lados, significa que estamos, regra geral, muito mal informados sobre o que por ali se passa.
É muito oportuno, portanto, o objectivo de «compreender o Islão», expresso no livro com o mesmo título de Frithjof Schuon(*), um tradicionalista que, depois de René Guénon e Julius Evola, tem sido na Europa um dos estudiosos mais atentos dos fenómenos culturais que escapam ao «monopólio ocidental». Atendendo mais ao que une e menos ao que separa as grandes religiões, inspirado - como bom tradicionalista - na unidade profunda que preside a todas elas, Frithjof Schuon tem dedicado vários livros a temas tão diversificados como a gnose, o xintoísmo, o budismo, o yoga e, de um modo geral, ao esoterismo como fundo comum de todas essas grandes correntes.
Como ele próprio diz nesta obra sobre o Islão, não quis dar «uma imagem do esoterismo muçulmano (Sufismo), como este, no seu desenvolvimento histórico, se vem a apresentar, mas sim trazê-lo de volta às suas posições mais elementares, relacionando-o com as próprias raízes do Islão.»
Para isso, o autor deteve-se «longamente, na análise dos pontos de contacto do Sufismo com outras perspectivas tradicionais e bem assim das estruturas daquilo que - à nossa volta e em nós mesmos - é ao mesmo tempo divinamente humano e humanamente divino.»
O livro «Compreender o Islão» procura facilitar o acesso do leitor ocidental- pouco familiarizado com o esoterismo em geral e o esoterismo islâmico em particular - aos quatro aspectos essenciais que são: a natureza e perspectiva muçulmana; a doutrina corânica e a função do Corão; o papel do Profeta; e, enfim, o Sufismo, enquanto expressão daquilo que é, no célebre paradoxo, «ao mesmo tempo divinamente humano e humanamente divino».
Justificando as «digressões» que efectua neste livro e que, «na aparência» parecem afastá-lo dos intuitos propostos, o autor explica: « a razão de ser das expressões ou das formas é a verdade, não o inverso. E a verdade é simultaneamente una e infinita».
Dentro deste espírito de unidade decorre, logica e naturalmente, a próxima obra de Schuon anunciada pelas Publicações Dom Quixote(**), em cujo título se expressa muito claramente essa que é a preocupação de todo o verdadeiro tradicionalista: « A Unidade Transcendente das Religiões».
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(*) «Compreender o Islão», Frithjof Schuon, Publicações Dom Quixote
(**) «Biblioteca de Esoterismo e Estudos Tradicionais», uma das melhores colecções que actualmente se publicam em Portugal
(***) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal «A Capital» , «Leituras de Verão», 11-9-1990
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L. ARMAND 1971

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A APOSTA EUROPEIA DE LOUIS ARMAND (*)

[ (*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no semanário «O Século Ilustrado» (coluna «Futuro»), 11-9-1971 e no «Diário do Alentejo» em 6-9-1971 ]



"Tendo entrado na era planetária, a Humanidade deve encaminhar-se para um Governa planetário."

Poderá afirmar-se que a tecnocracia acaba de perder, com a morte de Louis Armand, um dos seus cérebros mais activos e brilhantes. O ex-presidente da Euratom, que ajudou a fundar, era considerado com Jean Fourastié o grande filósofo do crescimento tecnológico e da prospectiva. Com ele, avançou a ideia de que a Humanidade chegou a um estádio de evolução tal que deverá desenvolver-se sem lutas (de classes) e sem conflitos ideológicos ou doutrinários: todos os problemas deverão ser resolvidos pela gestão administrativa e pela precisão calculadora dos computadores e a política deverá transformar-se, puramente, numa técnica das técnicas, numa "arte de administrar os povos para a produtividade" com a deusa-eficácia por ideal e norte.
Louis Armand foi um brilhante defensor destas ideias, que o partido de J.-J. Servan-Schreiber (outro ilustre tecnocrata num país onde há tantos) paradoxalmente politizaria no famoso "manifesto radical".
Louis Armand falava dos europeus, como se falasse dos naturais de um mesmo país. Acreditava na “idade pós-cibernética" (a expressão pertence-lhe) e que haveria para "os europeus a coincidência de duas mutações: a da dimensão e da compreensão europeias, e a da chegada da cibernética".
"Se em 1980 - escreve ele - a Europa não tiver realizado, ainda, as construções eficazes que tornem os europeus mais produtivos, o seu declínio tornar-se-á irremediável."
Tal como Jean-Jacques Servan-Schreiber, também Louis Armand gostava de acenar com o “desafio americano" para incitar ao trabalho os seus "compatriotas europeus". Para os incitar à concorrência, à competição e à autonomia. Para os ver descolonizados da cada vez mais forte pressão do dólar.
O destino, afinal, nem o poupou ao recente e definitivo golpe que, na confiança europeia, desferiu o dólar americano. Louis Armand deve ter-se sentido compensado, pois de certo modo foi mais uma confirmação (e de força, e de peso) das suas profecias.
Na empresa e na gestão previsional assentavam. as bases do seu pensamento prospectivo. Muito. menos filósofo do que Jean Fourastié, via as coisas com mais chauvinismo e, embora a grandeza da França lhe parecesse uma evidência sem discussões, sonhava, talvez, um degaullismo sem De Gaulle em que os técnicos da gestão tomassem o Poder e governassem, administrassem essa França (face ao desafio norte-americano),como uma província - a mais bela, claro e sem dúvida.- da Europa.
Sem chegar a fazer o elogio da publicidade como o seu brilhante colega Georges Elgozy, o autor de "Le Pari Európeen" (a tradução portuguesa apresenta-se com o título, pouco fiel, de "O Desafio Europeu") depositava uma confiança ilimitada na livre concorrência, porque a supunha ultrapassada pelos avanços da tecnologia. Da electrónica, principalmente.
Não esqueçamos de que ele insistia muito na idade cibernética e póscibernética, tanto quanto Schreiber em "Le Défi Américain". E não admitia que alguém pensasse em travar a marcha irreversível da tecnologia industrial (endeusada na empresa capitalista), definindo, desta maneira magistral, o que era para ele a irreversibilidade tecnocrática:
"Ninguém pode parar o estudo das drogas - seja a pílula, sejam os tranquilizantes transformados em euforizantes - ou impedir os aviões de voar cada vez mais depressa."
Ora aí é que o respeitável académico se enganava redondamente. Aqui é que, cego pelo deslumbramento, se estatelava ao comprido, como um típico representante da histeria tecnocrática que era.
A verdade é que não só o mundo terá de fazer alto às drogas (fármacos), como os aviões terão de começar a refrear a escalada da velocidade e o gigantismo absurdo para que caminham, gigantismo que começa a autodestruir-se. O episódio tragicómico do Concorde o prova, por mais que tentem ocultá-lo na manga.
Num contexto neocapitalista, que vê no chegar primeiro a única meta, Louis Armand talvez tivesse razão. Analisado um pouco de fora, a sua sonhada era pós-cibernética perde um pouco o "élan" e a inércia da velocidade, tendo sido a década de 70 a do alarme contra a poluição, a dos "hippies", a de Maio de 68 e a do fracasso Concorde.
Aparentemente e como todo o tecnocrata lúcido, Louis Armand parece acompanhar os tempos. Mas só aparentemente:
"De facto - afirma - as reacções recentes e brutais da juventude vieram confirmar essas reflexões e testemunhar excessivamente que a Universidade se encontrava tão retardatária quanto ao ensino e seus privilégios como a Igreja ao assumir o mesmo papel no tempo de Galileu,"
Daqui a anexar o movimento de Maio para a tecnocracia vai um passo (mas de gigante cabeçudo...). Mais um pouco e éramos capazes de assistir ao elogio dos "hippies", profetas da contracultura teorizada por Theodore Roszak ("Para Uma Contra Cultura", recente edição portuguesa na Dom Quixot), contracultura que, de princípio e por definição, se opõe à ditadura tecnocrática vigente.
A capacidade mimética do camaleão cibernético ficou exemplarmente ilustrada por Louis Armand, que só não tinha política enquanto o deixavam ter a política que convinha. Como os do manifesto radical, ele advogava a passagem "da noção da sociedade de consumo à de sociedade de desenvolvimento", precioso eufemismo que conheceu e conhece voga nas alas liberais do Parlamento francês, por vezes colocadas ao centro.

"Tendo entrado na era planetária, a Humanidade deve encaminhar-se para um Governo planetário" - diz Armand. Só não diz, embora pense, que a França deverá presidir a esse Governo, com qualquer descendente do general De Gaulle ou de Sérvan-Schreiber. Porque - não esqueçamos - foi ele, também, quem escreveu: "O futuro da França chama-se Europa."

PERFIL DE LOUIS ARMAND

Louis Armand nasceu em 1905 e morreu em 1971. Faleceu, portanto, apenas com 66 anos.
Engenheiro formado pela Escola Politécnica e pela Escola de Minas, as suas actividades tiveram sempre dimensão internacional. Director-geral, depois presidente da S.N.C.F. (a C.P. francesa), ocupava, ultimamente, o cargo de secretário-geral da União Internacional dos Caminhos de Ferro.
As actividades de Louis Armand manifestaram-se, igualmente, no domínio da energia, tendo-lhe confiado a Organização Europeia de Cooperação Económica importantes trabalhos. Promotor e primeiro presidente da Euratom (1957-59), participou na elaboração dos tratados de Roma.
A sua acção incessante para conciliar a ciência com o humanismo valeu-lhe a entrada para a Academia das Ciências Morais e Políticas e, depois, para a Academia Francesa.
Em 1968 publicou "Simples Propos". De colaboração com Michel Drancourt, que, como seu discípulo dilecto, será, agora, o seu continuador, publicou: "Plaidoyer pour I'Avenir" (1961) e "Le Pari Européen" (1968).
Estes dois últimos livros de Louis Armand encontram-se traduzidos para português, respectivamente com os títulos "Preparar o Futuro" (Ed. Pórtico) e "O Desafio Europeu" (Ed. Bertrand). Em "Como Viveremos em 1980" (Colecção "Cadernos do Século-, número 8) pode ler-se um interessante texto, balanço das suas ideias, intitulado "O futuro da França chama-se Europa".

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(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no semanário «O Século Ilustrado» (coluna «Futuro») , 11-9-1971 e no «Diário do Alentejo» em 6-9-1971
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Sunday, September 10, 2006

KARMA IOGA 1981


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SERÁ O TECNOCRATA
UM PRATICANTE DE CARMA IOGA QUE SE IGNORA?

10/9/1981 - Uma ultra-tecnocracia será uma forma (disfarçada) de carma ioga ?
A pergunta é pertinente e vale a pena ter a ousadia de a colocar: uma forma de exorcismar o paroxismo não será precisamente assumi-lo? Comê-lo e vomitá-lo? Transmutá-lo?
Para os que se familiarizarem com o carma ioga, com a ciência iniciática do yin-yang, com a religião do excesso, com a «compreensão» khrisnamurtiana de que tudo (o bem e o mal) é energia, com a ultrapassagem dos contrários na dialéctica do fogo, eis que alguns filósofos do sistema se desenham com um perfil algo enigmático.
Por terem procurado exorcismar o excesso com o paroxismo, o mal com a sua exasperação terapêutica.
Marshall Mc Luhan, por exemplo, não será um caso de carma ioga que se auto-ignora?
E F.B. Skinner, preconizando a manipulação do homem pelo homem como técnica de evolução, não estará na voragem da viragem e da ultrapassagem suprema?
Somos naturalmente atraídos para os que advogam o ioga em termos ortodoxos clássicos: Theodore Roszack, Allan Watts, Norman Brown, enfim, alguns dos que hoje se abalançam na ponte oriente-ocidente.
Mas quem pesquisará no mal supremo e nos supremos profetas do mal uma forma heterodoxa e quem sabe se herética de carma ioga?
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CLAUDE LÉVY-STRAUSS 1978

1-2 - lévy-1-ls> terça-feira, 24 de Dezembro de 2002-scan

FOLHETIM DO APOCALIPSE - PENSAR O IMPENSÁVEL (*)

[«Edição Especial»,10-9-1978] - Já Dostoievsky o afirmara pela boca do seu personagem de A Voz Subterrânea : no dia em que dois e dois deixarem de ser quatro, o Mundo desabará... E o homem, enlouquecido, entrará na fase final da sua derrocada. Talvez no primeiro episódio do Apocalipse, folhetim que substituirá, com vantagem, O Casarão.

Ao publicar, no dia 3 de Setembro de 1978, parte de uma entrevista com Claude Lévy-Strauss, só foi pena que o semanário "Edição Especial" não a publicasse na íntegra e não referisse a fonte, de tal modo importante, de tal modo apocalíptico é o que afirma este célebre antropologista (à parte os equívocos dos académicos estruturalistas que se jogaram a ele como vorazes roedores).

"O mundo contemporâneo é impensável" - diz Claude Lévy-Strauss.

Na boca de alguém cuja profissão é pensar, e pensar o universo que é cada cultura, (o sistema de cada ecossistema chamado "civilização") não deixa de ser interessante tão bombástica afirmação de "impotência". Ou de rendição às bestas do Apocalipse...

De facto, a sensação diária de quem pensa (mesmo dos que, como eu, pertencem ao lumpen-proletariado da Inteligência) é de que o mundo se tornou impensável, não tanto pela colossal complexidade de técnicas, ciências, matérias, disciplinas, etc; não tanto pela velocidade exponencial dos acontecimentos; não tanto pela vertiginosa contradição das forças em presença, mas principalmente pela bojuda capacidade suicida ou auto-destrutiva que este mundo armazenou e continua armazenando em minas de sal gema.

O absurdo instalou-se em plena História (que ultrapassa assim lendas, mitos, ficções) e os profetas que, na arte e na literatura o afirmaram, são hoje confirmados mas largamente ultrapassados pelos factos nas suas antevisões.

Kafka, ao lado disto, é um conto infantil...
Uma economia que deseconomicamente teima, aos gritos, em prosseguir a curva de crescimento até ao infinito, sabendo que o terá de fazer numa biosfera finita de recursos esgotáveis, seria apenas um aspecto desse Super-Absurdo do Mundo Contemporâneo.

Ou então, dessa Super-Lógica que, por enquanto, nos ultrapasse, cérebros ainda aristotélico-cartesianos que somos.

Acostumado a estudar culturas de ecossistema praticamente inalterável, para as quais Aristóteles funcionava, eis que a impensabilidade desta nossa sociedade do desperdício, do absurdo, do humor e do terror é para Strauss, apanhado no banho, a impossibilidade de o cérebro abarcar, dominar e controlar, sequer teoricamente, os mecanismos de desequilíbrio ecológico que a tal paranóia tecno-fascista imprimiu ao ecossistema chamado Planeta Terra.

A lista nunca acaba: cientistas vão produzir chuvas, desviar a corrente marítima do Golfo, transportar icebergues do pólo para os mares temperados, mandar para a lua foguetões com plutónio, aumentar o parque mundial de centrais nucleares até ao infinito (sabendo eles que o urânio está por horas e dá para meia dúzia de anos...), curar o cancro com aquilo que o provoca (radiações ou produtos químicos), evitar sismos provocando explosões atómicas subterrâneas ...que exactamente os provocam.

Enfim, a lista da Anedota, do Absurdo, do colossalmente idiota não termina nunca. É também uma curva exponencial a caminho do infinito.

Será isto a que Lévy-Strauss chama o "impensável"?

Mas não será tudo isto que torna a Ecologia metodologicamente inadiável como dialéctica que se propõe, in extremis, pensar este impensável Mundo?

Não terá de ser ecológica (3° termo da contradição) a lógica da ilógica contemporânea?

Não é preciso ser Lévy-Strauss, nem pai da antropologia estrutural, para ficar perplexo e estupefacto perante o absurdo da lógica contemporânea.

Qualquer mísero cérebro de computador M.I.T. poderá ter idêntico susto.

Muitos como eu, apenas cidadãos do Mundo, Náufragos do Apocalipse, olhando em volta pensam estar a ver um filme de non-sense.

35 centrais nucleares até 1990 para a Península Ibérica não é só algo de impensável pela lei da identidade ou do terço excluído...

Absurdo do absurdo é que este absurdo não espante ninguém. E que todo o absurdo (impensável diz Claude Lévy-Strauss) do Mundo Contemporâneo seja aceite com calma aristotélica por nós todos...
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(*) Este texto de Afonso Cautela, 5 estrelas e com muita honra, foi publicado no semanário de Lisboa, «Edição Especial»,10-9-1978, onde o Fernando Dil me acolheu durante uns tempos que o semanário durou
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ECO-TECNOLOGIAS 1983

1-4-ta-1-aa-ds> os dossiês do silêncio

T.A. EM PORTUGAL - O DESENVOLVIMENTO AO NOSSO ALCANCE(*)

10/9/1983 - É possível combater a desertificação que alastra por largas zonas do continente e ilhas - assegurou-nos o prof. José Nascimento, da Faculdade de Farmácia de Lisboa, que há anos se consagra à difusão, entre nós, das tecnologias apropriadas para o ecodesenvolvimento.
Ele tem agora oportunidade de se dirigir a uma mais vasta audiência, através da Radiodifusão Portuguesa. Desde o dia 28 de Abril passado, a Antena 2 transmite, quinzenalmente, às quintas-feiras, pelas 21 horas, um apontamento da sua autoria, sobre tecnologias apropriadas, Intitulado «Velhas Ciências, Novas Técnicas».

As tecnologias apropriadas já deram provas práticas, em diversos pontos do globo em vias de desenvolvimento, e constituem, em muitos casos, verdadeiro sucesso no contributo que dão à independência dos povos, até então submetidos ao imperialismo económico dos grandes blocos.
Como a expressão «tecnologia apropriada» ainda não diz grande coisa ao público, pedimos ao prof. José Nascimento que nos dê exemplos: depuração de esgotos com jacintos de água e outras plantas, produção de proteínas, a partir de folhas e minhocas, produção vegetal em abrigo com colectores solares de água, onde se pode exercer aquacultura, cimenteira de eixo vertical, funcionando a carvão de madeira, produção de biogás e adubo, simultaneamente, são exemplos de tecnologias apropriadas.

INVENTÁRIO DE RECURSOS

José Nascimento não duvida de que Portugal está no momento exacto para decidir o modelo de desenvolvimento que pode libertar-nos ou fazer-nos ainda mais dependentes de potências estrangeiras, de sistemas externos.
As suas palavras merecem atenção dos que querem um país livre e democrático: «Portugal pode, do ponto de vista de desenvolvimento, caracterizar-se geograficamente pela existência de duas comunidades: litoral medianamente industrializado e interior subdesenvolvido.»
Pormenorizando, adianta: «A comunidade do interior está a sofrer um retrocesso de desertificação humana pela emigração para a cidade e para o estrangeiro, enquanto a existência de um clima semi-árido ao sul de Tejo e em algumas bolsas do Norte provoca, em certas zonas, a desertificação real.»
Como quem faz um inventário de recursos naturais, vai enunciando: «Não temos combustíveis fósseis mas temos insolação importante; temos maus terrenos mas que podem ser utilizados na agro-silvicultura e pastorícia, quer dizer, para a produção de matéria vegetal; temos uma orla marítima importante, aproveitável em projectos de aquacultura.»
Reconhecendo que «possuímos uma da formas de produção animal mais absurdas», adverte: «É necessário atender ao meio rural, criando comunidades autosuficientes em energia para a realização dos trabalhos agrícolas, instalando pequenas indústrias que absorvam mão-de-obra excedentária em certas épocas do ano (exemplo: miniaturização, através de biotecnologias apropriadas) e aumentando o nível cultural da população rural, com vista a aumentar a sua capacidade de absorver a inovação.»

DOIS PROJECTOS NO TERRENO DA BIOMASSA

O poder local e a regionalização em profundidade passam pelo desenvolvimento das tecnologias apropriadas -- reafirma José Nascimento, que nos últimos dois anos tem realizado uma intensa actividade de animação.
À frente de uma organização particular, o Centro de Informação e Pesquisa para o Desenvolvimento (C.I.P.D), associação de fins não lucrativos, na Avenida Miguel Bombarda, 91, em Lisboa -, José Nascimento dinamiza actualmente alguns projectos de aplicação no campo da biomassa, com subsídios relativamente confortáveis da Fundação Gulbenkian e da Junta Nacional de Investigação Cientifica e Tecnológica.
Um desses projectos, a decorrer no Paul, perto de Messines (Algarve), conta com o apoio da Direcção Regional de Agricultura do Algarve. O outro, em Porto Santo - índice de aridez próximo do deserto -,conta com o patrocínio da Direcção Regional de Agricultura da Madeira.
Ambos estes programas visam «combater a desertificação mediante a recolha, algures, e plantação, no local, de espécies vegetais adaptadas ou adaptáveis a zonas áridas e semi-áridas, e com interesse económico: produção de madeira, alimentação de gado (pastorícia), plantas medicinais, são exemplos abrangidos por esses projectos de culturas ditas de sequeiro.
Só dificuldades de ordem burocrática têm impedido que outro projecto idêntico se instale em Cabo Verde, mau grado a vontade de o concretizar manifestada ao C.I.P.D. pela Embaixada deste país em Lisboa.
As tecnologias apropriadas – a que outros chamam libertadoras - desafiam interesses e dogmas económicos profundamente enraizados. José Nascimento não poupa críticas ao imperialismo americano. As tecnologias desenvolvidas pelos Estados Unidos no sentido de ter o controlo mundial dos alimentos, são para ele o caso típico que se opõe à tecnologia apropriada, como, por exemplo, as tecnologias de resistência ao colonialismo inglês postas em prática por Gandhi.
Que o problema da tecnologia é essencialmente político e de coragem para não resvalar na demagogia, fica bem claro das afirmações feitas pelo nosso entrevistado: «Os políticos, cuja especialidade é prometer aquilo que as pessoas gostariam que viesse a acontecer, passam por alto o problema da relação apertada que existe entre as disponibilidades reais existentes (e não as disponibilidades reais convenientes) e o calendário de realizações propostas.»
Contar com as próprias energias é a expressão-chave de um desenvolvimento pela via das tecnologias intermédias ou libertadoras, implantadas com sucesso em muitos países do chamado Terceiro Mundo: «A análise de um grande número de projectos que tiveram sucesso - sublinha José Nascimento - e que fracassaram, permitiu elaborar um conjunto de normas a que a implantação de uma tecnologia deve sujeitar-se.»
Eis, uma a uma, essas normas:
«1 - A T.A. deve evitar a dependência dos recursos estrangeiros, devendo usar-se sempre que possível os recursos humanos e de energia e os materiais disponíveis localmente;
«3 - A T.A. deve gerar postos de trabalho: se se eliminam certas categorias de actividade, os trabalhadores deslocados deverão poder ser integrados noutras esferas da capacidade produtiva e preferivelmente dentro da comunidade;
«4 - A instalação de uma T.A. deve considerar o capital estrangeiro como um complemento e não como substituto do capital nacional;
«5 - A instalação de uma TA. relacionada com o aumento de produtividade ou aumento de mercadorias manufacturadas deverá incluir um mecanismo para ter controlo sobre o preço dos produtos;
«6 - Os processos de T.A, devem ser compatíveis com a ecologia local;
«7 - A T.A. deverá assegurar que as actividades de investigação estejam estritamente vinculadas às realizações práticas em curso para poder criar inovações independentes e úteis;
«8 - As T.A. devem levar em conta o nível cultural das populações;
«9 - As T.A, aparecem multas vezes como tecnologias primitivas, porque as que se encontram mais divulgadas se dirigem às regiões mais atrasadas, mas desde que o nível cultural o permita, as tecnologias apropriadas podem revestir formas sofisticadas

CONTRA OS «SACRISTÃES» DA ECONOMIA

O inventário dos recursos naturais torna-se, para países como Portugal, a pedra angular de um ecodesenvolvimento pela via das tecnologias apropriadas.
A Hungria dá um bom exemplo de país que está aproveitando as seus próprios recursos, adoptando tecnologias leves, ora obtendo proteínas a partir de folhas, ora utilizando alimentos com azoto não proteico na alimentação de ruminantes para escapar ao controlo do mercado mundial exercido pelos E. U A.
Como acentua José Nascimento, não se pode falar em desenvolvimento sem falar do tipo de tecnologia que o promove. E se a neutralidade da tecnologia ainda é hoje um mito corrente, já se vai sabendo que na realidade é ela que condiciona estruturalmente o modelo de desenvolvimento que se pratica.
Que o sistema vigente - o crescimento pelo crescimento - pode adoptar e adaptar as T. A. sem que para isso tenha de alterar a sua essência (provocadora de desigualdades sociais, por exemplo), também é verdade que nenhuma alternativa de ecodesenvolvimento se abrirá sem uma tecnologia diferente, adequada a esse objectivo, e sem aquisição, por cada país, do respectivo «know how».
Os projectos gigantes de «economia de escala» -- explica ele -- encontram-se baseados numa tecnologia também monopolista e macrocéfala, dita capital-intensiva. «Se nas nações com este tipo de desenvolvimento, o produto nacional bruto cresce e o produto nacional bruto "per capita" também, este índice esconde outra realidade.
E pondo o dedo na ferida: «A distância entre os que têm e os que não têm, agrava-se cada vez mais, aumentando a distorção na distribuição do rendimento.»

O DESENVOLVIMENTO DO SUBDESENVOLVIMENTO: ESPIRAL DE LOUCURA

É um facto, escamoteado por «cardeais» e «sacristães» da economia oficial-- como nos diz --que «as tecnologias de capital intensivo, utilizando recursos humanos especializados, foram o agente do agravamento do subdesenvolvimento».
As consequências desse crescimento desumano vão mais longe, como José Nascimento confirma: «A sangria dos países submetidos à pilhagem revela-se também na movimentação demográfica e a população rural decresce continuamente a expensas da população urbana que tem um crescimento explosivo, fonte de perturbações sociais acrescidas».
«Espiral de loucura», chama José Nascimento a este «modelo decrescimento» que nos é imposto do exterior (as comunidades económicas como a C. E. E,) e do interior (grandes corporações industriais ou os projectos políticos de grande retumbância).
Segundo nos informa, os factos vêm desmentindo os dogmas, sofismas e mitos do crescimento: «Sem querer afirmar que todas as dificuldades actuais que os países atravessam são consequência de programas de desenvolvimento mal concebidos, não há dúvida de que estes programas se têm baseado em meras suposições, transformados em «dogmas infalíveis».
É falso, por exemplo, que o crescimento de um sector ou de uma área resulte no desenvolvimento do resto do país; no entanto, todos os economistas o afirmam constantemente, ou o pressupõem. Outro pressuposto errado é de que o «crescimento se pode basear na utilização de recursos afastados como combustíveis fósseis e outras matérias-primas não locais», ou que «o crescimento deve utilizar sistemas de processo de produção de agricultura em grande escala porque são os meios mais eficientes de produção.»
Continuando a desmascarar os dogmas correntes da economia oficial, aponta mais dois: «A tecnologia moderna de capital intensivo gera maior crescimento do que a tecnologia de mão-de-obra intensiva» e «o capital estrangeiro é melhor do que o nacional num processo de desenvolvimento».
O que se prova, no fim de contas, é o contrário de tudo isto que os economistas oficiais debitam: «As tecnologias de capital intensivo, utilizando recursos humanos especializados, foram e são agentes de agravamento do subdesenvolvimento».
Para inverter a direcção de uma economia irracional, suicida e desumana, as tecnologias apropriadas são a ponta de lança nos países em transição como Portugal.
E a sigla T. A., a palavra de guerra da paz.
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(*) Publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 10/9/1983
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CANCRO 1997

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A LÓGICA ORTOMOLECULAR NO TRATAMENTO E CURA DO CANCRO - VACINAS E CANCRO

+ 6 PONTOS

Lisboa, 10/9/1997 - 1 - A suspeita de que as vacinas, «especializando as defesas», poderiam estar na origem de graves distúrbios no sistema imunitário, já fora levantada por Raymond Dextreit, no seu livro «Le Cancer», ed. Revista «Vivre en Harmonie», traduzido e publicado em português pelo ITAU.
Segundo Raymond Dextreit, as vacinas «servem-se de expedientes para enganar as fraquezas genéticas e ludibriar os diferentes factores da imunidade, reforçando uns e enfraquecendo outros.»
Se este postulado estiver certo, temos aí a explicação:
a) para a hipersensibilidade alérgica (reforço de alguns factores da imunidade)
b) para todas as doenças de imunoinsuficiência (cancro, lúpus, sida) (enfraquecimento de alguns factores da imunidade) a que a ciência médica começa a chamar «doenças auto-imunes».
O postulado fundamentral de uma Nova Medicina, aberta a um novo paradigma de pensamento e de comportamento, ganha força: a doença, qualquer que ela seja, depende da vigilância ou do enfraquecimento das imunidades naturais, e as doenças, hoje, que não são alérgicas são anérgicas.
Arrepiante é o próprio nome «doenças auto-imunes» que a ciência médica reconhece, sem que reconheça a causa que reconhece.
Ou seja, se há doenças auto-imunes, como diz a ciência médica, como será possível - sem uma enorme hipocrisia ou sem uma gigantesca ignorância - ilibar o papel das vacinas nessa patologia dita «auto-imune»?
Já não é só a Alergia (já reconhecida como herança da vacina), já não é só a SIDA (ainda não reconhecida como herança da vacina) mas também, e por exemplo, o Lúpus, que a ciência reconhece como sendo um subproduto desse tão grande progresso da medicina que são as vacinas e, no fundo, como seu suporte, toda a teoria microbiana.
A palavra «auto-imune» é arrepiante pelo que revela.
Mas o que ela encobre, é ainda mais arrepiante: as doenças iatrogénicas do nosso tempo, produto das «progressos médicos» como a vacina, os antibióticos, os corticóides.

A RETÓRICA VEGETARIANA

2 - Uma certa retórica «naturista» tem alimentado o discurso de alguns vegetarianos nesta linha de combate tão sensível como é a do cancro.
Desviando as atenções para a polémica «vegetarianos» versus «carnívoros», os naturo-vegetarianos também têm ajudado à confusão, ou seja, à perversidade fundamental do nosso tempo-e-mundo que é tomar o efeito pela causa e a parte pelo todo.
Mas de toda essa retórica alimentar, alguns factores adversos têm vindo a ser evidenciados, revelando-se de facto decisivos no eclodir do processo tumoral.
Apontem-se 2 desses factores decisivos:
a) Fibras (Ausência de)
b) Açúcar industrial (como desmineralizante nº 1)
Ou seja: a industrialização em geral (com todo o seu cortejo de poluições) e a industrialização alimentar em particular (desvitalizando os alimentos) é, em grande parte, a principal responsável pela incidência de doenças degenerativas, as quais começam todas por doenças de carência, entretanto agravadas pela intromissão das vacinas no sistema imunitário.
Raymond Dextreit dá, a esta luz, uma explicação lógica do cancro do cólon:
«O défice de celulose origina um retardamento do trânsito intestinal, o que conduz a um contacto mais prolongado com elementos eventualmente cancerígenos».
Não explica tudo, mas explica uma grande parte.

REVERSÍVEL OU IRREVERSÍVEL?

3 - Na lógica dos médicos e da ciência médica, o cancro é um processo irreversível, não tem regresso: e todas as terapias médicas são encaminhadas nesse sentido, não se importando nada que todas elas diminuam ainda mais o já debilitado sistema imunitário.
O doente de cancro, para a ciência médica, vai mesmo morrer.
A experiência ensina que - usando a cirurgia, o cobalto e a quimioterapia - o cancro não tem, de facto, hipótese de regredir.
Monique Couderc, no livro «Eu Venci o Meu Cancro», conta que os médicos lhe afirmavam essa irreversibilidade, face à teimosia que ela manifestava de não querer ser operada ao cancro do útero.
Na lógica médica ou sintomatológica (só resta suprimir sintomas e não é possível alterar as causas), que se limita a suprimir sintomas sem atender a todo o sistema imunitário e ao seu papel no processo canceroso - não há hipóteses de sobrevivência.
Mas na lógica causal das novas terapias, se o sistema imunitário entrar como factor preponderante que de facto é na eclosão e evoluir da doença - a lógica causal de uma medicina do terreno orgânico, metabolic medecine ou medicina ortomolecular - uma hipótese de reversão e remissão do processo se pode impor.
Se a medicina não conhece nenhum caso de regressão, a verdade é que também ninguém conhece quantos casos de cancro a medicina tem curado. Nem a medicina talvez saiba.

O JEJUM ALIMENTADO DO ARROZ INTEGRAL (PRATO Nº 7)

4 -Embora seja um caso de excepção, que não pode fazer regra, a cura operada no cancro do útero por Monique Couderc e contada no seu livro «Eu Venci o meu Cancro», inverte uma antiga tese da ciência médica: em vez de calorias e proteínas ( alimentação «rica») como a medicina tem defendido, a experiência parece confirmar que uma alimentação «pobre» - baixa em calorias e menos proteica - pode ser muito mais curativa.
Em alguns casos, segundo J. Leguérirais, citado por Raymond Dextreit, «a inibição tumoral é função directa da redução calórica». O que explicaria a cura de Dominique Couderc com o jejum quase total.
Lembre-se que o «prato Nº 7» - apenas arroz integral - a genial invenção de Jorge Oshawa, não é outra coisa do que um «jejum alimentado» ou «monodieta», bem mais seguro e eficaz do que o jejum total.

CARÊNCIAS MINERAIS E CANCRO

5 - Se for a lógica ortomolecular (medicina do terreno) a guiar-nos no problema do cancro, vários factores de carência mineral podem começar a ser inventariados, por ordem de importância:
a) Carência em magnésio (Delbet)
b) Logo, segundo a lógica mais lógica, outras carências em oligoelementos se tornam também patentes: cálcio, silício, manganés, níquel, zinco, germânio, etc
O facto de a célula cancerosa ser ávida de metais não poderá impedir, antes pelo contrário, que no tratamento possa e deva entrar um mineralizante natural e equilibrado de 1ª linha: ele só pode ser o Caldo dos Vegetais Doces, acompanhado ou não de Algas.
De qualquer modo, quer para a lógica da ciência médica quer para a lógica ortomolecular da medicina metabólica, a questão dos metais (minerais e oligoelementos) é a questão central.
Neste contexto e à luz desta lógica, há que rever uma afirmação da ciência médica que continua a despistar todos os investigadores, da velha e das novas medicinas:
«Observações puseram em evidência o facto de que o sangue do canceroso é alcalino.»
Raymond Dextreit dá, no entanto, uma pista ortomolecular para explicar essa alcalose que, segundo ele, resultaria de uma ruptura do equilíbrio iónico entre os 4 electrólitos de base (cálcio, sódio, magnésio, potássio): o tecido canceroso é geralmente carenciado em magnésio e cálcio, enquanto é pletórico em potássio e sódio.

ALQUIMIA DA CÉLULA:UMA CRUZADA DE TODOS NÓS

6 - Se todos somos potencialmente cancerosos, talvez fosse avisado fazermos todos a profilaxia natural (ortomolecular) e aprendermos todos como se evita (retarda) o cancro.
Se todos somos potencialmente cancerosos, todos deveríamos ser estudiosos e «especialistas» desta doença.
O cancro existe a nível cósmico, segundo Rudolfo Steiner e Etienne Guillé, e continuará a existir enquanto cada pessoa nada fizer - através de uma cura iniciática ou alquimia celular - para vibratoriamente mudar de canal cósmico, escapando assim à influência da energia do cancro que, em linguagem vibratória de base molecular, se designa energia anti-pedra filosofal emitida pelo velho cosmos.
Mudar de canal cósmico é todo o trabalho preconizado e ensinado pelo método da radiestesia holística de Etienne Guillé.
Por ser talvez a única doença verdadeiramente séria, o cancro bem merecia ser alvo de uma cruzada em que todas as verdades fossem postas em diálogo.
Deveria haver sobre o Cancro um diálogo permanente, em vez do permanente monólogo da ordem médica.
São pura e simplesmente criminosos todos os que , no mínimo, se oponham a esse diálogo e a esse intercâmbio.
E quando as autoridades proibem o Viscum Album (para o cancro da próstata) e o Germânio, deveriam ser alvo de uma sublevação popular.
Revertendo sempre à lógica da imunidade ou lógica ortomolecular ou lógica do terreno orgânico - Raymond Dextreit escreve:
« Os desequilíbrios alimentares podem favorecer a instalação do cancro, sem dúvida por causa do enfraquecimento da imunidade que provocam.»
Se estiver certo este postulado - o cancro existe em estado potencial e só avança quando as condições o corpo físico são propícias (insuficiência da imunidade) então a profilaxia será igual ao tratamento curativo.
Declarado o cancro ou por declarar, o caminho é sempre o de fortalecer a imunidade.
E fortalecer a imunidade é fazer profilaxia total do terreno. E profilaxia do terreno é a lógica ortomolecular da medicina metabólica ou alquimia alimentar, alquimia da célula, alquimia da vida.
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