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Tuesday, March 28, 2006

ROMANCE 1971

1-3 - quinta-feira, 5 de Dezembro de 2002 - intriga> intriga> literatu> manifest> - grelha aberta – diário de um idiota – inédito ac de 1971 – esboços e ousadias

O ROMANESCO CONTRA O REAL - MANIFESTO CONTRA O ROMANESCO

28/Março/1971 - Entre as várias tácticas de distrair e adiar a que a didáctica reaccionária[????] lança mão, para ter submetidos os aprendizes da ideologia, o romanesco ocupa ligar preponderante, como desvirtuador do real e como pretexto distractivo do que importa, do que verdadeiramente importa.
A cultura em geral, aliás, é um imenso fardo, mas o que se consome em romance ou literatura é ainda a parte maior de todo esse fardo.
Mesmo em crise - criticado pelos teóricos do novo romance, acabou este por fabricar outro padrão de «distrair e adiar» tão abominável[????] como o primeiro -- o romance continua a alimentar o vazio dos cérebros vazios das massas, a completa alienação dos indivíduos, precisamente porque incide sobre o centro dessa alienação: as relações.
Adaptado, em versão para a TV ou para o cinema ou para a fita desenhada, o romanesco é um dos grandes suportes da abjecção e até o Papa Paulo VI já alerta os fiéis para a «poluição anímica» tão «perigosa» como a outra. O Romanesco é criação típica da Civilização do Papel, da coisa sempre teórica, da coisa só mental, do voyerismo» típico e devorador que transfere sempre para o papel, para a teoria, para a cabeça, a existência humana.
Distrai e adiar é, como se sabe, o grande lema da didáctica reaccionária (ao serviço da Abjecção) ou didáctica repressiva: com o romanesco, dos grandes clássicos aos modernos, das obras-primas aos best sellers, com os autores universais, com as sagas familiares de vários volumes e centenas de capítulos, vai o sistema conseguindo empatar e evitar que o cego abra outro olho, que o dorminhoco acorde, que o morto ressuscite, que o alienado se revolte e consciencialize.
Evita a subversão.
Tanto como a Indústria distractiva, a Indústria didáctica é um dos pilares da Abjecção. Aliás o romanesco entrou quase sempre no campo da indústria distractiva e nem só quando produzido por fabrico em série. Os mais brilhantes escritores, muitos prémios Nobel, colaboram nisso, à farta, vão impondo os sempre respeitados clássicos e sua mitologia, para uso do status quo. Modernismo, sim, mas devagar, dizem esses vanguardistas de merda, para quem moderno é apenas mais um gorro que muda de moda e que eles mudam de cabeça .
A «cochonnerie» de que falava Artaud ao falar da literatura de consumo era, com certeza, especialmente dirigida ao romanesco, mais do que a qualquer outra forma de abjecção literária. No romance toda a merda cabe e cabe toda a mediocridade e cabe tudo o que é medíocre.
Estou a ler «O Ouro», de Blaise Cendrars, que me recomendaram como «bom», já não sei onde, e abomino esse ar de «relatório de viagem» que tudo aquilo tem.
Viajar foi, para este tipo de gente, uma alegre palreação pelos confins da terra, comendo e cagando a mesma imunda ideologia que, neste terra sagrada do ocidente, já comiam e cagavam.
É portanto e sempre, a visão do colonizador, que se sobrepõe a tudo o mais em Blaise Cendrars (mas só Blaise Cendrars?), a bisbilhotice do exótico. Nunca ele compreende por dentro a especificidade de cada grupo -- e como poderia compreender, se nem nisso pensa? «O Ouro», exemplo (um entre milhões) de literatura colonizada, no mais exacto, completo e imundo sentido.
Leia-se este mimo (entre centenas de outros):
«As negras e as mulatas preparam-se imensamente, põem grandes pentes de tartaruga na carapinha e flores de plumas. Usam vestidos decotados de cauda comprida e sempre de cores brilhantes. Estão sempre em festa» (página 49 da edição portuguesa, Colecção Miniatura, Livros do Brasil)
Mas toda a literatura está cheia disso, geralmente à conta da «arte pela arte». Por isso a repugnância de que as palavras de André Breton («A literatura leva a toda a parte»), Artaud, Pascoes ou Georges Bataille («literatura, ou é o essencial ou não é nada») repercutem até aos confins da modernidade ideológica, dirige-se principalmente a todos os Cendrars, de ontem e de amanhã, que, em sentido estrito e em sentido lato, vão beberricando e vomitando os seus beberricanços e chamando a isso romance, novela ou (novo) romance. Que lhes faça bom proveito ao estômago, à sua literatura no estômago .
Além de Cendrars, cito mais alguns exemplos [que recentemente me caíram nas mãos] muito recomendados pelos críticos em exercício:
«Os Ratoneiros» de William Faulkner
«O Homem e o Rio» do mesmo William Faulkner
«Planetarium», de Nathalie Sarraute
«Ciúme», de Alain Robbe-Grillet
«Estrada Fora», de Jack Kerouac
«A Paixão», de Almeida Faria
alguns Steinbecks, todo o Hemingway, etc, etc.,
[Uma das razões que explicam o êxito de todo este romanesco imundo, é que lisonjeia a mediocridade dos leitores e dos aspirantes a novo-romancistas, que topam aí uma boa oportunidade de eles também serem «grandes romancistas», já que sê-lo é apenas proporcional à estupidez e cretinice congénita de cada um. Assim vamos]
Cito aqueles -- porque passam por (muito) bons entre os críticos da especialidade e porque pertencem alguns, também, ao «novo romance» que teve veleidades de denunciar a «crise» do romanesco, mas que prosseguiu a crise com um romanesco (se possível) ainda pior.
«As velharias do novo romance» se intitula um artigo que escrevi algures, a propósito desse senhor que tenho o gosto de execrar chamado Robbe-Grillet, focinho dos mais abjectos que a imundície literária nos tem atirado à cara.
Aqui como em tudo, ou a gente se converte ou ficamos amarrados ao sistema a aos baldes de merda que ele nos obriga a tragar. Aqui como no resto, ou se escolhe ou se não escolhe. Ou se opta ou, por covardia e medo, não se opta.
Eu, por mim, [?] escolhi há muito, embora nem sempre tivesse coragem de o afirmar, mesmo para a gaveta. Tanta gente a leccionar literatura, quem se atrevia a dizer não?
Mas, agora, decidi, definitivamente.
Quem quiser tomar banho de merda, que leia literatura de consumo. Quem procurar num livro (mesmo num romance, que de tal só tem aspecto) a companhia que lhe serve e merece, procurará aqueles escritores a que eu chamo poetas.
Em vez de escritores descritores, descritivos, eventicistas, relatores de proezas, em vez de Somerset, dos Faulkner, dos Eça, dos Cardoso Pires, em vez da casca e sempre os da casca, procurará os que nunca se resignaram à mediocridade do sistema e que, ao revoltar-se, são a revolução, o obsceno, o poético: a contra-cultura, quer escrevam novela, verso, romance, teatro, guiões de filme ou para TV, o diabo.
Quer dizer: por detrás da obra (mero sinal de outra coisa, sempre) tem que estar algém, uma alma, uma personalidade, uma experiência existencial, uma resistência à ordem, uma exemplaridade humana, uma singularidade, uma aventura mística, iniciática, etc.
Fora disto, é o que se sabe e o que se vê. Não há grande obra sem grande escritor: banalidade que terá de ser bem sublinhado, agora que os neo-experimentalistas de caca querem impor a obra sem autor.

ENTRONIZAÇÃO PERFEITA DA MEDIOCRIDADE

Hemingway é, como se sabe, a entronização perfeita da Mediocridade: esse homem nunca escreveu duas linhas inteligentes. Nunca disse nada que fosse além da casca: deram-lhe o Nobel, claro. Mereceu-o. Foi dos que mais ajudaram a prestigiar a literatura no estômago. Foi dos que maior elogio fez (implícito, pois nem sequer esperteza para isso teria) do realienatório e reaviltatório que a literatura pode ser quando obediente, admiradora e obrigada.
Deram-lhe o Nobel, claro e muito bem. Suicidou-se. Pudera! Era tão raso e chato, só o entusiasmavam as caçadas. Se eu fosse assim também me suicidava. Só não me suicido é porque penso a vida, desde que nasci, como um suicida: quer dizer, alguém que só tem um minuto de vida para mostar o que vale.
No entanto, Hemingway é uma referência para milhões de leitores, que dele se abeberam, que o tiveram e têm como «autor de culto». Conceitos, critérios, manias.
De charopadas como Hemingway salvam-nos (e salvam a literatura) apenas os escritores off-side, aqueles para quem escrever não é relatar, descrever, descascar (a realidade?), aqueles para quem escrever é uma profunda experiência nunca desligada de existir e que, existindo, escreveram e que escrevendo existiram.
Já o disse nos textos sobre o Obsceno, de que aliás este manifesto anti-romanesco é continuação, embora intervalada por mais de uma dezena de anos.
No verdadeiro escritor, literatura em geral e romanesco em especial terá que ser sinónimo de profecia, iniciação, experiência. Será experiência, gnose e visão: Será sempre uma óptica diferente que oferece resistência à óptica deformada que nos é imposta, inclusive por quase toda a literatura literária (e daí que ele esteja fatalmente ao serviço do sistema).
[Se a vida me deixar, farei um dicionário breve dos que são escritores, mas para esse dicionário deixo já uma achega, sem sair do género que os catálogos dão como romance ou, mais geral, como ficção ou romance.]
[Daqueles em que é mais preponderante e visível uma teoria, através de um protagonista que obvia e confessionalmente representa o alter-ego do autor, cito exemplos que mais frequentemente manuseio: ]
Mais do que a ficção, mais do que o romanesco, são os testemunhos que nos trazem essa companhia, essa força, essa identidade.
Enquanto não chegarmos à noção de «literatura como poesia» e do escritor como poeta, da «literatura como essencial», todos os crimes em nome dela são possíveis. Têm sido e continuarão a ser.
Sem receio de generalizar, direi que toda a criação e toda a exegese da criação (crítica) se liga a uma experiência de carácter iniciático, sem a qual não se passa da casca. Daí o panorama triste, balofo, desvirtuado que aos olhos exigentes apresenta a crítica de arte, especialmente em Portugal, onde a imaginação é tradicionalmente odiada. Como se sabe das inquisições e onde se desconhece que a «única real tradição viva», conforme o peroraram os surrealistas, é a única via da literatura anti-literária. Sem a experiência surrealista, ou uma das que a surrealista exarou em acta, todo o literário não passa de anedota pura. E todo o romanesco (filme, texto, livro) de passatempo para consumir e matar o tempo do consumidor (matá-lo, enfim).
Com ou sem alucinogénicos, a viagem em profundidade é sempre a viagem que importa. É sempre a imaginação em estado puro. Por isso, a todas as obras-primas da ficção universal, prefiro os diários que proveitosamente leio para modelo.
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BIOCOSMOLOGIA 99

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BIOINFORMAÇÃO E BIOCOSMOLOGIA

29/3/1999 - Tentando traduzir, em termos de ciência moderna, o que seria o «microcosmos» de Hermes Trismegisto, colocam-se duas hipóteses:
a) O ADN celular da biologia
b) As partículas elementares da física
Para a saúde e as ciências da saúde, para a vida e as ciências da vida, o mais lógico é que seja o ADN, aquilo que em gnose vibratória se chama «suporte vibratório».
Sendo o ADN a sede da bioinformação (e o ARN o seu meio transmissor ) é lógico e ecológico que chamemos ao ADN o microcosmos, sendo o macrocosmos aquilo que designamos por «energias vibratórias».
Emissor/Receptor/Emissor: temos assim traçado o esquema básico da sequência da bioinformação.
Para os físicos e astrofísicos, porém, o microcosmos é identificado com as partículas - o infinitamente pequeno - e o macrocosmos com o infinitamente grande do cosmos ou continuum das energias vibratórias postulado pela gnose vibratória.
A simetria, mais uma vez, faz sentido: dois físicos do CERN , John Ellis e Dimitri Nanopoulos, afirmam o seguinte :
« A reconciliação da física das partículas - o estudo do infinitamente pequeno - com a csmologia - o estudo do infinitamente grande - é talvez o último problema com que se debatem os físicos teóricos.»
+
1/Abril/1999 - Todos os livros afirmam que o organismo «não é capaz de sintetizar as vitaminas».
Será mesmo assim?
Ou não é capaz de sintetizar no baixo nível vibratório habitual do N8?
Ou sucede aqui o que a tese polémica de C.L. Kervran demonstrou contra aquilo que a ciência afirmava : a impossibilidade de o organismo transmutar metais a baixa temperatura?

«Claude Bernard, em 1859, demonstrou que o nosso organismo é um aquário, ao definir pela primeira vez a noção de meio interior. »
Leprince/Fouqué, Ed. Três, 1983, São Paulo
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Monday, March 27, 2006

ROSZAK 1971

roszak-1> - o movimento das ideias - releituras mágicas

A CONTRA-CULTURA DE THEODORE ROSZAK E ALLEN GINSBERG (*)

[27-03-1971] - Em «Vers Une Contre-Culture» (1), Theodore Roszak - professor no California State College, de Harvard - esforça-se por analisar as causas e manifestações da «contestação» dos jovens, o que ele chama «dissidência» juvenil.
Na sua opinião, essa dissidência representa, mais do que preocupações políticas precisas, uma revolta confusa contra a tecnocracia que tende a asfixiar a sociedade.
Influências de homens como Marcuse, Allen Ginsberg, Allan Watts e Timothy Leary são lucidamente estudadas, assim como a sedução das drogas alucinogénicas e a experiência psicadélica, a atracção exercida sobre os jovens pelas doutrinas orientais como o budismo zen, a subversão política, etc..
A tecnocracia, o culto aberrante da ciência e da tecnologia, o mito da consciência objectiva, são bastante criticados neste requisitório que é também - e talvez acima de tudo - um elogio do homem, de quem eles ameaçam cada vez mais a liberdade e a alegria.
Entre a tecnocracia, geradora de alienações em cadeia e uma contracultura ainda balbuciante, chegou a hora de escolher e Theodore Roszak diz-nos, com lucidez e coragem, que escolheu.
Respondendo aos que criticam, nos «novos jovens», o carácter parasitário do seu comportamento, Theodore Roszak argumenta desta maneira clara:
«Porque terá a nossa economia da abundância automatizada necessidade do seu concurso, ela que corta, cada vez mais, o elo entre o trabalho e os salários, que sofre de um pauperismo devido não já à escassez mas a uma má distribuição de bens? Deste ponto de vista porque haveriam os jovens «hippies», que se puseram voluntariamente fora de ser mais parasitas do que os párias involuntários dos ghettos da miséria?»
Mas não fica por aqui a cortante argúcia de Theodore Roszak e as suas palavras são sempre desmistificadoras de todas as falsas imagens que a «sociedade do desperdício» tem dado de si mesma e, através dos «mass media» omnipotentes, dos novos jovens.
A propósito do aproveitamento comercial que a ganância mercantilista logo aproveitou fazer da lenda «hippy», cita ele o seguinte letreiro, numa loja de luxo londrina, onde se encontram fatos de «estilo chinês»: «Os pensamentos de Mao, versão «week-end»: elegantes flanelas azul-marinho, revolucionárias, botões de coiro, colarinho Mao. Preço: 25 libras.»
E pergunta Roszak: «Este género de brincadeira será porventura suficiente para negar a realidade de Mao Tsé Tung e a da «revolução cultural» chinesa? A vulgarização comercial é um dos fluxos endémicos da vida ocidental do século XX, como as moscas que, no Verão, se precipitam sobre os doces. »
Roszak conclui com esperança: «Não obstante as impostures e as farsas que ela engendra, uma nova cultura tende a nascer na nossa juventude e, se ela merece um esforço de atenção, não será apenas pela razão da imponência demográfica dos que a constituem.»
Apesar de tudo, foi largo o caminho que levou à explosão da contracultura. Primeiro, foram profetas e pequenas minorias a defender uma fé ainda frágil, periclitante, frente ao poder do sistema.
«O que um punhado de «beatnicks» - lembra Theodore Roszak - desbravou no tempo da juventude, de Allen Ginsberg tornou-se um estilo de vida para milhões de jovens estudantes.»
«Allen Ginsberg, que desempenhou e desempenha um papel capital no movimento dissidente da Nova Utopia, cantou a procura de Deus em muitos dos seus primeiros poemas, muito antes que ele próprio e seus pares tivessem descoberto o budismo zen e as tradições místicas do Extremo Oriente. Na sua poesia de fins dos anos 40, constata-se uma tendência para a experiência visionária que mostra já como a experiência da nova geração se não acomodaria nunca aos modelos da Velha Esquerda.
«Desde a origem, Ginsberg é um poeta da contestação, mas o seu protesto religa-se menos a Marx do que ao radicalismo extático (de êxtase) de William Blake, e a Hieronimus Boch, um dos grandes profetas da Contra-Cultura. Ginsberg fala mais de Apocalipse do que de revolução. Longe de ser uma excentricidade vanguardista, a concepção que Ginsberg se faz da poesia enquanto efusão oracular pode reclamar-se de uma genealogia que remonta aos profetas de Israel - e, provavelmente, mesmo ao chamanismo.
«Ele deixou, pelo menos, que as forças visionárias que o habitam transformassem toda a sua existência, fazendo dele um exemplo para a sua geração. De princípio, Ginsberg parecia destinado a ser o poeta da angústia em cólera, a elevar-se contra a dor do mundo, que ele e seus amigos tinham descoberto nos «bas-fonds», nos «ghettos» e nos hospitais psiquiátricos deste grande hospital que é a Sociedade. Mas no fundo do grito de sofrimento que se erguia desses lugares malditos, Ginsberg descobriu o que o Moloch tecnocrático queria acima de tudo enterrar vivo: as virtudes curativas da imaginação visionária.»
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(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no semanário «O Século Ilustrado» (Lisboa) , na rubrica semanal do autor intitulada «Futuro», em 27/3/1971, e no diário «Notícias da Beira» (Moçambique), na rubrica do autor intitulada «Notícias do Futuro»

(1) «Vers Une Contre-Culture», de Theodore Roszak, Ed. Stock, Paris,1970
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